PROFÍCUAS PARCERIAS

Gabaritados colunistas e colaboradores, de domingo a domingo, sempre com novos temas.

ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

HANGOUT MUSICARIA BRASIL

Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

WALDEMAR RESSURREIÇÃO, 100 ANOS

Compositor. Nasceu na região do Cariri, no Ceará. Com 13 anos seguiu com os pais para a cidade baiana de Ilhéus. Por essa época ganhou de presente um cavaquinho, e, logo que aprendeu a tocar um pouco, começou a compor. Em 1932, mudou-se para o Rio de Janeiro. Trabalhou no Jornal do Brasil como mecânico linotipista. Foi funcionário federal do Arsenal de Marinha. Em 1950, tornou-se sócio da Sbacem.


Seus maiores sucessos foram as músicas "Aquarela cearense" e "Que rei sou eu?". Em 1944, teve sua primeira composição gravada - o samba "Bola de papel", lançado por Batista de Souza em disco Continental. Em 1945, lançou um de seus maiores sucessos - o samba "...E não sou baiano não", gravado pelo Trio de Ouro, em disco Odeon. No mesmo ano, fez grande sucesso carnavalesco com o samba "Que Rei sou eu?", parceria com Herivelto Martins, e gravado por Francisco Alves, na Odeon. Esse samba fazia alusão ao Rei Carol da Romênia, deposto pelas tropas alemãs em 1940, com a invasão de seu país na Segunda Guerra Mundial. O rei fugiu então para o Brasil e se hospedou no Copacabana Palace, longe de todo o luxo da nobreza, e por isso, perguntava esse samba: "Que rei sou eu?/Sem reinado e sem coroa/Sem castelo e sem rainha/Afinal que rei sou eu?". Ainda em 1945, o samba "Que Rei sou eu?", foi cantado por Nilton Paz, no filme "Pif-Paf", da Cinédia. No mesmo ano, compôs com Herivelto Martins o samba "Rei sem coroa", prolongamento do samba "Que Rei dou eu?", e também gravado por Francisco Alves, na Odeon. Em 1950, o samba "Meu bairro canta" foi gravado pelo grupo vocal Quatro Ases e Um Coringa. Em 1951, o grupo vocal Vocalistas Tropicais, gravou o samba "Mulher de carnaval". Em 1954, o samba "Etiqueta de Mangueira", com Salvador Micelli, na interpretação de Carlos Augusto, foi incluído no LP "Sucessos carnavalescos de 1954", da gravadora Sinter. Em 1956, sua toada "Aquarela cearense" foi gravada pelo Trio Nagô, em LP da Sinter, sendo inclusive o título do disco. Nesse ano, o samba "... E não sou baiano" foi gravado pela cantora Violeta Cavalcanti, no LP "Exaltação à Bahia", da Odeon. Também em 1956, o samba "Eu sou do samba", com Raul Sampaio, foi gravado por Francisco Carlos. Em 1957, o samba "Que Rei sou eu?" foi gravado por Zaccarias e sua Orquestra e incluído no LP "Jubileu de Herivelto", uma homenagem da RCA Victor ao compositor Herivelto Martins. Em 1958, o samba "Saudosa Praça Onze", com Evaldo Rui, foi gravado pela Orquestra e Coro RGE, para o LP "Praça Onze não morreu", da RGE.

Em 1960, o samba "Que Rei sou eu?" foi gravado por Blecaute, para o LP "Na boca do povo", da Polydor. Em 1961, o cantor Carlos Nobre, no LP "O seresteiro moderno", da RCA Victor, gravou o samba "Pode beijar aquela moça", e José Bittencourt lançou, no LP "O amor dos meus sonhos", da gravadora Copacabana, o samba "Trinta dinheiros", com Amaro Gonçalves. Em 1962, criou o grupo vocal Anjos do Sol, com o qual fez apresentações nas Rádios Mauá, Nacional, e Guanabara, além de apresentações nas TVs Rio e Continental. Em 1963, o cantor Noite Ilustrada gravou o samba "Bola de papel", incluído no LP "Noite ilustrada", da gravadora Philips. Em 1965, o samba "Etiqueta de Mangueira", com Salvador Micelli, foi gravado pelos Anjos do Sol, em LP da RGE. Em 1966, o samba "Andorinha", com Salvador Micelli, foi gravado pelo grupo Anjos do Sol, no LP "Anjos do Sol - Volume 2", da RGE. Em 1968, o samba "A maior Maria", com Gerôncio Cardoso, foi gravado por Carlos Cesar, no LP "Carlos César é de samba", da Chantecler. Esse samba seria relançado no ano seguinte pelo grupo vocal Demônios da Garôa, no LP "Doido varrido", da Chantecler, e por Roberto Silva, no LP "Receita de samba", da gravadora Copacabana. Em 1973, Moreira da Silva regravou o samba "...E não sou baiano", no LP "Consagração", da gravadora CID. Ainda em 1973, Djalma Pires gravou o samba "Que Rei sou eu?", para o LP "O tempo passa... O samba fica", da gravadora RGE. No ano seguinte, Ary Lobo, em LP da Som/Copacabana, gravou o samba "Praia de Iracema". Em 1976, o grupo vocal Demônios da Garoa regravou o samba "A maior Maria", para o LP "É com esse que eu vou", do selo Alvorada/Chantecler. No mesmo ano, Cyro Aguiar, no LP "Proporções", da gravadora Som Livre, registrou o samba "... E não sou baiano". Parceiro de nomes como Herivelto Martins e Raul Sampaio, teve mais de vinte composições gravadas por intérpretes como Francisco Alves, Moreira da Silva, Trio de Ouro, Violeta Cavalcânti, Blecaute, Noite Iustrada, e Roberto Silva, entre outros.

Fonte: Dicionário da MPB

ALICE, LUCAS E MORENO, FILHOS DA GERAÇÃO DOS ANOS 60

Os três fazema nova MPB que o rádio ignora solemente


Por José Teles


Alice, Lucas e Moreno, são talentosos filhos da geração dos festivais. Alice Caymmi é filha de Danilo Caymmi, Luca Santtna é filho de Roberto Santtana, produtor que trabalhou com Gilberto Gil e Quinteto Violado (e ainda sobrinho e Tom Zé), e Moreno Veloso, filho de Caetano Veloso (portnato, sobrinho de Maria Bethânia. Os três estão com discos novos, usam instrumentos e linguagem modernas, mas ainda são pouco conhecido do grande público. Ao contrário dos país e tios, eles não tem acesso fácil às emissoras de rádio e TV. Mas não parecem preocupados. Memso não estando longe de ser ídolos de massa,a trinca tem público certo e sabido, no Brasil e o exterior. Um deles, Luca Santtana, apresenta-se mais na Europa do que em seu país. Precisam ser escutados, pois a nova música brasileira passa obrigatoriamente por eles.

Rainha dos raios (Joia Moderna), segundo disco de Alice Caymmi, o que primeiro chama atenção é voz encorpada, característica dos Caymmi, em Como vês (Domenico Lancelotti/Bruno di Lulo): “Ele quer me destruir/eu não sou ninguém”, canta carregada de drama, enfatizando versos, como se pedisse muita atenção para o que dizem, como uma Bethânia punk. A confissão de fragilidade nesta canção, contrasta com Homem, música pinçada de Cê, de Caetano Veloso: “Não tenho inveja da maternidade, nem da lactação/não tenho inveja da adiposidade/nem da menstruação/só tenho inveja da longevidade dos orgasmos múltiplos”, uma canção masculina em que se invertem os papéis: “Eu sou o homem/eu sou o homem/pele solta sobre o músculo/pelo grosso no nariz”, canta, com gemidos e coro ao fundo. O rock básico de Caetano ganha também ousadias sonoras experimentais.




