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sábado, 31 de outubro de 2015

ORGANIZAÇÃO CANCELA FESTIVAL MIMO EM OLINDA POR FALTA DE VERBAS

Edição 2015 do maior evento de música instrumental do país chegou a ser adiado, mas não resistiu à ausência de recursos


Por Isabelle Barros



Um dos festivais de música mais importantes do ano em Pernambuco não vai mais acontecer por insuficiência de verba. A etapa local de 2015 do Mimo Festival, maior evento do Brasil dedicado à vertente instrumental, foi cancelada, após já ter sofrido um adiamento. Seria a 12ª edição da mostra que, pela primeira vez, não ocorrerá em Olinda, a cidade natal. As apresentações seriam de 4 a 7 de setembro e tinham sido adiadas para os dias 20, 21 e 22 de novembro. 

O evento, marcado para outras três cidades neste ano, teve o calendário mantido: Parati (RJ), de 2 a 4 de outubro, o circuito Minas - Ouro Preto e Tiradentes -, de 16 a 18 de outubro, e Rio de Janeiro, de 13 a 15 de novembro. Em Olinda, três atrações já haviam sido confirmadas e anunciadas, duas africanas e uma europeia: Bombino, guitarrista do Níger e um dos maiores nomes da world music, o cantor, compositor e guitarrista do Mali Boubacar Traoré e o contrabaixista francês Stéphane Kerecki. A ideia do festival é unir música instrumental e de várias partes do mundo ao patrimônio arquitetônico de cidades históricas, com exibições de filmes, oficinas e debates como ações transversais.

Em nota, a assessoria de imprensa do Mimo justifica o cancelamento sob o prisma da crise econômica enfrentada pelo Brasil, que teria impedido a captação de recursos suficientes para a realização desta edição. "Mesmo contando novamente neste ano de 2015 com o apoio de nossos patrocinadores, infelizmente a não obtenção de novos recursos junto à iniciativa privada, a irrefreável disparada do dólar e do euro e, por fim, a impossibilidade do Governo de Pernambuco em nos apoiar, devido à crise com que também se depara, inviabilizaram o que nos restava de esperança para mantermos o festival em Olinda. Isso significou um corte da ordem de 50% em nossa captação esse ano, em comparação com o anterior". 

O diretor de negócios do Mimo Festival, Luiz Calainho, reforça a dificuldade em captar patrocinadores neste ano como fator decisivo para o cancelamento, já que o evento é gratuito ao público. "Tivemos muito prejuízo. Já tínhamos ações de mídia anunciadas, cachês pagos, passagens compradas. Fomos ao limite da responsabilidade e de uma data para tomar uma decisão". 

Ainda assim, o empresário afirma que o Mimo retorna em 2016 e já tem até data: 7 a 10 de setembro. E, embora Calainho não tenha revelado valores, a reportagem apurou com o Ministério da Cultura que o MIMO Olinda foi autorizado a captar R$ 3.602.364,00 pela Lei de Incentivo à Cultura, mas só teria conseguido R$ 750 mil.

Calainho afirma que o Bradesco e o BNDES são responsáveis por aproximadamente 50% do valor captado para todas as cidades do festival e que a a etapa pernambucana ficaria com uma porcentagem entre 25% e 30% deste montante caso tivesse continuado com as atividades. 

Ele reforçou ainda que procurou os empresários locais e o governo do estado, mas também não obteve sucesso. "Viajamos ao Recife várias vezes, tivemos muitas reuniões com empresários locais, fomos muito bem recebidos, mas não conseguimos mudar a situação. O governador do Estado, Paulo Câmara (PSB) também foi muito gentil conosco e fez uma proposição, mas não era o suficiente para manter o festival de pé". (Colaborou Larissa Lins)


- Quem já passou pelo Mimo



- O que eles disseram:

Governo do estado
O governo emitiu nota sobre o cancelamento. "O governo de Pernambuco, por meio da Empetur, é um dos apoiadores do Mimo e tem todo interesse em manter sua ajuda ao evento. Mas está consciente de que apenas o seu apoio é insuficiente para um evento do porte do referido festival. Valores ainda não foram avaliados, pois não há definição de cotas dos demais parceiros".

Rede hoteleira

Segundo Luís Gonçalves, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), "o impacto será muito negativo. Além da hospedagem e da movimentação da cultura em Pernambuco, perderemos também os turistas de outros estados e regiões do país. Foi surpresa o cancelamento. Já tínhamos, inclusive, reservas para a temporada da Mimo." A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) informou que não se pronunciará quanto aos impactos sobre bares e restaurantes da região por não estar entre os organizadores.





O CERCO CONTRA O BLOG UM QUE TENHA E SEU PAPEL COMO DIFUSOR DE CULTURA BRASILEIRA

Ricardo Ramos, Pedro Dias Pinheiro, Pedro Cisalpino, Leonardo Martins Bento, Regina Kalil Wehbe




Resumo

O Um Que Tenha, em 2012, interrompeu suas atividades em decorrência da pressão contra o compartilhamento de conteúdo na internet. Através da análise do acervo blog, destacaremos seu papel como difusor de cultura brasileira. Ao mesmo tempo, apresentaremos o posicionamento do blog no contexto dos debates sobre direitos autorais na internet.

Palavras Chave: Direitos autorais; cultura; MPB.


Introdução

Criado em 2006, o Um Que Tenha é um blog especializado em música brasileira com propósito "estritamente cultural", como destaca o seu criador, Fulano Sicrano. O objetivo principal é a divulgação de músicas e de artistas brasileiros. Até 2009, último levantamento do acervo disponível para consulta, o blog contava com mais de 4.500 álbuns para download. Em seu endereço eletrônico (www.umquetenha.org) podem ser “baixados” trabalhos que abrangem diferentes estilos musicais e que representam períodos históricos distintos. Há espaço para músicos com as carreiras consolidadas entres os grandes, os ainda desconhecidos e àqueles em processo de esquecimento.

Em outubro 2012, o administrador do blog anunciou que havia recebido um comunicado que sua conta no Rapidshare1 havia sido fechada, fato este que inviabilizaria a continuidade do blog. Rapidamente a notícia se espalhou entre os admiradores de música brasileira, uma vez que o blog conta com um acervo praticamente infindável de artistas brasileiros e trabalhos de músicos estrangeiros relacionados à música brasileira. O impacto do fechamento 2 é difícil de medir, mas é possível afirmar, com segurança, que a maior prejudicada é a música popular brasileira. 

