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sexta-feira, 31 de julho de 2020

CESTA DE CRÔNICAS E OUTRAS ESSÊNCIAS

Por Xico Bizerra





PARAÍSO



A felicidade, de surpresa, avizinhou-se, bateu-me à porta, entrou e sentou à minha frente, pertinho dos livros, entre um Bandeira e um Graciliano. Usou a cadeira de balanço em que eu cochilo como se em casa estivesse. E estava. Foi quando todas as letras deram-se as mãos, arrumaram-se entre si e formaram versos bonitos, belas prosas. Pela janela, os relâmpagos, cor de arco-íris, enfeitavam tudo o que não era terra. Foi quando percebi que todas as estrelas esqueceram de dormir e brincavam naquele céu de pré-chuva, antes que as nuvens virassem neblinas perfumadas. Na calçada, sentados ao chão, os homens conversavam e brincavam que nem as crianças que lhes tinham ensinado a recitar o verbo amar. Ao longe, mas nem tanto, ouviam-se serenatas acompanhadas por violões afinados, tão diferentes dos fuzis que se anunciam, estes usados para fim ignóbil. Estávamos em plena terça-feira de carnaval e todos torcíamos para que aquela festa não se quarta-feirasse. Aos quatro ventos, meninos brancos, pretos e pardos, buchudos e magrelos, ricos e pobres bradavam anúncios de cursos intensivos de abraços e beijos na faculdade de carinho ali próxima, na outra esquina. Todos riam e cantavam e ninguém sonhava com o Paraíso. Precisava? Existia um outro além daquele?

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ANESCARZINHO DO SALGUEIRO, 20 ANOS DE SAUDADES

Resultado de imagem para Anescarzinho do SalgueiroAnescar Pereira Filho (ou Anescarzinho do Salgueiro), foi além de cantor, compositor e instrumentista.



Nascido no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro, mudou-se, ainda pequeno, para um barraco feito pelo pai na Floresta da Tijuca, na parte onde seria mais tarde o Morro do Salgueiro.

Sobre o morro, disse Anescarzinho: "Isso aqui se chamava Morro dos Trapicheiros, pois existia um trapiche (armazém) embaixo. O proprietário da maior parte dessa área era José Salgueiro, freguês da barraca de sorvete e peixe do meu pai. Foi ele que sugeriu o nome do atual morro". Seu pai foi um dos pioneiros do samba no Morro do Salgueiro, fazendo da sua casa ponto de encontro de sambistas. Cursou apenas o primário e foi funcionário de uma fábrica de tecidos.

Em 1949, compôs o seu primeiro samba-enredo, "Maravilhas do Brasil", para a Escola Unidos do Salgueiro, após um pedido do então Diretor da Escola, Manuel Macaco. Daí em diante, passou a viver exclusivamente de música, tendo, contudo, sido funcionário da extinta SUNAB por três anos, quando trabalhou prestando serviço para Ricardo Cravo Albin, então diretor de divulgação do órgão.

Em 1949 a Escola de Samba Unidos do Salgueiro desfilou com um samba de sua autoria, obtendo o quinto lugar. No ano seguinte, compôs com o então Diretor de Harmonia da escola, Noel Rosa de Oliveira, o samba-enredo "Mártires da Independência", que conquistou o sexto lugar no desfile daquele ano.

Em 1953, com a fusão das escolas Depois Eu Digo, Azul e Branco e Unidos do Salgueiro, integrou a Ala dos Compositores do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro. Compôs com Noel Rosa de Oliveira e Walter Moreira, em 1960, o samba-enredo "Quilombo dos Palmares", com o qual a escola obteve obteve o primeiro lugar do Grupo 1 no desfile daquele ano. Por essa época, já se tornara famoso devido ao samba de quadra "Água de Rio" (Só resta saudade), composto em parceria com Noel Rosa de Oliveira, com quem também dividiria, em 1962, a autoria da música "Descobrimento do Brasil". No ano seguinte, com Fernando Pamplona como carnavalesco, foi um dos responsáveis pela inovação que o Salgueiro promoveu em relação à escolha dos enredos, que se limitavam a mostrar episódios oficiais da História do Brasil. O Salgueiro apresentou naquele ano o enredo "Chica da Silva", com samba-enredo de Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira, abordando heróis do povo, assim como aconteceria mais tarde com Chico-Rei e Zumbi.




Ao lado de Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Paulinho da Viola, Araci Cortes e Nelson Sargento participou, em 1965, do musical "Rosa de Ouro", montado e dirigido pelos produtores Hermínio Bello de Carvalho e Kleber Santos, que lançou a cantora Clementina de Jesus. Do show, foram editados dois LPs: "Rosa de Ouro" e "Rosa de Ouro Volume II", em 1965 e 1967, respectivamente. Neste mesmo ano de 1965, Zé Kéti, a pedido da gravadora Musidisc, organizou com alguns integrantes do musical "Rosa de Ouro" o conjunto A Voz do Morro, integrado por Anescarzinho, Jair do Cavaquinho, Oscar Bigode, Paulinho da Viola, Zé Cruz e Zé Kéti. Ainda neste ano, o grupo gravou pela Musidisc o primeiro LP, "Roda de samba". Ainda em 1965, Elizete Cardoso no LP "Elizete sobe o morro", interpretou de sua autoria "Água de rio", parceria com Noel Rosa de Oliveira. No ano seguinte, em 1966, também pela Musidisc, foi lançado o LP "Roda de samba volume II", que contou com a participação de um novo integrante, Nelson Sargento.

Em 1967 o conjunto A Voz do Morro lançou o terceiro e último disco, "Os sambistas". Neste mesmo ano passou a integrar o grupo Os Cinco Crioulos, com Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho e Nelson Sargento, que gravou pela Odeon o seu primeiro LP, "Samba... no duro" e, no ano posterior, em 1968, ainda com a formação original, lançou o segundo LP, "O samba... no duro volume II", pela Odeon. Participou da "1ª Bienal do Samba", da TV Record, sendo sua composição "Dona Beja" (c/ Ivan Salvador e Noel Rosa de Oliveira), defendida por Jorge Goulart. Neste mesmo ano, integrando o conjunto Rosa de Ouro, participou do show "Mudando de conversa" (c/ Clementina de Jesus, Cyro Monteiro e Nora Ney), para o qual foi produzido o disco homônimo.

Em 1969, com a substituição de Paulinho da Viola por Mauro Duarte, o grupo Os Cinco Crioulos lançou pela mesma gravadora seu terceiro e último LP, "Samba... no duro volume III".

