PROFÍCUAS PARCERIAS

Gabaritados colunistas e colaboradores, de domingo a domingo, sempre com novos temas.

ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

HANGOUT MUSICARIA BRASIL

Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

A RUÍNA DAS RÁDIOS E TV CULTURA

Emissoras vivem do passado e não têm qualquer perspectiva de futuro. São dois os principais motivos que levaram a tal situação: má administração e desinteresse do governo do Estado de São Paulo pelo trabalho da Fundação, com a constante redução do repasse de verbas

Por Alexandre Pavan





A Fundação Padre Anchieta, mantenedora das rádios e TV Cultura de São Paulo, vem definhando há duas décadas, numa agonia que se intensificou nos últimos cinco anos. A capacidade produtiva de suas emissoras foi praticamente extinta, perdendo audiência e, sobretudo, seu protagonismo entre as empresas públicas de comunicação do país.

São dois os principais motivos que levaram a tal situação: má administração e desinteresse do governo do Estado de São Paulo pelo trabalho da Fundação, com a constante redução do repasse de verbas.

Marcos Mendonça, o atual diretor-presidente, vem se mostrando capaz de realizar aquilo que parecia impossível: consegue fazer uma gestão tão desastrosa quanto a de seu antecessor. Se o tecnocrata João Sayad (2010-2013) foi o responsável por cerca de mil demissões, pelo encerramento de programas tradicionais e pelo desmonte de departamentos inteiros, Mendonça vem promovendo mais dispensas de funcionários e transformando a Cultura numa mera exibidora.

Sayad, ao menos, foi mais coerente. Em entrevistas, nunca escondeu seu desejo de reduzir de maneira drástica a estrutura da empresa e colocá-la para funcionar num andar de um prédio de escritórios. Ao que tudo indica, Mendonça deverá concluir esse plano, contrariando a promessa que fez de retomada da produção quando assumiu a presidência em junho de 2013.

Basta uma olhada na grade de programação para constatar que, atualmente, a TV tem fôlego para exibir apenas duas horas diárias de atrações originais inéditas. Não há incentivo nem mesmo para as produções infantis, nas quais a Cultura já foi referência. Até o Cocoricó, série de enorme sucesso, chegou ao fim e – puxa, puxa, que puxa! – seus criadores foram dispensados.

A programação se sustenta com reprises, seja de material próprio ou terceirizado. O caráter déjà vu foi o que prevaleceu no especial montado pela atual gestão para festejar o aniversário de 45 anos da emissora, em 2014. Enquanto produções históricas do canal eram merecidamente relembradas, quase não havia o que mostrar do tempo presente. Afinal, a TV Cultura hoje é assim: vive do passado e não possui qualquer perspectiva de futuro.

O mesmo ocorre com as rádios. A Cultura FM, que já chegou a ostentar uma orquestra própria (liquidada pelo mesmo Mendonça em sua primeira passagem pela Fundação Padre Anchieta, há dez anos), vai ao ar graças ao empenho de uma equipe reduzidíssima. Na AM, os problemas técnicos e operacionais são tantos que os programas são transmitidos mais por milagre do que por radiodifusão. Se não fosse pela internet, a Cultura Brasil falaria para ninguém, pois é impossível encontrá-la no dial. Faça o teste. A propósito, alguém se lembra qual é a frequência?

No último dia 15/07/2015 foram demitidos mais 53 funcionários, entre eles diretores e produtores que trabalhavam nos programas de Inezita Barroso e Antônio Abujamra, apresentadores falecidos há poucos meses. A meu ver, a mensagem é clara. Dispensar as equipes do Viola, Minha Viola e do Provocações significa mandar pro olho da rua parte do legado deixado por Inezita e Abu.

A Cultura precisa urgentemente de uma mudança de rumos que lhe traga mais recursos, a atualize e resgate seu papel de excelência. Durante um tempo, imaginou-se que o Conselho Curador pudesse dar início a uma renovação promissora. O grupo, porém, se mostra conivente e endossa o aniquilamento. E talvez nem haja mais tempo para reação. Quem sabe, o próprio conselho em breve não seja mais do que ruína.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

GRAMOFONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*

"Para sermos mais exatos, esta gravação é de 4 de agosto de 1951, e foi lançada pela Continental entre outubro e dezembro do mesmo ano, disco 16470-B, matriz 11339." (Samuel Machado Filho)





Canção: Açucena

Composição: Décio Pacheco da Silveira

Intérprete - Marino Gouvêa - Conjunto Serenata, sob a direção do Professor Orsini de Campos

Ano - 1951

Disco Continental - nº 16470-b


* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 5000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

MEMÓRIA MUSICAL BRASILEIRA

Por Marcelo Mendez


Feminina (1980) 

Ao ver aquela senhora muito linda e muito distinta caminhando pelo aeroporto do Rio De Janeiro não resisti; Eu tinha que ir até lá falar com ela! Afinal de contas, desde minha infância, ali com meus tenros 11 anos de idade que sempre fui apaixonado por aquela mulher. Uma morena de lindos cabelos pretos, olhos claros, ótima cantora, compositora e violonista...

Fui determinado!

Sabia que tinha milhões de coisas para dizer, mil perguntas a fazer e quem sabe, até tomar um café. Cheguei perto. Chamei desesperadamente a linda senhora:

Joyce, Joyce, Joyce!!

Um tanto assustada (Claro né??!) mas muito solicita ela parou. E então, com aqueles olhos de jade me disse:

“Pois não...”

Que linda voz! A mesma que cantou Feminina, Clareana, Revendo Amigos... Foi o melhor “pois não” que ouvi em toda minha vida! Um filme me passou na cabeça. Lembrei do quanto eu ficava olhando aquela capa de disco de minha prima Marlene, do encanto que foi ver aquela mulher no tal do MPB Shell, na importância que era estar ali diante daquela mulher. Tentei falar mas travei! A única coisa que saiu foi um patético...

“Dona Joyce... Eu sempre amei a senhora...” - QUE RIDICULO EU!! Ainda assim ela, compreensiva, carinhosa, deu um riso de acalanto e me respondeu:

“Ah que ótimo! Muito obrigada, moço!”

Se despediu e eu também, cheio de vergonha! Pensando nisso tudo em uma ponte aérea interminável, decidi vir aqui contar a vocês a história desse disco da moça que tanto me encanta a tanto tempo e com certeza, seguira encantando.

Senhoras e Senhores com vocês FEMININA, disco de 1980 da maravilhosa cantora Joyce.

