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quinta-feira, 31 de março de 2016

GRAMOPHONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*



Canção: Saudades do sertão

Composição: Cândido das Neves (Índio)

Intérprete - Cândido das Neves (Índio)

Ano - 1921

Disco Odeon - 122.149


* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 10.000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

HERMETO PASCOAL: "É MÚSICA O QUE EU TÔ SENTINDO!"

Cem por cento intuitivo, como gosta de se definir, o multi-instrumentista Hermeto Pascoal fala, em ritmo de samba, sobre passado, inspirações e amizades eternas.



Hermeto fala em fluxo - não o interrompam! - sobre passado, presente e futuro. Salta perguntas, retoma respostas, mistura ideias, conceitos e memórias. Vai de tópico em tópico pincelando pedaços de infância, narrando causos, lendas e assombrações que ajudam a defini-lo enquanto homem e artista. Colecionador de sons e ruídos, rende-se vez por outra ao silêncio, sabedor que é da sua importância.

Numa entrevista concedida ao jornal O Povo, do Ceará, puxando pela memória, fez desfilar em suas respostas um rol de personagens - famosos e anônimos - que cruzaram sua história e o moldaram como músico: Elis Regina e Miles Davis dividem importância com a parteira que o trouxe ao mundo, a vizinha que narrava histórias fantásticas e o coronel que enrolava os passos sempre que o ouvia tocar.


O Povo - Qual a sua lembrança mais antiga de som - de som, e não de música?

Hermeto Pascoal - É o primeiro dia, quando eu nasci, no dia 22 de junho de 1936. Quando eu nasci, recebi um impacto sonoro do mundo, e foi o primeiro som que eu não esqueço. É esse som que me embala pra fazer tudo isso que eu faço na música. As pessoas perguntam “quantos anos você tem de música?”. Eu tenho 79 anos de música também. O dia em que eu nasci foi o dia em que eu comecei a fazer som na terra.


E a primeira lembrança de música?

A primeira música foi justamente aí. Eu sou um músico autodidata. Eu hoje sei teoria, aprendi teoria com uns 40 anos, aprendi com a vida, com as deduções minhas, com a minha intuição. Eu sempre digo: eu não premedito nada, nada mesmo! Só se Deus clareasse pra eu premeditar minha morte, ou que eu premeditasse o meu nascimento novamente, mas ninguém tem o direito de premeditar as coisas, quem premedita é quem não sabe. É por isso que te falo, tudo o que acontece comigo, vem comigo. Aqui não se aprende gosto, a ter bom gosto, se você não tiver um percepção. E a gente nasce com ela. Quando eu nasci eu trouxe a bagagem toda, na mente vem tudo. Aí me deram esse “carro branco” aqui pra eu andar na terra e eu tô andando com ele. Tá aguentando, ainda. Coitado, sofre muito esse carro. Porque a parada é grande, já com minhas seis mil e tantas músicas, e isso eu conto só as escritas. Então, tudo o que você perguntar “primeiro”, pra mim, dentro da criatividade das coisas, vem justamente do dia em que nasci. Esse é o dia forte da minha vida aqui, da minha passagem pela Terra.


Falando da infância, o senhor tocava sanfona com seu irmão nas ruas de Lagoa da Canoa (AL). Nessa idade, o senhor já experimentava com a música?

Eu pequenininho já tocava, eu comecei a tocar nos bailes, devia ter meus sete anos, com meu irmão, o José Neto. Era uma dupla, o nome era “Os Galegos do Pascoal: Sinhô e Zé Neto” -lá me chamavam de Sinhô. E aí é o que te falo, tudo o que acontece desde o nascimento é isso aí. 79 anos de música, de tudo, de som, e eu acho que a música não é só pra quem toca um instrumento. Você pode dirigir um carro sendo jornalista, sendo advogado, sendo médico, sendo qualquer coisa. Então, um músico pode ser um músico mesmo sem pegar num instrumento. Tá lá na cabeça dele. Você vai num auditório pra ver o Hermeto e você não vê 2% da minha geração no auditório. Claro que a maioria já se foi, tudo bem. Quem se foi, foi. Foi o “carro”, mas tá a alma. Lá tá cheio de Tom Jobim, que não podia estar comigo nunca - a gente se encontrava no aeroporto-, tá cheio de Sivuca, que a gente quase não se via; de Luiz Gonzaga, de Dominguinhos, de todo mundo. Deus deu uma coisa pra cada um de nós, que é o dom da gente. Às vezes a gente chega aqui e se esquece do dom, por conta da vaidade, que vai puxando a gente pra onde a gente não quer ir. A música, pra mim, sem exagero nenhum, tá em todos os contextos.


O senhor falou em dom. Como o senhor reconheceu que fazer música era o seu?

Justamente quando eu era pequenininho, que eu tava tocando no meu fole, na minha sanfoninha, parapapá parapapá... O meu irmão Zé Neto, que era mais pacato do que eu, e eu tocando o oito baixos lá, quebrando tudo. Daqui a pouco, o coronel - tinha de tudo naquela época -um coronel bravo, chegou e chamou meu pai: “ó, tira aquele menino dali porque eu tô topando, tô dando topada na minha mulher, porque o que ele tá tocando não dá pra dançar não”. Assim mesmo! E eu, pequenininho, escutava o cara dizer aquilo lá. Aí papai chegava, e pra eu não ficar com raiva dizia: “ó, Sinhô, pega o pandeiro”. E eu tocava pandeiro e meu irmão o oito baixos, e a gente se revezava, tocava um baile a noite toda, só nós dois. Aí o que aconteceu? Eu tava tocando um oito baixos, e já tinha umas ideias de fazer umas polirritmias, vinham ideias na minha cabeça que não eram coisa costumeira, entendeu? Em dois meses, a gente já tocava os instrumentos melhor que papai. Então é lindo isso aí. São coisas que cada vez renovam a gente.


Quando o senhor saiu de Alagoas pro Recife e começou a se aproximar do universo da rádio, encontrou resistência contra a música que fazia?

Não, porque pra lá pra onde eu morava eu tava adiantado, mas pra lá pra onde eu fui era normal. E isso foi uma intuição minha, pra você ver como eu já pensava. Cheguei pro meu irmão e disse: “Zé, vamos pra Recife”. Eu tinha 14 e ele 15. “Se você não quiser ir, eu vou, e vou sozinho”. Era minha vontade de ir pra lá e aprender, né? Aí ele não queria, e eu perguntei se ele tava com medo de ir e levar uma pisinha quando voltasse. “E se eu não for?”. “Você vai levar duas, cara, vamos logo aí”. E aí fomos embora, chegamos à estação do ônibus e quando falamos que éramos de menor, tivemos problema. Mas aí eu botei a mão nos olhos e comecei a chorar, de mentira, como ator: “minha tia tá morrendo, meu Deus do céu”. Aí o cara aceitou a gente e disse “olha, vocês são galegos, vocês sabem que o pessoal vê vocês de longe, então, na estrada, quando eu disser pra vocês ficarem lá atrás, vocês vão e se agacham o máximo que puderem e ficam embaixo do banco, por causa da polícia da estrada”. A gente de menor, sem documento nem nada, e sem nenhuma carta dos pais! Foi eu, cara!