O jornalista Luiz Nassif, em seu blog, afirmou que "em poucos anos de liberdade, esses dois blogs fizeram mais pela MPB do que três décadas de jabás em rádios" (NASSIF,2012). Ele se referia também ao fechamento de outro importante blog musical brasileiro, o Loronix. A partir da afirmação do jornalista / blogueiro fica mais fácil compreender a importância do Um Que Tenha para a MPB. O papel do blog, longe de ser algo relacionado à pirataria, está diretamente vinculado à divulgação de novos artistas e o ressurgimento de outros que viviam à margem da mídia, como afirmou o próprio Fulano em entrevista ao Jornal o Estado de São Paulo (2009). Esta não foi a primeira tentativa de fechamento do Um Que Tenha, em 2009, quando era hospedado na plataforma Google/Blogger, o Um Que Tenha foi comunicado que sairia do ar. A alegação era que o blog infligia a leis de direitos autorais norte americanas. A saída encontrada pelo Fulano Sicrano foi mudar de plataforma. Apenas um mês depois estava de volta, já no endereço eletrônico umquetenha.org. A repercussão fim do Um Que Tenha, já em 2009, foi muito grande. O responsável pelo blog concedeu várias entrevistas para veículos de comunicação como o Jornal Estado de São Paulo e Revista Exame, entre outros. O que chama a atenção ao analisarmos a pressão sofrida pelo blog é a postura do mesmo quanto ao conteúdo que disponibiliza. Qualquer artista que se sinta lesado com a disponibilização de seu trabalho deve entrar em contato com o responsável pelo blog, que será atendido prontamente. Em 2009, 4.500 discos publicados depois de sua criação, apenas dois artista haviam se manifestado contrariamente à disponibilização de seus trabalhos para download no blog.


Luta contra a pirataria e a postura política do Um Que Tenha

A política do blog, publicada em sua primeira página, deixa claro sua intenção: "O Um Que Tenha tem caráter estritamente cultural. Nosso propósito é divulgar a música e os artistas brasileiros e difundir o prazer de ouvi-los, sem que isso resulte em ônus ou benefício financeiro direto ou indireto para ninguém"3 . O blog também recomenda que o usuário compre os discos que tenha gostado depois de acessá-los através do Um Que Tenha.

Em 2011, o blog adotou a postura de publicação de álbuns com no mínimo três anos passados desde o lançamento, com exceção para os casos de vontade expressa do artista ou produtor da disponibilização em períodos inferiores. Tal postura reforça o papel do blog como um difusor de cultura, no período, incontáveis trabalhos foram postados a pedido de artistas interessados na divulgação de seu trabalho.

Nos últimos anos, vem aumentando em todo o mundo a pressão exercida pelos grandes grupos empresas de entretenimento contra a cultura de compartilhamento, na visão deles, contra a pirataria. Em 2011, foi enviado ao Congresso Norte-Americano o Stop Online Piracy Act (SOPA), que pretendia ampliar os meios através dos quais os detentores de direitos autorais poderiam agir combater o tráfico de informações online.

Ao mesmo tempo, tramitava no Senado Norte-Americano o projeto PROTECT IP Act (PIPA), projeto de lei que pretendia combater sites relacionados à pirataria, principalmente aqueles fora dos Estados Unidos. Ambos os projetos baseavam-se em argumentos relacionados às perdas econômicas dos proprietários de direitos autorais em decorrência da pirataria. 

Lemley et al. (2011), destacam a aprovação das referidas leis comprometeria a funcionalidade de uma internet global e única, que permita a interação livre e sem mediação de usuários em todo o mundo. Os autores consideram os projetos acima citados as maiores ameaças contra a internet na história. A questão dos direitos autorais é sim um problema que deve ser debatido, assim como a pirataria deve ser combatida, mas sem colocar em risco a liberdade da internet (LEMLEY; LEVINE; POST, 2011). 

A prisão do proprietário do proprietário Megaupload, Kim Schmitz, site de armazenamento de arquivos, em janeiro de 2012, também gerou grande repercussão sobre a utilização da internet e os direitos autorais. Como publicou a página Link do Estadão, "a Justiça americana afirma que a Megaupload faz parte de uma rede mundial de pirataria na internet, controlada por uma organização criminosa, e que causou danos aos direitos autorais no valor de pelo menos US$ 500 milhões". 

As tentativas de restrição à força das liberdades na internet, exemplificadas com a SOPA a PIPA e a prisão de Kim Schmitz, ampliaram o debate e geraram grandes reações contrarias. Incontáveis sites ao redor do mundo organizaram um Blackout como meio de protestar contra as políticas que colocavam em risco a liberdade e o compartilhamento de conteúdo na internet. O movimento contrário contou com apoio de grupos de força como o Google, Facebook, LinkedIn, Twitter, Yahoo!, Amazon, eBay e etc.

Em geral, tais medidas são unilaterais, voltadas para interesses individuais, que passam ao largo das transformações comportamentais e culturais que a difusão da internet possibilitou. Através da interconexão, sem mediação, as pessoas de qualquer lugar do mundo, com exceção dos regimes ditatoriais, compartilham conhecimento, informação e interesses. Regimes estes, que o potencial democratizante da internet também tem papel importante para superá-los, como observamos na chamada Primavera Árabe. 


Considerações Finais

 No caso do Um que Tenha, percebemos que o blog, de fato, pretende promover a divulgação cultural. Fica nítido que não se trata de pirataria, os artistas que se sentirem lesados são estimulados a manifestar-se. Muitos artistas, não só independentes, vem utilizando e observam o potencial da internet e, consequentemente, do blog como meio de divulgação de seus trabalhos.

Desde que, em 2011, definiu que publicaria apenas discos com pelo menos três anos passados desde o lançamento, o que se percebe é que o Um Que Tenha, a pedido ou com a devida autorização, publica recorrente trabalhos novos, sinal que muitos artistas aproveitam e comemoram a oportunidade de divulgação de seu trabalho. 


Referencias Bibliográficas
Dias, M.T. Notificado, blog ”Um que tenha” sairá do ar. Jornal Estado de São Paulo. São Paulo, 2009. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/link/notificado-blog-um-que-tenha-saira-do-ar/. Acesso em: 15 maio de 2013.
Lemley, Mark A., Levine, David S. and Post, David G., Don't Break the Internet (January 3, 2012). Stanford Law Review Online, Vol. 64, p. 34, December 2011; Stanford Public Law Working Paper No. 1978989. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=1978989
Nassif, L. O fim de dois Blogs musicais que marcaram época. Brasilianas. São Paulo, 2012. Disponível em: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-fim-de-dois-blogs-musicais-que-marcaram-epoca. Acesso em: 18 maio 2013.
Jolly, D. A New Question of Internet Freedom. New Yotk Times. New York, 2012. Disponível em: http://www.espm.br/rjclipping/2012/fevereiro/40933.pdf. Acesso em : 18 de maio de 2013. 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Quando a trilha sonora de "Eu, Tu, Eles" foi lançada em maio de 2000, Gilberto Gil já estava finalizando o projeto "Gil & Milton" com Milton Nascimento

Por Marcelo Fróes


As Canções de Eu, Tu, Eles (2005)


A turnê forrozeira de Gil foi imediatamente iniciada e também gravada para futuro álbum ao vivo, pois no início do segundo semestre Gil já precisaria se dedicar ao lançamento de "Gil & Milton" e à turnê que os dois fariam.