Nascida Joyce Silveira Moreno, no ano da graça de 1948, nossa moça aqui é mais carioca que o Cristo Redentor.

Cria clássica do posto seis de Copacabana, Joyce começa se interessar por musica, de tanto que viu o seu mano, guitarrista, bancário, advogado, flertando ali umas notas com seus amigos Eumir Deodato, Roberto Menescal, Luiz Carlos Vinhas e outras tantas feras. Ela gostou da coisa. Tanto que aos 16 já estreia em estúdio participando da gravina do grupo Sambacana. Dae a coisa vai de vez...

Dividindo sua paixão pela musica, com seu trampo de jornalista, recém formada na redação dos Jornal do Brasil de 1967 (Sonho e meca para qualquer jornalista...) ela consegue emplacar uma musica sua “Me Disseram”, o que deixou o terreno propicio para sua estreia em LP com seu seminal disco “Joyce” de 1968. Uma maravilha de disco que traz Joyce definitivamente para o Mercado musical de então. E ela seguiu bem ao longo dos anos 70.

Participa de vários projetos com Novelli, Toninho horta, Nana Vasconcelos, compõe muito, segue seus estudos de violão, grava em 1973 um discaaaaaaaçoooooo com Nelson Ângelo, depois da um tempo para cuidar de suas duas meninas Clara e Ana até 1975. Na volta cai na estrada com Vincius de Moraes em uma turnê pela América Latina, grava um disco internacional (Natureza, em 1977) com Mauricio Maestro, arranjos de Claus Orgemann que da tão certo, que gera uma turnê por Nova York de seis meses onde acontece algo muito importante para nosso disco de hoje...

Foi la que ela conhece o baterista Tutty Moreno, lendááário batera que tanto tempo havia ficado com Gilberto Gil e que, radicado por lá, bobo que não é, trata de se apaixonar e casar com a nossa Cantora. Da relação vem Mariana em 1979, inicia ali uma parceria musical fodastica e tudo isso torna aquele ano algo mágico; Filha nova, composições gravadas por todo gente como Elis Regina, Maria Bethania, Boca Livre, Nana Caymmi e um contrato com a EMI-Odeon para a gravação de um disco. Surge então em 1980 o lindo “FEMININA”...

Contando com um time formado por feras comoFernando Leporace no Baixo, Gilson Peranzetta no piano e nos arranjos junto com Mario Adnet com Joyce nos violões e Tutty Moreno arrebentando tudo na bateria, começa as gravações do disco. Uma preciosidade que conta com uns hinos como a faixa título FEMININA, com a musica de ninar que ela cantava para as duas filhas Clara e Ana, que virouCLAREANA um baita sucessão de rádio que apresenta Joyce para o povão, além de outras tantas coisas lindas e singelas como REVENDO AMIGOS, CORAÇÃO DE CRIANÇA, a instrumental ALDEIA DE OGUM que leva Joyce à noite hype europeia já nos anos 90, uma dádiva de trabalho.

Em 2010, o disco FEMININA ganhou uma luxuosa edição de 30 anos, cheia de extras, encartes e outras maravilhas. Mesmo tento a cousa aqui, jamais ela vai superar a alegria e o encanto que sinto com meu velho disco de 1980, herdado de pai, tia, primas e afins.

Faixas:
01 - Feminina (Joyce)
02 - Mistérios (Joyce e Maurício Maestro)
03 - Clareana (Joyce)
04 - Banana (Joyce)
05 - Revendo Amigos (Joyce)
06 - Essa Mulher (Joyce e Ana Terra)
07 - Coração de Criança (Joyce e Fernando Leporace)
08 - Da Cor Brasileira (Joyce e Ana Terra)
09 - Aldeia de Ogum (Joyce)10- Compor (Joyce)

quarta-feira, 29 de julho de 2015

25 ANOS SEM CAZUZA: ASSISTA ONLINE AO DOCUMENTÁRIO EXIBIDO PELO MULTISHOW

Há exatos 25 anos, o Brasil perdia um de seus ícones do rock. Autor de letras contundentes, que tratam de crítica à burguesia aos temas românticos, o garoto rebelde de Ipanema entrou para a história da música nacional ao expor de forma ímpar tabus da sociedade e cobrar os direitos dos marginalizados.


Em 2004, o artista ganhou uma cinebiografia dirigida pelo premiado cineasta Walter Carvalho. No ano seguinte, um documentário foi exibido no canal de TV paga Multishow – este segundo, disponível no canal oficial do artista no Vimeo.

Batizado de “Por Trás da Fama – Cazuza”, o programa traz depoimentos de familiares e pessoas ligadas ao artista, morto aos 32 anos, depois de uma extensa luta contra a Aids. O programa esclarece diversas questões da trajetória do carioca, incluindo seu atrito com o músico Frejat. Os músicos ficaram sei meses sem se falar.

"Incomodava-me ele ser irresponsável. Chegava atrasado para os ensaios e tinha argumentos de garoto mimado, de filho único", conta Frejat em um trecho do programa. A reconciliação foi feita pelo próprio Cazuza, que apareceu de forma pouco convencional ao aniversário do músico. Detalhe: sem ser convidado. "Ninguém em nossa geração descreveu tão bem o nosso transe como ele", afirma Frejat no documentário.












Fonte: Catraca Livre

terça-feira, 28 de julho de 2015

LENDO A CANÇÃO

Por Leonardo Davino*



"Prometo rios de leite / com seus afluentes / uma foz e o mar / aceno com presentes / que só o próprio tempo / pode adivinhar", diz o sujeito de "Canção necessária", de Guinga e Zé Miguel Wisnik. Por sua vez, o sujeito de "Nossa canção" (Zé Miguel Wisnik / Mauro Aguiar) anota que: "as canções / só são canções / quando não são / promessas".

Fojo aqui este diálogo metacancional possível entre as duas canções guardadas no discoIndivisível (2011) para observar o lugar onde a canção se realiza, onde ela é no mundo. Interferindo no tempo ordinário, suspendendo as promessas e impondo-se sempre no presente, a canção é enquanto dura suas emissão (execução) e audição.

É neste instante-já, ao oferecer verbo, melodia e, principalmente, calor vocal ao ouvinte, que a canção e, consequentemente, o seu sujeito sirênico se realizam, encontram um lugar para ser. Quando em ação, quando de fato ela é ela, a canção explode as promessas cumprindo-as: dando sentido ao absurdo cotidiano do ouvinte que, por sua vez, também se sente vivo: mimado, ninado.