Alice Caymmi faz um disco subversivo a medida que dela se esperava a continuidade da estética da família, do requinte reafirmado de pai para filho, e que não funcionou com a neta de Dorival e Stela Maris. Não que Alice não seja sofisticada. No seu disco de estreia, Alice Caymmi (2012), ela debutava com qualidade, numa maioria de composições autorais, mais uma de Dorival Caymi (Sargaço mar), e uma de Björk (Unravel). A temática de parte das canções (duas com Paulo César Pinheiro), era água e mar, mas não com as praias e águas que o avô imortalizou. O mar de Alice Caymmi é o de hoje, mais para denúncias e do que lirismo. O álbum foi recebido com ressalvas. Não é fácil fugir às cobranças, de quem tem como parentes, Naná, Dori, Danilo (seu pai), e Dorival (sem esquecer que avó, Stela Maris foi cantora talentosa, que deixou a profissão para se dedicar aos filhos). 

DNA á parte, Alice Caymmi merece elogios com Rainha dos raios. As nove faixas do álbum são engenhosa e modernamente arranjadas. A voz lembra a da tia Nana, encorpada, porém mais roqueira, mais atirada. Ainda mais do que o anterior, o segundo disco de Alice CAymmi é sujo, sem preciosismos estilísticos. Princesa, enfatiza versos elementares do funk melódico(do MC Marcinho), transformado em reggae, com cordas e guitarras,: “Princesa, por favor/volte pra mim, eu te amo, meu amor”. Porém soa mais como um apelo do que como uma declaração apaixonada. Maysa (Meu mundo caiu), a recorrência a Caetano Veloso mais duas vezes, Jasper (com Arto Lindsay e Peter Scherer), e Iansã (com Gilberto Gil), a parceria com o hitmaker, o recifense Michael Sullivan (Meu recado), e releitura da cafona Sou rebelde, versão feita, nos anos 70, por Paulo Coelho, para a lourinha Lilian Knapp, da dupla com Leno na Jovem Guarda. Alice Caimmy despe a canção da sua ingenuidade, e a reveste de tons cinzas, assim como fez Marianne Faithfull com a pastoral As tears go by, de Mick Jagger quase 50 anos atrás. 

Elementos díspares, heterogêneos, emolduram Rainha dos raios, o título vem de versos pinçados de Iansã, a música que foi ponto de partida para este álbum, com a parceria entre a cantora e o carioca Strausz. Canção que marcou a carreira de Bethânia em 1972, Iansã é interpretada com os beats eletrônicos de Strausz, riff de guitarra. O dolorido samba-canção Meu mundo caiu, é aberto com um solo de guitarra com timbre de surf music. Até Jasper, adubada por ruídos de rock industrial, que fecha o disco, Alice Caymmi não permite que o ouvinte repouse na zona de conforto, o álbum é inquietante até o final.



Sobre noite e dias, sexto disco de Lucas Santtana (Dignois). “Tudo tão escuro/luzes sem futuro/se perdem no breu”, versos iniciais de Alguém assopra ela canção que abre o repertório do álbum. A nova música brasileira está aí já há algum tempo, e TV e rádio, sobretudo estes, estão ignorando-a. Sobre noites e dias lembra em certos momentos um Caetano Veloso eletrônico, porém com a mente ainda no passado recente harmônica e melodicamente. A música de Lucas Santtana não transgride códigos estabelecidos, mas ao mesmo tempo não se tem dúvidsas de que estamos diante de um disco do século 21, o futuro, que Arthur C. Clarke situou no já longíquo ano de 2001.

Canções em português, inglês, francês, espanhol, MPB, rap, modulações de música árabe, violoncelo programações, Lucas viabilizou o disco pelo sistema crowdfunding, reuniu em torno de si músicos de varias nacionalidades, com as facilidades que um mundo conectado possibilita. O rapper De Leve, o Oslo String Quartet, Ricardo Dias Gomes, As atrizes Fanny Ardant (francesa), e Camila Pitanga (no beatbox), Bruno Marques, Junix 11, Bi Ribeiro, o produtor alemão Daniel Haaskman, o maestro Letieris Leite, entre muitos outros. O disco agrega invenções, sonoridades e influências, como a do minimalista Phillip Glass, na repetição de células dos instrumentos de corda e programações em Human time, uma das melhores faixas do álbum. Destaque para um remake atualizado de Paula e Bebeto (Caetano/Milton, 1975), na reiteração de que “qualquer maneira de amor vale a pena”, em Funk dos bromânticos: “Ele beija ela, ela beija ele/mas se rolar um clima/ele beija ele/ela beija ela/para ele o amor é livre/ela não é gay/ele não é viado/não são mais classificados”.

São 10 faixas, engenhosamente arranjadas, canções curtas, de cativantes melodias pop. Lucas Santtana surpreende, com sutileza, cantando suave. Pode irromper com um frevo brejeiro, Mariazinha morena clara, um choro, meio cubano, que se transforma numa balada pop, Particulas de amor, uma das canções mais românticas do disco, em que, no geral, Lucas Santtana expressa perplexidade, faz questionamentos, e esboça conclusões sobre o mundo ao seu redor.



Coisa boa, primeiro disco solo de Moreno Veloso. Depois da dois + 1 (Moreno, Kassin e Domenico), Moreno Veloso demorou a gravar disco individual. Coisa boa confirma que Moreno tem luz própria. Não apenas luz, mas caminho próprio que pode até ter confluência com o de Caetano Veloso, mas é totalmente distinto. Ele canta quase sempre no limiar do falsete, canções suaves e suingadas. Um passo à frente, que inicia o disco é um samba de roda, mais adiante, Verso simples (dele com Domenico Lancellotti, Dudu Falcão), é uma valsinha, com percussão de ijexá. A música de Coisa boa tem uma leveza oriental. Engenhosa a sacação da percussão, embora sutil, ela chama atenção, porque contrasta quase sempre do andamento da melodia. Jacaré coruja (com Quito Ribeiro) é um cateretê lento, em que o solo é a percussão.

Canções com uma simplicidade de uma Ciranda, cirandinha, quase infantis. Não autoral, apenas Num galho de acácias, versão de (Un peu d'amour, canção francesa do início do século passado. A música tem a aprticipação da japonesa Takako Minekawa, que assina com Moreno Onaji sora, música cantada em japonês, que encerra o disco, produzidp por Moreno Veloso e Pedro Sá

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

ENTRE A CONTEMPORANEIDADE E A TRADIÇÃO UM BANDOLIM ENTOA LOAS

Em álbum essencialmente autoral, o músico Marcos Frederico desnuda-se de modo pleno em seu terceiro projeto.