Em 1971 o grupo Os Cinco Só gravou de sua autoria "O rei mandou" e "Ê Bahia", ambas em parceria com Ivan Salvador. Ainda na década de 1970, a dupla João Bosco e Aldir Blanc compôs o samba "Siri recheado é o cacete" em sua homenagem. Segundo Aldir Blanc, "Inventei vários pratos com siri, que meu compadre babava e não podia comer, por ordens médicas".

Em 1977 foi lançado o disco "Elizete Cardoso, Jacob do Bandolim, Zimbo Trio e Época de Ouro - Fragmentos inéditos do histórico recital realizado no teatro João Caetano em 19 de fevereiro de 1968". Neste LP foi incluída sua composição "Água de rio" (c/ Noel Rosa de Oliveira).

Em 1992, o escritor e compositor Nei Lopes enfatizou a sua importância no cenário musical brasileiro em seu livro "O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical".




Seu último parceiro foi o poeta Célio Khouri, com quem compôs 11 sambas (alguns ainda inéditos), entre eles "Amor flutuante", gravado na coletânea "Conexão carioca volume 2", produzida por Euclides Amaral para o selo Guitarra Brasileira e lançanda no ano 2000. No disco, que contou com a apresentação de Ricardo Cravo Albin, Célio Khouri interpretou sozinho o samba, pois Anescarzinho do Salgueiro falecera poucos meses antes da gravação, da qual queria participar ao lado do parceiro. Neste mesmo ano de 2000 foi lançado o CD "A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes - Paulinho da Viola e os Quatro Crioulos", CD no qual foram reunidos os integrantes do grupo Os Cinco Crioulos em show gravado em julho de 1990 no programa "Ensaio", quando na época teve como convidado Paulinho da Viola, que para sua surpresa, foram também convidados os outros integrantes (Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Elton Medeiros e Nelson Sargento), em uma homenagem aos 25 anos do antológico show "Rosa de Ouro". O disco foi gravado ao vivo, com conversas e ainda execução de composições da época, entre elas "Quatro crioulos" (Joacyr Santana e Elton Medeiros), "Água de rio" (Anescarzinho e Noel Rosa de Oliveira), "O sol nascerá" (Cartola e Elton Medeiros), "No meu barraco de zinco" (Jair do Cavaquinho e Jamelão), "Agoniza mas não morre" (Nelson Sargento), "Cântico à natureza" (Alfredo Português, Jamelão e Nelson Sargento), "Pecadora" (Jair do Cavaquinho e Joãozinho da Pecadora) e "Rosa de ouro", de Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho.

No ano 2000 sofreu um enfarto e faleceu pouco antes do carnaval, sendo sepultado no Cemitério do Caju.

No ano de 2002, Eliane Faria (sua sobrinha - filha de Paulinho da Viola) interpretou "Amor poente" (c/ Célio Khouri) no disco "Conexão carioca 3", produzido por Euclides Amaral e apresentado pelo poeta e letrista Sergio Natureza. Neste mesmo ano, foi lançado o livro "Velhas Histórias, memórias futuras" (Editora Uerj) de Eduardo Granja Coutinho, no qual o autor faz várias referências ao cantor e compositor.

Em 2003, o disco "Conexão carioca 3 Bônus" foi relançado pelo selo Peixe Vivo Produções, sendo incluídas quatro faixas-bônus, entre as quais duas nova gravação de "Amor flutuante", interpretada por seu parceiro Célio Khouri e ainda, "Amor poente", interpretada por Eliane Faria.




Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*





Canção: Reloginho

Composição: Lúcio Cardim

Intérprete - Lenita Nunes

Ano - 1961

Disco - 
Chantecler 78-0534 - 068


* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

quarta-feira, 29 de julho de 2020

GARGALHADAS SONORAS

Por Fábio Cabral (Ou Fabio Passadisco, se preferir)

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Bom é você levar um esporro de uma cliente por não ter os CDs que ela quer... E você tentar explicar que são virtuais e ela não acreditar.

E ainda dizer:
"Antigamente vocês tinham tudo que eu procurava."

ENTENDA COMO A MÚSICA PODE AJUDAR VOCÊ A SE CONCENTRAR

Determinadas partes do cérebro responsáveis pela cognição e memória são ativadas durante a audição de uma canção.

Por Iarema Soares


A separação entre o ambiente de trabalho e o de casa caiu por terra com a aplicação da medida de distanciamento social. O quarto ou sala, que eram locais de descanso e entretenimento, transformaram-se em escritórios. Manter a concentração para executar as tarefas de trabalho se tornou um desafio, afinal, as possibilidades de distrações são inúmeras. É a cama que convida para uma esticada no sono, é o filho pedindo atenção ou o pet querendo brincar. Para sobreviver a estas pequenas armadilhas diárias, diversas pessoas recorrem à música para se manterem focadas e com bom rendimento no trabalho. 

Trabalhar de casa, em situações pontuais, fazia parte da rotina da jornalista Marta Karrer, 23 anos, moradora de Porto Alegre. Contudo, isso não significava que ela gostasse da circunstância. A sensação de baixa produtividade e pouca motivação eram e são frequentes. Além disso, ela relata que o posto de trabalho em casa não é o mais adequado, já que a iluminação do quarto, velocidade da internet e conforto da cadeira não se comparam ao do coworking, no qual trabalha atualmente.



Marta comenta que, no escritório, as pessoas gostavam de conversar umas com as outras e circulavam bastante pelo ambiente. Para sinalizar que ela precisava de foco, a jovem lançava mão de um artifício: 

— Colocava meus fones de ouvido, e isso não mudou. Aqui em casa, tenho o mesmo comportamento, porque o vizinho usa a máquina que aspira folhas todas as manhãs, minha mãe trabalha de casa, por chamada de vídeo. Para tentar fugir dessas interferências, dou play em músicas pop e nas trilhas sonoras de musicais bem animadas. Alterno também com jazz e rock, como a da Bordines (banda gaúcha). 


Angela Wyse, professora de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da Academia Mundial de Ciências, explica que, ao ouvir uma música prazerosa, ativamos o córtex auditivo, mas também outras estruturas do cérebro. 


— As canções atuam fortemente na região do hipocampo e córtex cingulado, que são as áreas importantes para o processo de aquisição e consolidação de memórias. O córtex auditivo e as estruturas do cérebro ligadas ao processamento das emoções são estimulados pela música, e isso resulta em um desempenho, temporariamente, melhor dos processos cognitivos, como a aprendizagem, a atenção, a fixação de memória e o raciocínio.