"A turnê com Milton atrasou por dois meses por causa de problemas que ele teve com a voz após shows no exterior", conta Gil – que aproveitou as datas reservadas para shows da dupla para fazer uma turnê instantânea com Maria Bethânia. Durante aquele segundo semestre de 2000, Gilberto Gil preparava a turnê com Milton com um show ensaiado; cumpria a agenda com shows montados com Maria Bethânia, e continuava a turnê de "Eu, Tu, Eles".


Três shows diferentes, que se alternavam semanalmente.

Em agosto de 2000, Gil fez uma histórica apresentação na Feira de São Cristóvão – tradicional reduto nordestino no Rio de Janeiro. "Andrucha fez então um documentário sobre a turnê, que torna-se um produto irmão – tanto de ‘Eu, Tu, Eles’ quanto de São João Vivo!, lembra Gil. "Ele aproveitou a turnê para ir lançando seu filme em cada praça e foi registrando tudo num documentário.

Então este projeto é uma trilogia que se fecha em 2002, com o lançamento do documentário ‘Viva São João’", define.

A turnê com Milton finalmente estreou no Canecão (RJ) em novembro de 2000, após o que, a dupla percorreu o país e encerrou os trabalhos com últimas temporadas em São Paulo e no Rio. Aí sim Gil pôde entrar em estúdio para preparar o CD São João Vivo!, realizando alguns overdubs em seu estúdio Geléia Geral (Leblon, RJ) em abril de 2001. O disco saiu para o novo inverno forrozeiro de 2001, quando Gil realizou um arraial em pleno Aterro do Flamengo – com participação de Elba Ramalho, Margareth Menezes e Alexandre Pires – e partiu numa viagem em busca de suas origens musicais, para narrá-las no especial "Viva São João".

São João Vivo! é uma boa continuação ao tributo a Luiz Gonzaga, posto que oferece mais músicas de seu repertório – além, naturalmente, de registrar ao vivo músicas gravadas na trilha de "Eu, Tu, Eles". Podemos destacar o medley de Baião (Gonzaga) com De Onde Vem o Baião (Gil), além das novas versões de Gil para Lamento Sertanejo, Refazenda, Eu Só Quero Um Xodó e Madalena. Gil volta a cantar Respeita Januário e Vem, Morena, que ele gravara em 1978 e 1984, respectivamente, além de interpretar Cajuína – de Caetano Veloso.

PS: Pouco após o lançamento de São João Vivo!, foi lançada – para venda exclusiva numa grande loja – uma edição
especial que oferecia como bônus a versão acústica de Esperando na Janela.


Faixas:
01 - Óia Eu Aqui de Novo (Antônio Barros)
02 - Baião da Penha (Guio de Moraes)
03 - Esperando na Janela (Targino Gondim - Manuca Almeida
 - Raimundo do Acordeon)
04 - Juazeiro (Luiz Gonzaga
 - Humberto Teixeira)
05 - Último Pau-de-Arara (Venâncio
 - Corumba - José Guimarães)
06 - Asa Branca (Luiz Gonzaga
 - Humberto Teixeira)
07 - Que Nem Jiló (Luiz Gonzaga
 - Humberto Teixeira)
08 - Assum Preto (Luiz Gonzaga
 - Humberto Teixeira)
09 - Pau-de-Arara (Luiz Gonzaga
 - Guio de Moraes)
10 - A Volta da Asa Branca (Luiz Gonzaga
 - Zé Dantas)
11 - O Amor Aqui de Casa (Gilberto Gil)
12 - As Pegadas do Amor (Gilberto Gil)
13 - Lamento Sertanejo (Gilberto Gil
 - Dominguinhos)
14 - Casinha Feliz (Gilberto Gil)

CURIOSIDADES DA MPB

O nome artístico de Jackson do Pandeiro nasceu de um apelido que ele mesmo se dava: Jack, inspirado em um mocinho de filmes de faroeste, Jack Perry. A transformação para Jackson foi uma sugestão de um diretor de programa de rádio. Dizia que ficaria mais sonoro e causaria mais efeito quando fosse ser anunciado.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

GRAMOFONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*





Canção: Pé de anjo

Composição: Sinhô (José Barbosa da Silva).

Intérprete - Emilinha Borba e Jorge Goulart

Álbum - Um Sinhô Compositor - José Barbosa da Silva - Oito Décadas de Saudade


* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 5000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

GRANDE OTELO, 100 ANOS

Sebastião Bernardes nasceu em 18 de outubro de 1915, em Uberlândia, Minas, filho de trabalhadores agregados da família Prata, sobrenome adotado pelos pais para o menino




São Paulo - Ele tinha "grande" no nome e era, de fato, enorme, apesar do seu 1,50m de altura. Sebastião Prata, o Grande Otelo, faria cem anos dia 18. As comemorações começam dez dias antes. Nesta quinta-feira (8), o Caixa Belas Artes dá início a uma ampla retrospectiva com 23 filmes nos quais atuou. Haverá debates e reavaliações de sua obra. A primeira mesa ocorre às 18h30, com Mário Prata (filho de Grande Otelo) e os curadores da mostra, Breno Lira Gomes e João Monteiro, moderação da jornalista Maria do Rosário Caetano.

Sebastião Bernardes nasceu em 18 de outubro de 1915, em Uberlândia, Minas, filho de trabalhadores agregados da família Prata, sobrenome adotado pelos pais para o menino. Artisticamente dotado, teve o circo como primeira escola.

Impressionando por sua precocidade, é levado para São Paulo e, em Campinas, integra a trupe do cômico Genésio Arruda. Entra para a Companhia Negra e chega ao Rio de Janeiro. Trabalha em teatro de revista, na Praça Tiradentes, e se aproxima do meio cinematográfico carioca. Em 1935, participa do primeiro filme, Noites Cariocas, de Enrique Cadicamo.

Otelo atravessou várias fases do cinema brasileiro, e elas estão representadas na mostra. No tempo das chanchadas, compôs com Oscarito a grande dupla do período. E lá estão os filmes para mostrar essa vertente cômica, como Matar ou Correr, Um Candango na Belacap e Samba em Berlim.