Por Bruno Negromonte





Disseminado por Vilvaldi em Veneza, na Itália, ao longo do século XVII, o bandolim desembarcou no Brasil vindo de Portugal ao final do século XVIII e se popularizou no país a partir, principalmente do choro ao longo do século XIX. Instrumento com oito cordas agrupadas de duas em duas, o bandolim encontrou em nosso país um fértil campo para a difusão de sua envolvente e inebriante sonoridade a partir de exímios executores r grandes solistas. Vários foram os nomes que corroboraram para que o instrumento ganhasse projeção no meio musical brasileiro e um dos mais importantes para isso foi sem dúvida o do carioca Jacob Pick Bittencourt e o do pernambucano Luperce Miranda. Pioneiro, este nos anos de 1920 integrou o grupo Turunas da Mauricéia, e na década seguinte criou o regional que levava seu nome atuando junto a ele em rádios, na gravadora Parlophon e acompanhando nomes expressivos de música popular da época tal qual Francisco Alves, Carmen MirandaMário Reis. Já o segundo por ter tanta afinidade com o instrumento que executava que acabou por adotá-lo em seu nome artístico tornando-se Jacob do Bandolim. Responsável pela autoria de choros como Noites CariocasDoce de Coco, e Receita de Samba, Jacob ganhou visibilidade não apenas a partir de suas composições e exímias execuções ao instrumento, mas também por ser responsável pela criação do regional Época de ouro, grupo de fundamental importância para a música popular brasileira e responsável pela defesa do choro ao longo dos anos de 1960, época esta que a bossa nova reinava quase que modo absoluto. De lá para cá o instrumentista fez escola e deixou além do legado musical, uma influência que paira e ainda permanecerá de modo perene dentro da música brasileira.



Desde então a música popular veio ganhando cada vez mais adeptos do instrumento, onde alguns, nos últimos anos, ganharam destaque como é o caso do instrumentista e compositor Hamilton de Holanda e do artista que hoje aporta em nosso espaço para deleite do público leitor: o mineiro Marcos FredericoNatural de Belo Horizonte, além de compositor, o bandolinista integra o grupo Siricotico, é produtor musical e também domina outros instrumentos de corda como o violão, onde estudou-o junto com teoria musical na Fundação Clóvis Salgado, em Minas Gerais. Em 2007, o músico lançou seu primeiro projeto fonográfico. Lançado também no exterior com o apoio do Clube do Choro de Paris, o disco ganhou o título de "Sinuca tropical" e conta com a participação de alguns nomes do clube do choro de Belo Horizonte como o do jurista e compositor Carlos Walter e da acordeonista Elisa Behrens na execução de faixas como "Beldade" e "Deixa chorar", composições da lavra do artista. Em dezembro de 2011 lançou o seu segundo álbum denominado de “Onze”, que foi gravado estúdio Liquidificador e conta com 11 faixas autorais incluindo aí parcerias com Gabriel GuedesGustavo MaguáRômulo Marques entre outros. O disco teve seu lançamento no Museu de Artes da Pampulha em Belo Horizonte e foi apresentado não apenas no Brasil como também no Exterior. Na biografia do artista ainda contabiliza-se prêmios como o de melhor instrumentista na décima edição do Prêmio BDMG Instrumental em 2010 e sua participação em alguns dos mais importantes eventos de música existentes não apenas no Brasil, assim como também em pairagens internacionais como a 16ª Cúpula de Mercocidades em Montevidéu; o 8º Prêmio Nabor Pires Camargo Instrumentista, em Indaiatuba (SP); o Show do Centenário de Godofredo Guedes; o 9° Festival Tudo é Jazz em Ouro Preto; o Festival Musique Du Monde, em Paris, entre outros.

Recentemente chegou ao mercado o seu terceiro álbum intitulado “Entoando Loas”, mais um disco marcado por adjetivos que pontuam de modo bastante significativo a carreira do músico mineiro nos mais diversos aspectos. Das oito faixas que constituem o disco, algumas foram selecionadas para a trilha sonora da série “Museus de Minas” da Rede Minas de TV. Gravado em grande parte no Liquidificador Estúdio, o disco apresenta duas faixas que foram registradas ao vivo no teatro da biblioteca pública de Belo Horizonte com a participação do violinista francês radicado no Brasil Nicolas Krassik. Trazendo em sua essência sonora Minas GeraisEntoando Loas” traz em sua ficha técnica nomes como o de Flávio Henrique (acordeon, piano e acordeon), Carlos Walter (violão), Dado Prates (flauta), Felipe José (violoncelo), Rafael Martini (piano), Felipe Bastos (bateria), Aloízio Horta (baixo), Daniel Pantoja (flauta). Ricardo Acácio (percussão) e  Thiago Delegado (violão). O projeto gráfico ficou a cargo de Júlio Abreu e da Leonora Weissmann e os responsáveis pelas fotografias foi Élcio Paraísoneste álbum que, segundo o próprio artista, trata-se de uma celebração à vida.

Já estando presente na lista dos mais expressivos instrumentistas da música brasileira de sua geração, Marcos Frederico funde a tradição da música mineira com a contemporaneidade; conseguindo mesclar de modo bastante harmonioso todas as influências que permeiam o seu trabalho com a originalidade que lhe é peculiar. Essas características acabam por embeber o trabalho do músico mineiro com adjetivos bastante fortes que, de certo modo, imbuem a sua produção musical com uma original e singular identidade sonora. A música sem dúvida pulsa forte em sua veia. Da mais simplória às cavas, a boa música encontra em seu corpo um porto seguro e permite-se transportar em acordes e melodias por intermédio dos ágeis movimentos de seus dedos em números que emanam leveza e compromisso estético. Expressando-se de modo virtuoso e original, Marcos mostra-se despretensiosamente hábil e capaz de transitar pelos mais diversos gêneros que aventura-se. Com propriedade, seu instrumento o conduz (e consequentemente também nos leva) as mais diversas pairagens sonoras existentes em execuções muito carregadas de pessoalidade e leveza. Uma leveza quase pueril e que acaba por nos envolver e nos encantar de modo inebriante. Tais características acaba gerando uma certa expectativa em torno desse jovem artista que parece não incomodar-se com tal responsabilidade, pelo contrário, tal condição acaba oportunizando-o a uma produção cada vez maior e diversificada, indo das trilhas aos jingles (como o que lhe deu o primeiro lugar no concurso de da rádio UFMG Educativa). Parece que o contexto de fato o é favorável, pois tal responsabilidade o artista parece tirar de letra, ou melhor, tirar em notas musicais.



Maiores Informações:

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terça-feira, 28 de outubro de 2014

ZÉLIA DUNCAN, 50 ANOS


Começou a cantar profissionalmente no início dos anos 80, e sua estréia como solista aconteceu em 1987 no Botanic, no Rio, quando ainda adotava o nome artístico Zélia Cristina. Em 1990 lançou pela Eldorado o LP "Outra Luz", mas, insatisfeita, passou um semestre nos Emirados Árabes, cantando em um hotel.


Voltou em 1992 e gravou uma faixa no songbook de Dorival Caymmi produzido pela editora Lumiar. Mudou o nome para Duncan (nome de solteira da mãe) e passou a ser incluída numa nova safra de cantoras que surgiu na década de 90, ao lado de Adriana Calcanhoto, Cássia Eller e Marisa Monte. E 1994 saiu o CD "Zélia Duncan", incluindo o hit "Catedral" (versão do sucesso da cantora alemã Tanita Tikaram), que jogou os holofotes sobre a violonista, compositora e cantora de voz grave.