Mais foco e menos ansiedade 


Quando o burburinho ficava alto no escritório, Annahy Pedroso, 28 anos, que trabalha como analista fiscal, em Guaíba, sacava da gaveta o par de fones de ouvido. Em casa, esse barulho externo desapareceu, mas ela reconhece que o período de home office está sendo desafiador, por ser algo que ela nunca tinha experienciado antes.

— Achei que seria fácil, mas exige muita disciplina e organização. Então, procurei resgatar alguns hábitos. Assim como tomo café preto todos os dias de manhã, já ligo a caixinha de som assim que sento para trabalhar para conseguir me concentrar melhor. Dou preferência para rock dos anos 1970 e 1980, como Queen.

Além da música, Annahy faz uso de outros elementos sonoros. A pequena fonte elétrica que emite um ruído de água corrente também a auxilia a ter mais foco:

— A música e esses sons mais tranquilizantes me ajudam a manter o foco, mas também melhoram o meu humor. Quando não estou com a caixinha ligada, sinto que eu absorvo mais os problemas do trabalho, fico mais ansiosa e nervosa. A música é minha aliada para os momentos de maior apreensão. 


A professora de Bioquímica da UFRGS aponta os motivos desta relação: 

— Muitas hipóteses apontam ainda que a música e ruídos suaves diminuem a secreção de cortisol (hormônio responsável pelo controle do estresse), baixa os níveis de ansiedade e melhora os distúrbios de humor — afirma ela citando o artigo Mozart, Música e Medicina, publicado em 2014. 

Pesquisadores do Mindlab, instituto britânico que realiza estudos referentes ao impacto que a comunicação exerce sobre o nosso cérebro, fizeram uma descoberta no artigo Um estudo que investiga os efeitos do relaxamento da faixa musical Weightless, publicado em 2012. Foi visto que a canção Weightless, da banda Marconi Union, feita em parceria com a British Academy of Sound Therapy, reduzia em 65% a taxa de ansiedade de pessoas que participaram ao experimento, no qual deveriam resolver um quebra-cabeça considerado difícil. Na lista de músicas relaxantes da pesquisa aparecem Someone Like You, da Adele, Strawberry Swing, do Coldplay, Upside Down, do Jack Johnson, entre outros.

Do silêncio à música contemporânea

Apesar do sistema judiciário ter paralisado suas atividades e suspendido todos os prazos dos processos judiciais até 3 de maio, o advogado Alexandre Pereira, 24 anos, trabalha de casa redigindo petições. O domicílio, que é dividido com os dois irmãos mais novos e os pais, na zona sul da Capital, tem seu grau de barulho. Por isso, os fones estão sempre posicionados nos ouvidos.

— Essa foi minha estratégia. Meus fones são meus companheiros. Dentro de casa, é difícil ter silêncio absoluto, como no escritório. Eu escuto música para realizar minhas atividades desde o colégio. Naquela época, estudava ouvindo música, foi um hábito que adquiri. Escuto muito jazz, música contemporânea, blues e até podcasts, quando a atividade não exige muita concentração. Quando requer foco absoluto, somente o silêncio ajuda — relata. 

Julie Wein, doutora em Neurociências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cantora e compositora, explica que nem todo mundo consegue dar play em um som enquanto trabalha ou estuda, porque são funções que podem competir com o cérebro. 

— Se você está lendo um texto e escuta música com letra, a região do cérebro que processa a linguagem será duplamente demandada. Neste caso, é aconselhado ouvir algo instrumental. O ideal é que a música não te distraia da atividade a ser feita, mas que você não fique habituado a ela, por isso, evite canções com ritmo constante. Molde a playlist conforme a tarefa. Para a faxina, é melhor deixar tocar algo mais agitado, porque isso fará com que seu nível de prontidão, ânimo e disponibilidade aumente — destaca. 

Era com esse objetivo que o preparador físico Carlinhos Neves, 63 anos, colocava os jogadores do Grêmio para dançar em 1988. Com o aval do técnico Otacílio Gonçalves, Neves trouxe uma nova abordagem para os aquecimentos e pós-jogo do Tricolor. 

— Pegava as fitas cassete e colocava as músicas da banda Conexão Japeri, Chopin e Astor Piazzolla para tocar para que eles pudessem relaxar a musculatura, reduzir a frequência cardíaca e tirar a tensão do jogo. Alguns se divertiam mais, até ensaiavam alguns passos. Até hoje, quando encontro o João Antônio (Martins), ele vem dançando na minha direção — diverte-se Neves, que viu o "Grêmio Show", como ficou conhecido na época, ser campeão gaúcho naquele ano. 


Existe a playlist perfeita?

A doutora em Neurociências pela UFRJ destaca que as pessoas reagem de maneiras diferentes às canções e que o indicado é que a pessoa teste e monte playlists conforme aquilo com que ela tenha afinidade.

— O que a ciência sabe é que cada pessoa reage de maneira diferente ao estímulo musical. Umas pessoas se sentem motivadas, concentradas, outras ficam atrapalhadas e umas indiferentes. Sabe-se também que o indivíduo precisa gostar do ritmo a ser escolhido e ter o hábito de fazer aquilo — afirma Julie.

Angela faz coro à afirmação: 

— Não existe receita de bolo ou fórmula mágica. É preciso se conhecer para saber o que melhor se adapta a você. Mas, além da música, o que faz bem para concentração é ter uma boa noite de sono, intercalar períodos, de duas horas, de alta concentração com intervalos de 10 minutos.

Luís Augusto Fischer, professor do Instituto de Letras da UFRGS e colunista de GaúchaZH, ouve algumas determinados estilos de música enquanto escreve. Entre os preferidos estão Steely Dan e Santana, Novos Baianos, Joaquim Calado, um compositor do final de século 19, parceiro da Chiquinha Gonzaga. Os clássicos Concerto para clarinete, de Wolfgang Mozart de Quartetos de cordas, de Ludwig Beethoven também estão lista. Canções, segundo ele, "para a inteligência voar bem acompanhada".

O músico Beto Bruno, ex-vocalista da Cachorro Grande, afirma que usa a música para se ter foco em toda e qualquer atividade cotidiana e que o estilo preferido é o rock dos anos 1950 até o contemporâneo. Contudo, ele passeia por outros nomes renomados da música popular brasileira, como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Maria Bethânia, Gal Costa e o gaúcho Nei Lisboa.