O senhor voltou a tocar com seu pai?

Hermeto Cheguei até a botar meu pai pra tocar no meu grupo. Eu fiz um show na TV Bandeirantes, levei ele pra Argentina pra tocar comigo também. Dei muita alegria pra ele. Na Argentina ele era um sucesso a hora dele no show. Eu deixava ele tocando bem do jeito dele, e ele tocava e o povo cantava junto com ele, cantava que parecia que tava ensaiado, e ele todo contente. Porque o papai era assim, eu já combinava com ele de botar as mãos no ombro dele quando fosse pra ele parar. E ele dizia: “me avise, ou eu não paro nunca mais”. E aí, quando ele faleceu eu fui pra Argentina com um grupo tocar, o senhor não queira saber como perguntavam por ele na imprensa. A vida é linda assim, a gente vai fazendo, carregando, a mil por hora.


O Brazilian Octopus foi um grupo importante, cultuado até os dias de hoje. Como foi essa experiência?

Foi muito bom, porque era justamente aquilo que eu tinha, essa coisa da criação, era justamente isso. Eu tava com músicos maravilhosos, com o Cido Bianchi, que era o pianista do grupo na época, e ele era o que a gente chamava de líder. Todo mundo tocava muito bem, todo mundo criava justamente para os desfiles de moda.


Foi um grupo pensado para os desfiles de moda?

Pros desfiles de moda e pra gente criar. Eu olhava pro telão, todo mundo olhava pro telão, e cada um criava uma coisa. “Vamos tocar música tal”, e a gente tocava solto, ninguém ensaiava repertorio. Você vê que a gente toca bem solto, e a gente aproveitou esse repertoriozinho que a gente tocava lá pra gravar, e gravei umas músicas minhas também. Foi um trabalho que muita gente comenta até hoje. É o que eu digo pra você: nós temos que subir o primeiro degrau da vida, subir com certeza, com emoção, com esperança. Se você tiver fé antes da esperança, aquela fé vira fel. Desista. É a esperança que carrega pra fé, e eu sou um cara sempre assim, nunca perdi a esperança e nunca cobrei a fé. Muita gente diz que tá tudo traçado, e eu acho isso também. Tem um cara mais criativo que Deus, rapaz? Tá tudo aí, pra gente pensar e ver as coisas. A gente pensa e se esbarra as coisas, de repente. A única coisa que eu não tive dúvidas sobre se ia esbarrar ou não, que veio comigo, foi a música. As outras coisas eu fui vendo com o tempo. Graças a Deus tenho uma bagagem muito linda na minha vida.


O apelido de “bruxo da música” lhe incomoda?

Não. Eu me assustei na época, mas foi uma baita jornalista, a Ana Maria Bahiana, “fãzassa” da música do Hermeto, muito musical. Na época ela era uma jornalista já conceituada, mas tava em seu começo, inclusive era jovem ainda, e morava lá pros meu lados no Rio. Aí, Nossa Senhora, ela teve essa ideia de bruxo e saiu no jornal, “Hermeto bruxo”. Ela nem falou comigo antes! Quando saiu, aí eu me encabulei.


Em sua música podemos captar elementos do folclore nordestino. Em que medidas essas histórias inspiram sua criação?

Quando eu falo em Caipora eu me lembro da terra em que eu me criei, no mato e nas águas. E isso fica na minha cabeça e me inspira muito pra o que eu quiser fazer na vida, essas coisas todas juntas, e é por isso que eu chamo de universal a musica que nós tocamos. Eu nasci na terra tocando só forró, forró pra dançar, tocando no meio do baile. E eu começava a querer fazer outras coisas e tal. Até os 14 anos a gente não tinha luz elétrica, e ainda bem que eu não escutava rádio, e olha que a música naquele tempo ainda era melhor que hoje. Eu tinha esse contato direto, eu ia pro mato. Hoje eu não saio muito por causa do sol, mas na época eu saia, o sol esquentava menos. No mato, você andava até empurrando as folhas pra andar, de tanta folha que tinha, e papai dizia assim: “sente embaixo das árvores, você é galego e não pode tomar sol, ou então pule dentro d’água, fique dentro d’água, e fique mergulhando”. Isso, pra mim, é música. Tudo pra mim é música. Eu me inspiro. Tô aqui escrevendo e de repente me lembro de quando andava a cavalo.


O que o senhor guarda de suas primeiras viagens aos Estados Unidos?

Hermeto Foi em 1960 ou 1970, por aí. Eu me lembro que os americanos tavam fazendo uma música chamada free jazz. E era assim, o “free”, uma música livre. Mas eles não tinham essa vivência, essas coisas. Eles tinham a vivência deles, pra fazer qualquer coisa precisavam se provocar, alguns com drogas, eles achavam que era assim a criação. Eu falava pra eles assim: “olha, se você premeditar a sua criatividade, você fica estacionado numa coisa só, e tá tapado o lugar, a sua fonte de percepção fica parada”. E eu via o que eles tavam fazendo, esse free aí, essa música livre, mas eles ensinavam isso nas escolas. Se você ensina, não é livre! Se eu ensino uma coisa a alguém, a fazer como eu faço, não tô dando liberdade pra pessoa. Mas vai procurar qual é a escola que se lembra e que fala disso…


Então, o free jazz não era realmente livre...

Eu falei tudo isso em aberto. O próprio reitor da Berkeley (Universidade da Califórnia) disse que o sonho dele, desde que era estudante, era ser reitor pra poder me trazer pra ela. E ele me disse: fale o que você pensar, fale o que você quiser, e eu botei a Universidade no chão. Eu disse: “olhe, se tivesse lei na música, teria muita gente presa aqui”. Como eu vou ensinar alguém a compôr? Compôr é um dom, compôr não se aprende, você tem que sentir. A teoria é pra ser usada. A teoria é como um gravador, um computador onde você registra a coisa.


É essa liberdade que você valoriza em sua “música universal”?

É justamente isso, e eu tenho o maior cuidado. Chamo de música universal por isso. Os músicos que tocam comigo, como o Itiberê Zwarg, tem a banda dele, e ele e o André Marques tão embalados com quartetos e quintetos, e tudo sem imitar o Hermeto, mas com a semelhança do Hermeto. É o que Deus quer com a gente: a semelhança. Não importa a área que cada um faz, e cada um faz uma área pra não ter repetição. Na música, quando eu descobri que só existem 12 notas, quase morri. A patroa Ilza (Ilza da Silva, com quem foi casado por 46 anos), que Deus a tenha em um bom lugar, ficou muito preocupada. E eu peguei uma viola, comecei a compôr usando as seis cordas, e cada nota eu botei num tom. Afinei ela toda, ficou lindo, parecia uma orquestra até. Aí pensei: “agora sim vou fazer umas notas diferentes em cima dessa viola”. Meu irmão, pra minha surpresa eu não tinha mais nenhuma nota a não ser aquelas da viola, e eu tinha usado todas. E eu procurava, procurava, e não tinha. E aí, o que me veio à cabeça? Criar, meu filho. Agora eu ia criar. Você tem essa estrada pra andar, você tem esses caminhos pra andar, e sobre eles você tem que criar. E aí eu me desenvolvi muito, depois de passar uns dois ou três meses preocupado com isso. Depois eu desembestei a compôr. Se tivesse um monte de notas, você ficaria acomodado. É o que eles tentam fazer na tecnologia. A tecnologia é acomodação. Nós não viemos aqui pra isso. Os caras tão perdendo a sensibilidade, a criatividade, o dom das coisas. A tecnologia tira isso e eu tenho muito cuidado, porque não quero que atrapalhe a minha maneira de ser, a minha maneira de não premeditar as coisas. Esse é o lance.


