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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

CURIOSIDADES DA MPB

Não sei se existe contexto político. A Bossa Nova não foi um movimento com preocupações políticas claras (a sua percursora, Tropicália, fez esse trabalho).
No livro de Ruy Castro, "Chega de Saudade" podemos ler sobre a criação dessa música por Jobim e Mendonça: "A idéia que levava Tom e Newton às gargalhadas era cruelmente inspirada em cantores como Lélio Gonçalves: iriam escrever um samba que parecesse uma defesa dos desafinados, mas tão complicado e cheio de alçapões dissonantes que, ao ser cantado por um deles, iria deixá-lo em apuros. Talvez este samba nunca passasse de uma inside joke, que ninguém iria entender e nem se interessaria em gravar. Mas seria engraçado de fazer, no que os dois encheram os copos e arregaçaram as mangas. (...) O produto saiu muito melhor do que a encomenda. Não era apenas uma inside joke mas poderia ser também um samba de humor, com algumas possibilidades comerciais. Depende de para quem dessem a música. "Desafinado" era uma galhofa só, música e letra, principalmente o verso que mais lhes arrancou risos, quando Tom o propôs: "Fotografei você na minha Rolley-flex", numa referência à fabulosa câmera alemã 6x6, com visor indireto - o máximo para a época. Para acrescentar uma pitada de provocação referiram-se à expressão da moda entre os meninos de Ronaldo Bôscoli e escreveram: "Isto é Bossa Nova, isto é muito natural".Era uma música para ser cantada por alguém que não se levasse muito a sério. Blá blá blá, Tom e Newton pensaram que a canção ia com a cara de muitos cantores da época, e todos recusaram ou acharam que a música não ia muito com o jeito deles, até que Ruy Castro relata este episódio:«Dias depois, na casa de Tom, três outros cantores ouviram "Desafinado", na mesma reunião. Dois deles quiseram gravá-la: Lúcio Alves e Luís Cláudio. O terceiro a gravou em novembro daquele ano: João Gilberto, que os atropelou gritando, "É minha!", e ficou com ela.

Fonte(s):
Ruy Castro, "Chega de Saudade", Companhia das Letras, São Paulo, 1990, pág. 205/206

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