Em 1997 gravou "Intimidade", que a levou para uma temporada no Japão e Europa. No ano seguinte, é a vez de "Acesso", produzido por Christiaan Oyens, com maior teor folk e pop e com participações de Jacques Morelenbaum e do grupo Uakti.

Em 2004, Zélia lança "Eu Me Transformo Em Outras". Baseado no show homônimo, o disco traz interpretações da cantora que deixam de lado a marca pop que a consagrou para experimentar os caminhos do samba.


O álbum seguinte foi “Pré Pós Tudo Bossa Band”, lançado em 2005 pela Duncan Discos. A canção título, que abre o CD, é um composição de Zélia com Lenine. Além disso, o trabalho também traz parceria com Mart´nália, Moska, Pedro Luís, Beto Villares e Christiaan Oyens.

Em 2006, a cantora se uniu aos irmãos Serginho e Arnaldo Baptista e o baterista Dinho e saiu em turnê internacional na badalada volta dos Mutantes, substituindo os vocais que um dia foram de Rita Lee. O sucesso das apresentações na Europa foi tão grande, que Zélia foi convidada a integrar oficialmente a banda.




Em 2008, Zélia se une à cantora Simone para lançar o DVD ‘Amigo é casa’, projeto que Zélia leva paralelamente ao seu trabalho solo.

Em 2009, Zélia grava o CD ‘Pelo sabor do gesto’, muito bem recebido pela crítica e pelo público. Com esse trabalho recebe uma indicação ao Grammy Latino 2009 e ganha o prêmio de Melhor Cantora na categoria Pop/rock da 21o. edição do Prêmio de Música.

Em 2011 a cantora e compositora niteroiense completa 30 anos de carreira e para as comemorações deste ano tão especial, grava o DVD 'Pelo sabor do Gesto Em Cena' (indicado em 2012 ao Grammy Latino), e estreia o espetáculo ‘Totatiando’, inspirado na obra de Luiz Tatit e dirigido pela atriz Regina Braga.

Em 2012, Zélia começa a se despedir da turnê Pelo sabor do gesto. Em junho do mesmo ano, é convidada por José Maurício Machline a apresentar a 22a. edição do Prêmio de Música Brasileira, ao lado de Luana Piovani. Ainda em 2012, e paralelamente aos shows, Zélia gravou um CD apenas com músicas de Itamar Assumpção, ‘Zélia Duncan canta Itamar Assumpção Tudo Esclarecido’, lançado no final do ano pela Warner Music. No segundo semestre, Zélia voltou a apresentar o espetáculo Totatiando, que recebeu excelentes críticas na sua temporada paulistana. Depois de SP, Totatiando foi apresentado em BH, Curitiba e Rio de Janeiro.

Em 2013, com o álbum ‘Zélia Duncan Canta Itamar Assumpção Tudo Esclarecido’, Zélia venceu em duas categorias do Prêmio da Música Brasileira, melhor disco e melhor cantora.

Atualmente, Zélia Duncan viaja pelo país com duas turnês em paralelo, do espetáculo ‘Totatiando’ e do show ‘Tudo Esclarecido’.


De onde vem os bebês

Quando parei pra pensar de onde eu vim, me veio à cabeça aquele livrinho que atormenta um pouco nossa pré-adolescência, aquele com uma cegonha desenhada, ela tem um ar orgulhoso e carrega no bico uma trouxa gordinha. Logo abaixo se lê aquela pergunta fatal, em letras garrafais:

DE ONDE VÊM OS BEBÊS? Acho que a cegonha que me trouxe, certamente reclamava do excesso de peso, pois éramos eu, um CD player e um violão.

Nasci em Niterói no dia 28 de outubro de 1964, onde vivi até os seis anos de idade. Em 1971, eu e minha família nos mudamos para Brasília, onde passei os dezesseis anos seguintes. Comecei a cantar profissionalmente em 1981, na saudosa Sala Funarte, que na época abria concorrência para que artistas novos se apresentassem. Mandei uma fita caseira, que me rendeu um primeiro lugar e uma opção de vida definitiva. Nunca mais parei desde então.

A abertura do show era com uma música do Milton Nascimento, chamada "Fazenda" e o repertório se desfolhava por aí. O show teve uma repercussão muito boa pra mim naquela época, comecei a trabalhar em vários espaços e através da mesma Funarte, me apresentava ao lado de artistas que vinham de fora, até que, após abrir um show de Luis Melodia, no Teatro Nacional de Brasília, fui selecionada para representar Brasília no projeto Pixinguinha, no elenco de Wagner Tiso e Cida Moreyra. Viajamos por sete cidades e eu pude, pela primeira vez, cantar fora de Brasília para pessoas que eu nem sonhava em conhecer. Minha carreira "candanga" começava a querer se expandir um pouco. Brasília, além de me proporcionar um certo surrealismo no seu dia-a-dia de cidade pretensiosamente planejada, me deu oportunidade de realizar trabalhos extremamente profissionais, com músicos especialmente sensíveis, com que aprendi e apurei os ouvidos!

Aos 22 anos encontrei o caminho de volta para o Rio. Comigo vieram meu amado fusquinha branco (roubado um ano depois), uma relativa experiência e uma vontade imensa de cantar. Cursei a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras) por um ano e meio, paralelamente montei meu primeiro show por aqui, a formação era interessante, guitarra, baixo acústico e clarinete. O repertório começava a mudar também, era algo entre Itamar Assumpção, Caetano Veloso, Beatles, Police e umas inéditas de outras pessoas. Descobri o prazer de cantar em inglês e procurar músicas brasileiras mais inusitadas, que não tivessem interpretações muito óbvias, e isso me deu uma liberdade essencial.



No final de 1989, conhecia a diretora de teatro Ticiana Studart, que estava então chegando de Nova Iorque com idéias que vinham ao encontro dos meus planos de fazer algo mais arrojado e irreverente. Os recursos eram caóticos e as idéias jorravam mais a cada dia. Muito bem, produzir é um caos, os espaços são um caos, a violência é um caos, o isolamento cultural é um caos, já tínhamos o repertório e o nome do show: "Zélia Cristina no caos"!! Conseguimos tudo, figurinista, iluminador, técnico de som, banda maquiador e público!!!

Embora ainda correndo à margem da grande mídia, sem críticos ou chamadas na TV, o resultado foi muito recompensador. Da Laura Alvim fomos para o Mistura Fina, ambos com lotações esgotadas, e tive a visita de alguém do Estúdio Eldorado, que me convidou para, enfim, gravar um disco. Pouparei os detalhes desta etapa, o mais relevante é que, com um disco que era 30% do que se poderia fazer, tive duas indicações para o prêmio Sharp, como revelação e melhor cantora pop-rock e o prazer de dividir uma faixa com Luís Melodia. Mas o show continuava sendo a parte que melhor me retratava e, com a ajuda da Eldorado e de uma empresária, cantei em São Paulo (Crownie Plaza), Porto Alegre, Florianópolis, Brasília e Teatro Ipanema. Participei de vários programas de TV, acho que os mais interessantes foram: Jô Onze e Meia, Programa Livre, que na época não passava no Rio, Vídeo-Show e Metrópolis. Foi um ano intenso e estimulante por um lado, mas por outro, o disco estava longe de se parecer comigo, não havia continuidade.