E o seu contato com o Miles Davis?

O contato foi assim, bem rápido. Fui pra lá pra fazer o meu trabalho. O Airto Moreira tocava com ele, era percussionista dele, e eu tava junto, fui lá escrever uns arranjos, fazer uns trabalhos e fui assistir a um show com o Airto tocando, fiquei no auditório. E aí, antes de começar o show, de repente eu vi aquele cara vir correndo pra cima de mim. E cara veio correndo, correndo, bem vestido - ele se vestia muito bem - e aquela voz assim, sexy (imita a voz). E eu fiquei na minha e disse “pronto, esse é bicha mesmo”. Mas como o Airto já sabia que eu não falava inglês, ate hoje não falo, ele já ficava de olho pra me ajudar em qualquer coisa. Aí ele veio e viu o Miles falando comigo. O Miles chegou e encostou o rosto em mim. E eu: “meu pai do céu, logo eu que não falo inglês”. Eu não sabia que ele tinha problema de garganta, e ele praticamente não tinha voz. O Airto ficou louco, admiradíssimo com tudo o que aconteceu, me dizendo que a mania do Miles era chegar exatamente em cima da hora no show e não olhar pra trás, só entrar no camarim e já sair quase tocando. E aí ele falou pro Airto: “você sabe que eu nunca fiz isso com ninguém, mas algo muito forte me leva até ele, e eu quero conhecer esse cara”. Pronto, a gente marcou um encontro.


Vocês se tornaram amigos?

Eu fui na casa dele algumas poucas vezes, porque o tempo de ambos era pouco. Mas das vezes que fui, foi sensacional. Ele era um músico realmente perfeito. Na última brincadeira dele, ele perguntou pra mim se eu não queria entrar no grupo dele. Mas eu já tava querendo ter meu grupo no Brasil, o que pra mim era, e é, a coisa mais importante dentre as coisas que eu faço. A primeira coisa que eu me lembrei foi do Brasil, e eu já tava com saudades com vontade de voltar pra cá. Aí eu cheguei pra ele e disse, muito brincalhão: “olha, eu vou formar o maior grupo de música universal do mundo, por isso que não quero tocar com você”. Aí ele “mas não da nem pra você ir pro Japão comigo, só pra fazer essa turnê lá?”. Depois eu falei sério e ele disse pra mim que também ia formar o maior grupo de rock do mundo, brincando, me desafiando. Parecia que eu conhecia ele da minha infância, e isso era interessante. É por isso que a gente não pode premeditar as coisas. Se você não conhece a pessoa, não pode premeditar nada. Deixa fluir, fluir! Deixando fluir, pronto! Como eu não premedito, meu sentimento veio, aquela coisa forte, bonita, então fizemos uma amizade muito curta no sentido físico, mas muito infinita no lado espiritual, porque não foi à toa que ele veio falar comigo. A gente já devia se conhecer. Ao ponto de ele dar uma entrevista numa rádio - e ele não era muito de entrevistas por conta da voz - e dizer que se morresse e pudesse nascer de novo gostaria de ser um músico “como aquele albino louco”, que era como ele brincava comigo. E ele tinha fama de temperamental, e de que usava muita droga, era doidão. Mas tinha um conteúdo na alma dele, e por isso eu acho que esse encontro na terra foi pra sacudir a poeira, e foi tão bonito que ele me convidou pra fazer um disco com ele, e eu fui tocar três dias em Nova Iorque.


O senhor participou do documentário Janela da Alma (BRA, 2001)- sobre pessoas com diferentes graus de deficiência visual - ao lado de José Saramago, Oliver Sacks e Wim Wenders. Como foi participar de um projeto onde o foco deixa de ser a música e passa a se referir a outro dos sentidos?

Pra mim, eu não acho outro sentido em nada. Quando tô falando com qualquer pessoa, é música o que eu tô sentindo. O sentido pode mudar, aparentemente, mas na minha cabeça, não. Eu falo por música, porque eu sou 100% intuitivo. Meu sentido tá na frente de tudo. Tem coisas que você precisa de sua percepção pra organizar. Eu consigo sair de uma batalha, vencer a batalha, sem precisar brigar e matar ninguém. Agora, se precisar, eu saio comendo todo mundo mesmo, entendeu? Mas, graças a Deus, ate hoje não precisei, e não vai precisar nunca. O que eu quero falar pra você é o seguinte: “Este canto vem de longe / A distância não sei dizer / Salve, salve a toda gente / Que vive e deixa viver / Aqui vai o nosso abraço / Com o som e o saber / Tirando de nossas mentes / As palavras pra dizer / A música segura o mundo / Enquanto a gente viver / É a maior fonte sem fim / De alegria e prazer / Toquem, cantem, minha gente / Até o dia amanhecer”. Tenho dito, Hermeto Pascoal, com ritmo de samba.


Por Jader Santana, jornal O Povo

MPB - MÚSICA EM PRETO E BRANCO

Zé Ketti

quarta-feira, 30 de março de 2016

VÔTE... ESCUTA SÓ: SEXTA SEMENTE

Zeto

Passei muito tempo guardando estas imagens de Zeto, feitas no Arcada Bistrô, ao vivo, numa tentativa de que houvesse algum interesse de pessoas que pudessem dar melhor qualidade técnica, melhorando som e imagens, fazendo cortes precisos, para valorizar ainda mais o trabalho deste grande artista. Não encontrei ninguém disposto para fazer isso. O tempo foi passando, minha idade aumentando, e o medo de deixar de mostrar quase quatro horas de material coletado. As imagens foram feitas com uma única câmera, amadora, de minha propriedade, sem qualquer recurso, com som do próprio equipamento. Apenas um tripé me ajudou a dar uma certa estabilidade. O resto foi por conta da genialidade de Zeto.

Bom, resolvi publicar no meu Blog Vôte! Espia Só, com link para o Jornal da Besta Fubana, e agora aqui, no Musicaria Brasil. Tive que aprender o processo, pois até então trabalhei amadoristicamente, apenas com fotografia, imagem estática. O título já estava definido ZETO, e devido a grande quantidade de imagens, seria mostrado em episódios. Liguei para o meu amigo e experiente editor Luiz Berto, O Papa, do JBF e falei do projeto. Ele sugeriu um subtítulo, que desse a ideia de continuidade.