Miles Davis e John Coltrane não saem dos ouvidos de Alê Garcia, escritor, publicitário e podcaster. Os dois gênios do jazz não estão ali a toa, Garcia acredita que este gênero "é ótimo para concentrar, focar e dar ânimo para o trabalho.

terça-feira, 28 de julho de 2020

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*


Flor da paisagem


É no olhar do outro que o sujeito de "Flor da paisagem", de Robertinho de Recife e Fausto Nilo, encontra o descanso perfeito: o consolo existencial e a tradução de si. No olho do outro o sujeito mergulha, perde-se e se acha.
Ao melhor estilo "este teu olhar quando encontra o meu fala de umas coisas que não sei dizer", "Flor da paisagem" cria elementos imagéticos - metáforas apaixonadas - que só através do filtro do amor podem ser percebidos.
A qualidade da letra está ainda na tentativa de captar a pronúncia da fala do indivíduo comum, transeunte popular atravessando o deserto da solidão imposta pelo amor. Tal artifício é usado pelo sujeito a fim de intensificar a intimidade com o outro.
Por fim, o sujeito parece querer dizer, tal e qual o sujeito de "Dono dos teus olhos", de Humberto Teixeira: "Não te esqueças que sou dono dos teus olhos, faz favor não espiar pra mais ninguém".
O "zói" do outro é a flor da paisagem sempre movediça da paixão; é o momento absoluto que significa a totalidade da vida do sujeito; é o narcótico necessário à suspensão do juízo necessária ao surgimento da canção.
O sujeito de "Flor da paisagem" é geógrafo: cartografa a paisagem de si. Se o estado de natureza é uma mera hipótese que permite captar a verdade como fruto de uma convenção, o sujeito desenha sua persona: a vida que não é menos dele do que da visão do outro.
Guardada no disco Orós (1977), interpretada pela voz singular de Raimundo Fagner e com carga visual forte, a canção busca interpretar o sossego egoísta que o amado sente ao se ver refletido nos olhos de quem ama: olhos que lhe cantam o amor.


***

Flor da paisagem
(Robertinho de Recife / Fausto Nilo)

Teu zói é a flor da paisagem
Sereno fim da viagem
Teu zói é a cor da beleza
Sorriso da natureza

Azul de prata, meu litoral
Dois brincos de pedra rara
Riacho de água clara
Roupa com cheiro de mala

Zoim assim são mais belos
Que renda branca, que renda branca, que renda branca na sala
Quem vê não enxerga a praia
Nois no lenços, nois no lençol, nois no lençol de cambraia

Teus zói no fim da vereda
Amor de papel de seda
Teus zói que clareia o roçado
Reluz teu cordão colado




* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

LUTHIER GUANAMBIENSE ENVIA INSTRUMENTOS PARA MÚSICOS DE VÁRIAS PARTE DO MUNDO

Por Geovane Santos



O Luthier guanambiense, Pedro Santos, morador do distrito de Morrinhos, é conhecido no meio musical pela qualidade dos instrumentos que fabrica e envia para músicos em várias partes do mundo.

Além de confeccionar os instrumentos, ele também é músico e divulgou em suas redes sociais, neste domingo (19), um CD de viola instrumental com 10 música autorais. As composições contaram com as participações dos músicos, Jorge Cardoso e Armandinho Macedo. Ambos tocam bandolim, principal instrumento produzido pelo Luthier.

O CD autoral de viola instrumental foi gravado em 2017 e lançado em abril de 2018, no Memorial casa de Dona Dedé, em Guanambi. Santos explica que agora as músicas estão disponíveis para download, o que não havia sido feito na época do lançamento.

O post contem um link do Google Drive, onde as faixas do CD podem ser baixadas.


Desde a adolescência, Santos apresenta um talento de trabalhar com madeiras, o que o levou a construir seu próprio instrumento. “No início da década de 1990 resolvi tentar fazer a minha própria viola, foi muito difícil, pois não se encontrava quase nada de informações sobre o assunto, mas a minha vocação falava mais alto e depois de algumas tentativas frustradas consegui montar a primeira viola que guardo comigo até hoje, ficou muito a desejar, mas por ser a primeira, tem um valor especial… Cheguei a fazer mais alguns instrumentos, mas por falta de informações e matéria prima no mercado acabei desistindo por alguns anos…”, explica o Luthier.

Ferramentas usadas na confecção dos instrumentos – reprodução

De acordo com Santos, apesar de ficar um tempo sem produzir instrumentos, não abandonou sua paixão pela música. Um dia gravando umas músicas em um estúdio de Guanambi, no intervalo das gravações encontrou um livro que trazia muitas informações importantes sobre a construção de violões.

A partir desse estudo, voltou a construir seus instrumentos, com novas formas de entendimento da construção de instrumentos de corda, foi assim que começou a se aperfeiçoar na arte da Luthieria, tornando esta a sua profissão definitiva.

Em 2013 e 2014 participou dos cursos de Luthieria ministrados por Luciano Borges do Viola Mineira em Araguari-MG, onde teve a participação especial do Luthier Americano Robert Obrien.

Pedro Santos construiu muitos instrumentos para Guanambi e região, posteriormente para Salvador e o Brasil inteiro, exportando até os dias de hoje alguns para o Exterior (Estados Unidos, França, Espanha, Rússia, Índia, Suécia etc…).


Foto: arquivo pessoal

“Graças a Deus continuo fabricando meus instrumentos, que são sempre bem aceitos no mercado nacional e exterior, ministro alguns cursos de Luthieria de vez em quando também, mas a grande demanda aqui é a fabricação de instrumentos mesmo, principalmente o bandolim, comemora Santos.

Além dos bandolins e violas, Santos produz em seu ateliê – violões, guitarras baianas e citerns, todos feitos por encomenda.

No início do mês de abril o artista divulgou em suas redes sociais, um instrumento que vai ser enviado para Índia, após a pandemia do novo coronavírus (Covid-19).



segunda-feira, 27 de julho de 2020

NÃO EXISTE AMOR EM SP (MILTON NASCIMENTO E CRIOLO FEAT. AMARO FREITAS)


Mais de 40 milhões de brasileiros não têm casa ou vivem em condições de vulnerabilidade social. #ExisteAmor é um movimento que usa a arte como ferramenta de transformação para convidar todos, pessoas físicas e jurídicas, a espalharem o amor através por uma campanha com fundo solidário para a população em situação de vulnerabilidade social durante a pandemia do COVID-19. https://www.existeamor.com/doe