Mas o sujeito de "Nossa canção" quer mais. Ao dizer, logo no início, que "nossa canção / guarda canções / diversas / minha ilusão / tua emoção / mil dimensões / imersas", ele revela a realidade (ficcional) de sua condição latino-americana: ele recupera o passado - canções cantadas; coloca-se no presente - compõe a "Nossa canção"; e sugere futuros - apropriações vindouras. Tudo através do ato genuinamente seu de contar-se: cantar-se.

Dito de outro modo, para compor a "Nossa canção" o sujeito se revela como um privilegiado ouvinte: deixa-se iludir e emocionar pelas outras vozes. Cantar, aqui (nele), é engendrar um canto paralelo: arranjado, paródico, mantenedor da contradição.

"A vida é devoração pura", anotou Oswald de Andrade. Há mais vida na canção (condensação - harmônico-contraditória de canções) do que no real. Ou melhor: a canção cria a realidade - nossa (ouvinte em ação) e de quem dela (no futuro) se apropriar. Afinal, "as canções / só são canções / quando não são / mais nossas", como diz o sujeito complexificando também a noção de autoria e insinuando parcerias invisíveis, porém constituidoras.

A canção é (de todos: e só assim ela é canção) quando deixou de ser (de alguém: de um); quando imbrica-se - "de par em par / de voz em voz" - às outras diversas e espessas canções, criando o mar sonoro necessário à ancoragem (fluida e perecível) do ouvinte.

No fundo, o que a canção precisa é o regaço do ouvinte: "que num minuto sem igual / você me lesse não me esquecesse / adivinhasse enfim / não desistisse mais de mim / e ouvisse no meu canto / as tontas entrelinhas / que silenciei / por ti", como diz o sujeito de "Canção necessária". A canção é o efeito especial que promove o indivíduo à vida.

Somos alguma coisa para ser cantada. Juntando fragmentos daquilo que pode (ou não) ser esta coisa, recolhendo sons, o sujeito de "Nossa canção" quer dizer e diz, sugerindo sua leitura oswaldiana: "Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente".

Cantar isso é nunca esquecer o nosso amor, aquilo que podemos ser: o doce mistério - um som lançado ao ar e sustentado pela permanente querela erótico-afetiva entre os diversos outros sons.


***

Nossa canção
(Zé Miguel Wisnik / Mauro Aguiar)

Nossa canção
guarda canções
diversas
minha ilusão
tua emoção
mil dimensões
imersas

outras virão
buscando a luz
de cais em cais
naus sobre naus
espessas
pois as canções
só são canções
quando não são
promessas

nessa canção
cabem canções
dispersas
minha razão
teu coração
mil sensações
avessas

outras virão
de encontro a nós
de voz em voz
de par em par
esparsas
pois as canções
só são canções
quando não são
mais nossas

* Pesquisador de canção, ensaísta, especialista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor em Literatura Comparada, Leonardo também é autor do livro "Canção: a musa híbrida de Caetano Veloso" e está presente nos livros "Caetano e a filosofia", assim como também na coletânea "Muitos: outras leituras de Caetano Veloso". Além desses atributos é titular dos blogs "Lendo a canção", "Mirar e Ver", "365 Canções".

A HISTÓRIA MUSICAL DO RÁDIO NO BRASIL

Há exatamente quatro décadas as músicas mais executadas nas rádios do Brasil eram estas:

01 - Moro Onde Não Mora Ninguém (Agepê)
02 - Paralelas (Vanusa)
03 - O Mestre Sala dos Mares (Elis Regina)
04 - Flying (Turn Round) (Chris DeBurgh)
05 - Charlie Brown - Benito Di Paula
06 - Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento e Beto Guedes)
07 - Dois Pra Lá, Dois Pra Cá 
(Elis Regina)
08 - Severina Xique Xique (Genival Lacerda)
09 - Olha (Roberto Carlos)
10 - 1800 Colinas (Beth Carvalho)
11 - Bilú Tetéia (Mauro Celso)
12 - Crítica (Cyro Aguiar)
13 - Filho da Bahia (Fafá de Belém)
14 - Poxa 
(Gilson de Souza)
15 - Secretária da Beira do Cais (Cesar Sampaio)
16 - A Lua e Eu (Cassiano)
17 - Argumento (Paulinho da Viola)
18 - Você Não Passa de Uma Mulher (Martinho da Vila)
19 - Kid Cavaquinho (Maria Alcina)
20 - O Ouro e a Madeira (Conjunto Nosso Samba)
21 - Na Sombra de Uma Árvore
 (Hyldon)
22 - Nó na Madeira (João Nogueira)
23 - Beijo Partido (Milton Nascimento)
24 - Filho da Véia(Luis Américo)
25 - Agora Só Falta Você (Rita Lee)
26 - Beleza Que é Você Mulher (Benito Di Paula)
27 - Juízo Final (Clara Nunes)
28 - Enamorada do Sambão (Beth Carvalho)
29 - Juventude Transviada (Luiz Melodia)
30 - Modinha Para Gabriela (Gal Costa)
31 - Emoriô (Fafá de Belém)
32 - Amor Com Amor Se Paga (Carmen Silva)
33 - Na Beira do Mar (Wander Pires)
34 - Dentro de Mim Mora Um Anjo (Sueli Costa)
35 - Linha do Horizonte (Azimuth)
36 - Terceiro Ato (Antonio Carlos e Jocafi)
37 - Esse Tal de Roque Enrow (Rita Lee)
38 - A Deusa dos Orixás (Clara Nunes)
39 - A Sombra do Teu Sorriso (Moacyr Franco)
40 - As Dores do Mundo (Hyldon)
41 - Cuca Legal (Há Há Há) (Chico Batera)
42 - Beijo Partido (Nana Caymmi)
43 - Deixe o Meu Marido em Paz (Claudia Barroso)
44 - Espelho Meu (Silvio Brito)
45 - Pandeiro e Viola 
(Beth Carvalho)
46 - Foi Assim (Fafá de Belém)
47 - Ovelha Negra (Rita Lee e Tutti-Frutti)
48 - Foi Tudo Culpa do Amor (Diana)
49 - Folia de Reis (Baiano e Os Novos Caetanos)
50 - Mel o da Cuíca (Azimuth)
51 - Lua, Lua, Lua, Lua (Caetano Veloso)
52 - De Frente Pro Crime (Simone)
53 - Tango Pra Teresa (Angela Maria)
54 - Meu Perdão
 (Beth Carvalho)
55 - O Maior Golpe do Mundo (Deny e Dino)
56 - Mulher Brasileira
 (Benito Di Paula)
57 - Quem é de Samba Chora (Gilson de Souza)
58 - Não Esquenta a Cabeça, Não (Golden Boys)
59 - Antes Que Eu Volte a Ser Nada (Leci Brandão)
60 - Não Precisa Me Perdoar (Benito Di Paula)
61 - Vai Levando (Chico Buarque e Maria Bethânia)
62 - Onde Está a Honestidade 
1800 Colinas (Beth Carvalho)