Em meados dos anos 1950, Otelo participou ativamente do então embrionário Cinema Novo, que, com suas preocupações sociais, era muito crítico em relação às chanchadas. Ele é o protagonista de Rio Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos, precursor dos cinemanovistas. Seu personagem se chama Espírito da Luz, um sambista que vende suas composições para sobreviver, prática comum entre sambistas da época.

Está em Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias, filme que corre em paralelo ao Cinema Novo e é tido como o melhor policial já feito pelo cinema brasileiro. Em papel tragicômico, Otelo faz parte do bando de Tião Medonho, e é um cachaceiro impenitente. Na tensa ação dramática, despeja seus cacos divertidos e alivia o clima. Mas a cena que o consagra é aquela em que, completamente bêbado, vê passar o enterro de uma criança na favela. Ele canta, esganiçado, cambaleante e com a garrafa na mão. Quando o advertem por falta de respeito, diz, com sua voz de alcoólatra, que todos deveriam comemorar quando uma criança morre na favela, porque é uma a menos para sofrer aquela miséria.

Otelo está também em algumas obras importantes do Cinema Novo, como Os Herdeiros (1970), de Cacá Diegues, e Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade. Neste, vive a faceta negra do "herói da nossa gente", enquanto Paulo José encarna o lado branco do personagem de Mário de Andrade. A cena do nascimento de Macunaíma, na versão de Otelo, é uma das mais hilárias dessa tragicomédia do povo brasileiro, imaginada no Modernismo e reciclada no sufoco da ditadura.

A versatilidade de Otelo o fazia atravessar períodos contraditórios da história do cinema. Brilhou nas chanchadas, que foram desancadas pelo Cinema Novo, movimento que também o adotou. Depois, o Cinema Novo foi criticado pelo chamado Cinema Marginal e também neste Otelo deixou sua marca, em filmes como A Família do Barulho (1970) e O Rei do Baralho (1973).

Por isso, ganha especial relevo outra mesa de debates, esta no domingo dia 18, com presença da atriz e diretora Helena Ignez, viúva de Rogério Sganzerla. A conversa acontece depois da projeção de Nem Tudo É Verdade (16h), um dos filmes dedicados por Sganzerla à complicada e polêmica passagem de Orson Welles pelo Brasil em 1942 para filmar o documentário It’s All True (É Tudo Verdade). Helena falará da experiência de atuar ao lado de Grande Otelo, da relação dele com Orson Welles e Sganzerla e de sua importância para a cultura brasileira. Ah, sim, conhecendo-o no Rio, Welles, o cineasta gênio de Cidadão Kane, não teve dúvidas em afirmar: "Grande Otelo é o maior ator do Brasil". Se alguém achar que Welles exagerava, é só ver os filmes.

Em 1993, Otelo passou pelo Festival de Brasília, onde foi homenageado. Deu entrevistas, brincou com todos, esbanjou talento e simpatia. Embarcou no dia seguinte para a França, onde apresentaria uma retrospectiva de sua obra no Festival des Trois Continents, em Nantes.

Ao chegar ao Aeroporto Charles De Gaulle, teve o enfarte fatal. Morreu aos 78 anos, dia 26 de novembro, em Paris. Chique até na saída de cena. As informações são do jornal 


Fonte: O Estado de S. Paulo.

10 ANOS SEM A DAMA DA VIOLA

2015 é marcado por uma década de saudades desta insubstituível artista




Helena Meirelles (Bataguassu, 13 de agosto de 1924) foi uma violeira, cantora e compositora brasileira, reconhecida mundialmente por seu talento como tocadora da denominada viola caipira (às vezes denominada simplesmente viola).

Ela é filha de um paraguaio chamado Ovídio e sua mãe era uma matogrossense que se chamava Ramona.


Helena nasceu em um tempo em que só homens tocavam instrumentos musicais, inclusive o que ela tanto gostava, que era a viola. Mas ela não desistiu e aprendeu a tocar viola escondida e sozinha.

Sua música é reconhecida pelas pessoas nativas do Mato Grosso do Sul como expressão das raízes e da cultura da região.

Cresceu no meio da peãozada, escutando o berrante das comitivas de gado. Desde criança começou a se interessar pelo toque da viola, aprendeu a tocar sozinha observando seu tio e também os paraguaios (amigos de seu avô) que se hospedavam em sua casa.

Enfrentou grande resistência dos pais que tentaram, a todo custo, impedir que ela se tornasse violeira. 


Mas pra nossa sorte o destino de Helena Meirelles estava traçado e seu caminho se construiu no braço da viola. 
Fugiu de casa com 15 anos e teve seu primeiro filho com 17, no total foram 11 filhos em 3 casamentos. 

Desde jovem começou a tocar viola nas festas juninas que aconteciam na beira da estrada boiadeira, na época em que o salão era iluminado por lampião e o chão era de terra batida.


Helena dizia que gostava das festas familiares, mas preferia tocar na zona, na casa das mulheres da vida. 

“Na zona eu me divertia com a farra que os peões faziam e não via o tempo passar”. 

Contava ainda que nunca foi desrespeitada nos bordéis, mas cansou de ver os peões na zona do Porto 15 mexerem a cerveja com o cano do 38 e bater nas mulheres com guaiaca e espora. 


Sua identidade musical foi construída com os ritmos do Mato Grosso do Sul e com influências da música paraguaia. 

Subiu ao palco pela primeira vez em 1992, aos 68 anos, quando teve a oportunidade de se apresentar ao lado de Inezita Barroso e da dupla Pena Branca e Xavantinho, no Teatro do Sesc, em São Paulo.

Neste mesmo ano um sobrinho enviou uma fita com gravações amadoras de Helena Meirelles tocando viola para uma revista especializada dos Estados Unidos.

Analfabeta (não sabia ler nem escrever), autodidata, benzedeira, parteira, lavadeira e apaixonada pelo pantanal, uma mulher de fibra, dona de um talento musical inquestionável.

Dizia ela com poesia, “quando escuto um burro urrar ou um toque de berrante, da vontade de voar no vento e cair no meio da boiaderama”.

Gravou quatro discos em seguida. Em 1993, foi eleita pela revista americana Guitar Player (com voto de Eric Clapton), como uma das 100 melhores instrumentistas do mundo, por sua atuação com diversos cordofones, em especial viola e violão. 

Numa destas injustiças difíceis de serem explicadas, a valorização de nossa maior violeira aconteceu primeiro no exterior e depois aqui no Brasil.