CLIPE
Direção: Beto Macedo e Denis Cisma
Edição: Tiago Berbare
Direção de fotografia: Will Etchebehere e Beto Macedo
Imagens aéreas: Beto Macedo
Produção: Saigon e Tilt Rec
Gaffer: Anisio Pacheco
1º Assistente de elétrica: Vinicius Mendes
2º Assistente de elétrica: Juninho do Grau
Elétrica: Maguiune de Oliveira (Didi)
Maquinista: Guzula
1º Assistente maquinaria: Damis Ferreira
2º Assistente maquinaria: Paulo Paulada
Assistente de câmera: Caio Muniz
Assistente de câmera: Danilo Saraiva
Operador de câmera: Thomas Dupre
Operador de câmera: João Mantovani
Transporte: Rafael Alves
Produção de externa: Gabriel Braga
Finalizador: Fabio Abreu
Colorista Sênior: Sérgio Pasqualino Júnior
Colorista Pleno: David Queiroz
Colorista Júnior: Bruno Pontes
Assistente de Color Grading: Natan Luna, Murilo Moraes
Pós produção: Btfly Coletivo
Apoio: Tilt Rec, PorqueEu Filmes, Monstercam, Mantopix, Grip Support, Cinemx

NÃO EXISTE AMOR EM SP (Criolo)
Voz: Milton Nascimento e Criolo
Piano e arranjos de base: Amaro Freitas
Produzido por Daniel Ganjaman
Gravado por Daniel Ganjaman no estúdio Arsis
Técnicos de gravação: Adonias Souza Jr e Daniel Tápia
Assistente de gravação: Gustavo Sant'anna
Mixado por Daniel Ganjaman no estúdio El Rocha
Masterizado por Fernando Sanches no estúdio El Rocha
Direção Geral: Augusto Nascimento e Beatriz Berjeaut
Produção Executiva: Kler Correa
Gravadora: Nascimento Música e Oloko Records
Editora: Oloko Records (Altafonte)

FICHA TÉCNICA PROJETO
Direção geral: Augusto Nascimento e Beatriz Berjeaut
Direção musical: Daniel Ganjaman
Direção criativa e de comunicação: Tino Monetti
Direção de arte: Denis Cisma
Produção Executiva: Kler Correa
Comunicação: Codex Uqbar, Danilo Japa Nuha e Perfexx Assessoria
Agência: AKQA (Aline Garcia, Beatriz Durlo, Christiano Vellutini, Diego Machado, Eduardo Nosé, Fernanda Pereira, Gabriel Junqueira de Andrade, Guilherme Marconi, Hugo Veiga, Juliana Pereira, Leandro Pitz, Lucas Araque, Luiza Baffa, Mauricio Dias, Paula Santana, Renato Zandoná, Thiago Custódio, Victor Polycarpo e Yago Sant'Anna)
Foto da capa EP: Will Etchebehere
Capa EP: Ricardo Fernandes
Produção Operacional: Giovanna Scarano
Distribuição digital: Altafonte Music Network
Correalização: AKQA e Coala.Lab
Realização: Nascimento Música e Oloko Records

FICHA TÉCNICA CAMPANHA
Campanha solidária #ExisteAmor
Iniciativa: Nascimento Música e Oloko Records
Direção geral: Beatriz Berjeaut
Direção de comunicação: Tino Monetti
Realização: AKQA e Coala.Lab (Aline Garcia, Beatriz Durlo, Christiano Vellutini, Diego Machado, Eduardo Nosé, Fernanda Pereira, Gabriel Junqueira de Andrade, Guilherme Marconi, Hugo Veiga, Juliana Pereira, Leandro Pitz, Lucas Araque, Luiza Baffa, Mauricio Dias, Paula Santana, Renato Zandoná, Thiago Custódio, Victor Polycarpo e Yago Sant'Anna)
Gestão Financeira do Fundo: SITAWI
Operação: benfeitoria.com
Gestão: Kler Correa

domingo, 26 de julho de 2020

LÔ E BETO GUEDES CANTAM EM CD DE FILHO DESGARRADO DO CLUBE DA ESQUINA

Cantor e compositor paraense Fabrício dos Anjos diz que sua formação musical se deve ao movimento mineiro. Ele lança nesta sexta (8) o álbum 'Novos & usados - Vol. 1'


Por Guilherme Augusto 


Fabrício dos Anjos e Lô Borges gravaram a canção Pé na estrada (foto: Flávio Charchar/divulgação)


Fã confesso da música feita em Minas Gerais, o cantor e compositor paraense Fabrício dos Anjos tem motivos de sobra para comemorar, já que dois ícones do pop mineiro, Beto Guedes e Lô Borges, integram o seleto time de convidados do álbum Novos & usados – Vol. 1, que ele lança hoje nas plataformas digitais.

“Minha orientação musical vem de Minas Gerais”, conta o paraense. “Sempre fui fã de carteirinha do Clube da Esquina. Tocava suas canções nas praias aqui do Pará, nas serestas que fazia à beira da fogueira. A relação que estabeleci com essas composições é, basicamente, o início de tudo. Ter a companhia desses dois músicos num trabalho tão especial para mim é uma honra e uma sorte imensas.”

Especial porque o álbum marca o retorno de Fabrício, após um intervalo de 10 anos sem gravar, e reúne, neste primeiro volume, 15 canções compostas ao longo de seus 30 anos de carreira. Mas há também inéditas no disco, além de músicas presentes nos três álbuns anteriores do artista.

“Este projeto começou a nascer quando me dei conta de que estava uma década longe do estúdio. Conversando com minha esposa, mostrei para ela alguns arranjos novos para músicas antigas, e chegamos à conclusão de que eles mereciam um registro. Ao longo do processo, a coisa tomou outro rumo, cresceu e a gente se deu conta de que precisava levar tudo isso mais a sério”, diz, em tom bem-humorado.

Depois de reunir 150 composições, entre gravadas e não gravadas, ele decidiu que o projeto funcionaria como uma coletânea de sua carreira. Do todo, ele chegou a um total de 30 músicas que compõem os dois volumes do projeto.


GRAVAÇÃO 

“Particularmente, tenho uma paixão enorme por todo o processo da gravação de um disco, que gera a sensação de estar fazendo música em dobro”, afirma. “Quando entro no estúdio e finalizo um trabalho, normalmente percebo que fiz uma música duplicada, porque, antes desse processo, ela provavelmente era completamente diferente. É como se tivesse uma segunda cria. É uma coisa fantástica e isso me revitaliza.”

Embora não tenha alcançado grande visibilidade fora da Região Norte, o trabalho de Fabrício dos Anjos nada tem de regional e é mais uma prova de que existe bem mais Brasil além do Sudeste.

Ele mostra, com elegância e polidez, músicas cuja sonoridade flutua sob diferentes gêneros musicais. Os arranjos são de alta qualidade, com direito a metais, cello, guitarras e violões.