segunda-feira, 27 de julho de 2015

35 ANOS SEM VINÍCIUS DE MORAES

2015 completa-se 35 anos sem o saudoso poetinha, o branco mais preto do Brasil


AMIZADE


Vinicius de Moraes foi um poeta rodeado de amigos. A amizade foi tema de muitos de seus poemas, crônicas e músicas. Era um poeta que ficou conhecido tanto por criar sua obra a partir dos afetos das suas mulheres, quanto pelo amor aos amigos. Foram décadas de trocas constantes entre seus pares de literatura e música, construindo pactos afetivos e histórias de vida.

Com sua polivalência cultural e social, Vinicius esteve rodeado desde a juventude por pessoas das mais diferentes classes e procedências. Eram anônimos e famosos que contribuíram de alguma forma para sua vida e obra. Podemos citar, entre tantos, nomes como Otavio de Faria, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Antonio Maria, Pablo Neruda, Oscar Niemeyer, Di Cavalcanti ou Portinari. Aqui, apresentamos apenas alguns dos principais amigos dessa jornada.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Drummond e Vinicius nunca foram amigos íntimos, apesar de próximos. Não tinham personalidades parecidas. A diferença no estilo de vida – mais pacato do poeta mineiro e extremamente movimentado do poeta carioca – já nos diz muito dos dois. Mesmo assim, sempre estiveram por perto, trocando cartas e admiração mútua. Drummond, aliás, cunhou algumas das melhores frases sobre Vinicius. Nenhuma delas, porém, sintetiza tanto a amizade dos dois como a declaração definitiva: “Eu queria ter sido Vinicius de Moraes”.


CARLOS LEÃO
O arquiteto Carlos Leão entrou na vida de Vinicius através de seu casamento com Tati, sua primeira mulher. Ou melhor, Vinicius a conheceu através de Carlos, mas com o casamento, essa convivência tornou-se constante, já que Carlos era cunhado de Tati. Ele tornou-se na década de 1940 o grande amigo de Vinicius nas incursões boêmias pelas ruas do Rio. Além disso, foram parceiros em vários projetos, livros e publicações. Foi na casa de Carlos Leão, no Morro do Cavalão, em Niterói, que Vinícius iniciou, ainda em 1942, o texto que, anos depois, se tornaria Orfeu da Conceição.


JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Vinicius e João Cabral foram diferentes e, de certa forma, complementares. A secura de um equilibrava e se alimentava do lirismo do outro. Eles se conheceram em 1942, durante a visita do escritor norte-americano Waldo Frank. Em Recife, os dois poetas iniciam uma amizade profunda, aproximada pela vida em comum da diplomacia. Foi o “homem que não gosta de música”, como João Cabral ficou conhecido, que, em 1949, publicou em sua prensa O Livro Inconsútil, 50 exemplares do poema Pátria Minha. Foi ele também quem sugeriu o título de Orfeu da Conceição para a peça de Vinicius. 


MANUEL BANDEIRA
A amizade entre Vinicius e Manuel Bandeira começa precisamente em 1936, quando o poeta carioca tinha 23 anos e o poeta pernambucano já tinha 50. A diferença de idade não impediu que fosse construída uma das mais sólidas amizades entre poetas brasileiros. Vinícius o chamava de “poeta, pai, áspero irmão”. 





RUBEM BRAGA
O escritor capixaba Rubem Braga foi durante muito tempo um dos mais próximos amigos de Vinicius. A amizade se consolidou durante os animados anos 1940, quando os dois participavam ativamente de rodas boêmias do Rio de Janeiro. A dupla ficou famosa principalmente na roda de amigos que se reunia no Bar Vermelhinho, no centro da cidade. A roda era célebre por reunir arquitetos, artistas plásticos, escritores, dramaturgos e a fina flor do Modernismo brasileiro daquele período. Anos depois, Braga, ao lado de Fernando Sabino, tornou-se editor de alguns livros do poeta carioca, publicados através de suas editoras Do Autor e Sabiá. 


OS “AMIGOS MINEIROS”
Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Hélio Peregrino e Fernando Sabino formaram durante um bom período um quarteto de amigos inseparáveis, no Rio de Janeiro. As amizades tinham sua origem ainda em Belo Horizonte, antes de todos virem morar no Rio. Foi ainda em 1942, em uma visita a Minas, que Vinicius os conheceu. Ele se tornou amigo do grupo durante uma viagem à capital mineira a convite do então prefeito Juscelino Kubitscheck. A partir daí, criou amizades muito particulares e de toda vida com cada um deles. 


Fonte: Site Oficial do Artista

MPB MEDICINAL

Por Renato Vivacqua 


A Música Popular Brasileira, desde o surgimento do disco no início do século passado, veiculou nomes de produtos ligados á área farmacêutica, com ou sem finalidade propagandística. A antiga modinha “O Chefe da Orchestra“ louvava o potencial do fortificante Jataí: 

O trombone fraquejava
Tli, hi,hi
A vista disso tiveram que tomar
Muito JATAÍ.

O excelente letrista Aldyr Blanc, psiquiatra, acabou por abandonar a profissão revoltado com os métodos medievais nos manicômios quando estagiário. Foi bom, nosso cancioneiro saiu lucrando. Fez muito sucesso com o curativo de “Dois pra lá, dois pra cá”:

No dedo falso brilhante
Brincos iguais ao colar 
e a ponta de um torturante band-aid
No calcanhar.

O parceiro afinado foi João Bosco com quem criou obras primas. Da dupla mais Cláudio Tolomei surge a saga de um estropiado por amor, sem cura:

Olha meu bem o que restou
Daquele grande herói sem seu amor
Enlouqueci e ando dodói
Como Tarzan depois da gripe
De Emplastro Sabiá.

Mais adiante reforça dose: “Maracujina já não resolve." Aldyr e Bosco em “Bandalhismo” retornam após experiência gastronômica nada agradável:

Como os pobres otários da Central
Já vomitei sem lenço e Sonrisal
P.F. de rabada e agrião.