Aí pensei na palavra SEMENTE, pois sempre considerei Zeto um semeador da nossa cultura, um homem que por onde passava deixava alguma coisa para frutificar, fosse versos, voz, e a maneira de tocar um instrumento. Deixou sementes vivas como Antonio e Miguel, plantou outras no coração de Bia e Greg, e de resto em cada cantador deste imenso sertão.

Já vamos na Sexta Semente e outras por semear.


Um agradecimento enorme à família de Zeto, em especial pela acolhida de Graça Nascimento sua irmã, incentivadora deste projeto.


Paulo Carvalho


Zeto canta de sua autoria um fado. Inácio.



Zeto declama Lisboa Revisitada de Àlvaro de Campos

GEOGRAFIA DAS EXPRESSÕES

Um ensaio fotográfico sobre o homem e seus territórios, focando as expressões diversas dos indivíduos no cotidiano e em suas respectivas paisagens. 

Por Fábio Nunes



Carnaval de Olinda - Faces da Folia







PROGRAME-SE


terça-feira, 29 de março de 2016

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*





Na canção "Mulher de Música", de Tom Zé e Arnaldo Antunes, o sujeito diz: "Mulher de música / melhor ficar na música / porque mulher de música / é coisa de utilidade pública. / E além disso, sinhá de iáiá, / musa é musa e mulher de carne e osso / vem a ser hipotenusa / que me usa, / parafusa, / me recusa / e ainda me acusa".

A distinção entre a "mulher de música" e a "mulher de carne e osso" quer persuadir esta a fazer os dengos que iôiô deseja. Ele sabe que, "hipotenusa", lado oposto de seu ângulo reto (e teso), a mulher é bússola e desorientação: parafusa, recusa e acusa. Assonância e aliteração que reiteram a potência da mulher: da sinhá diante do sujeito (in)voluntariamente submisso.

A expressão "sinhá de iaiá" diz com quem o sujeito da canção está falando: ela é ela, "mulher de carne e osso", "mulher, martírio meu", como canta o sujeito de outra canção. "Você me abraça, me beija, me xinga / Me bota mandinga / Depois faz a briga / Só pra ver quebrar" ("Mulher, sempre mulher", de Tom Jobim e Vinícius de Moraes). Menos idealizada (musa) e mais próxima (visceral).

Diferente da "mulher de música", da musa habitante do lugar da ficção, ele quer falar de uma mulher à sua frente, acessível ao toque, real. No entanto, a comparação, no fundo, esconde uma justaposição de signos. Emancipada em muitos países, a mulher - musa ou real - colocou em xeque a utilidade do homem. Ou seja, a consciência de também poder fazer, e não simplesmente só ser, fez a mulher trincar o signo homem.

Distante da deusa, da mãe de deus, a "mulher de carne e osso" por, supostamente, ser só do sujeito, é muito mais interessante e desejável. Até porque, de tanto ser acusada, ela assume o "gozar com a própria mão". Tamanha independência assusta e faz o sujeito desejar, ratificando a dicotomia fêmea-macho.

Mas afinal, para que servem os homens em um mundo cada vez mais assumidamente matriarcal? A pergunta que tem atravessado teorias feministas e femininas, desde a mítica greve de sexo das mulheres de Atenas, é resolvida esteticamente por Arnaldo Antunes quando ele se coloca na capa do disco Paradeiro (2001) representado em um boneco de pano pendurado em um varal. É como se os papéis se invertessem. Ou, pior, em seu grito de liberdade, a mulher denegasse a existência do homem. Aliás, no clipe da canção, a atriz, simbolicamente, "fecha" um livro de Balzac.

Na canção "Essa mulher", o sujeito criado por Arnaldo Antunes sintetiza a imagem da capa. "Ela tem um travesseiro mais macio / do que o seu braço / e um acolchoado muito mais / quente que o seu abraço", diz o sujeito cancional. Ou seja, é do lugar do incômodo de não mais saber qual é seu papel na História que o sujeito de "Essa mulher" canta.

Essa mulher não é (não quer ser) musa, nem sereia. Independente para viver seu desejo, ela rejeita o homem até como objeto disso: de desejo. Ela cansou de procurar: "Todos são iguais / Eu sou apenas aquela que lava os seus pratos / Homens, eu sempre pensei ou são reis ou são ratos / Mas são todos reis e ratos", canta subcancionalmente a mulher. Ela se basta: sempre se bastou.
Com o discurso em segunda pessoa, o sujeito não só tenta se desvencilhar deste jogo terrível para ele, como deixa tudo à cargo do outro, a quem tenta persuadir a não querer mais (essa) mulher - "e você ainda quer / essa mulher" - abstendo-se das consequências. Mas sentimos que ele está falando de um coletivo - quando a "sua" é igual à "nossa".

Diferente do sujeito de "Mulher de música", que consegue distinguir a mulher utilidade pública, já que, quando cantada, a mulher da canção é de todo e qualquer ouvinte, da mulher de carne e osso, o sujeito de "Essa mulher" parece ter perdido de vez qualquer lugar na vida da mulher de verdade: "que não sente a sua falta / e quando você chega em casa / ela não sente a sua presença", canta.

Com moldura melódica pop, feito para brincar com o dissabor daquilo que é experimentado, o sujeito da canção "Essa mulher" sugere que o elogio às semelhanças entre homem e mulher, muito aquém de promover uma posição horizontal para todos, muitas vezes esconde o (falso) apagamento das diferenças: das potências de cada parte envolvida. Dando voz ao homem ressentido com as posições psico-sociais perdidas, o sujeito parece dizer que a luta pela igualdade destruiu semelhanças e conciliações possíveis. Ou não.


***

Essa mulher
(Arnaldo Antunes)

ela quer viver sozinha
sem a sua companhia
e você ainda quer
essa mulher

ela goza com o sabonete
não precisa de você
ela goza com a mão
não precisa do seu pau

ela quer viver sozinha
sem a sua companhia
e você ainda quer
essa mulher

que não sente a sua falta
e quando você chega em casa
ela não sente a sua presença

ela tem um travesseiro mais macio
do que o seu braço
e um acolchoado muito mais
quente que o seu abraço

ela quer viver sozinha
sem a sua companhia
e você ainda quer
essa mulher




* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

SHOW DE CHICO SCIENCE GRAVADO EM MONTREUX SERÁ LANÇADO EM ÁUDIO E VÍDEO

Nação Zumbi tocou com o cantor no festival de jazz na Suíça em 1995 e voltará em 2016



Ella Fitzgerald, João Gilberto, Ray Charles, Johnny Cash, Miles Davis, Alanis Morissette, Wu-Tang Clan, Jamiroquai, Phil Collins, Yes e Sun Ra estão entre os artistas que já lançaram discos gravados ao vivo no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. A Nação Zumbi pode estar nessa lista a partir deste ano, quando devem ser disponibilizados oficialmente o áudio e o vídeo do show que a banda fez com Chico Science em 1995. Eles também voltarão ao mesmo palco em 2016, desta vez ao lado da banda suíça The Young Gods.