A presença da dupla mineira acentua a semelhança das canções com o trabalho do Clube da Esquina. Beto participa de Solidão e Lô canta em Pé na estrada, composições que Fabrício divide em parceria com Paulinho Moura.

Além da ponte Pará-Minas Gerais, o músico recebe o gaúcho Vitor Ramil em Nuvens e varais e a amapaense Patrícia Bastos em Flor da manhã. Conterrâneos de Fabrício dos Anjos, Nilson Chaves participa de Cordilheira e Gigi Furtado de Tudo vai bem.

Ainda sem data definida, o segundo volume deve chegar às plataformas digitais nos próximos meses, com uma composição inédita de Márcio Borges. “À exceção desta parceria, que nasceu a partir de uma melodia que enviei para ele, todas as músicas já estão prontas. Além disso, também estamos preparando algumas novidades, como outras participações bem legais”, avisa.

“Neste momento, estamos todos na mão do coronavírus, o que nos impede de botar o pé na estrada e apresentar essas canções ao vivo. Mas acredito que logo isso vá acontecer. Até lá, isso tudo não nos impede de colocar o novo disco na praça.”


NOVOS & USADOS – VOL. 1
. De Fabrício dos Anjos
. Independente
. Disponível nas plataformas digitais a partir desta sexta (8)

sábado, 25 de julho de 2020

ALMANAQUE DO SAMBA (ANDRÉ DINIZ)*

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Antônio Maria

“Ninguém me ama
ninguém me quer
ninguém me chama de meu amor...”
ANTÔNIO MARIA e FERNANDO LOBO, “Ninguém me ama”

O pernambucano Antônio Maria adotou a Cidade Maravilhosa como sua terra. Jornalista, radialista, cronista e compositor, construiu em suas músicas a imagem da rejeição, da solidão e do sofrimento, o samba-canção em sua expressão da dor-de-cotovelo, um esteio de sua existência.
Com crônicas publicadas nos principais jornais cariocas, Antônio Maria era um sagaz retratista do cotidiano. Tratava de tudo. Suas frases emblemáticas eram pinceladas com seu espírito de compositor: “Na vida a gente ama vinte vezes; uma por inexperiência e dezenove por castigo”; “A única vantagem de morar sozinho é poder ir ao banheiro e deixar a porta aberta”; “A noite é uma criança.” 
Antônio Maria passou a ser conhecido como compositor no início da década de 1950, após o sucesso de “Ninguém me ama” na voz grave de Nora Ney. Esse verdadeiro paradigma do “samba-de-fossa” é assinado em parceria com o amigo e conterrâneo Fernando Lobo, também jornalista, compositor e boêmio. Maria teve mais de 60 músicas gravadas, grande parte delas sambas-canções. E lá estava o amor não correspondido, a exemplo de “Suas mãos” (“Ah, suas mãos onde estão/ onde está o seu carinho”) e “O amor e a rosa” (“Guarda a rosa que eu lhe dei/ esquece os males que eu te fiz”), ambos em parceria com Pernambuco.
São obras-primas de Maria – e também da música popular brasileira – “Menino grande”, “Valsa de uma cidade”, “Se eu morresse amanhã”, “Frevo número um”, um clássico do gênero, “Canção da volta” e “Manhã de carnaval”. Feita com Luiz Bonfá, esta última foi criada para o filme Orfeu negro, de Marcel Camus. É, ao lado de “Garota de Ipanema”, uma das músicas brasileiras mais executadas no exterior: “Manhã, tão bonita manhã/ na vida uma nova canção/ cantando só teus olhos/ teus risos, tuas mãos...”


Cartas sentimentais

Nos jornais Diário da Noite, Última Hora e O Jornal, Antônio Maria, entre outras coisas, respondia a cartas sentimentais dos leitores. É possível que muitos desses textos tenham sido forjados pelo próprio Maria, mas os leitores realmente escreviam sobre suas atribuladas vidas amorosas:
A leitora Mariza Freitas, do Rio de Janeiro, escreve, angustiada:
“Sr. Antônio Maria, meu namorado sua muito debaixo dos braços.”
“Só debaixo dos braços, Mariza? Então não há motivo para desgostos.
Divirta-se na área enxuta, que é a maior parte do seu namorado”, respondeu o sábio Maria.
A leitora Luciana Ruiz quer saber sobre os bastidores da noite:
“Sr. Antônio Maria, é verdade que os casais se aproveitam da escuridão da boate?”
“Muito”, diz o notívago Maria. “E levam os cinzeiros, as xícaras, os talheres e os guardanapos.”
O leitor Reinaldo está apreensivo:
“Sr. Antônio Maria, estou noivo há dois anos e só agora descobri que Berenice, minha noiva, só tem três dedos na mão esquerda.”
“Mas se ela tiver sete na mão direita dá no mesmo, Reinaldo. O negócio é ter dez dedos na hora de mostrar. Verifique e volte a escrever-me”, finalizou Maria.


Em muitos aspectos, a obra do briguento, mulherengo e corpulento Antônio Maria foi uma contribuição tupiniquim ao clima abolerado dos anos 1950. O brasileiro juntou-se à legião de cantores mexicanos, chilenos, cubanos e espanhóis – Agustín Lara, Pedro Vargas, Lucho Gatica, Bienvenido Granda... – levando as cores verde e amarelo em suas composições.



Dolores Duran

“Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
e a primeira estrela que vier
para enfeitar a noite do meu bem
hoje eu quero a paz de criança dormindo
e o abandono de flores se abrindo...”
DOLORES DURAN, “A noite do meu bem”

O samba-canção tem ainda outra característica: ele é capaz de fazer a ponte entre o “menino grande” de Copacabana, Antônio Maria, e uma jovem cantora e compositora do subúrbio carioca: Adiléia Silva Rocha, uma fonte criativa conhecida como Dolores Duran.
Talentosa, Dolores não teve vida fácil. Mesmo quando já era famosa, cantando e vagando pela boemia das boates Vogue, Beguine, Little Club, Baccarat, Casablanca, Acapulco e Montecarlo, suas composições e interpretações expressavam a intensidade do seu desencanto com os amores e, de certa forma, com a vida. Em 23 de outubro de 1959, depois de fazer um show na Boate Little Club e de participar de uma festa no Clube da Aeronáutica,
Dolores chegou em casa já pela manhã e pediu à empregada: “Não me acorde. Estou muito cansada. Vou dormir até morrer.”
Aos 29 anos, era o fim da menina bochechuda que encantava as longas noites do Rio e que fez uma das letras mais bonitas da música popular brasileira: “A noite do meu bem”. Dolores convoca na canção o universo para sua noite. Dolores começou a cantar com dez anos de idade no programa de calouros de Ary Barroso, ganhando o prêmio máximo com a música “Vereda tropical”. Com extrema facilidade para línguas, passou então a interpretar canções em inglês, francês e espanhol, apresentando-se pelas boates do Rio. Fez amizade com Sérgio Porto (o Stanislaw Ponte Preta), Antônio Maria, Nestor de Hollanda... – a nata da boemia da década de 1950. Sua obra não é muito extensa, mas toda ela espelha um jeito melancólico, triste e angustiado de ver a vida. É um panteão de pérolas do samba-canção.