Para quem não conhece o Rio, a Central é a estação ferroviária do povão, cheia de botecos com comidas de ingestão arriscada. Em 1927 sua fama já não era boa como o Duque de Abramonte (é um pseudônimo) em sua música já metia a lenha:

Há sonhos que horrores dão
Da cabeleira arrepiá
Não quero que sonhes não
Que viajas pela Central.
No Rio quando vou lá Eu já vou cadáver já
Tomando por precaução
Cloroformio com limão.

Tomzé em “Jeitinho Dela” é de um non-sense total:

Geladeira já teve febre
Penicilina teve bronquite
Melhoral teve dor de cabeça
E quem quiser que acredite.

Em dupla com Rita Lee algo inusitado, como em “Dois mil e um”:

Sou baiano e estrangeiro
Meu sangue é de gasolina
Correndo não tenho mágoa
Meu peito é de sal de fruta
Fervendo no copo dágua.

A marchinha carnavalesca de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti fez sucesso:

Penicilina cura até defunto
Petróleo bruto faz nascer cabelo
Mas ainda está pra nascer
O doutor
Que cure a dor de cotovelo.

João Bosco teve uma inspiração dolorosa para compor “Benzetacil” em 2003. Para curar uma infecção crônica teve que tomar o antibiótico durante seis meses “Não conseguia nem dormir só pensando na hora da injeção. Foi horrível.” O talentoso Wilson Batista, no seu samba “Diagnóstico” mostra outra situação onde a ciência está de mãos atadas:

A medicina está muito avançada
Mas no seu caso não adianta nada
É incurável a sua enfermidade
Não há remédio para curar a saudade.

Gilberto Gil recorda pílula famosa do tempo de nossos avós:

O sonho acabou dissolvendo a Pílula de Vida do Dr. Ross
Na barriga da Maria.

Na sua deliciosa “Canção pra Inglês Ver” Lamartine Babo fax uma mixórdia:

Elixir de Inhame
Reclame de andaime
Mon Paris, je t’aime
Sorvete de creme.

Caetano Veloso em “Superbacana” critica a supervalorização que virou mania:

Superbacana
Superbacana
Super-Homem
Superflit
Supervinc
Superhist
Superviva.

Em “Amigo da Onça”, Silvio Silva prescreve uma receita estranha:

Não é possível
Você não se comove
Vá tomar um Engove.!

Volta Aldyr em parceria com a competente Suely Costa em “Altos e Baixos.:

Meu taxi, meu uísque
Dietil, Diempax
Ah, mas há que se louvar entre altos e baixos
O amor
Que traz tanta vida
Que até para morrer leva tempo demais.


Agora Aldyr com Giordano em “New Malemolência” debocha da jovem metida a moderninha:

Ela acha que é meio punk
Pós moderna, uma deusa do sol Com um jeito de gata beleza
Junta o funk ao new besteirol
Entre a insustentável beleza
E o Almanaque mais Capivarol.

Ritchie na composição “Preço do Prazer”, parece meio debilitado para enfrentar uma batalha amorosa:

Nesse quarto de hotel
Nem água quente tem
É o preço do prazer
Estou na base do B12
Mas está tudo bem
É o preço do prazer.

A banda Pato Fu em seu trabalho lançado em 2005 “Toda cura para todo mal” tem versos desconcertantes:

Toda cura para todo mal
Está no hipoglós, mertiolate e sonrisal.

domingo, 26 de julho de 2015

ESCOLA MINEIRA DESENVOLVE PROJETO PARA APRESENTAR AOS ALUNOS A HISTÓRIA DO CLUBE DA ESQUINA

Alunos do Colégio Padre Eustáquio se emocionaram com visita de Lô e Márcio Borges


Por Sandra Kiefer




Não apenas os versos da canção Linda juventude personificaram-se ontem nos mais de 150 estudantes, que se esparramaram no chão e custaram a conter a euforia no auditório do Colégio Padre Eustáquio, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Um dos autores da letra do 14 Bis – o compositor Márcio Borges, e o irmão mais novo, Lô Borges – aportaram também na esquina da Rua Cesário Alvim com Padre Eustáquio, no colégio e no bairro de mesmo nome. Os dois artistas ficaram à vontade, sentados em cadeiras no palco, em frente a um mural de fotos deles, com capas de CDs, letras e poemas escritos à mão em cartolinas coloridas. Amanhã, o material será parte de uma mostra cultural aberta à comunidade.

Desde março, os integrantes do Clube da Esquina são aguardados pela diretoria e pelos pais de alunos, professores e estudantes da escola, que se dedicaram com afinco ao projeto Sonhos não envelhecem, elaborado em dupla pelas professoras de língua portuguesa do 6º ano, Raquel Abreu e Fabiane Braga. A morte de Fernando Brant, parceiro dos dois, acabou atrasando ainda mais a ida dos músicos ao colégio. “Ficamos recolhidos um tempo no sítio, porque foi muito pesado para nós”, explicou Cláudia Brandão, mulher de Márcio Borges e idealizadora do Museu Clube da Esquina. Ela fez a ponte com a escola. “Quem disse que o Fernando morreu? Ele continua morando sempre no nosso coração”, emocionou-se Márcio, na sala dos professores.

Como lembrança de Fernando Brant, a música escolhida pelos estudantes para ser cantada em coro na presença dos dois artistas foi Paisagem da janela, de autoria do compositor. Os jovens cantaram alto e claro, como se quisessem exibir que sabiam a letra de cor. E sabiam mesmo. No espaço aberto a perguntas, os alunos aproveitaram para esclarecer se a janela lateral seria em Diamantina ou em Ouro Preto, dúvida que paira na biografia do compositor. Márcio Borges, porém, pôs mais lenha na fogueira: “Da última vez em que o ouvi falar sobre isso, ele disse que não tinha sido nem uma nem outra cidade. Falou que tinha feito a música na Cachoeirinha mesmo, em Belo Horizonte”. 

“Desde o início do ano, estamos sonhando com este encontro. Ficamos imaginando como iríamos conseguir envolver as crianças com músicas elaboradas há 40, 50 anos. A solução foi buscar a ajuda dos pais delas”, contaram as professoras, que usaram como base o livro O segredo do disco perdido, de Caio Tozzi e Pedro Ferrarini. O romance juvenil narra as férias do menino Daniel, que se depara com um mistério: o sumiço do disco Clube da Esquina, autografado por Lô Borges. “Os pais chegaram a levar os meninos para conhecer a célebre esquina de Santa Tereza”, completou a professora Raquel.