Em outubro de 1991, desavisadamente, atendi a um telefonema que mudou minha vida para sempre. Alguém me chamava para cumprir um contrato de três meses nos Emirados árabes: O QUE??? EMIRADOS ÁRABES??? Duas semanas depois, em meio aos bombardeios pessoais que me atingiam, eu pousava no Oriente Médio. Da janela do avião só se via areia, areia, e eu me perguntava, será que os camelos apreciam boa música? Bem, os três meses viraram cinco, cinco meses de desafio e prazer absoluto de estar fora, na maioria das vezes, cantando para pessoas que não entendiam uma palavra do que eu dizia. Eram árabes, europeus, australianos, meu Deus, então essa gente existe mesmo? Foram meses fundamentais pra mim, como uma fase de crescimento, onde tudo é aproveitado.




Fazíamos shows diariamente, minha única preocupação era deixar clara a força que nossa música tem. Durante o dia, era hora de esticar os olhos e ouvidos, uma espécie de estado de alerta, a qualquer momento um daqueles tapetes persas poderia sair voando, e eu, é claro, estaria bem em cima dele! Importei meu violão folk (finalmente!) e, além de ficar ouvindo os sons orientais, me encontrava também com influências super cultivadas, como Joni Mitchell, Joan Armatrading, Sam Cooke, Ry Cooder e Peter Gabriel. Escrevia o tempo todo e passei a mandar letras para meus parceiros, "O Meu Lugar", por exemplo, foi escrita em Abu Dhabi.

A viagem reforçou minha personalidade em todos os sentidos, como separar a experiência artística da experiência pessoal? Voltei para casa em maio de 1992, e sabia que não era a mesma, não queria interferência nem falsos parâmetros, só pensava em retomar o trabalho, fazer um som mais acústico e, finalmente, cantar mais músicas minhas. Mais uma banda montada, fiz uma temporada no Torre de Babel que acabou se estendendo mais do que eu imaginava e me deu um presente, uma recompensa, a presença de Guto Graça Mello, que eu só conhecia de nome e de tanto as pessoas sussurrarem no meu ouvido, "Guto Graça Mello tá aí!" Que bom, Guto estava lá e me levou com ele. Começamos a gravar sem compromissos, ele me soltou no estúdio e eu me sentia carinhosamente observada.

Num belo dia de chuva, fui convidada por Almir Chediak a gravar uma faixa do Songbook de Dorival Caymmi, com Marco Pereira, no estúdio Sinth. Era um dia especial e eu estava muito feliz. Quando saí do aquário, Almir se voltou para mim e perguntou: "Você conhece Beth Araújo, da Warner?". Eu disse: "Não, muito prazer". Resposta: "Prazer, você já tem gravadora?". Era uma maneira tão direta que chegava a ser desconcertante para mim. Bem, as coisas foram se encaixando de maneira surpreendente e tranquila. Batalhei pela sorte e ela mostrou a cara, acho que já era tempo.

Zélia Duncan

Texto escrito em 1994, por ocasião do lançamento do primeiro álbum pela WEA.



Para onde vão os bebês

Depois que aprendemos a dar os primeiros passos, tudo pode acontecer!! Bem, agora que já expliquei mais ou menos de onde eu vim, quero contar um pouco pra onde eu fui depois dos primeiros passos, ou seja, como foi o processo do meu primeiro lançamento pela WEA Music, o álbum "Zélia Duncan", que veio dar uma direção mais definida à minha carreira.

A primeira coisa que se costuma fazer é escolher a famosa "música de trabalho", aquela que terá a função de apresentar o disco e abrir as portas para ele... Árdua tarefa... Existiam algumas candidatas, mas a preocupação era escolher aquela que poderia passar melhor a idéia do disco como um todo... Complexo, hein?! Alguém então sugeriu que fizéssemos um promocional (o chamado "CD Promo") com quatro músicas, representando uma espécie de resumo do que estaria por vir, para ser distribuído pelas rádios. Foi o que fizemos, e as quatro músicas escolhidas foram "O Meu Lugar", "Nos Lençóis Desse Reggae", "Catedral" e "Am I Blue For You".

Aí começa uma outra saga... Música no rádio e disco na loja. Acho que estas são as maiores aflições que um artista "novo" tem que enfrentar na vida! Então precisamos acionar o nosso "exército" particular: AMIGOS, PRIMOS, IRMÃOS, PAI, MÃE, VIZINHOS, PARENTES DISTANTES, COLEGAS DE ESCOLA, CURIOSOS, TRANSEUNTES! LIGAI PARA AS LOJAS E RÁDIOS!! Era um "Deus nos acuda" quando não conseguiam... e quando conseguiam também!! Aleluia!! Então começam os primeiros sinais, "o irmão do meu sócio te ouviu ontem de madrugada numa rádio aí"... Parece pouco, mas já dá um alento, e uma simpatia pelo "irmão do sócio"...

Com todas as primeiras dificuldades, o disco, por si só, me trazia conforto, pois eu me sentia mais próxima de mim e da maneira como queria me expressar como cantora, e mais, como idéia. E vieram algumas confirmações. O crítico de música latina da revista americana "Bilboard" incluiu meu disco na lista dos dez melhores álbuns latinos de 94, a música "Nos Lençóis Desse Reggae" entrou na trilha do seriado "Confissões de Adolescente", o disco começava a tocar aos poucos por aí e começamos também a ensaiar o show.



O primeiro foi em São Paulo, Sala São Luís. Direção de Gringo Cardia, cenário de Brígida Baltar, tudo em cima para a primeira apresentação fechada, apenas para a mídia e convidados... Mais convidados do que mídia, diga-se de passagem. Foi uma noite bonita, mas ainda um pouco tímida para nossas pretensões. Digo isso porque, comigo, tudo sempre foi assim, passo a passo, sem atalho, caminho comprido mesmo!

As coisas foram acontecendo gradativamente e, a partir de agora, pulo alguns pedaços para falar das mudanças após o advento de "Catedral". A música foi parar na trilha de "A próxima Vítima", então novela das oito da Rede Globo. Eu só acreditei na força que isso tudo tinha quando marcaram umas entrevistas comigo pelo telefone, o que a gravadora chama de "fazer os estados". Eram entrevistas para rádios fora do Rio de Janeiro. "Ok, estarei na WEA , às 10 da manhã para cumprir a agenda". Mal sabia eu que só sairia de lá `as seis da tarde, após falar com 25 rádios, com os mais diferentes sotaques, de Maringá a Fortaleza, perplexa...

"Catedral" estava "estouradaça" e as pessoas queriam saber de quem era aquela voz grave e desconhecida. E, por incrível que pudesse me parecer, era minha! Aí sim, comecei a responder pelo trabalho, a sentir a responsabilidade aumentando e a entender o peso de ser compositora e assumir de maneira autoral tudo aquilo. Experimentei a maravilhosa sensação de perder o controle de "quem ouviu ou comprou o quê, aonde", as pessoas estavam mesmo conhecendo minhas músicas, meu show, meus músicos e meus parceiros.

Mais uma vez vou pular etapas para caber neste espaço, enumerando mais ou menos os acontecimentos mais marcantes desta fase. O primeiro show no Sesc-Pompéia/SP foi emocionante porque ouvi, pela primeira vez, a voz do público cantando minhas músicas pra mim. Dois outros eventos marcantes foram o "Som Brasil" em homenagem ao Cazuza (que virou disco) e o show da JB-FM, onde eu, Cássia Eller e Adriana Calcanhoto nos apresentamos na mesma noite, no Metropolitan/RJ, tendo como "madrinha" ninguém menos do que Maria Bethânia. Aquilo tudo chegava a me parecer meio irreal... Eram cinco mil pessoas... que também cantaram comigo.