Dolores fez turnê internacional e, aqui no Brasil, foi elogiada por dois ilustres visitantes: Ella Fitzgerald, a dama do jazz, e o cantor francês de muito sucesso Charles Aznavour. Após sua morte por infarto fulminante, a cantora e amiga Marisa, apelidada por cronistas de “Gata Mansa”, entregou ao pianista Ribamar as letras de “Ternura antiga” e “Quem foi”. Dois sucessos que Dolores não testemunhou.


Maysa

De tradicional família capixaba, a cantora e compositora May sa garantiu seu lugar no panteão das cantoras de músicas de fossa ou de “dor-de-cotovelo” da época. A música “Ouça”, que a tornou conhecida nacionalmente, começa assim: “Ouça, vá viver a sua vida com outro bem/ Hoje eu já cansei de pra você não ser ninguém/ O passado não foi o bastante para lhe convencer/ que o futuro seria bem grande só eu e você...” Com uma beleza muito expressiva e um olhar penetrante, Maysa levou o poeta Manuel Bandeira a dizer que “seus olhos são oceanos não pacíficos”.




* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe, com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

CENTENÁRIO DE NELSON NOVAES




Nelson Novaes começou sua vida trabalhando como linotipista, na “Revista dos Tribunais”.

Iniciou em Rádio em junho de 1940 .Foi na Rádio Cultura de São Paulo, Palácio do Rádio na Avenida São João – Propriedade dos Irmãos Fontoura.

Simultaneamente passou a tomar parte em cassinos – Urca e depois Cassino Copacabana, no Rio de Janeiro, onde trabalhou ao lado de vários nomes de destaque do cenário nacional, como Silvio Caldas, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves e outros.

Trabalhou também nos cassinos de Poços de Caldas, onde comparecia todos os anos, até o fechamento dos mesmos em 1945.

Depois de passar por várias emissoras, em 1947, foi contratado para atuar nas Emissoras Associadas de São Paulo e ali permaneceu por treze anos, sendo que em 1950 surgiu a televisão e como ele estava lá, acabou sendo um dos pioneiros a se apresentar, mostrando sua voz e sua figura ao lado de Hebe Camargo, Lolita Rodrigues, Homero Silva e outros elementos do cast associado. Teve oportunidade de viajar o Brasil todo, em apresentações artísticas e fazendo divulgação dos discos que gravou na Continental.

Continuou cantando, mas de forma mais restrita, afinal de contas, como ele diz:” quem já tem bisneto tem que ser mais moderado. Cantou em excursões do Clube Pinheiros para as “meninas da minha idade”, ele dizia brincando. As excursões eram feitas para turma da terceira idade, ou seja,da melhor idade, como gostam de se chamar. Apresentou-se muitas vezes nos shows organizados pela “Appite”, que é a associação, que agora se chama Pró-TV .No início na rádio teve como padrinho o escritor Nelson Palma Travassos, de quem recebeu todo o apoio possível, sem o que talvez não pudesse falar sobre sua carreira. Esse homem foi seu padrinho de casamento e depois de vinte anos , padrinho de casamento da filha.

Nelson Novaes teve sua vida inteiramente voltada á arte, que ele muito amou, embora tenha também tido atividades empresariais, pois fazia questão dedar bom nível de vida aos seus familiares. Nelson Novaes faleceu em 07 de março de 2007.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

JORGE VEIGA, 110 ANOS



Seu nome completo é Jorge de Oliveira Veiga. Ele nasceu no Rio de Janeiro, em 14 de abril de 1910 e faleceu também no Rio, em 29 de junho de 1979. Era cantor. Gravou muitos discos. Atuou em muitas emissoras de rádio e também em televisão.

Sua carreira e sua vida:

Ele nasceu no bairro de Engenho de Dentro, subúrbio carioca. Teve infância pobre. Trabalhou como engraxate, vendedor de frutas e de pirulitos. Quando cresceu foi pintor de paredes e gostava de cantar, quando em serviço. Foi assim que um patrão e ouviu e percebeu que ele era bom cantor. Levou-o a cantar num programa na Educadora do Brasil- PRB-7. E sua carreira de cantor começou.

Antes disso, Jorge Veiga apresentava-se em circos, em pavilhões. Fazia de tudo. Foi para o programa: “ Metrópolis”, da Rádio Educadora e imitava Silvio Caldas. Depois apareceu uma oportunidade de excursionar por estados do norte do país, ,com uma companhia mambembe de circo. E ele foi.

E em 1939, gravou um disco. Foi a rancheira: “ Adeus João”, acompanhado pelo acordeom de Antenógenes Silva. Apareceu em sua vida então o amigo Rogério Guimarães e o compositor Heitor Catumbi. Fizeram-no mudar seu jeito de cantar e escolher outras músicas. Jorge Veiga os seguiu. Cantava sorrindo, era o indicação e cantava sambas malandros, anedóticos. Além de samba de breque, moda da época.

Em 1942,na Rádio Guanabara conheceu e tornou-se amigo de Paulo Gracindo, importante figura de rádio. E ele o ajudou muito. Em 1944, pela Odeon, gravou o samba; “ Iracema”,que foi sucesso nacional. No mesmo ano a Continental o contratou e ele gravou: “ Morena Linda” de João Martins e Otolindo Lopes e “Minha Patroa é Boa”, de Valdemar Silva e Estanislau Silva. Em seguida gravou, com Dircinha Batista:” Baianinha”, de Castro Barbosa.

Em 1945, gravou: “ Maria” e Rosalina”, de Haroldo Lobo e Wilson Batista. E as marchinhas: “ O Que É Que Eu Tenho Com Isso” e “ O Marinheiro Popeye”. Ainda no mesmo ano, fez sucesso com:” Cabo Laurindo”.



Em 1946, com acompanhamento de Benedito Lacerda, gravou; “ A Sopa Vai se Acabar” e “ Isabel”, um samba. E ainda no mesmo ano, gravou com Ari Clodovil. “ Fui um Louco” Gravou ainda: “ O Expresso Não Parou”, o samba: “Cinzas”; “ O Que É Que Há”, de João de Barro;” O Que É Que Eu Dou?”, de Dorival Caymmi e o samba: “ Maná Diodé”, de Gastão Viana e João da Baiana.