Outros shows de Chico Science podem ser encontrados no YouTube, só que nenhum deles foi lançado oficialmente. A única gravação ao vivo oficial já lançada está no disco CSNZ, de 1998, mas são apenas cinco faixas. Ainda no YouTube, é possível ver apresentações em programas da TV Cultura no canal da emissora.

Em 1995, no Festival de Montreux, a banda pernambucana apresentou-se no Miles Davis Hall para 2 mil pessoas na mesma noite dos grupos The Specials e The Busters

A Nação Zumbi fará ainda três shows no Brasil com The Young Gods este ano. As duas bandas estarão no palco ao mesmo tempo e tocarão juntas as músicas do repertório de ambas. O formato será equivalente ao da Orquestra Manguefônica, projeto realizado com a Mundo Livre S/A em 2009. A parceria começou a ser articulada em 1996, mas foi interrompida por causa da morte de Chico Science. O vocalista Franz Treichler participou do show da Nação no Marco Zero na última segunda.

David Bowie, Chemical Brothers e Mike Patton (Faith No More) estão entre os artistas que já assumiram ter recebido influência do grupo, que é uma referência no uso do sampler (recurso bastante presente nos discos da Nação Zumbi).

Repertório do show de 1995 em Montreux:
Monólogo ao pé do ouvido
Banditismo por uma questão de classe
Etnia
Antene-se
Maracatu de tiro certeiro
Rios pontes & overdrives
Salustiano song
Sobremesa
A praieira
Macô
Samba makossa
Enquanto o mundo explode
Filha de gaiamun
Da lama ao caos
Coco dub (Afrociberdelia)
Todos estão surdos
A cidade
Corpo de lama
Mister moto


Fonte: Diário de Pernambuco

CURIOSIDADES DA MPB

Oficialmente, a Jovem Guarda acabou em 1968, com o fim programa de TV homônimo.

segunda-feira, 28 de março de 2016

PAUTA MUSICAL: LINA PESCE, 90 ANOS (MEMÓRIA MPB)

Por Laura Macedo


Lina Pesce (Magdalena Pesce Vitale)


* 26/1/1926 - São Paulo (SP)
+ 30/6/1995 - São Paulo (SP)


Filha do maestro italiano Giacomo Pesce, a menina Lina Pesce cresceu num meio em que só se falava em bemóis e sustenidos, cercados pelos músicos da sinfônica dirigida pelo pai. Cresceu, também, ouvindo a mãe tocar piano e cantar. Resultado: seu DNA artístico não demorou a revelar-se. Com nove anos, teve sua primeira música impressa - “Quantas vezes”.


Mas foi o aparecimento do pianista Alexandre Brailowsky (foto acima), na capital paulista que deixou a adolescente de 13 anos extasiada. “Aquilo sim era música!”. Comprou todos os discos disponíveis e passou a estudar e escutar, cada vez mais comovida, o grande intérprete de Chopin.

O pai e maestro Giacomo Pesce, no papel de professor, era um entusiasta e um incentivador da carreira da filha. Aí aconteceu o noivado, aos 15 anos de idade (normal para os padrões da época), e era uma vez uma concertista...


O felizardo foi Vicente Vitale, o maior editor musical da época. Casada, Lina, mudou-se para o Rio de Janeiro, passando a dedicar-se unicamente à composição, estudando com o mundialmente famoso professorTomaz Teran (foto acima), de quem Tom Jobim, também, foi aluno.

Lina Pesce e Ethel Smith



Sua composição de maior sucesso foi sem dúvida o choro - “Bem-te-vi atrevido”. Quando a mundialmente famosa organista norte americana Ethel Smith realizou uma temporada, no nosso país, no Cassino Copacabana, ficou encantada com a composição de Lina Pesce, gravando-a e incluindo-a na trilha sonora de um filme de Hollywood, "Dupla Ilusão" ("Twice Blessed", no título original).


Lero lero” (Benedito Lacerda/Erastótenes Frazão) e “Bem-te-vi atrevido” (Lina Pesce) # Ethel Smith. (Cenas do filme citado acima).





Bem-te-vi atrevido” foi gravado em vários países, como Argentina, Inglaterra, França, Itália. No Brasil, na época do lançamento, foi interpretado por Carolina Cardoso de Menezes, Altamiro Carrilho, Sivuca, Irani Pinto, entre outros. A nova geração do “choro” prestigia bastante este choro de Lina Pesce. Na minha cidade de Teresina (PI) existe um grupo de choro intitulado - “Bem-te-vi atrevido”, formado de jovens músicos (foto acima).


O escritor/jornalista Lúcio Rangel no seu livro, “Sambistas e Chorões”, dedicou um capítulo a Lina Pesce. Destaquei alguns fragmentos do referido capítulo.

- Considera-se inteiramente realizada como compositora?

- Na música popular sim. Creio que alcancei o que um compositor almeja. Claro que não vou parar. Quero apenas que minha música seja conhecida. Minhas composições recentemente gravadas são, muitas vezes, de dez anos atrás. Tenho confiança em mim, pretendo fazer coisas mais sérias...

Respondendo a uma pergunta indiscreta, Lina Pesce diz com vivacidade:

- O “bem-te-vi atrevido” rendeu bastante. Apesar de ser casada com o editor, dou a ele a percentagem e praxe.

- Que intérprete escolheria para suas músicas?

- Cada artista interpreta de uma forma, desde que seja realmente artista. Gosto de Elizeth Cardoso, principalmente. Morgana, no entanto, cantou admiravelmente o “Era uma vez”.

Onde estará meu amor” (Lina Pesce) # Elizeth Cardoso.



Era uma vez” (Lina Pesce) # Morgana.






Lúcio Rangel afirma: - Seu LP “Inspiração”, recentemente lançado, foi recebido entusiasticamente por toda crítica especializada.

- Não esperava, embora tivesse confiança no meu trabalho, que a imprensa recebesse tão bem essa primeira reunião de minhas músicas. Os diversos números foram orquestrados por diversos maestros, dando oportunidade a vários instrumentos solistas, principalmente ao violino excelente de Irany Pinto, que toca com muita expressão, sentindo a minha música.

Finalizando Lúcio Rangel relata que Lina Pesce senta-se ao piano e desfila magnificamente suas composições comovendo e encantando seus três ouvintes do momento: “eu, ela e o marido”.

O Brasil precisa conhecer melhor a obra musical da grande compositora/pianista Lina Pesce.


************
Fontes:
- Dicionário Cravo Albin da MPB (verbete Lina Pesce).
- Sambistas e Chorões, de Lúcio Rangel. São Paulo: Ed. Paulo de Azevedo Ltda, 1962.
- Site YouTube (Vídeos).
- Site #Radinha (Áudios)
- Fotos Google e do meu acervo pessoal.