“A ditadura militar não era cor-de-rosa, mas sim cinza, tanto que passaria a ser chamada de anos de chumbo”, completou Márcio Borges. Indagados sobre os “gases lacrimogêneos” de Clube da Esquina II, de autoria dos irmãos com Milton Nascimento, Lô relatou aos meninos uma realidade de outra época, onde a juventude não podia se reunir nem se expressar e, quando se reunia, vinha cassetete e gás lacrimogêneo em cima. Para rejuvenescer a palestra, contou aos jovens que havia tomado café no dia anterior com Samuel Rosa, do Skank, com quem deve gravar um DVD em setembro. Há 16 anos, os dois se apresentam juntos, mas será a primeira vez em que vão assinar um trabalho autoral.

Ao fazer um balanço sobre o evento, Márcio Borges aproveitou a oportunidade para explicar o porquê de os sonhos nunca envelhecerem: “Nossas músicas são como filhas, a quem dedicamos nossa vida a construir e a fazer sentido. Elas foram feitas há 45 anos, mas seguem caminhando no mundo à nossa revelia, passando de pai para filho e de filho pra os netos, criando um caminho próprio. Quero agradecer a cada um de vocês, um por um, que nos proporcionaram grande emoção”.

Ao ser chamado para descer do palco e posar para a foto entre as crianças, Márcio Borges não pensou duas vezes. Largou o microfone e saltitou os degraus, aboletando-se no meio da garotada. “Poderia ficar aqui até as 18h e nem iria perceber”, comentou ele, que era só sorrisos e gentilezas. Cláudia Brandão observou o marido enlevada com a cena, como se já não estivesse acostumada com o preço da fama. Já a professora Fabiane, ao assistir a tudo, começou a assoviar espontaneamente a letra de Bola de gude, bola de meia, que pode ter sido inspirada nos irmãos Borges.

No meio da multidão, Lô ainda arriscou uns acordes ao violão: “Todo artista tem de estar aonde o povo está”. Os estudantes foram ao delírio. Não há lugar para todos eles na roda. Apesar da diferença de geração, querem chegar perto dos artistas, pegar nos cabelos deles, fazer uma selfie. “Não sei se vou ter outra oportunidade como essa na minha vida, sabe? De chegar tão perto de alguém famoso”, disse Maria Eduarda Rabelo, de 11 anos, que conseguiu autografar o livro.

“Sabe o que percebi? Que as músicas de hoje são muito pesadas e inadequadas para a minha idade. Já as músicas deles me tocaram muito. Dá vontade de ouvir de novo e de ensinar para meus filhos, netos e bisnetos”, disse Lívia Kely, de 11 anos, que transbordou Nos bailes da vida.

45 ANOS SEM RAUL TORRES

2015 marca quatro décadas e meia sem o cantor e compositor botucatuense.


Por Edson Carlos Nogueira


Raul Montes Tôrres, filho de José Montes Torres e Josefa Camacho Rodrigues, imigrantes espanhóis, nasceu em 11 de julho de 1906, em Botucatu, e foi batizado em 24 de dezembro. Iniciou seus estudos no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”, em 1915, quando residia à rua Curuzu, nº 144. Transferiu residência para a cidade de Itapetininga. Nos anos 20, com a mãe viúva e 4 irmãos, mudou-se para São Paulo. Ao completar 16 anos, tirou carta de cocheiro, passando a trabalhar no Jardim da Luz, e, durante dois anos, perambulou pelas ruas no trabalho duro, até ingressar na Estrada de Ferro Sorocabana, em 1924. Ocupou o cargo de Assistente Administrativo, trabalhando junto à Chefia da Sub-Diretoria de Operações, e aposentou-se em 1954. Casou-se com Assunção Fernandes e, em segundas núpcias, com Adelina Aurora Barreira, portuguesa de Trás-os-Montes, em 1955. Raul Torres faleceu em São Paulo, em 12 de julho de 1970, e foi sepultado do Cemitério do Araçá. 


RÁDIO 

Foi um dos pioneiros do rádio paulista. Em janeiro de 1927 deu sua primeira audição profissional ao microfone da Rádio Educadora, num sábado, recebendo seu primeiro “cachet”: trinta mil réis. Muito dinheiro naquele tempo! A Record foi buscá-lo a peso de muitas centenas de mil réis. Em 1932 transferiu-se para a Rádio Cruzeiro do Sul, já então de nome feito e ganhando sempre crescente popularidade como intérprete do gênero caipira. A Record fez-lhe uma tentadora proposta para tê-lo de volta a seu prefixo. Em 1938, ingressou na Record, compondo o primeiro conjunto efetivo no gênero em nosso rádio: o trio “Torres, Serrinha e Rieli”. A dupla com Florêncio só nasce realmente em 1944. Pouco depois, passaram a se dedicar mais ao rádio, mantendo na Record de São Paulo o programa “Os 3 Batutas do Sertão”, animado pelo trio de mesmo nome, constituído por Raul Torres, Florêncio e José Rieli – a partir de 1947 substituído por Emilio Rielli Filho. Este último, substituído mais tarde por Castelinho e, posteriormente, por Nininho. 



INTÉRPRETE 

Em entrevista, afirmou que seu gosto de cantar nasceu nos tempos em que conduzia seu coche pelas ruas paulistas e sentia necessidade de espantar um pouco o silêncio da solidão. Tinha voz macia e bem agradável. Em fins de 1930 grava para Cornélio Pires com o pseudônimo de Bico Doce. Deixou em discos mais de 400 gravações, sob os principais selos do país, como RCA Victor, Odeon e Columbia, em diversos gêneros musicais, tais como modas de viola, guarânias, toadas, valsas, sambas, marchas, jongos, cocos e emboladas. Este último exige bom fôlego do intérprete. Tamanha era a sua habilidade que é reconhecido como “Embaixador da Embolada”. 


PRESTÍGIO 

Seu prestígio no meio artístico fez com que firmasse boa amizade com Francisco Alves, Sylvio Caldas, Luiz Barbosa, Nonô e muitos outros, que faziam questão de até participar espontaneamente das gravações de Raul Torres. No ano de 1933, o rei da voz fez coro, ao lado de Jaime Vogeler, Moreira da Silva, Castro Barbosa e Jonjoca, para a gravação de “Sereno Cai”. 