Sua técnica de solos era muito distinta do que se tinha por habitual à viola caipira, usava uma afinação diferente (não muito bem nomeada por ela, mas vezes evocada como paraguaçú, três cordas ou rio abaixo) além de priorizar o uso horizontal e as variações rítmicas de palhetadas.
Não havia notícia conhecida, até seu aparecimento, sobre esse jeito peculiar de se tocar -prioritariamente solado, os dois violeiros até então influenciado, manutentores e inovadores da herança técnica e sonora deixada por Helena são Milton Araújo e Rainer Miranda.
Helena Meirelles faleceu em São Paulo no dia 28 de setembro de 2005,vítima de parada cardiorespiratória aos 81 anos.

Em 2003 foi concluída a construção de uma concha acústica na cidade de Campo Grande (MS), cujo nome foi batizado em homenagem a violeira Helena Meirelles. 

A Concha Acústica Helena Meirelles está localizada no Parque das Nações Indígenas, ao lado do Museu de Arte Contemporânea e possui as seguintes características:

_ Auditório para 1050 pessoas
_ Teatro de Arena com 450 lugares
_ Três camarins.



Álbuns
1994 - Helena Meirelles
1996 - Flor de guavira
1997 - Raiz pantaneira
2002 - Ao vivo (também conhecido como De volta ao Pantanal)
2004 - Os bambas da viola (compilação com um tema de Helena Meirelles)


Filmes
Helena Meirelles, a dama da viola (2004); dir. Francisco de Paula. 
Dona Helena (2004); Dir. Dainara Toffoli. 

Foi eleita uma das 100 melhores instrumentistas do mundo, por sua atuação nas violas de seis, oito, dez e doze cordas.

"Eu só queria ser eu! Eu sou dona do meu nariz e da minha direção."


Fontes:
http://botecodosbloggers.blogspot.com.br
http://violeirovergalim.blogspot.com.br
http://lavrapalavra.blogspot.com.br
http://pt.wikipedia.org/wiki
http://www.culturamix.com

terça-feira, 27 de outubro de 2015

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*


De onde vem a canção


Ao que tudo indica, quando lemos um texto em voz alta estamos mais atentos ao conteúdo dele. Enquanto que quando cantamos o que importa é a expressão daquilo que é dito (cantado). Há uma vitalidade intrínseca que diferencia a palavra falada da palavra cantada. E essa vitalidade está manifesta na voz: é representada pelo sopro de ar que atravessa o corpo e se encorpa na garganta.

Obviamente os níveis de aproximação entre um ponto e outro são tenues e frágeis. Ou seja, pode haver, e muitas vezes há, conteúdo no canto, assim como pode haver expressão na leitura. Na leitura de um poema, por exemplo, o leitor, em geral, busca apresentar a trajetória do sujeito-lírico trabalhando a tessitura entoativa.

E assim caímos no campo das paixões. É calcado na paixão que o leitor e/ou o cantor imprimem mais ou menos vitalidade à palavra que seus pulmões lançam no ar depois de tocar (e ser tocada por) sua garganta, úvula e impregnar-se de saliva, na boca.

As canções, deste modo, são regidas pelo sensível, que, por sua vez, é a base da cognição. Pensar tais coisas exige a vocalização do logos. Exige reconhecer que nem só de escrita vive o Homem, mas também daquilo que é dito, cantado. Neste ponto, Freud poderia dizer que "o homem é dono do que cala e escravo do que fala. Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo".

Seja como for, há um gradiente de possibilidades entre a intenção do autor e a intenção do leitor. Para nós, é impossível falar sem fazer uso da curva melódica. Enquanto que um cantor trabalha a dicção de cada coisa que canta, faz escolhas e explora intensidades - acelerações, desacelerações.

Como mensurar a importância da leitura em voz alta à cultura e à construção de conhecimento, quando o acesso ao mundo da escrita era mais restrito? E até que ponto o leitor (sua voz: escolhas entoativas) interferiu na transmissão? O quão fundamentais são as histórias lidas às crianças? Isso sem contar as decisivas canções de ninar.

Isso tudo é para dizer que na canção (na materialidade da canção) o que determina sua eficácia é o modo de dizer da voz, mais do que o que é dito (o texto). É preciso analisar significantes e significados, a textura melódica, as pausas, a respiração... a vitalidade impressa na canção para chegar a alguma significação possível. Ou seja, para saber de onde vem a canção.

Guardado no disco Chão (2011), o sujeito da canção "De onde vem a canção", de Lenine, age atravessado pela pergunta-título. Sem resposta definitiva, mas cheio de suspeitas e afetos, ele recolhe instantes - "Quando do céu despenca / quando já nasce pronta / quando o vento é quem venta / (...) / Quando se materializa / No instante que se encanta / Do nada se concretiza" - a fim de empreender sua busca. Colocar-se no meio.

Investigar de onde vem e para onde vai a canção ("Quando tudo silencia / Depois do som consumado") é investigar a condição do Humano. O sujeito sugere, já que pergunta afetado pela canção, que ela vem e vai para dentro. Afinal, é quando finda que de fato a canção começa a ser processada em nós: entra para a nossa memória sonora - definidora daquilo que somos.

Cantor, Lenine joga com a perspectiva de que a canção só é canção quando não é mais sua (do autor, leitor, cantor): "quando nasce pronta, quando se propaga, quando se irradia" é que ela é ela - faz o vento ventar, no instante que se encanta.

Por outro lado, o sujeito criado por Lenine traz à tona a intuição como fator determinante para a definição da canção como linguagem. No Brasil, pelo menos. Nem músico, nem poeta de formação escolar: cancionista - agente da intuição vitalizada, da compatibilização intuitiva entre letra e melodia.

Intuindo e cantando, o sujeito de "De onde vem a canção" questiona sua posição no mundo e averigua - trabalhando sobre uma linha melódica sem falso apogeu - os modos de proceder e ser da canção. Sem saber de onde ela vem, o sujeito a canta. Sem saber de onde veio e para onde vai, o homem vive. E canta para manter-se encantado. Afinal, como Louise Bourgeois costumava dizer: "A arte é uma garantia de sanidade".


***

De onde vem a canção
(Lenine)


De onde
De onde vem
De onde vem a canção
Quando do céu despenca
Quando já nasce pronta
Quando o vento é quem venta
De onde vem a canção

De onde
De onde vem
De onde vem a canção
Quando se materializa
No instante que se encanta
Do nada se concretiza
De onde vem a canção

Pra onde vai a canção
Quando finda a melodia
Onde a onda se propaga
Em que espectro irradia
Pr'onde ela vai
Quando tudo silencia
Depois do som consumado
Onde ela existiria



De onde
De onde vem
De onde vem a canção

* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

domingo, 25 de outubro de 2015

ZÉ GUILHERME CANTA ORLANDO SILVA

No centenário do cantor das multidões, o artista cearense apresenta o oportuno tributo "Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva", projeto que traz Zé Guilherme ao mercado fonográfico após um hiato de quase uma década.