NOITES TROPICAIS - SOLOS, IMPROVISOS E MEMÓRIAS MUSICAIS (NELSON MOTTA)*





Diz a lenda que “A banda” ganhou por um voto na apuração do júri. Ou teria sido “Disparada”? E que Solano ficou furioso quando Paulinho Machado de Carvalho, o dono da casa, sabiamente decretou o empate oficial, dobrando o prêmio e fazendo explodir o auditório. Era o único resultado possível: dar o prêmio a qualquer das duas músicas enfureceria metade do público e provocaria um quebra-quebra. Afinal, não era uma guerra: era só um festival. “A banda” e “Disparada” se tornaram estrondosos sucessos nacionais, e Chico Buarque virou a estrela do momento. “Na boiada já fui boi, mas um dia me montei (...)
(...) agora sou cavaleiro, laço firme e braço forte, num reino que não tem rei.” “E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor, depois da banda passar cantando coisas de amor.”

Uma moda de viola e uma marchinha, estilizadas, sofisticadas, populares, dividiam o gosto musical do país. Nos dias seguintes ao festival, discutia-se acaloradamente nas esquinas e nos botecos: “A banda” ou “Disparada”? Havia um jeito-banda de ser, como havia um jeito-disparada. Os mais líricos, mais românticos, as mulheres, os cariocas preferiam “A banda”, os mais políticos, mais agressivos, os homens, os paulistas gostavam mais de “Disparada”. “A banda” vendeu mais de 100 mil discos em uma semana, se transformou num dos maiores sucessos brasileiros de todos os tempos e foi gravada no mundo inteiro: Chico Buarque virou uma paixão nacional, uma unanimidade. Quase uma obsessão. O Brasil se apaixonou por suas músicas e letras, por seus olhos e sua timidez, por seu brilho seco e sua inteligência emocionada. Se encantou até com um certo desconforto de sua figura na tela da TV: o que para ele era pura tensão, inspirava tesão, tanto físico como intelectual em homens e mulheres de todas as idades. Jovem e bonito, culto e carismático, talentosíssimo, ele reunia
todas as qualidades certas, na pessoa certa, no momento certo: sua poesia ágil e moderna, com sólidas raízes no Brasil, unia o popular e o sofisticado em suas harmonias e melodias, avançava pelos caminhos abertos por Tom, Vinícius e João, ídolos máximos do novo ídolo brasileiro.

Era a resposta da “música brasileira” à “música jovem”. Seria ele, o cruzado de violão, a enfrentar as guitarras dos infiéis com seu talento e sua juventude. Só que ele não sabia. E nem queria. O “Seis em ponto” teve fim natural, rápido e indolor. Comecei a fazer letras para as belas e complexas melodias do amigo Dory Caymmi. De aparência muito séria, com bigode e óculos, cara fechada, Dory também era um falso rabugento, um baiano amoroso e desabusado que divertia a turma com seu espírito crítico e seu humor apimentado. Mas principalmente com o violão que tocava. Numa de nossas festinhas, Dory conheceu Ana Beatriz, prima de minha namorada Heleninha, que falava como uma metralhadora e era do tipo animada à beça. Discutiram a festa inteira. No dia seguinte e nos subseqüentes, Dory fez questão de reclamar de Ana Beatriz. Ela também se queixou dele para todas as amigas, incessantemente. Festa após festa, Dory e Ana Beatriz discutiam e brigavam e falavam mal um do outro. E tanto que começamos a desconfiar: pouco depois estavam apaixonados e casados. Como toda a turma, Dory e eu tínhamos inscrito nossas músicas no festival da Record e também no novo Festival Internacional da Canção.

Com a nossa boa e velha “Saveiros”, recusada no festival paulista, nos classificamos entre as 36 finalistas do festival carioca, que seriam apresentadas no Maracanãzinho em três eliminatórias e uma final. A novidade era que a música brasileira vencedora disputaria uma inalíssima com concorrentes do mundo inteiro em disputa do “Galo de ouro”. O prêmio era uma fortuna: dava para comprar um fusca e meio. Mas alguns não deram importância ao novo festival. Chico Buarque não inscreveu música mas, como a nova unanimidade nacional, não escapou: foi convocado para o júri. Roberto Menescal também. Edu Lobo inscreveu e classificou a melhor música que já tinha feito, “Canto triste”, com bela letra de Vinícius, que seria cantada por uma Elis Regina apaixonada e recém-saída das vaias e confrontos com o público no festival da Record. Nós já conhecíamos a música de Edu, era lindíssima, e ainda mais cantada por Elis, mordida pelas vaias paulistas. Dory escolheu sua irmã Nana, recém-chegada da Venezuela e recém-saída de um casamento, para cantar nossa música. Minha preferência inicial era Elis, mas gostei da idéia porque adorava a voz de Nana desde as primeiras vezes que, adolescente, a ouvi cantando nas festinhas de bossa nova no apartamento de meus pais. Os ensaios foram no auditório da TV Rio, no Posto Seis, em Copacabana. Grande orquestra, correria, nervosismo, concorrentes e imprensa teriam uma prévia das músicas. À medida que iam sendo ensaiadas as canções, aumentava a minha ansiedade, mas cresciam minhas esperanças: eram quase todas fraquíssimas, de um nível muito inferior às músicas que disputaram o festival da Record.

Elis estava séria, emburrada, pelos cantos, não queria falar com ninguém, me cumprimentou secamente e respondeu monossilabicamente às perguntas da imprensa. Dura e tensa, entrou no palco para ensaiar “Canto triste” com orquestra. O grandioso arranjo de cordas escrito por Luiz Eça, a beleza da linha melódica e das sequências harmônicas, a letra emocionada de Vinícius e a interpretação arrebatadora de Elis, mesmo num ensaio, me trouxeram a certeza de ser esta a nossa grande concorrente. Olhei para Dory e não falei nada. Nem precisava. Uma de minhas esperanças secretas era que, embora belíssima, a música era difícil às primeiras audições, era sofisticadíssima, dificílima de cantar. Mas principalmente, como seu título dizia, era triste. E essas coisas não combinavam muito com o clima dos festivais, principalmente depois do que tinha acontecido em São Paulo. E, afinal, Edu já tinha ganho com “Arrastão”. 

Minhas esperanças cresceram quando ouvi Nana cantando “Saveiros” na frente da orquestra regida pelo maestro Lindolpho Gaya, que tinha escrito um arranjo poderoso, reproduzindo com o naipe de metais da orquestra o balanço que Dory fazia nos baixos do violão e dando um ritmo ondulante à canção. A voz grave e marítima de Nana navegava por essas ondas sonoras, que iam e vinham e cresciam sempre, explodindo num final grandioso. Quando Nana terminou de cantar, todos que estavam ali, músicos, imprensa e concorrentes, explodiram em aplausos. Depois de algumas músicas, felizmente fracas, outra bonita, muito bonita, levemente ameaçadora: “Minha senhora”. Com letra lírica e amorosa de Torquato Neto, a música de Gilberto Gil era uma bossa nova ultracool, com sabor nordestino, que servia como uma luva para a voz afinadíssima de Maria da Graça, uma baianinha timidíssima, que morava no Solar da Fossa e cantava docemente, como um João Gilberto de seios. Tudo ali era bonito, a voz e as palavras, a melodia e o arranjo, tudo era suave, elegante, “gilbertiano”, delicado demais para as arenas em que estavam se transformando os festivais. E Gracinha, que já conhecíamos e admirávamos de festinhas e de um dueto com Bethânia em disco, com seu fio cristalino de voz e sua musicalidade intensa, por sugestão de seu empresário Guilherme Araújo, agora se chamava Gal Costa. Nos bares de Ipanema, diziam que a origem do nome era a sigla de Guilherme Araújo Limitada. Poucos no Rio sabiam que era o antigo apelido baiano da nova cantora.