Houve um show em Porto Alegre que vale destacar: eu estava com receio das pessoas só saberem a "música da novela", o lugar estava completamente lotado, mas a partir do momento em que pisei no palco cantando "Não vá ainda", que abria o show, me deleitei durante uma hora cantando para uma platéia que conhecia e participava de todas as músicas! O trabalho começava a vencer o estigma de ter se revelado numa novela. Adoro lembrar também o dia em que cantei "San Vicente" no Prêmio Sharp, e recebi um abraço demorado de Milton Nascimento... Valeu mais do que um prêmio na estante! A temporada no Teatro Rival/RJ também foi muitíssimo importante, um mês onde mais de sete mil pessoas me prestigiaram, e chegamos a nos arrepender de não termos reservado o teatro por mais tempo!

No segundo semestre de 95 chegou então o "Disco de Ouro", correspondente `as primeiras cem mil cópias vendidas. Percebi também a importância de ser um número, que nunca será mais importante do que ser um artista, diga-se de passagem! Tudo isso foi selado, digamos assim, com uma apresentação no final de 1996, no Parque do Ibirapuera, ao ar livre, numa manhã de quase chuva e muita expectativa. Uns dizem vinte mil, outros trinta, eu só digo que, olhando de cima do palco, era o máximo! Não me venham com números agora, o público estava lá, e comemoramos então os dois anos intensos de trabalho que havíamos tido. Hoje, passando das duzentas mil cópias, o álbum "Zélia Duncan" está gravado em mim como uma recompensa, uma prova, um aliado essencial para a grande virada que aconteceu. Que bom...


Zélia Duncan




Discografia Oficial

Outra Luz (1990)

Faixas:
01 - Outra Luz (Christiaan Oyens - Zélia Duncan)
02 - Prove (Paulinho Lima - Luci)
03 - De Onde Vem? [Going Home] (Walter Afanasiek - Kenny G.)
04 - Meus Olhos (Cal Venturi - Silvia Patricia)
05 - Super Homem (Gilberto Gil)
06 - Que Cara Tem? (Klebi Nori - Luli - Lucina)
07 - Astúcia (Fussy Campelo)
08 - Lagoa (Toni Costa - Orlando Morais)
09 - Segredo (Luiz Melodia)
10 - Pirataria (Lee Macucci - Rita Lee)



Zelia Duncan (1994)

Faixas:
01 - Não vá ainda (Christian Oyens - Zélia Duncan)
02 O meu lugar (Christian Oyens - Zélia Duncan)
03 - Sentidos (Christian - Zélia Duncan)
04 - Nos lençóis desse reggae (Christian Oyens - Zélia Duncan)
05 - Catedral (Cathedral song) (Christian Oyens - T.Tikaran)
06 - Improvável (Christian Oyens - Zélia Duncan)
07 - Lá vou eu (Luiz Sergio - Rita Lee)
08 - Miopia (Lucina - Zélia Duncan)
09 - Tempestade (Christian Oyens - Zélia Duncan)
10 - Um jeito assim (Paulo André Tavares - Zélia Duncan)
11 - Am I blue for you (J.Armatrading)
12 - Eu nunca estava lá (Lucina - Zélia Duncan)


Intimidade (1996)

Faixas:
01 - Enquanto durmo (Christian Oyens - Zélia Duncan)
02 - Intimidade
 (Christian Oyens - Zélia Duncan)
03 - Bom pra você
 (Christian Oyens - Zélia Duncan)
04 - Minha fé
 (Lucina - Zélia Duncan)
05 - Coração na boca
 (Lucina - Zélia Duncan)
06 - Experimenta (Christian Oyens - Fernando Vidal - Zélia Duncan)
07 - Não tem volta 
(Christian Oyens - Zélia Duncan)
08 - Primeiro susto 
(Lucina - Zélia Duncan)
09 - Me gusta 
(Christian Oyens - Zélia Duncan) 
10 - Vou tirar você do dicionário (Alice Ruiz - Itamar Assumpção)
11 - A diferença 
(Christian Oyens - Zélia Duncan)
12 - Assim que eu gosto
 (Christian Oyens - Zélia Duncan)


Acesso (1998)

Faixas:
01 - Código de acesso  (Itamar Assumpção)
02 - Verbos sujeitos (Christian Oyens - Zélia Duncan)
03 - Depois do perigo (Lucene - Zélia Duncan)
04 - Haja (Christian Oyens - Zélia Duncan)
05 - Sexo (Christian Oyens - Zélia Duncan)
06 - Imorais (Christian Oyens - Zélia Duncan)
07 - Toda vez (Christian Oyens - Zélia Duncan)
08 - O lado bom (Christian Oyens - Zélia Duncan)
09 - Quase sem querer (Negrete - Lobos - Dado Villa - Renato Russo)
10 - As vezes nunca (Christian Oyens - Zélia Duncan)
11 - Por hoje é só (Christian Oyens - Zélia Duncan)



Sortimento (2001)

Faixas:
01 - Por que que eu não pensei nisso antes?
(Itamar Assumpção)
02 - Alma
(Arnaldo Antunes - Pepeu Gomes)
03 - Chicken de frango
(Rodrigo Maranhão - Zélia Duncan)
04 Eu me acerto
(Zélia Duncan)
05 - Sortimento
(Nando Reis)
06 - Desconforto
(Rita Lee - Zélia Duncan)
07 - Beleza fácil
(Rodrigo Maranhão - Zélia Duncan)
08 - Me revelar
(Christiaan Oyens - Zélia Duncan)
09 - Todos os dias
(John)
10 - Flores
(Fred Martins - Marcelo Diniz)
11 - Na hora da sede
(Luiz Américo - Braguinha)
12 - Hóspede do tempo
(Fred Martins - Zélia Duncan)
13 - Partir, andar (Herbert Vianna) (Com Herbert Vianna) (Faixa bônus)
14 - Eu vou estar (Alvin L. - Dinho Ouro Preto) (Com Capital Inicial) (Faixa bônus)



Sortimento Vivo (2002)

Faixas:

01 - Alma (Arnaldo Antunes - Pepeu Gomes)

02 - Chicken de frango (Rodrigo Maranhão - Zélia Duncan)

03 - Por que que eu não pensei nisso antes? (Itamar Assumpção)
04 - Eu me acerto (Zélia Duncan)
05 - Lá vou eu (Rita Lee)
06 - Sentidos (Christian Oyens - Zélia Duncan)
07 - Desconforto (Rita Lee - Zélia Duncan)
08 - Por enquanto (Renato Russo)
09 - Partir, andar (Herbert Vianna)
10 - Boomerang blues (Renato Russo)
11 - Verbos sujeitos (Christian Oyens - Zélia Duncan)
12 - Catedral (Tanika Tikaram - Vrs. Christian Oyens - Zélia Duncan)
13 - Não vá ainda (Christian Oyens - Zélia Duncan)
14 - Flores (Fred Martins - Marcelo Diniz)
15 - Gringo guaraná (Rodrigo Maranhão - Zélia Duncan)
16 - Enquanto durmo (Christian Oyens - Zélia Duncan)
17 - Me revelar (Christian Oyens - Zélia Duncan)