Por Bruno Negromonte




Não há o que se negar acerca da importância do cantor Orlando Silva dentro da música popular brasileira. Essa afirmação podemos atestar nas mais variadas fontes de pesquisas existentes, assim como também através de depoimentos de alguns dos mais relevantes nomes da MPB. O artista, que teve sua fase áurea entre os anos de 1935 e 1942, atuou no mercado fonográfico até os anos de 1970 e a partir de interpretações singulares de canções que posteriormente viriam a se tornar clássicos de nossa música acabou fazendo escola e  consequentemente tornou-se responsável por influenciar muitos daqueles que viriam dar continuidade a história da boa música popular brasileira nos anos subsequentes como é o caso de nomes como o ícone da bossa-nova João Gilberto e do saudoso Nelson Gonçalves. Onipresente dentro da música brasileira, o "cantor das multidões" (apelido dado pelo locutor esportivo Oduvaldo Cozzi) influencia cantores e intérpretes das mais distintas gerações como é o caso do artista aqui hoje em questão. No entanto, no ano de centenário dessa emblemática figura do nosso cancioneiro, os grandes meios de comunicação de massa praticamente ignoraram tal comemoração e, no último dia 03 de outubro, data em que Orlando de faria aniversário, poucos foram aqueles que dedicaram-se à lembrança dessa saudosa figura. Diferente dos noventa anos do artista, quando o ator Tuca Andrada ganhou os palcos do país a partir do musical "Nada além de uma ilusão", escrito por Antônio de Bonis e Fátima Valençao centenário de Orlando tem passado desapercebido em detrimento a sua importância dentro de nossa música e até agora poucas foram as homenagens concedidas. Até o momento, a mais significativa em disco, vem a ser "Abre a Janela - Zé Guilherme Canta Orlando Silva", tributo prestado pelo cantor cearense Zé Guilherme. 



Nascido em Juazeiro do Norte (CE), Zé Guilherme teve a oportunidade de crescer sob as mais distintas influências. Sua formação musical se deu a partir da audição dos grandes nomes do cenário musical brasileiro (dentre eles o próprio Orlando), assim como também da absorção de toda a cultura existente em sua região através das mais distintas fontes culturais e manifestações artísticas. Esse tal contexto fez-se de fundamental importância para que tempos depois o jovem juazeirense almejasse seguir carreira artística. Percebendo que seu torrão natal não possibilitaria de imediato o alcance que desejava em sua carreira artística, decidiu partir para o Sudeste. Em São Paulo, desde 1982, de início cantou no circuito de casas noturnas da cidade. De lá para cá vem desenvolvendo inúmeros projetos musicais, dentre os quais os shows "Clandestino" e "Zé Guilherme e Convidados" (que contou com a participação de nomes como Carlos Careqa e Vânia Abreu). Depois de anos na estrada, em 2000, lança "Recipiente" (Lua Discos), seu primeiro CD e que conta com a produção musical e arranjos de Swami Jr., seis anos após o lançamento de "Recipiente" lança mais um projeto intitulado "Tempo ao Tempo", com direção artística do próprio Zé Guilherme, que assina também a coprodução em parceria com Marcelo Quintanilha. Quase uma década depois o artista cearense volta ao mercado fonográfico com o álbum "Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva", um projeto que resgata o repertório de um dos maiores intérpretes de nossa música a partir de uma releitura peculiar de uma obra composta por clássicos do cancioneiro brasileiro eternizados por Orlando. Trata-se de uma comemoração ao centenáriodo Cantor das Multidões como assim pudemos observar.

Composto por dezoito canções, "Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva" busca abranger a fase áurea do saudoso intérprete carioca ocorrida entre os anos de 1935 e 1942 a partir de faixas como a popular marchinha carnavalesca de 1930, “A Jardineira” (Benedito Lacerda e Humberto Porto). “Apresento minha visão pessoal desta canção auxiliado pelo belo arranjo que traz introdução com o piano de Breno Ruiz, fazendo referência ao estilo barroco”, relata o intérprete cearense. O disco segue com Dama do Cabaré” e A Primeira Vez”. A primeira, de autoria do poeta da Vila Noel Rosa (que também assina em parceria com Cristovão de Alencar a faixa Pela Primeira Veztraduz o clima boêmio dos cabarés da Lapa carioca; já a segunda consta no repertório do disco por se tratar de uma canção que, segundo o próprio Zé Guilhermeremete à inocência da paixão juvenil e me faz rememorar as desilusões passageiras da juventude”. Logo em seguida vem a faixa que batiza o álbum: “Abre a Janela”. Registrada pelo cantor das multidões em 1937, esta canção de autoria de Marques Júnior e Roberto Roberti foi o primeiro sucesso carnavalesco do artista no ano seguinte. O disco segue com sucessos da carreira de Orlando como Preconceito” (Marino Pinto e Wilson Batista), Aos Pés da Cruz” (Marino Pinto e Zé da Zilda), Curare” (Bororó), O Homem Sem Mulher Não Vale Nada” (Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti), Alegria” (Assis Valente e Durval Maia), Lábios Que Beijei” (J. Cascata e Leonel Azevedo), Faixa de Cetim” (Ary Barroso), Lealdade” (Wilson Batista e Jorge de Castro) e Malmequer” (Newton Teixeira e Cristovão de Alencar). Entre as menos populares encontram-se Meu Consolo é Você” (Nássara e Roberto Martins) e “Meu Romance” (J. Cascata). Vale destacar também as homenagens para as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro a partir das canções Cidade do Arranha Céu” (composição da lavra de Edgard CardosoRanchinho e AlvarengaCidade Brinquedo” (Silvino Neto e Plínio Bretas). 

"Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva" atesta a atemporalidade de artista singular dentro da música popular. É um projeto que faz uma justa reverência ao saudoso cantor das multidões a partir de um seleto repertório composto após um longo processo de pesquisa sobre a trajetória e a discografia do inigualável intérprete carioca. Ao decidir homenagear um artista do quilate de Orlando Silva, Zé Guilherme não apenas realiza um desejo contido ao longo de uma década, mas também expõe-se visceralmente em um trabalho imbuído de reminiscências como ele mesmo faz questão de registrar eu abri a janela do meu coração para me apossar, com respeito e reverência, dos sucessos de Orlando Silva e reapresentá-los ao público pela minha voz, pela minha forma de cantar”. Desse modo, "Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva" faz-se, sem o menor vestígio de saudosismo, um disco imprescindível para todos aqueles que se declaram fã de Orlando Silva (ou não) devido ao mapeamento de um repertório caracterizado por um apurado critério e rigor que corroboraram e continuam a contribuir para a história do nosso cancioneiro. Disco fundamental para que as novas gerações possam conhecer, a partir de interpretações carregadas de afetividade. Um carinho que de tão sincero faz-se combustível para que Orlandomantenha-se vivo no coração daquele que esmo após quase quatro décadas de sua morte, o mantenha como referência na música popular brasileira.