“Minha senhora” era uma música talvez tão boa quanto a nossa, nossas cantoras eram ótimas, mas talvez “Canto triste”, música, letra e interpretação, fosse ainda melhor. As outras não davam medo. Na noite da grande final, Elis ficou isolada, concentrada, entrou pisando duro no palco, cantou com grande precisão e intensidade os versos apaixonados de Vinícius e a rica e triste melodia de Edu, impressionou os jurados mais sofisticados, mas a música passou praticamente despercebida pelo público. Elis entrou e saiu sem um sorriso.



* A presente obra é disponibilizada por nossa equipe , com o objetivo de oferecer conteúdo para uso parcial em pesquisas e estudos acadêmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente conteúdo.

JULIANO HOLANDA REALIZA O LANÇAMENTO DO COMPACTO ESPAÇO-TEMPO NO TEATRO DE SANTA ISABEL

Por Alef Pontes



​Compositor inquieto, o pernambucano Juliano Holanda lança no dia 1º de abril (sexta-feira) o compacto em vinil "Espaço - Tempo". O show, que traz Juliano sozinho no palco do Teatro Santa Isabel, às 20h, passeia pelo repertório do artistas além das duas faixas que compõem o disco: “A arte de ser invisível”, de autoria dele (e que não entrou no primeiro disco do artista, com mesmo título) e “Em seu lugar”, parceria com petrolinense Zé Manoel. O vinil tem produção da Anilina em parceria com a Assustado Discos, e sai com uma primeira tiragem de 450 exemplares.

O show de lançamento do registro contará com as participaçõe de outros importantes nomes da música contemporânea no Estado, como Isaar, Jr. Black, Thiago Martins e Igor de Carvalho, além do renomado violonista e compositor Júlio Holanda, pai de Juliano. O vinil "Espaço-Tempo" estará à venda no dia do lançamento, no valor de R$ 30.

Com mais de 100 canções gravadas por artistas diversos, Juliano Holanda é um requisitado produtor, diretor musical, instrumentista e compositor. Figura quase onipresente nos bastidores da música pernambucana - com parcerias com músicos e bandas como Geraldo Maia, Adiel Luna, Isadora Melo, Bandavoou, Jr. Black, Mexidinho e Orquestra Contemporânea de Olinda -, o músico acrescentou em 2015, em seu extenso currículo, a assinatura da trilha sonora original para a minissérie 'Amorteamo', produzida e exibida pela TV Globo. 

No dia a dia, segue entre produções e palcos, criando novas parcerias - como as com o também pernambucano Zé Manoel - e atuando como integrante da Orquestra Contemporânea de Olinda e da nova formação da lendária banda Ave Sangria. Na carreira solo, Juliano caminha com a segurança e a maturidade de quem carrega uma bagagem de mais de 20 anos dedicados à música.

Em 2013, foram dois discos autorais saídos de uma só vez do forno: 'A arte de ser invisível' e 'Pra saber ser nuvem de cimento quando o céu for de concreto'.


SERVIÇO
Show de lançamento do compacto em vinil Espaço - Tempo​, de Juliano Holanda
Quando: Sexta-feira (1 de abril), às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada), à venda na bilheteria do teatro e na loja Passadisco, a partir do dia 28 de março. O disco estará à venda no dia do lançamento, no valor de R$ 30. 
Informações: (81) 3355-3323. 

Crédito das fotos: Mery Lemos

domingo, 27 de março de 2016

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB


Vinícius de Moraes (Out/1913 – Jul/1980)


Quem acompanha este espaço e por conseguinte esta coluna talvez lembre que quando surgiu esta ideia de trazer algumas curiosidades do cancioneiro brasileiro os primeiros personagens abordados foram o maestro Antonio Carlos Jobim e o multifacetado Vinicius de Moraes. O cantor e compositor Oswaldo Montenegro bem definiu o poetinha quando disse que ele de tantos tinha nome e sobrenome no plural.

Neste mês em que Vinícius completaria um século de existência retomo seu nome para contar mais algumas passagens interessantes sobre sua biografia e vida artística. De início posso começar a contar um problema que Vinícius tinha que assola boa parte dos brasileiros: insônia. Ele costumava dizer que invejava quem batia na cama e dormia logo. Sua última esposa, Gilda Mattoso, costuma contar que quando pedia para o poeta acordá-la ela sempre perdia as horas. Ele costumava dizer que não tinha coragem de acordar ninguém. Em suas crises de insônia ele costumava entrar na banheira com água morna, que dizia ser o útero da mãe. Ficava ali e, quando vinha o sono, ele saía da banheira e se metia na cama, ainda molhado, para não perder o embalo. Se o sono não engrenasse, não fazia cerimônia e voltava para a água para reiniciar todo o processo.

Uma das características de Vinícius, que falava com fluência vários idiomas, era misturá-lo nessas turnês corridas. Chico Buarque certa vez contou que quando estava em Roma foi a uma apresentação do autor de Chega de saudades e ele contava mil casos a plateia. O público ria muito, inclusive um senhor que estava sentado ao lado de Chico que olhou para Chico e exclamou:

– E bravíssimo questo Vinicius ma, scusa che língua parla? (É fantástico esse Vinícius, mas me desculpe, que língua ele está falando?).

Outra passagem interessante na biografia do saudoso artista aconteceu por volta de 1980. Nessa época Vinícius já não mantinha a vida social de outrora e isso o deixava bastante abatido. Esforçava-se para sair, ver amigos, mas estavam cada vez mais complicadas e sofridas essas saídas. Nessa época João Gilberto gravaria para a rede Globo um programa para a série “Grandes nomes”, no entanto no dia marcado para a gravação o poeta passou mal. Vinícius ficou inconsolado em não ter condições de participar desse programa até que dias depois ele recebeu a visita do parceiro Baden Powell. Durante toda tarde, Baden tocou e os dois cantaram em uma alegria de dar gosto. Baden ficou para jantar e ao final da refeição caiu uma chuvarada feia que fez com que permanecesse na casa de Vinícius para poder voltar para casa no dia seguinte, já que a cidade provavelmente estava alagada. O poeta e sua esposa providenciaram as acomodações de Baden no quarto de hóspedes e seguiram também para o quarto para também dormirem. Trocaram de roupas e já preparavam-se para deitar quando o interfone toca e do outro lado era Miúcha que o questionou se ainda estavam acordados. Mesmo de pijama o poetinha prontamente respondeu entusiasmado:

— Tô Miuchinha, pode entrar.

Quando a porta foi aberta entraram não só Miúcha, mas também João Gilberto com seu violão. João refez para Vinícius o especial todinhos com várias interrupções para atender a pedidos de Vinícius. João pacientemente atendeu a todos os pedidos ao longo de toda a noite e saíram já com o dia amanhecendo.