Eu me transformo em outras (2004)

Faixas:
01 - Quem canta seus males espanta (Itamar Assumpção)
02 - Nova Ilusão (Claudionor Cruz - Pedro Caetano)
03 - Quando esse nego chega (Haroldo Barbosa)
04 - Nega Manhosa (Herivelto Martins)
05 - Deusa da Minha Rua (Newton Teixeira - Jorge Faraj)
06 - Janelas abertas (Tom Jobim - Vinícius de Moraes)
07 - Doce de Coco (Hermínio Bello de Carvalho - Jacob do Bandolim)
08 - Boca de Siri (Wilson Baptista - Germano Coelho)
09 - Tô (Tom Zé - Elton Medeiros)
10 - Disfarça e Chora (Cartola - Dalmo Castello)
11 - Linda Flor (Luiz Peixoto - Marquês Porto - 
Henrique Vogeler - Cândido Costa
12 - Meu Rádio e Meu Mulato (Herivelto Martins)
13 - Renúncia (Roberto Martins - Mário Rossi)
14 - Dream a Little Dream of Me (Gus Kahn - Wilbur Schwandt -Andres Fabian)
15 - Sábado (Carlos Guinle - Dorival Caymmi)
16 - Eu Não Sou Daqui (Wilson Batista - Ataulfo Alves)
17 - Capitu (Luiz Tatit)
18 - Presente (Zé Miguel Wisnik)
19 - O Habitat da Felicidade (Lula Queiroga - Lucky Luciano)
20 - Jura Secreta (faixa bônus) (Sueli Costa - Abel Silva)




Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band - (2005)



Faixas:
01 - Pré- Pós-Tudo-Bossa-Band (Lenine - Zélia Duncan)
02 - Carne e Osso (Moska - Zélia Duncan)
03 - Vi, Não Vivi (Christiaan Oyens - Itamar Assumpção)
04 - Mãos Atadas (Simone Saback)
05 - Benditas (Mart'nália - Zélia Duncan)
06 - Braços Cruzados (Pedro Luiz - Zélia Duncan)
07 - Eu não Sou Eu (Lucina - Zélia Duncan)
08 - Tudo ou Nada (Itamar Assumpção - Alice Ruiz)
09 - Distração (Christiaan Oyens - Zélia Duncan)
10 - Dor Elegante (Itamar Assumpção - Paulo Leminski)
11 - Sulista Nordestino (vinheta) (Guerra Peixe - Zélia Duncan)
12 - Diz no Meus Olhos (Guerra Peixe - Zélia Duncan)
13 - Redentor (Beto Villares - Zélia Duncan)
14 - Não (Moska - Zélia Duncan)
15 - Quiser Eu (Lulu Santos - Zélia Duncan)
16 - Milágrimas (Itamar Assumpção - Alice Ruiz)



Mutantes (2006)

Faixas:
CD 01
01 - Dom Quixote (Arnaldo Baptista - Rita Lee)
02 - Caminhante Noturno (Arnaldo Batista - Rita Lee)
03 - Ave Gengis Khan (Arnaldo Batista - Rita Lee - Sérgio Dias)
04 - Tecnicolor 
(Arnaldo Batista - Rita Lee - Sérgio Dias)
05 - Virginia 
(Arnaldo Batista - Rita Lee - Sérgio Dias)
06 - Cantor de Mambo 
(Arnaldo Batista - Rita Lee - Sérgio Dias)
07 - El Justiciero 
(Arnaldo Batista - Rita Lee - Sérgio Dias)
08 - Baby (Caetano Veloso | Versão: Mutantes)
09 - I'm Sorry Baby (Desculpe, Babe) 
(Arnaldo Batista - Rita Lee - Sérgio Dias)
10 - Top Top (Liminha - Arnaldo Baptista - Rita Lee - Sérgio Dias)
11 - Dias 36 (Johnny Dandurand - Arnaldo Baptista - Rita Lee - Sérgio Dias)
CD 02
01 - Fuga nºII (Arnaldo Baptista - Rita Lee - Sérgio Dias)
02 - Le Premier Bonheur du Jour (Jean Renard - Frank Gerald)
03 - Dois Mil e Um (Rita Lee - Tom Zé)
04 - Ave Lúcifer (Arnaldo Baptista - Rita Lee - Élcio Decário)
05 - Balada do Louco (Arnaldo Baptista - Rita Lee)
06 - I Feel a Little Spaced Out (Ando Meio Desligado) (Arnaldo Baptista - Rita Lee - Sérgio Dias)
07 - A Hora e a Vez do Cabelo Nascer (Cabeludo Patriota) (Liminha - Arnaldo Baptista - Rita Lee - Sérgio Dias)
08 - A Minha Menina (Jorge Ben)
09 - Bat Macumba
(Gilberto Gil - Caetano Veloso)
10 - Panis Et Circenses (Gilberto Gil - Caetano Veloso)


Amigo é casa (Com Simone)

Faixas:
01 - Alguém Cantando (Caetano Veloso)
02 - Petúnia Resedá (Gonzaguinha)
03 - Grávida (Marina Lima - Arnaldo Antunes)
04 - Kitnet (Alzira E - Arruda)
05 - Cuide-se Bem (Guilherme Arantes)
06 - Na Próxima Encarnação (Itamar Assumpção)
07 - A Companheira (Luiz Tatit)
08 - Mãos Atadas (Simone Saback)
09 - Meu Ego (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
10 - Idade do Céu (Jorge Dexter - Paulinho Moska)
11 - Diga lá, Coração (Gonzaguinha)
12 - Medo de Amar nº2 (Sueli Costa - Tite Lemos)
13 - Encontros e Despedidas (Milton Nascimento - Fernando Brant)
14 - Vou Ficar Nu Pra Chamar Sua Atenção (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
15 - Gatas Extraordinárias (Caetano Veloso)
16 - Ralador (Roque Ferreira - Paulo César Pinheiro)
17 - Agito e Uso (Angela Ro Ro)
18 - Tô Voltando (Mauricio Tapajós - Paulo César Pinheiro)



Pelo sabor do gesto (2009)

Faixas:
01 - Boas Razões (De Bonnes Raisons) (Alex Beaupain | versão Zélia Duncan)
02 - Todos os Verbos (Marcelo Jeneci - Zélia Duncan)
03 - Telhados de Paris (Nei Lisboa)
04 - Tudo Sobre Você (John Ulhoa - Zélia Duncan)
05 - Sinto Encanto (Moska - Zélia Duncan)
06 - Pelo Sabor do Gesto (As-Tu Déjà Aimé?) (Alex Beaupain | versão Zélia Duncan)
07 - Ambição (Rita Lee)
08 - Esporte Fino Confortável (Chico César - Zélia Duncan)
09 - Os Dentes Brancos do Mundo (Marcos Valle - Paulo Sérgio Valle)
10 - Se Eu Fosse (Dante Ozzetti - Zélia Duncan)
11 - Aberto (Edu Tedeschi - Zélia Duncan)
12 - Se Um Dia Me Quiseres (Zélia Duncan - Zeca Baleiro)
13 - Duas Namoradas (Itamar Assumpção - Alice Ruiz)
14 - Nem Tudo (Edu Tedeschi - Zélia Duncan)