PARCEIROS EM GRAVAÇÕES 

Artur Santana, o Azulão; Nair de Mesquita; Pescuma; Genesio Arruda; Ida e Irene Baldi; Lazaro e Machado; Mariano, pai do acordeonista Caçulinha; Ascendino Lisboa; Joaquim Vermelho; Jaime Vogeler; Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda; Nestor Amaral; João Pacífico; Nha Zefa; Serrinha, filho de sua irmã Izabel Montes Torres; Florêncio; Inhana, da dupla Cascatinha e Inhana; Rosita del Campo; Inezita Barroso e Ramoncito Gomes. 




MÚSICO 

"Nunca tive professor de canto ou música. Entendo mesmo que a sincera e fiel interpretação das nossas canções, sambas, cateretês, etc., só pode existir na alma espontânea dos nossos sertanejos e, para eles, quase sempre, é inacessível o estudo. Mas é só com eles que se encontra a expressão do nosso clima, das nossas belezas naturais, que, com tanta nitidez sentimental, eles sabem traduzir na simplicidade poética de seus violões e violas." 


COMPOSITOR 

Só em 78 rpm, Raul Torres deixou mais de 400 gravações, interpretando, entre outros, Dilermando Reis (Guaratinguetá), Adoniran Barbosa (Dona bôa), Alvarenga e Ranchinho (Sae feia), Capiba (Mentira) e Kid Pepe (Quem mandou e Que linda manhã serena). Porém, sua bagagem musical sobe a 400 composições, só ou em parcerias, como com João Pacífico, Zé Fortuna, Carreirinho, Zé Carreiro, seu sobrinho Serrinha, o conterrâneo Joaquim Vermelho (Joaquim Pedro Gonçalves), Lourival dos Santos, Palmeira, Capitão Furtado (Ariovaldo Pires), Sebastião Teixeira, Geraldo Costa, Cornélio Pires e Tinoco. 

Em palavras do jornalista botucatuense Sergio Santarosa, não há cantor do gênero sertanejo que se preze que não tenha gravado Raul Torres. Rolando Boldrin e Tonico e Tinoco dedicaram discos inteiros às suas composições. Tião Carreiro assumiu publicamente seu apreço a Raul Torres e tem como título de um de seus discos, em dupla com Pardinho, uma composição do artista botucatuense: “Felicidade”. Suas composições também foram gravadas por outros artistas de renome, como: Luiz Gonzaga, Mococa e Paraíso, Duo Glacial, Irmãs Galvão, Daniel, Chitãozinho e Chororó, e em versões instrumentais com Tião Carreiro e com Renato Andrade. 


BOTUCATU EM SUAS MÚSICAS 

Embora não tenha encontrado referências a homenagens que autoridades botucatuenses lhe tenham prestado em vida (a primeira carta de um conterrâneo felicitando-o pelo trabalho partiu de Luiz Simonetti, em 1959, havia 32 anos de sua carreira artística), Raul Torres não deixou de citar o nome de sua terra natal em composições e gravações. Em “Quando eu Cantei no Rádio”, gravada em dupla com seu sobrinho Serrinha, menciona: “Eu vim de Botucatu viajando quase um dia inteiro para cantar em São Paulo na irradiação da Cruzeiro...”. Em outras duas composições, relançadas em CD pelo selo Revivendo, em 2004, e que chegaram aos Estados Unidos da América, Japão e alguns países do continente europeu, é possível ouvir Caninha Verde (“Falo verdade e também no cururú, Raul Torres é meu nome, eu sou de Botucatu”) e Desafio (“Eu nasci de madrugada, antes do galo cantá, eu nasci em Botucatu, a minha terra natá”). Esta última, gravada em dupla com Inezita Barroso. Raul Torres lembrava com orgulho de suas origens e sempre que podia visitava Botucatu. Numa dessas visitas, conheceu um boiadeiro e inspirou-se para compor os versos de uma das mais belas modas de viola de todos os tempos: Boiada Cuiabana (“Vou contar a minha vida do tempo que eu era moço....Eu saí do Alambari na minha besta ruana...”). 


MÚSICAS EM TRILHAS SONORAS 

Rôla...Rolinha – Filme “O Babão”; 
Mestre Carreiro – Filme “Sertão em Festa”, com Tião Carreiro e Pardinho; 
Cavalo Zaino – Novela “Cabocla”, levada ao ar pela Rede Globo de Televisão, com interpretação de Sérgio Reis; 
Cabocla Tereza – Filme “Cabocla Tereza”. 

FILME CABOCLA TEREZA ( 1982 ) 
Sumar apresenta 
Cabocla Tereza 
Eastmancolor 
Co-produção : Mori Filmes 
Direção : Sebastião Pereira 
Montagem : Sylvio Renoldi 
Fotografia : Eliseu Fernandes 
Trilha sonora : Chantecler 
Direção Musical : Aluisio Pontes 
Música : João Pacífico e Raul Torres 
Cantam : Francisco Tozzi, Adauto Santos e Bando de Macambira 
Com : Zélia Martins, Sebastião Pereira, Carlito, Washington L. Bezerra (Tonton) 
Participação especial : Jofre Soares 
Ator Convidado : Chico Fumaça 
Antonio Leme, J. Alves, Francisco Tozzi 

SUCESSOS
Raul Torres foi compositor de inúmeros êxitos, tais como: 
“CHICO MULATO” – Raul Torres e João Pacífico 
(“Tapera de beira de estrada, que vive assim descoberta...”); 
“CABOCLA TEREZA” – Raul Torres e João Pacífico 
(“Há tempo eu fiz um ranchinho, pra minha cabocla morar...”); 
“PINGO D’ÁGUA” – Raul Torres e João Pacífico 
(“Eu fiz promessa pra que Deus mandasse chuva...”); 
“MOURÃO DA PORTEIRA” – Raul Torres e João Pacífico 
(“Lá no mourão esquerdo da porteira...”); 
“BOIADA CUIABANA” – Raul Torres 
(“Vou contar a minha vida do tempo que eu era moço...Eu saí de Alambari na minha besta ruana...”); 
“SAUDADES DE MATÃO” – Raul Torres ( letra ), Jorge Galati e Antenógenes Silva 
(“Neste mundo eu choro a dor, por uma paixão sem fim...”); 
“COLCHA DE RETALHOS” – Raul Torres 
(“Aquela colcha de retalhos que tu fizeste, juntando pedaço em pedaço foi costurada...”); 
“CAVALO ZAINO” – Raul Torres 
(“Eu tenho um cavalo zaino que na raia é corredor, já correu quinze carreira, toda as quinze ele ganhou...”) 
Curiosidade: conheceu o rasqueado em viagem ao Paraguai e introduziu em terras brasileiras com a gravação desta canção; 
“MODA DA MULA PRETA” – Raul Torres 
(“Eu tenho uma mula preta tem sete parmo de artura...”); 
“MODA DA PINGA” – Domínio Público 
(“Com a marvada pinga é que eu me atrapaio...”) 
Curiosidade: Inezita Barroso atesta que era de costume dos portugueses, quando uma música agradava, que as pessoas continuassem a compor seus próprios versos encaixando na melodia. “Eu fui numa festa no rio tietê, lá me deram pinga pra mim bebê, tava sem fervê”, segundo Inezita Barroso, são versos de autoria de Raul Torres. 
“DO LADO QUE O VENTO VAI” – Raul Torres 
(“Adeus morena eu vou do lado que o vento vai...Me fizeram judiação, é coisa que não se faz, adeus morena eu vou, adeus que eu vou pro sertão de Goiás”) 