Ao acordar no dia seguinte por volta de meio-dia foram acordar Baden, que ainda repousava, para comer alguma coisa. Baden chegou a dizer que teve um sonho excelente: “Parecia que João Gilberto tocava e cantava a noite toda para me embalar…”.

SR. BRASIL - ROLANDO BOLDRIN

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Por Luiz Américo Lisboa Junior 


Chico Buarque de Holanda - Construção (1971)


O ano era 1967 e o mundo girava em torno de "era um garoto que como eu amava os Beatles e os Roling Stones". A guerra do Vietnã era o assunto do dia entre os pacifistas. Os sinais de que o Brasil iria mergulhar numa restrição total de direitos individuais pareciam cada vez mais próximos, os festivais de música popular faziam a juventude intelectualizada da época extravasar suas ideologias, o rei Roberto Carlos seguia a frente de sua corte, e Millor Fernandes dizia que a única unanimidade nacional era Chico Buarque. E isso iria fazer a diferença muitos anos depois quando o amadurecimento musical desse artista fundamental da música brasileira reforçaria essa afirmativa indiscutível. Chico é realmente uma unanimidade! 

Se me fosse dado sem controvérsias uma opinião, eu diria que a música popular brasileira tem em Pixinguinha, Ary Barroso, Tom Jobim e Chico Buarque suas maiores referencias, pois cada um a seu tempo soube captar o nosso sentimento mais íntimo, traduzir a nossa alma verdadeira e universalizá-la, angariando os aplausos sem restrições de quem quer que seja, filhos desta terra ou não. 

Essa pequena introdução é apenas para analisar um disco fundamental da nossa música popular lançado em 1971 quando ainda se vivia na contradição de crescimento econômico misturado com ingredientes de torturas e arbítrio. Parece difícil acreditar que numa época em que todas as canções eram encaminhadas para uma análise do departamento de censura da Polícia Federal. Uma em especial, tivesse sido aprovada sem cortes, trata-se de Construção de Chico Buarque, que da título a seu LP lançado naquele ano, o primeiro após seu retorno do exílio. 

Considerada uma obra-prima de nossa canção popular, a música foi encaminhada aos censores por João Carlos Muller Chaves, advogado da gravadora Polygram, e escolado como estava em ver vetadas várias letras de Chico Buarque resolveu utilizar uma estratégia arriscada a fim de liberar a música, solicitando aos censores que a proibissem, estes, a fim de contrariá-lo liberaram o texto na íntegra e "Construção" pode ser gravada sem cortes ou emendas. 

Amou daquela vez como se fosse a última 
Beijou sua mulher como se fosse a última 
E cada filho seu como se fosse o único 
E atravessou a rua com seu passo tímido 

Subiu a construção como se fosse máquina 
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas 
Tijolo com tijolo num desenho mágico 
Seus olhos embotados de cimento e lágrima 

Sentou pra descansar como se fosse sábado 
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe 
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago 
Dançou e gargalhou como se ouvisse música 

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado 
E flutuou no ar como se fosse um pássaro 
E acabou no chão feito um pacote flácido 
Agonizou no meio do passeio público 

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego 

Amou daquela vez como se fosse o último 
Beijou sua mulher como se fosse a única 
E cada filho seu como se fosse o pródigo 
E atravessou a rua com seu passo bêbado 

Subiu na construção como se fosse sólido 
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas 
Tijolo com tijolo num desenho lógico 
Seus olhos embotados de cimento e tráfego 

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe 
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo 
Bebeu e soluçou como se fosse máquina 
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo 

E tropeçou no céu como se ouvisse música 
E flutuou no ar como se fosse sábado 
E se acabou no chão como um pacote tímido 
Agonizou no meio do passeio náufrago 

Morreu na contramão atrapalhando o público. 

Mas apesar de ser a música principal, o novo disco trazia ainda novidades que se tornariam clássicas de nosso cancioneiro. Como por exemplo, "Cotidiano" que relata a rotina de um casal, explorando a tensão vivida pela mulher e a resistência do marido em suportar o dia a dia. E "Samba de Orly" feita ainda no exílio com Vinícius de Moraes e Toquinho, que teve alguns de seus versos vetados. Em vez de, "pede perdão pela omissão um tanto forçada" acabou saindo, "pede perdão pela duração dessa temporada". Tenta-se mudar o sentido, mas não o seu conteúdo, e assim ela seguiu adiante com êxito sendo depois regravada com seu texto original. 

Vinícius de Moraes, que a esta época estava muito próximo de Chico Buarque, une-se a ele mais uma vez e faz um poema de amor lírico, bem ao seu estilo. E assim surge "Valsinha", uma das mais singelas composições de Chico e mais um clássico de seu repertório. Também com Vinícius, assina "Desalento", outro bom momento do disco. Nesse LP memorável ainda há espaço para uma versão de uma canção italiana de Dalla e Palotino denominada "Gesubambino", transformada por Chico Buarque em "Minha história" que lhe trouxe também alguns problemas com a censura e com a parte mais ortodoxa da igreja católica que via uma afronta à menção ao nome de "menino Jesus" misturado a cabarés, ladrões, bar e bebidas. 

Por fim devemos mencionar como grandes sucessos do disco, "Olha Maria" feita com Tom Jobim e Vinícius de Moraes, "Deus lhe pague" que serve como uma continuidade a "Construção", uma cantiga de ninar, "Acalanto" e um desabafo em "Cordão", cujos versos finais são a demonstração de seu estado de espírito naqueles anos difíceis: "Ninguém vai me acorrentar/enquanto eu puder cantar/enquanto eu puder sorrir/enquanto eu puder cantar/alguém vai ter que me ouvir". 

Retirar um único disco da obra de Chico Buarque é tarefa ingrata, pois todos os que gravou são importantes. Porém, Construção retrata não só seu talento em grande fase, como também uma época da música brasileira onde se faziam ainda discos e músicas inesquecíveis. 

Músicas: 
01 - Deus lhe pague (Chico Buarque de Holanda) 
02 - Cotidiano (Chico Buarque de Holanda) 
03 - Desalento (Chico Buarque de Holanda - Vinícius de Moraes) 
04 - Construção (Chico Buarque de Holanda) 
05 - Cordão (Chico Buarque de Holanda) 
06 - Olha Maria (Tom Jobim - Vinícius de Moraes - Chico Buarque de Holanda) 
07 - Samba de Orly (Chico Buarque de Holanda - Vinícius de Moraes - Toquinho) 
08 - Valsinha (Chico Buarque de Holanda - Vinícius de Moraes) 
09 - Minha história (Dalla - Palotino – Versão de Chico Buarque de Holanda) 
10 - Acalanto (Chico Buarque de Holanda) 


Ficha Técnica
Direção de produção: Roberto Menescal
Direção de estúdio: Roberto Menescal 
Técnicos de gravação: Toninho e Mazola
Estúdio: Phonogram
Direção musical: Magro
Foto: Carlos Leonam
Capa: Aldo Luiz
Participação especial: Tom Jobim, Paulinho Jobim e MPB4

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