Serviço
CD: Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva
Artista: Zé Guilherme
Distribuição: Tratore (www.tratore.com.br).
Preço sugerido: R$ 27,00

Maiores Informações:
Assessoria de imprensaVerbena Comunicação - verbena@verbena.com.br / Tel: 2738-3209 - Eliane Verbena / Deborah Zanette (11) 2738-3209 / 9.9373-0181 
Twitter - @zeguilhermeofic
Instagram - @zeguilhermeoficial

sábado, 24 de outubro de 2015

FERNANDA CUNHA - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Lançando o seu sexto álbum, Fernanda Cunha traz em "Olhos de mar", canções inéditas de grandes nomes da música popular brasileira como Filó Machado, Cristovão Bastos e Carlinhos Vergueiros

Por Bruno Negromonte




Procurando manter-se longe de estereótipos, a cantora e compositora Fernanda Cunha vem trilhando um caminho coeso e peculiar dentro da música popular brasileira. A artista mineira vem colecionando ao longo dos seus anos de carreira fonográfica alguns projetos dignos dos mais distintos reconhecimentos. Álbuns que tem por características a escolha de um seleto repertório que abrange desde os grandes nomes do panteão de nossa MPB até aqueles de menos notoriedade. São discos que partem de interessantes premissas que permeiam o contexto musical ao qual a artista vivencia desde o seu nascimento, uma vez que traz em seu DNA arraigado a influência de expressivos nomes que contribuíram ou continuam a corroborar para que a música brasileira de qualidade no Brasil não esmoreça diante do nefasto mercado musical brasileiro. Conduzindo a terceira geração dessa família pra lá de musical, Fernanda Cunha vem fazendo brilhantemente a sua parte como pudemos observar recentemente aqui mesmo neste espaço a partir da matéria "FERNANDA CUNHA REITERA SEU TALENTO E QUALIDADE MUSICAL EM OLHOS DE MAR". Atualmente a artista vem divulgando o seu sexto álbum intitulado "Olhos de mar", disco que traz Fernanda ao mercado fonográfico após um hiato de dois anos e que tem como característica principal um repertório composto totalmente por material inédito a partir de  diversos compositores contemporâneos e uma grata surpresa para aqueles que conhecem as origens da artista: "Olhos de mar" apresenta uma composição de Tite de Lemos em parceria com a saudosa cantora Telma Costa, mãe da cantora. Solicita como sempre, Fernanda hoje volta ao nosso espaço para este bate-papo exclusivo onde fala da escolha dos seus repertórios, de suas incursões no universo autoral, sua carreira no Exterior entre outros assuntos que valem a pena conferir. Excelente leitura!





Todos aqueles que conhecem sua trajetória artística sabem que você vem honrando as gerações que a antecederam no universo musical. Salve engano você já faz parte da terceira geração nesta família banhada de talentos. A quarta geração já está atenta para esta responsabilidade de dar continuidade, dentro da MPB, a esta linhagem tão impar?


Fernanda Cunha - Eu não tive filhos, minha irmã também não teve, e meu irmão acabou de ter 2 que ainda são bebês. Os filhos de 2 primos da parte da família de minha mãe que estão na pré- adolescência já estão aprendendo música, um deles toca baixo e gosta muito de música clássica. O outro está aprendendo violão e faz aulas de canto, mas não sei se teremos uma quarta geração de músicos. Ainda é muito cedo pra gente ter essa resposta.




Vez por outra você aventura-se no universo da composição e os resultados destas incursões acabam ganhando registros em seus álbuns. Para você qual a maior dificuldade: atuar como compositora ou, como intérprete, escolher um repertório em meio a uma imensidão de possibilidades existentes?


FC - Sem dúvida cantar é o meu ofício, e escolher repertório não me traz nenhuma dificuldade, pelo contrário, eu me sinto num parque de diversões com tantas possibilidades pra escolher. Tentar contar uma história através do roteiro de um CD ou de um show é um dos maiores prazeres que tenho. Compor não é minha prioridade, normalmente tenho feito letras para melodias que me enviam. Não acho um trabalho fácil, porque a gente tem que primeiro entender o que aquela melodia quer dizer, e depois tentar achar um tema e ajustar as palavras nas notas da melodia. É meio matemática com poesia. No caso dessas ultimas duas letras que fiz para as melodias do Reg Schwager que entraram no meu novo CD, foi um processo mais natural, fluiu mais rápido. A canção mais lenta (Saudade de você) veio quase inteira no meio da madrugada. Já o samba, levei alguns dias pra terminar.


Sua carreira no Exterior já encontra-se sedimentada a partir de países como o Canadá e alguns outros existentes na Europa. No entanto, talentos como o seu e de tantos outros existentes tiram leite de pedra para ter seus trabalhos devidamente reconhecidos pelo grande público. Em sua opinião qual a razão de tamanho paradoxo? 