Pelo sabor do gesto - Em cena (2011)

Faixas:
01 - Boas Razões (De Bonnes Raisons) (Alex Beaupain | versão Zélia Duncan)
02 - Tudo Sobre Você (John Ulhoa - Zélia Duncan)
03 - Todos os Verbos (Marcelo Jeneci - Zélia Duncan)
04 - Telhados de Paris (Nei Lisboa)
05 - Aberto (Edu Tedeschi - Zélia Duncan)
06 - Pelo Sabor do Gesto (As-Tu Déjà Aimé?) (Alex Beaupain | versão Zélia Duncan)
07 - Duas Namoradas (Itamar Assumpção - Alice Ruiz)
08 - Felicidade (Luiz Tatit)
09 - Os Dentes Brancos do Mundo (Marcos Valle - Paulo Sérgio Valle)
10 - Borboleta (Marcelo Jeneci - Arnaldo Antunes - Alice Ruiz - Zélia Duncan)
11 - O Tom do Amor (Moska - Zélia Duncan)
12 - Por Isso Eu Corro Demais (Roberto Carlos)
13 - Defeito 10: Cedotardar (Moacir Albuquerque - Tom Zé)


Zélia Duncan canta Itamar Assumpção - Tudo esclarecido (2013)



Faixas:

01 - Tua boca (Itamar Assumpção)

02 - Cabelo duro (Com citação de "Justo você, Berenice") (Itamar Assumpção)

03 - Isso não vai ficar assim (Com a participação de Ney Matogrosso) (Itamar Assumpção)

04 - Mal menor (Itamar Assumpção)

05 - A gruta da solidão (Itamar Assumpção)

06 - Quem mandou (Itamar Assumpção - Alice Ruiz)
07 - Tudo esclarecido (Itamar Assumpção - Alice Ruiz)
08 - Noite torta (Itamar Assumpção)
09 - Enquanto penso nela (Itamar Assumpção)
10 - Vê se me esquece (Itamar Assumpção - Alice Ruiz)
11 - Não é por aí (Itamar Assumpção - Alice Ruiz)
12 - É de estarrecer (Com participação especial de Martinho da Vila) (Itamar Assumpção - Alice Ruiz)
13 - Zélia mãe Joana (Itamar Assumpção) 



Fonte: Site oficial da artista

domingo, 26 de outubro de 2014

AS RAINHAS DO RÁDIO: ENTRE FARPAS E CANÇÕES

Dalva de Oliveira tornou-se conhecida não apenas por seu talento como cantora, mas também por protagonizar uma das batalhas musicais mais populares da MPB

Por Bruno Negromonte - @brunonegromonte




A artista hoje em questão contribuiu de modo ímpar para a música popular brasileira. Paulista de Rio Claro (cidade localizada a 195 km da capital São Paulo), Vicentina de Paula Oliveira nasceu no dia 05 de maio de 1917 e tornou-se nacionalmente conhecida como Dalva de Oliveira. Aos dezessete anos Dalva conhece Herivelto Martins que formava ao lado de Francisco Sena o dueto Preto e Branco. Naquele primeiro encontro, de certo modo, estava sendo criado a gene para o Trio de Ouro, pois pouco tempo depois Dalva passaria a acompanhar a dupla formando ao lado deles um do grupos vocais de maior sucesso no Brasil na primeira metade do século XX. Do envolvimento profissional com Herivelto para o afetivo foi um passo. Dalva inicia um namoro com o compositor e, em 1937, oficializam a relação. A união daria ao casal dois filhos: os cantores Peri Oliveira Martins, o Pery Ribeiro, e Ubiratan Oliveira Mar. Chegaram a passar dez anos casados até que as constantes brigas e traições por parte de Herivelto deram fim ao casamento. Em 1949, quando a relação com o ex-marido encontrava-se totalmente abalada, Dalva resolve separar-se dele também profissionalmente desligando-se do Trio de Ouro. Um ano depois a artista retoma a carreira de maneira solo lançando canções como Olhos verdes (Vicente Paiva) e Ave Maria (Vicente Paiva e Jaime Redondo). Há quem afirme que Herivelto (a partir da colaboração do jornalista e compositor David Nasser, do "Diário da Noite") fosse responsável por matérias mentirosas que difamavam a moral de Dalva nesse período. Tais notícias fizeram com que o conselho tutelar mandasse os filhos do casal para um internato sob a alegação de que a mãe não possuía uma boa conduta moral para criá-los. Dalva lutou pela guarda dos filhos e sofreu muito por isso, protagonizando um dos capítulos mais emblemáticos da história da música brasileira de todos os tempos como foi, de certo modo apresentada, na minissérie Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor, produzida pela Rede Globo em 2010. 




Este episódio litigioso entre o casal rendeu canções memoráveis e enriqueceu de modo bastante valioso o acervo do cancioneiro popular brasileiro nesta briga musical. O início do embate se deu com a gravação por Francisco Alves da clássica "Caminhemos", seguida pela canção "Cabelos Brancos", registrada pelo grupo 4 Ases e Um Coringa. As respostas viria logo em seguida pelos compositores Lourival Faissal e Gustavo de Carvalho que fizeram para Dalva a canção "Mentira de amor", assim como também pelas mãos dos compositores J. Piedade e Oswaldo Martins, responsáveis pela composição do samba "Tudo Acabado". Talentosíssimo, Herivelto respondia à altura e expunha suas mágoas nos sambas e boleros que ele próprio compunha, enquanto Dalva tinha o apoio de alguns dos grandes nomes da música brasileira coomo Nelson Cavaquinho, Ataulfo Alves, entre outros que a partir da década de 1950 foram responsáveis por canções como "Falso Amigo", "Que Será", "Calúnia", "Errei Sim""Palhaço", entre outros. O sucesso de Dalva acabou fazendo com que assinasse contrato com a Rádio Nacional a sua popularidade junto ao público a habilitava como a candidata favorita da emissora para o concurso de Rainha do Rádio. Seu sucesso era tamanho que não foi difícil obter a vitória na disputa para Rainha do rádio do ano de 1951, tal feito acabou despertando a fúria do ex-marido que chegou a afirmar em um dos vespertinos da época que a ABR não destinava o dinheiro arrecadado com o concurso na construção do hospital que propagava, declaração esta que acabou gerando para o compositor um processo pelo crime de calúnia. A sua condição de Rainha do rádio daquele ano serviu para corroborar e atestar de modo definitivo o nome de Dalva como uma das grandes intérpretes da música popular a partir das cerca de 400 gravações deixadas ao longo de mais de três décadas de carreira. É com esta grande estrela de nossa música que hoje chego ao fim (após dez semanas) a abordagem de todas as "Rainhas" do rádio brasileiro. Foram nomes que marcaram toda uma geração e época. Um período bem diferente do que hoje vivemos e que, para muitos, é motivo de saudades. Aproveito a oportunidade para agradecer aos leitores saudosistas (assim como eu) ou não que ao longo dessas diversas semanas fizeram-me companhia nessa viagem a uma época que hoje habita os mais recônditos sonhos. Foi um prazer viajar com vocês e, de certo modo, poder "vivenciar" um período ao qual não tive a oportunidade de viver e conhecer, mas que foi possível conhecer através dessas prazerosas "sessões de regressão". 

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