SUAS MÚSICAS ATRAVESSANDO FRONTEIRAS 
MODA DA MULA PRETA – Argentina; 
A CUÍCA TÁ RONCANDO – embora nem de carnaval fosse, essa composição de sua autoria faria enorme sucesso no carnaval carioca de 1935, e em Portugal. 
Curiosidade: Osvaldinho da Cuíca revela que uma de suas fontes de inspiração foi o clássico "A Cuíca Tá Roncando", de Raul Torres. Gravado originalmente em 1935, pelo próprio autor, esse foi o primeiro samba paulista que obteve sucesso no resto do país. "Era um samba bem rural, bem caipira", relembra. 
Lançados em 2004 pelo selo Revivendo, de Curitiba-PR, os CDs “Suspira Meu Bem”, “Tá vendo muié” e “Raul Torres e seus parceiros”, chegam aos mais diversos países, como Estados Unidos, França, Japão e Rússia. 

IMPORTÂNCIA PARA A MÚSICA BRASILEIRA 
Inezita Barroso, estudiosa do nosso folclore, apresentadora do programa “Viola, Minha Viola”, exibido pela TV Cultura, e que conviveu com Raul Torres, entende como contribuição maior do artista botucatuense para a música brasileira o seu elevado número de composições. 
Introduziu a cuíca no disco, compôs e gravou o primeiro desafio (“Desafio número 1”, gravado com Nha Zefa), apadrinhou o primeiro 78 rpm de Cascatinha e Inhana. 
Se a música sertaneja hoje encontra caminhos mais suaves para a divulgação em rádio e discos, deve-se também ao trabalho incansável de Raul Torres e ao pioneirismo de Cornélio Pires. 

PRÊMIOS 
Nos anos de 1954 e 1961, recebeu o Troféu “Roquete Pinto”, um dos mais importantes do rádio e TV, na categoria “Melhor Conjunto” – “Torres, Florêncio e Nininho” e “Torres, Florêncio e Castelinho”. Em 1970, a viúva viria a receber o mesmo troféu, na categoria “Preito de Saudade”. 

AS HOMENAGENS PRESTADAS EM BOTUCATU E OUTRAS CIDADES 
• Botucatu emprestou seu nome a uma rua do município e, em 2002, por iniciativa do vereador Luiz Carlos Rubio, o tornou patrono de escola (EMEFEI Raul Torres). 
• Lançamento de Cartão Filatélico e quadro na Galeria dos Compositores Botucatuenses em homenagem ao Centenário de Raul Torres – Centro Cultural de Botucatu, julho de 2006. 
• Tributo ao Centenário de Raul Torres realizado pela Prefeitura de Botucatu: shows com Pedro Bento e Zé da Estrada, Liu e Léu, Tinoco e Tinoquinho, entre outros; vídeo documentário “Toca Raul” e inauguração da estátua na praça Comendador Emilio Pedutti – novembro de 2006 a março de 2007. 
• Programa “Viola, Minha Viola” – Especial ao Centenário de Raul Torres – levado ao ar pela TV Cultura nos dias 03 e 09 de junho de 2007; 
• Rua Raul Montes Torres – Franca, SP; 
• Rua Raul Torres – Marília e Osasco, SP. 
• “A Vida de Raul Torres” – moda de viola gravada por Zé Carreiro e Carreirinho. 


sábado, 25 de julho de 2015

DISCO DOS RACIONAIS É PRESENTE DA PREFEITURA DE SÃO PAULO PARA O PAPA

'Sobrevivendo no Inferno' tem trechos bíblicos; Haddad foi ao Vaticano.
Ideia do presente foi de grupo de jovens da periferia.

Por Cíntia Acayaba



O disco "Sobrevivendo no Inferno"', dos Racionais MC's, foi o presente escolhido pela Prefeitura de São Paulo para dar ao Papa Francisco. O prefeito Fernando Haddad participou de seminário no Vaticano nesta semana.

A ideia do presente foi repassada por um grupo de jovens da periferia ao coordenador de Políticas para Juventude, Cláudio Aparecido da Silva. A capa do LP "Sobrevivendo no Inferno" tem uma cruz e o Salmo 23, capítulo 3: "Refrigere minha Alma e guia-me pelo caminho da Justiça".

Faixas do disco como "Genesis" e "Capítulo 4, Versículo 3", compostas por Mano Brown, têm trechos bíblicos. O álbum aborda questões relacionadas à desigualdade social, racismo, entre outras. Um dos maiores sucessos é "Diário de um Detento", inspirado no diário de Jocenir, ex-detento do Presídio do Carandiru.

O Racionais MC’s surgiu no final dos anos 80 com "um discurso que tinha a preocupação de denunciar o racismo e o sistema capitalista opressor que patrocinava a miséria que estava automaticamente ligada com a violência e o crime", segundo o site oficial do grupo.

Haddad teve audiência com o Papa Francisco nesta terça-feira (21), mas não conseguiu entregar o disco. O secretário de Relações Internacionais da Prefeitura, Vicente Travas, que segue em seminário em Roma, deve deixar o LP, autografado pelos integrantes do grupo, aos cuidados do Papa por meio do chanceler do Sacro Colégio.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

GRAMOFONE DO HORTÊNCIO

Por Luciano Hortêncio*





Canção: Eu quero é me virar

Composição: Alvim

Intérprete - Nerize Paiva

Ano - 1954

Disco - Verdi nº 2026-B


* Luciano Hortêncio é titular de um canal homônimo ao seu nome no Youtube onde estão mais de 5000 pessoas inscritas. O mesmo é alimentado constantemente por vídeos musicais de excelente qualidade sem fins lucrativos).

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