FC - Ter o trabalho reconhecido pelo grande público no Brasil passa por uma questão muito mais complexa do que a gente possa imaginar.O grande público não tem como adivinhar que tem vários cantores,músicos, compositores fazendo música de qualidade se essas músicas não chegam aos ouvidos deles. Quem leva essa música aos ouvidos do grande público? As rádios comerciais e a TV aberta. Quem leva os artistas para as rádios comerciais e TV? Como é que um artista independente como eu e tantos outros fazemos para tocarmos nas rádios? É um custo muitíssimo alto que eu não tenho como pagar, e mesmo que se tivesse, não faria. Não faz nenhum sentido pagar 500 mil reais ou mais pra estourar uma música no Brasil. Sinceramente não vejo mérito algum nisso. Os sertanejos dominam o mercado, e alguns artistas pop com um marketing violento também ficam em evidência de uma hora pra outra. É claro que os que não tem talento algum, não vão conseguir se manter ativos por muito tempo. Temos muitos exemplos de sucessos meteóricos que nunca mais ouvimos falar. Pela minha experiência , o público brasileiro gosta sim de musica popular brasileira com riqueza melódica e harmônica. Todas as vezes que tive oportunidade de cantar para platéias maiores no Brasil, fui muito bem recebida e vendi muitos discos (que é um feedback imediato se o público gostou ou não). No ano passado fiz um show ao ar livre no Museu da Casa Brasileira em São Paulo num domingo chuvoso às 11 horas da manhã, e certamente a maior parte das pessoas que lá estavam não conheciam meu trabalho, e vendi 2 caixas de discos, e ainda faltou. Me lembro também de um outro episódio há 7 anos atrás quando eu estava lançando meu CD “Zingaro” em duo com o violonista Ze Carlos , um disco de voz e violão com repertório que abordava as parcerias de Tom Jobim e Chico Buarque. Naquela época o jornalista Antonio Carlos Miguel escrevia no Globo. Ele gostou do disco e fez uma crítica bacana de mais ou menos meia página do segundo caderno do Globo. A secretária de cultura de Goiás leu a matéria e pediu que me ligassem para eu fazer show lá no festival de Pirinópolis com esse trabalho de voz e violão. Quando eu e Ze Carlos chegamos lá, vimos que a atração de sexta feira era o grupo do Hamilton de Holanda (um sexteto se não me engano) e como convidado especial o João Bosco. Era um showzão maravilhoso que tivemos a oportunidade de assistir. E no sábado o show era eu e Ze Carlos, só nós dois no palco, uma voz e um instrumento somente. Nós dois pensamos: “estamos fritos”. O nosso show era num teatro grande, e estava lotado, uma platéia absolutamente silenciosa durante a execução das canções, aplausos calororos no fim de cada canção, e vendemos todos os discos. Foi um susto (no bom sentido). Então te digo, a culpa não pode ser jogada no público Brasileiro. Fico aborrecida com isso. Quem não deixa esse tipo de música chegar à eles são os “atravessadores”. São sempre os mesmos curadores fazendo a programação dos poucos festivais de jazz e outros poucos projetos que temos (muitos inclusive por meio de “editais” sem muita credibilidade no julgamento ao meu ver). É a velha e conhecida “panelinha”, e aí a roda não gira muito. Pense, é inacreditável a Tania Maria, uma de nossas maiores representantes do “Brazilian jazz” no exterior (mora na Europa há mais de 30 anos), nunca ter feito um show no Maranhão que é sua terra natal. São Luis tem um festival de jazz anual, como é que não convidam a Tania Maria pra se apresentar? Eu continuo morando no Brasil porque quero (ainda), mas não gosto desse lugar de “artista não reconhecida” que muita gente tenta me colocar. O papel de vítima nunca me interessou! Por isso continuo produzindo meus trabalhos com o repertório que eu acredito, acompanhada de bons músicos, e quando é possível me apresentar no Brasil, faço com muita alegria, muita mesmo. Não tenho dificuldade de vender os Cds que produzo, recebo muitas mensagens no meu site de pessoas de vários cantos do país que acompanham meu trabalho desde o início, e tenho o tamanho que posso ter. Hoje em dia temos a internet à nosso favor, uma grande aliada dos artistas independentes. E tenho uma carreira bastante sólida no exterior que me permite exercer meu ofício com liberdade e dignidade. Já me apresentei 10 anos consecutivos em festivais de jazz e clubs de jazz no Canadá inteiro, em diversos teatros em Portugal de norte a sul, na Áustria, Dinamarca, França, Espanha, Malásia, Argentina, enfim, enquanto eu tiver saúde e determinação, a música vai rolar seja aqui ou em qualquer lugar do mundo.


Como pode-se ao menos tentar atenuar tal contexto? 

FC - É uma complicação isso tudo, não tenho resposta pra te dar. A classe artística da minha geração tinha que ser mais unida e mais indignada. Falta uma pitada de indignação pra transformar esse cenário. E vejo muitos jornalistas especializados em música totalmente desestimulados também, sem ter espaço nos grandes jornais pra escrever o que realmente acham importante.


De uns tempos para cá alguns artistas vem fazendo releituras de projetos antigos de sua autoria ou não como é o caso do cantor e compositor Alceu Valença, que pretende fazer por esses dias uma releitura do seu álbum “Vivo” (projeto lançado no final da década de 1970) e lançá-lo em CD e DVD em breve. Já passou em algum momento você fazer uma releitura do disco lançado por sua mãe?

FC - Não, não tenho nenhuma intenção de fazer qualquer releitura do disco de minha µãe. Aquele trabalho é impecável, não cabe releitura. Os arranjos são primorosos, minha mãe está ali de corpo , alma e voz.


Com “Olhos de mar” você busca um viés aquém da realidade do mercado fonográfico atual ao apresentar um disco de intérprete caracterizado por um repertório de qualidade e totalmente inédito. Qual o preço que você acredita pagar por essa coerência sonora?

FC - O mesmo preço que eu pago há 18 anos. Eu poderia ter desistido se não tivesse buscado a alternativa da minha carreira no exterior. Cantar em importantes festivais de jazz pelo mundo pelo mérito do meu trabalho, me dá o estímulo necessário pra estar viva e continuar a produzir.


Como se deu a escolha deste repertório?


FC - Primeiro o Daniel Gonzaga me mandou uma música espontaneamente, disse que tinha um samba que era a minha cara. Eu amei, e fiquei com vontade de fazer um CD de inéditas. Pedi ao Cristóvão Bastos pra compor uma canção e depois pedi ao Nelson Wellington pra colocar a letra. Liguei pro Antonio Adolfo que me deu a belíssima “floresta azul” com letra de Ze Jorge, e comecei à pensar nos outros compositores que eu gostaria de gravar, compositores que sei que continuam compondo muito sem tanta visibilidade. Carlinhos Vergueiro, Filó Machado e Judith de Souza, Denilson Santos... O holandês Reg Schwager que mora em Toronto (e é meu violonista quando estou por lá ) me enviou 2 musicas pra eu colocar letra, e por fim achei a canção de minha mãe com letra do Tite. Fechou rápido, muito natural mesmo. Não houve aquele processo que ouço por aí d egarimpo árduo, de escoher 10 em 150...nada disso. Tudo que recebi, gostei de cara. Depois foi só distribuir entre os arranjadores e dar a minha interpretação.

Consta no disco uma canção inédita de sua mãe em parceria com Tite de Lemos. Podemos esperar advindo deste acervo ainda alguma surpresa em projetos futuros relacionados à Telma Costa?

FC - Infelizmente acho que não. Essa musica estava em um DVD de um show que os dois fizeram no Rio. Eram canções do disco dela, mais algumas canções de Edu, Milton, etc, e essa única autoral estava no meio. O registro do show não tem qualidade para virar um DVD, por exemplo.


Maiores Informações:
Site Oficial - 
www.fernandacunha.com


Aquisição do álbum:

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