Em 1947, no carnaval, Jorge Veiga fez muito sucesso com: “ Eu Quero é Rosetar”( musica que é cantada até os dias contemporâneos)

Gravou então: “ Testamento de Sambista”,” Eu Não Sou Marinheiro”, “Deixa Eu Viver A Minha Vida”; “ Confusionista”. Em 1950, lançou: “ Cala a Boca Etelvina”, outro sucesso nacional

Gravou depois várias outras, entre as quais: “ Copacabana” Em dueto com Paulo Gracindo, gravou;” Fizeram Moamba”. E em dueto com Ademilde Fonseca:.”Carne Seca Com Tudu”. Em 1951, com acompanhamento da Orquestra Tabajara de Severino Araújo, gravou: “Tem Mulher no Samba” e “ A Vaca Vitória”. E o maracatu: “ Pitiguari”.

A partir de 1951, foi para a Rádio Nacional, apresentado por Floriano Faissal e Jorge Veiga ficou cada vez mais famoso..

Em 1952 gravou: “ Bota Água na Canjica”. Depois: “ Primo, Você É Que É Feliz”; “ Umbigada do Sabino”. Em 53, gravou: “ Na China” e “ Reza Por Nosso Amor”. Depois gravou: “ Marcha do Pintor”; “ Boêmia”;” Pra Esquecer”; “ Não Posso Mais”;” Eu Sou o Samba”; “ Eu Tenho Uma Nega”, “ Sou Flamengo”; “Quero me Casar” ;” Não Vou Morrer”; “ Quando o Divórcio Chegar”; “ Hino da Torcida do Flamengo”; “ Café Soçaite”; “ Solução”; “ Obsessão”; “ Marcha da Feira”; “ Estatuto da Gafieira”;” Vamos Pra Brasília”; “ Torcida Organizada”; “Faustina”;” Acertei no Milhar”( outro grande sucesso) e muitos outros discos lançou Jorge Veiga._

Em 1961, ele foi para a RCA Victor e gravou: “ A Volta do Sambista”,” Aluga-se Uma Casa”;” Aguenta o Velho Galho”; “ A Baleia”; “ Garota de Saint-Tropez”; “Na Cadência de Bigorrilho”;” Pra Seu Governo”; “ Falso Amor”; “ Não Tenho Lágrimas”; “ Vou Te Abandonar”; “ Noel Rosa e Wilson Batista”. “ Mocinho da Vila”; “ Terra de Cego “; “ O Melhor de Jorge Veiga”

Morte:

Em 26 de junho de 1979, aos 69 anos, morreu Jorge Veiga, no Rio de Janeiro, sua cidade natal.

No ano de seu falecimento, a CBS lançou o LP: “ O Eterno Jorge Veiga”.


Fonte: Museu da TV

quinta-feira, 23 de julho de 2020

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*





Canção: Modinha

Composição: Jaime Ovalle - Manuel Bandeira

Intérprete - Orlando Silva, Jacob do Bandolim e Época de Ouro

Disco - Orlando Silva - O Eterno Seresteiro - RCA Victor - BBL 1483.




* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

NEWTON TEIXEIRA , 30 ANOS DE SAUDADES


Newton Teixeira (Newton Carlos Teixeira), compositor, cantor e instrumentista, nasceu no Rio de Janeiro RJ, em 4/4/1916, e faleceu em 7/3/1990. Cursou o primário no colégio do barão de Macaúbas e até o quarto ano secundário no Pritaneu Militar. Aos dez anos começou a aprender bandolim com Chico Neto e aos 15 optou pelo violão. Passou então a aparecer nas rodas boêmias do Rio de Janeiro da década de 1930, como o Ponto dos Cem Réis, frequentado por Noel Rosa e muitos outros, em Vila Isabel.
Irmão do violonista e compositor Valzinho, antes de começar sua carreira profissional, acompanhou ao violão cantores famosos, como Sílvio Caldas, Francisco Alves, João Petra de Barros e o então iniciante Orlando Silva, de quem se tornaria grande amigo e a quem mais tarde entregaria algumas de suas melhores composições, como a marcha Mal-me-quer (com Cristóvão de Alencar), gravada em 1940, na Victor.

Em 1936 compôs sua primeira música, o samba Tudo me fala do teu olhar (com Cristóvão de Alencar), gravado por Sílvio Caldas na Victor e no mesmo ano teve sua primeira composição gravada, Ela disse adeus (com Cristóvão de Alencar), na voz de Francisco Alves, na Victor. Como cantor gravou na Odeon, em 1937, Quando eu for bem velhinho (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins), acompanhado ao violão por Orlando Silva e Sílvio Caldas. Estreou, no mesmo ano, na Rádio Guanabara, onde se apresentava também com o regional da emissora, na qual permaneceu ainda por dois anos.

Em 1939 fez grande sucesso com Deusa da minha rua (com Jorge Faraj), interpretada por Sílvio Caldas, na Victor. No mesmo ano transferiu-se para a Rádio Tupi, interrompendo sua carreira de cantor em 1943, devido a uma operação na garganta. Passou a atuar na Rádio Jornal do Brasil em 1949, transferindo-se três anos depois para a Rádio Nacional.

Deixou o rádio em 1955, passando a apresentar-se apenas em ocasiões especiais. Foi sócio fundador da SBACEM e trabalhou como secretário da entidade. Seus principais parceiros são Cristóvão de Alencar Jorge Faraj, Brasinha, Mário Rossi e Francisco Neto.

Em 1969 alcançou novo sucesso com a marcha-rancho Avenida iluminada (Lágrimas de um coração) (com Brasinha), que, defendida por Zé Kéti, tirou o segundo lugar em concurso promovido pela Secretaria de Turismo, MIS e TV Tupi, no Rio de Janeiro, no Carnaval de 1969.


Obra

Avenida iluminada (Lágrimas de um coração) (c/Brasinha), marcha-rancho, 1969; Deusa da minha rua (c/Jorge Faraj), valsa, 1939; Deusa do cassino (c/Torres Homem), valsa, 1937; Enquanto a cidade adormece, samba, 1944; Errei... erramos, samba, 1938; Mal-me-quer (c/Cristóvão de Alencar), marcha, 1940; Não (c/Cristóvão de Alencar), valsa, 1940; Pelo amor que eu tenho a ela (c/Antônio Almeida), samba, 1936.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha.