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segunda-feira, 31 de março de 2014

MÚSICA, ÍDOLOS E PODER (DO VINIL AO DOWNLOAD) - PARTE 40



CAPÍTULO 40 


No Brasil, a Warner seguia muito bem até as 23h de uma noite tranquila de dezembro de 1980, quando tocou o telefone em casa e a voz conhecida do Mo Ostin , presidente do selo Warner, me deu a triste notícia: 

— André, John Lennon has been fatally shot... (André, atiraram mortalmente em John Lennon...). A gente tinha acabado de lançar o que seria o último disco dele... Era também o prenúncio simbólico da derrocada da minha companhia no Brasil, que se estenderia por três longos anos... Surgia uma crise econômica mundial de grandes proporções, que pioraria, e muito, no Brasil, por causa do fracasso de mais um plano econômico que assolava o país ciclicamente. Duas crises simultâneas com efeito cumulativo foram fatais para a nossa economia. 

De repente, o mercado de discos, que vinha crescendo ao ritmo de 10% ao ano, caiu repentinamente em 30%. 

Na Warner, havíamos previsto um crescimento, naquele ano, de uns 20%. E ficamos 50% abaixo das nossas previsões. Todos os investimentos haviam sido efetuados dentro daqueles parâmetros. A situação da Warner, que tinha menos de cinco anos de existência no mercado brasileiro, ficou tão grave que, de um dia para o outro, estávamos tecnicamente quebrados. As soluções eram poucas: ou eu conseguia um aporte de capital da matriz, em Nova York, ou encontrava uma solução mágica localmente, ou eu fechava a companhia. 

A minha velha amiga Odeon, em situação igualmente difícil, me propôs fazermos uma joint venture temporária, até a crise amainar. Eles precisavam abastecer sua fábrica e seu depósito, proteger as contas a receber, e garantir a sobrevivência da rede de vendas no interior do país. Eu precisava simplesmente sobreviver. Portanto, fechei a fábrica recém-comprada, e entreguei os estoques, as contas a receber e o departamento de vendas do interior do país para a Odeon. Reduzi drasticamente os investimentos em gravações e promoção, e, dos 150 funcionários, ficaram 45. Até o Gil pensou em sair da Warner — logo ele, nosso porta-estandarte! 

— Gilberto, se você sair, eu paro de trabalhar com discos. Porque a sua saída seria meu segundo fracasso neste momento. E esse fracasso, eu juro que não teria força nem coragem de encarar e suportar... 

O Gil ficou em silêncio durante longos minutos, olhou para mim seriamente e, com gravidade, respondeu: 

— Está bem. Eu fico. 

Fui e serei sempre grato a ele por esse gesto de amigo e cavalheiro, que me socorreu num momento tão desastroso. Foi o início de três anos que deixaram marcas por um longo tempo. Eu vivia momentos de profunda tristeza e profundo desamparo. 

— Não quero mais, não posso mais — confidenciava ao meu amigo, o publicitário Washington Olivetto, num sábado à tarde, num boteco da rua Oscar Freire. 

Outras vezes, eu pensava: “Não posso nem me demitir porque a gente não sai quando está mal. Só se sai quando se está com sucesso, e de cabeça erguida!” Eu me sentia como um boxeador ao sofrer seu primeiro knockdown no primeiro round de uma luta... Esse primeiro knockdown transforma a vida de um boxeador, porque, a partir desse momento, o medo se instala na alma do sujeito ao descobrir que pode cair na lona, e que, a qualquer hora, poderá sofrer o temido knockout. Eu tinha caído espetacularmente na frente de todos. Mesmo que o meu comportamento perante meus colaboradores, meus artistas e meus competidores indicasse plena confiança quanto ao futuro, lá dentro de mim instalou-se o medo de errar, de arriscar... O ciclo da ousadia entusiasta, que me tinha trazido tantas alegrias profissionais, estava se encerrando. A partir dali e por muito tempo, se e quando houvesse ousadia de minha parte, seria fruto de hesitação, apreensão e noites mal-dormidas. 

Querendo retomar a dianteira sobre nossos concorrentes, ainda no início da década de 1980, chamei o Liminha, que eu acabara de promover a diretor artístico da Warner, e o Pena Schmidt, contratado para a mesma posição em São Paulo, para traçar um plano de ação. Decidimos fazer o que melhor sabíamos: ir para a rua e descobrir novos talentos aos quais ninguém prestava atenção, e, assim, surpreender e reconquistar um lugar decente no mercado. Eles saíram à luta, visitando os botecos da vida, os bares e os galpões de São Paulo e do Rio. Liminha, por ser um extraordinário músico, e Pena, por ser um “rato da noite”, encontraram rapidamente o que estava diante dos olhos de todos, mas ninguém via: roqueiros de nomes estranhos, como Kid Abelha & os Abóboras Selvagens, Ultraje a Rigor, Titãs do Iê-Iê, Ira!, Camisa de Vênus, Kid Vinil, e, posteriormente, o Barão Vermelho. Kid Abelha e Lulu Santos foram os primeiros sucessos que deram à companhia uma nova alma e a confiança de haver descoberto artistas para uma nova geração de público jovem. 

Eu adorava a esplêndida sátira “A gente somos inútil”, do Ultraje a Rigor, tão adequada na época, e tão adequada ainda hoje, e carregava uma fita cassete com a gravação para todo lugar — a trabalho ou para a casa de amigos. Lembro-me, em particular, de uma noite de aniversário na casa do Thomaz Souto Corrêa, que reunia um ótimo grupo. Lá estavam Walter Clark e outros que não acharam a menor graça ao ouvir o incrível discurso do Roger, líder da banda. Eu percebia em seus olhares: “ Coitado do André, realmente perdeu a cabeça... Dessa vez, ele se fodeu de verdade...” Só o Washington me pediu uma cópia da gravação e a entregou ao radialista Osmar Santos, que dirigia o comício das “Diretas Já” em 1984. 

Depois de meses de trabalho frustrante, a música começou a tocar em Porto Alegre. Logo depois, estourou em Curitiba. Nesse ínterim, Osmar Santos fez de “Inútil” a trilha sonora de seu programa de rádio e, um belo dia, entregou a fita nas mãos do Ulysses Guimarães , que, com a sensibilidade estranhamente jovem para um homem de sua idade, entendeu o que pessoas mais sofisticadas não perceberam: a importância do discurso do Roger. Ulysses tocou a fita em plena sessão do Congresso Nacional e fez dela um dos seus mais virulentos discursos contra a apatia dos políticos e do sistema. Afinal, como por milagre, todos entenderam. E a música estourou pelo país inteiro! 

Em seguida, foi a vez de os Titãs se tornarem a maior banda de rock nacional. Conviver com eles era compartilhar uma viagem ao real universo da democracia: os Titãs amam, brigam, gritam, cantam, compõem, choram, riem, discordam, exultam, discutem, suam, reclamam, duvidam e afirmam até as últimas consequências, e incansavelmente. Depois, tomam uma decisão e vão em frente. Eram oito personagens heterogêneos que formavam um todo homogêneo. E, além do mais, existia o Arnaldo Antunes ... que considero o maior poeta de sua geração. 

Contratamos os meninos do Casseta & Planeta, que lançaram, com muito sucesso, dois discos, um dos quais Preto com um buraco no meio. A capa reproduzia simplesmente o desenho de um LP preto com o buraco para enfiar o disco na vitrola. Um dia, de manhã cedo, o Tim Maia me aparece ao telefone com uma voz muito alterada (era sempre um mau sinal o Tim dar as caras cedo), gritando: 

— Midani, que negócio é esse de preto com um buraco no meio?! Se você não retirar logo esse disco do mercado, você vai ver! Vai ter é um francês com um buraco no meio da testa... Entendeu? Na sua testa! 

A minha relação com Tim havia começado na década de 1970. 

Uma noite, jantando com os Mutantes, lhes perguntei se não conheciam um artista genial que estivesse à espera de ser descoberto, e eles falaram de um tal de Tim Maia, muito louco porém genial. 

Semanas depois fiz a mesma pergunta ao Erasmo e recebi a mesma resposta:“ Tim Maia, muito louco porém genial!” O produtor Manoel Barenbeim descobriu o Tim a partir da notícia de que ele tinha se hospedado na casa do Wanderley Cardoso. Manoel chegou lá e Tim não estava mais. Assim foi o Manoel procurar aquele misterioso artista de casa em casa, até que um dia Tim apareceu, assinou contrato conosco e entrou no estúdio para entregar o seu primeiro sucesso, “Primavera”. 

Uma noite que eu o encontrei num barzinho da rua Augusta, Tim me confessou que o seu sonho era gravar com os J.B.’s, que era a tremenda ban-203 da que acompanharia James Brown até sua morte em 2006. Por acaso eu conhecia bem o manager do James Brown, a quem telefonei em NovaYork, expliquei o caso e dois dias depois ele me deu as datas de gravação para o Tim naquela cidade. 

Lá se foi o Tim entusiasmado e começaram a gravar umas quatro canções sob o olhar admirado dos gringos... “Que vozeirão tem este teu artista”, diziam. Dias depois, toca o telefone às nove horas da manhã: era o Tim que ligava de Nova York. Tim estar acordado tão cedo de manhã era sinal de noites não dormidas e prenúncio de problemas. 

Midani, você acha que eu vou botar voz em cima dessas bases? Não vou botar não, a não ser que você me dê dinheiro para ficar uma temporada nesta terra... 

Tim , esta gravação era um desejo seu, era para lhe agradecer pelo sucesso que você trouxe para a companhia que a gente concordou que você gravasse em NovaYork! — respondi. 

Pode ser, mas se não me der esse dinheiro eu não ponho voz nenhuma e você pode fazer o que quiser com essas bases, inclusive... 

—Vamos com calma, Tim . Quanto tempo você quer ficar? — perguntei, já sabendo que o Tim estava fora de si. 

— Já disse, Midani, uma temporada... Três, quatro meses ou mais... Depende. Evidentemente não dei o dinheiro e nunca mais apareceram as tais bases da banda J.B.’s, o que realmente foi deplorável. 

A nossa relação seguiu com altos e alguns baixos por muitos anos, porém nunca foi tão baixo a ponto do Tim destruir meu escritório, como contou Nelson Motta em seu livro, pura fantasia de alguma viagem de sua fértil cabeça. 

Os Discos de Ouro choviam dentro da Warner. O Rock in Rio veio coroar nossa volta ao top do mercado, em 1985. Trabalhamos bastante com Roberto Medina, assessorando-o na escolha dos artistas estrangeiros e brasileiros, facilitando seus contatos com os empresários através da Warner Communications etc. Talvez por termos sido a gravadora que primeiramente entendeu a importância desse evento, logramos que nossos contratados representassem a metade de todos os artistas do festival. 

Pedi ao Claude Nobs que viesse passar os 15 dias do festival no Rio, para dividir comigo o atendimento aos artistas estrangeiros. Reservamos o restaurante do hotel Marina durante a semana do festival, das 15h às 19h, e convidamos a cada dia dois artistas — um brasileiro e um estrangeiro — para uma feijoada com a imprensa, o pessoal de TV e do rádio, para se conhecerem de maneira informal. Foram almoços muito agradáveis pela relação que se estabelecia, também, entre o artista brasileiro e seu companheiro estrangeiro — com exceção da dobradinha Rod Stewart e Lulu Santos. 

Nos convites, nesse caso, constavam os dizeres: “Rod Stewart e Lulu Santos convidam...” Ao receber o convite, me telefona enfurecido o manager do Rod: 

— Você não sabe que Rod Stewart é uma estrela mundial? Que ele é o artista mais importante na Warner Music mundial? Não sabe? Então, saiba que um convite feito em seu nome tem que ser impresso em alto-relevo! E, além do mais, o Rod tem que ser homenageado sozinho! Pode tirar esse brasileiro que ninguém conhece. Aliás, nem precisa tirar esse brasileiro porque o Rod não irá a esse seu almoço. 

Umas três horas depois, o empresário me telefona outra vez: 

— O Rod não quer deixar você na mão e vai dar uma passada de cinco minutos, na hora do café. 

— Já é tarde — respondi. — O almoço já foi cancelado e todos os participantes já foram avisados. Rod ficou enfurecido e, no dia seguinte, Mo Ostin — presidente do selo Warner americano — me telefonou de Los Angeles: 

— André, o que aconteceu? O Rod está pedindo a rescisão do contrato dele ou a sua cabeça... Ou você sai, ou ele sai... Contei o que havia acontecido. 

— Eu vou falar com Nesuhi para ver como a gente resolve essa história. O problema era que Rod estava no auge da carreira, vendendo muitos milhões de discos pelo mundo. 

Rod Stewart e eu já éramos velhos conhecidos em situações de conflito, pelo fato dele ter quebrado, sete ou oito anos antes, a suíte presidencial do hotel Copacabana Palace. A brincadeira lhe custou uns US$100 mil, além da expulsão do hotel no dia seguinte, rumo a Los Angeles. 

A história começou com um telefonema do agente dele, que me solicitava arranjar uma boa quantidade de cocaína para alegrar a estada do artista no Rio. No dia em que chegou, a encomenda foi entregue, e recomendei a maior discrição: 

— Rod, você tem que tomar muito cuidado. Se te pegarem com isto no bolso, você vai preso — adverti. 

— Sou Rod Stewart. Ninguém vai se meter comigo! 

De madrugada, uma colaboradora nossa, designada para acompanhá-lo aonde quer que ele fosse, me telefonou apavorada: 

— André, estamos na boate Regine’s e o Rod está batendo uma montanha de coca na mesa. E todo mundo está vendo. 

As paredes e o teto do Regine’s eram cobertos de espelhos, e a coca do Rod se via de todos os lados! 

— Fale com a direção para botar ele para fora — respondi. 

No dia seguinte, a Warner tinha organizado, a pedido de Rod Stewart, uma festa na suíte presidencial do hotel, para a qual convidamos umas sessenta pessoas do jet set carioca. Saí da festa por volta da uma da manhã, e tudo parecia correr tranquilamente. No dia seguinte, chegando ao escritório, encontrei vários recados do Luiz Eduardo Guinle, pedindo que eu fosse urgentemente até o hotel, onde fiquei sabendo dos estragos... Haviam jogado futebol na suíte, quebrando quadros e mobília. A festa tinha sido interrompida às cinco da manhã, pelos seguranças e pela polícia... E, para coroar, o guarda-costas de Rod havia estuprado uma convidada! 

Poucas semanas depois do Rock in Rio terminar, o Nesuhi se dedicou a promover uma reconciliação entre Rod Stewart e mim — para não perdê-lo nem me despedir. Voei para Genebra e fui ao jantar de reconciliação, para o qual Nesuhi havia convidado o Pelé — ídolo do Rod — para amansar a fera com sua presença. Estávamos frente a frente, a cara dele superemburrada, e eu fingia que não tinha nada com isso. Nesuhi falando com Pelé , até que Rod e eu começamos a rir da nossa situação ridícula: dois marmanjos, de cara feia, feito crianças que o professor obrigava a se reconciliarem… Fizemos as pazes e ficamos nós dois na gravadora ainda por muitos anos. E todos festejamos com muito champanhe. 

Bem mais tranquilas — mas não menos peculiares — foram as curtas férias que o Prince passou no Rio. 

— André, estas são as primeiras férias da vida dele e a segunda vez que ele sai dos Estados Unidos... Acontece que a primeira foi quando ele foi a Londres para receber o prêmio de melhor disco daquele ano no Brit Awards. Porém, a cerimônia foi suspensa por causa de uma ameaça de bomba. 

Prince ficou tão apavorado que jurou nunca mais sair dos Estados Unidos… Portanto, eu te peço o maior cuidado, pelo amor de Deus! Essas férias têm que dar certo! Ele quer ficar completamente incógnito... Por favor, arranja um piano meia cauda para a suíte e organiza uma pequena reunião para ele conhecer umas pessoas legais… Ah, eu já ia me esquecendo, nunca se dirija a ele. Espere que ele se dirija a você. E lembre-se, André, ele quer ficar incógnito mesmo! A gente se vê no Rio. Tchau! 

Essas foram as recomendações do empresário do Prince, Steve Fagnoli. 

No dia da chegada dele, fui ao aeroporto, entrei na primeira classe do avião e lá vejo um diminuto personagem, vestido com uma camisa de seda cor-de-rosa, paletó e calças de veludo cor de sangue, e, para coroar, botas vinho… Era o Prince em pessoa, acompanhado de dois guarda-costas de tamanho mais do que respeitável... 

— Steve! Você estava brincando comigo...Vestido assim, não vai dar para ele ficar incógnito! 

No trajeto até o hotel, Prince olhava fascinado a fotografia de uma menina nuazinha publicada em página dupla na revista Playboy brasileira; tinha encontrado a revista na primeira classe da Varig. 

Virava, virava as páginas de frente para trás, de trás para a frente, mas sempre voltava àquela página dupla com ares de profunda inquietação. 

André... você sabe quem é esta menina? 

Não sei, não. 

— Quero muito conhecê-la — disse Prince, quase suplicando. — Me faz este favor, arruma o telefone dela. Prince não saiu da suíte durante os dois primeiros dias. No terceiro, fomos jantar — Prince, Steve, eu e os guarda-costas —, e realmente o jantar foi muito original: ninguém conversava, aguardando que Prince se dirigisse a um de nós. E ele não falou uma só palavra. Sorriu para mim um par de vezes e foi só. Prince subiu para a suíte e fiquei sozinho com Steve, tomando um drinque no bar. 

— Steve, ele é realmente esquisito... 

— André, você não sabe o quanto... Outro dia, estávamos voando para Los Angeles; ele estava lendo uma reportagem na revista de bordo sobre o Taj Mahal. Aí, perguntou quanto custaria construir um Taj Mahal para a mãe dele. Respondi que hoje não haveria dinheiro que bastasse. Era todo de mármore... Prince ficou em silêncio por alguns minutos, refletindo, e depois perguntou:“E se a gente o construísse de plástico?” 

Na manhã seguinte, Prince foi à praia e, pela primeira vez na vida, caiu no mar. Ficou lá durante uns 15 minutos, voltou para sua suíte e continuou compondo ao piano o dia inteiro. 

Para que Prince chegasse até a boate Hippopotamus, que eu tinha fechado para uma festa com convidados, foi montada uma operação estratégica extraordinária: um dos guarda-costas dele ficou na primeira esquina da rua que levava até a Hippopotamus e um outro ficou na segunda. E bloquearam o trânsito. Dali a pouco, chegou o Prince dentro da limusine, no sentido contrário ao da rua de mão única. Entrou na boate e foi sentar-se no canto mais afastado da casa, com um guarda-costas à direita, outro à esquerda. E dali só saiu para dançar com Dedé, mulher do Caetano. Voltou para seu canto, ficou ali por mais alguns minutos, ninguém podendo se aproximar dele, e foi-se embora. No dia seguinte, voltou para Minneapolis, porque não aguentava mais ficar de férias. Semanas depois, Steve me telefonou, me agradecendo em nome do Prince, que tinha gostado muito dos dias passados no Rio.

sábado, 29 de março de 2014

CARTAS E CONFISSÕES EM FORMA DE CANÇÕES NA VOZ DE CECILIA BERNARDES

Em seu trabalho de estreia a cantora e compositora Cecilia Bernardes conta com a participação de nomes como André Abujamra e Vanessa Bumagny

Por Bruno Negromonte




Em um país de canto predominantemente feminino destaca-se aquela cantora que vai além da interpretação; seja empunhando um instrumento e o tocando de modo convincente ou até mesmo escrevendo versos e melodias. Em nosso país-continente pouco são aquelas que aventuram-se fazer isso e quando o fazem muitas vezes ficam a desejar seja em um ou em outro aspecto. Talvez por não possuir esta lacuna em sua arte a artista em questão mereça uma maior atenção uma vez que suas letras e melodias superam todas as expectativas depositadas. Paulista, Cecilia Bernardes vem divulgando e recebendo os mais diversos elogios deste seu primeiro disco, um projeto fonográfico que a julgar pela adesão de relevantes nomes do cenário musical brasileiro não há como titubear que trata-se de um projeto de grande qualidade. Cantora e compositora, Bernardes vem desde 2007, mesmo que de modo inconsciente, concebendo este álbum a princípio a partir da concepção de melodias para uma série de letras do poeta e compositor Luciano Garcez. Desde então o seu lado compositora vem aflorando de modo cada vez mais constante e intenso, não apenas na medida em que a parceria com Garcez expande-se mas também na aquisição de novos parceiros como foi o caso da parceria com a cantora, multi-instrumentista, produtora e compositora Natalia Mallo (que Cecilia conheceu via internet a partir da audição do álbum "Qualquer Lugar"). O que a princípio seria apenas uma hipótese acabou gerando a possibilidade do surgimento de algumas composições e propiciando a artista o contexto ideal para que ela possa dar vazão ao seu universo particular de modo bastante melódico e poético.




É neste contexto que surge "Carta", um álbum constituído sem a habitual pressa que cerca a sociedade contemporânea. Um projeto bordado por timbres e sonoridades que entrelaçam-se de modo bastante harmonioso, dando ao projeto características bastante peculiares e pessoais. Trata-se de trabalho cosido com a linha da paciência, onde cada acorde e cada sílaba pronunciada resulta da maturação de ideias e melodias precisas e que resultam de uma série de experiências acumuladas ao longo dos anos do seu envolvimento com a música e a poesia. Sob a produção de Natalia Mallo (que também assina a direção musical do disco) "Carta" começou a ganhar molde em 2008, no coração da Vila Madalena, e foi concluído três anos depois. Com o delicado registro fotográfico de Carol Sachs e ilustrações da própria Cecilia feitas em nanquim entre os anos de 2007 e 2008, o álbum conta ainda com o design gráfico de Paola Faoro e nomes como Luciano Garcez (locução), Ramiro Murillo (arranjos para cello e oboé), Marisa Silveira (cello), Laura Sokolowicz (oboé), Natalia Mallo (arranjos, percussão, palmas, guitarra, baixo, vocais, violões, sintetizador); Maurício Pereira (sax soprano),  Gustavo Ruiz (violão de 7 cordas), Danilo Penteado (teclado, vocais, cavaquinho e palmas), Vitor Lopes (gaita), Mariá Portugal (bateria), Emerson Villani (violão, guitarra e programação), Rogerio Botter Maio (baixo acústico), Edu Contrera (percussão) e os vocais de Ilana Volcov, Marko Congá, Marco Bowie, Vanessa Bumagny. Além desses nomes há também Ricardo Mosca e Homero Lotito, que assumem, respectivamente, a mixagem e a masterização. Além das figuras de Sérgio Bártolo (produção e baixo em "Me nina"; além da concepção do arranjo, baixo e co-produção em "De novo nova") e André Abujamra (produção em "Santo Seio", além de todos os instrumentos e programações).

"Carta" é constituído por onze faixas caracterizada por toda a poesia e delicadeza exposta neste trabalho que perpassam por canções de autoria da própria Cecilia e de pessoas com a qual a artista identifica a sua arte de algum modo como a faixa "Truques com Facas", de Maurício Pereira e "Onda", canção que nos remete a sonoridade da cultura afro-brasileira através de seus pontos e que foi composta por Luciano Garcez. O projeto conta ainda com canções autorais como "Castelo", "De novo nova" e "Passarinho", além do envolvente samba "Oferenda", que conta com Claudio Faria ao trompete, e parcerias da artista com nomes como Natalia Mallo (que juntas assinam  "Carta", canção que batiza o disco) e Luciano Garcez (como "Pop me", parceria responsável pelo pontapé inicial desta profícua parceria, "Santo seio"e ''Ave Maria").

De modo agradável e convincente, Cecilia Bernardes apresenta nesta carta pra lá de confessional (e porque não classificá-la até mesmo de onírica) uma arrojada sonoridade caracterizada por harmoniosos e precisos arranjos. O universo sonoro que a constitui alia-se a peculiaridades e assuntos cotidianos em letras e melodias que se encaixam de modo uníssono, gerando as mais diversas possibilidades de caminho ao mais genuíno prazer sonoro. Soma-se a este cenário o doce e afinado canto da artista que passeia de modo pra lá de harmonioso por toda a diversidade sonora presente no álbum facilitando a capacidade do ouvinte sorver todo o hibridismo presente neste aprazível álbumAo se descobrir compositora, Cecilia, que já empunhava despretensiosamente seu instrumento, descobriu uma preciosa passagem que a levaria a um mundo de poesia e lirismo e possibilitaria também o encontro com outros nomes como todos aqueles presentes e citados neste projeto ímpar. Esta característica acaba fazendo de "Carta" um registro pontuado não apenas por sua qualidade lítero-musical, mas também por uma característica que faz-se bastante pertinente a julgar-se pelo espírito agregador que caracteriza esta cantora paulista. É por este e outros motivos que este debute fonográfico chega não apenas para revelar o talento de Cecilia como cantora mas também para atestar que o árduo ofício de compor rendeu-lhe bons resultados e o seu canto acaba por permear os mais recônditos sonhos ao adentrar nossos ouvidos tal qual o lendário canto da sereia. Cecilia Bernardes soube administrar todo o tempo de elaboração deste álbum, não apenas procurando estar a par de toda a sua elaboração, mas também por demostrar bastante segurança neste seu primeiro álbum. Apesar das inúmeras parcerias, sem dúvida alguma para este disco o tempo foi o seu principal aliado  neste cenário constituído por versos e canções

sexta-feira, 28 de março de 2014

GUERRA PEIXE, 100 ANOS

Se vivo estivesse o compositor, arranjador e musicólogo estaria completando um século de existência



Aos sete anos de idade já tocava violão. Com nove anos de idade começou seus estudos musicais com teoria e solfejo junto ao professor Paulo Carneiro. Em 1925 ingressou na Escola de Música Santa Cecília em Petrópolis, onde foi aluno de piano da professora Adelaide Carneiro e posteriormente de Elfrida Strattman. Nos anos seguintes, dedicou-se aos estudos de violino, sua verdadeira vocação. De 1925 até 1930, estudou violino com o professor, theco Gao Omacht. Em 1926, foi premiado com com a medalha de ouro da Associação de Ciências e Letras de Petrópolis, devido ao seu aproveitamento nos estudos. Em 1929 encerrou o curso de teoria e solfejo com o professor Deoclécio Damasceno de Freitas. No mesmo ano passou a lecionar violino como professor assistente da Escola de Música Santa Cecília. No início da década de 30 costumava ir semanalmente ao Rio de Janeiro assistir aulas particulares com a professora Paulina d'Ambrósio. Em 1932 matriculou-se no Instituto Nacional de Música no Rio de Janeiro, onde teve aulas de harmonia com o professor Arnaud Gouveia e conjunto de câmara com Orlando Frederico. Em 1934 mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro. Entre 1938 e 1943, estudou contraponto, fuga, composição e instrumentação com Newton Pádua. Em 1941 ingressou no Conservatório Brasileiro de Música, sendo o primeiro aluno a concluir o curso de composição. A partir de 1944, passou a freqüntar o curso particular de Hans Joaquim Koellreutter, onde estudou a técnica dodecafônica da escola de Viena, princípios de música serial, análise, estética e harmonia acústica, escola que depois repudiaria.



Em 1929 começou a lecionar como professor assistente de violino na Escola de Música Santa Cecília e a tocar no Cine Glória. Começou também nesse período a fazer orquestrações para diversos instrumentos, mostrando seus arranjos para o mestre de banda Firmino Borrajo, que o incentivou. Em 1930, aos 16 anos, escreveu sua primeira composição, o tango "Otília", nome de sua primeira namorada. 

Em 1941, a dupla Jararaca e Ratinho gravou duas composições de sua autoria: a marcha "Levanta o pé", com Felisberto Martins e o samba "Me leva, baiana", com Jararaca, pela Odeon. Em 1942, a mesma dupla gravou a marcha "Ora bolas", parceria com Jararaca e Norah e, Silvio Caldas gravou na Victor a marcha "Fibra de heróis", parceria com Teófilo de Barros Filho. Em 1944, teve uma sinfonia composta durante o curso de composição no conservatório apresentada na Rádio Tupi. Nesse período passou a dedicar-se cada vez mais à orquestração e a especializar-se em música popular. 

Em 1945, tornou-se filiado do grupo Música Viva, que foi responsável pela divulgação, através da Rádio MEC, de suas primeiras composições. Em 1946 teve sua "Sinfonia nº 1", obra dodecafônica, divulgada pela BBC de Londres, com regência do maestro Maurice Milles. Posteriormente, foi tocada na Rádio de Bruxelas no Festival Internacional de Música Jovem sob a regência de André Joinin. Em 1947, o maestro Maurice Milles tocou em primeira audição seu "Divertimento nº 2". Em 1948, teve seu "noneto" tocado pela primeira vez na Rádio Zurique na Suíça com regência do maestro alemão Hermann Scherchen, que o convidou a residir por dois anos em sua casa em Zurique para estudar regência. Recusou o convite e foi para Pernambuco onde assinou contrato com uma rádio do Recife. Durante três anos desenvolveu intensa atividade de pesquisa sobre o folclore, recolhendo material sobre maracatus, xangôs e catimbós em diferentes cidades pernambucanas. 

Em 1950, ganhou o 1° prêmio do concurso de composições patrocinado pela Prefeitura do Recife em comemoração ao primeiro centenário do Teatro Santa Isabel. Sua "Abertura solene" recebeu o prêmio por unanimidade do júri. Em 1951, em concurso do Museu de Arte Moderna de São Paulo, ganhou uma bolsa para o III Curso Internacional de Férias de Teresópolis no Rio de Janeiro, com a composição "Sonata para violino e piano". No mesmo ano compôs a trilha sonora do filme "Terra é sempre terra" de Tom Payne. Em 1952, escreveu uma série de artigos para o suplemento literário do Diário de Pernambuco com o título de "Um século de música no Recife", fazendo um apanhado da vida musical da cidade. Em 1953, passou a morar em São Paulo. Na ocasião, fez a trilha sonora do filme "Canto do mar", de Alberto Cavalcânti, pela qual recebeu inúmeros prêmios no Rio e em São Paulo. No mesmo ano, teve "O canto do mar" e a canção "Maria do mar", parcerias com José Maria de Vasconcelos, gravadas por Inesita Barroso na RCA. 

Em 1954, fez a trilha sonora para o filme "O craque", de José Carlos Burle. Na ocasião começou a freqüentar o curso de folclore musical do Centro de Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade. Prosseguiu na coleta de temas populares visitando inúmeras cidades paulistas como Taubaté, Pindamonhangaba, Tauí, Carapicuíba e São José do Rio Pardo. Recolheu jongos, sambas, cateretês, cururus, folias-de-reis, modas-de-viola e congadas. No mesmo ano passou a escrever artigos sobre folclore brasileiro e música popular nos jornais "Tempo" e "A Gazeta". Em 1955, teve a "Suíte sinfônica nº 1" apresentada em primeira audição em São Paulo pelo maestro Edoardo de Guarnieri. Esta composição foi depois apresentada em Moscou, Leningrado, Odessa, Lvov e Kiev, na ex-União Soviética. No mesmo ano, gravou com um grupo intitulado de Seu Batuque, pela Copacabana, as "Jornadas da Lapinha nº 1 e 2", com arranjos de sua autoria sobre motivos populares. No mesmo ano, a cantora Leny Eversong gravou na Copacabana a toada "Nego bola-sete" e o ponto "Mamãe-Iemanjá". 



Em 1956, publicou em São Paulo o livro "Maracatus do Recife". Em 1958, no concurso de composições da Ricordi Brasileira, recebeu o primeiro prêmio pela composição "Suíte nº 2 - nordestina", para piano, e ganhou duas menções honrosas, para o "Trio nº2", para sopros e, com a "Sonatina nº1", para piano. No mesmo ano a cantora Maricene Costa gravou na RGE o samba canção "O amor nasce no olhar", parceria com Jair Amorim. Em 1959, foi nomeado chefe do setor musical da Comissão Paulista de Folclore. No mesmo Vilma Bentivegna gravou na Odeon o samba-canção "Vontade de enlouquecer", parceria com Odair Marzano e, José Orlando gravou na Chantecler o samba "Cortesia". Ainda em 1959 gravou de sua autoria e acompanhado de seus músicos a marcha frevo "Chora na rampa" pela Chantecler. 

Em 1960, classificou-se em segundo lugar no concurso promovido pela Rádio MEC do Rio de Janeiro, com "Trio", para piano, violino e celo. No mesmo ano Cláudio de Barros gravou pela Chantecler o bolero "Cartas recebidas", Vitor Rafael, pela RCA, o samba "É você que tem" e Fausto Casanova, pela Chantecler, o samba-canção "Amar assim não sei", parceria com Mário Lino. Ainda em 1960, gravou com sua Orquestra e Coro pela Chantecler a marcha "Cidade Maravilhosa", de André Filho e o samba "Menina-moça", de Luiz Antônio. Em 1961, no mesmo concurso da Rádio MEC, sua "Sinfonia nº 2" dividiu o 1° lugar com as de Cláudio Santoro e Guerra Vicente. No mesmo ano gravou com seus músicos o frevo "Vassourinhas", de Matias da Rocha e, Joana Batista Ramos. Ainda em 1961, Iza Reis gravou o samba-canção "É melhor não voltar" e José Tobias o samba "Se você voltasse", ambos pela Chantecler. 

Em 1962, transferiu-se para o Rio de Janeiro e no mesmo ano gravou com sua Orquestra e Coro, pela Chantecler, as marchas de bloco "Escuta, Levino" de João Santiago e "Quarta-feira de cinzas", de Geraldo Costa. No mesmo ano, Jane Simone gravou pela Continental o samba "Brincando de amar", parceria com Célio Moreira. Em 1963, passou a fazer parte da Orquestra Sinfônica da Rádio MEC como violonista ao mesmo tempo em que lecionava nos seminários de música da Pró-Arte. Nesse período gravou pela Chantecler o LP "Sambas clássicos", no qual com seus músicos, registrou entre outros clássicos "Ai que saudades da Amélia", de Ataulfo Alves, "Foi ela", de Ary Barroso, "Pelo telefone", de Donga e "Até amanhã", de Noel Rosa. 

Em 1965, foi um dos maestros arranjadores do espetáculo "Vinícius: poesia e canção", realizado no Teatro Municipal de São Paulo em homenagem a Vinícius de Moraes, no qual fez a abertura. Em 1968, a convite de R. C. Albin, diretor do MIS, passou a coordenar a Escola Brasileira de Música Popular, com várias cadeiras, inclusive violão, flauta e piano, além de matéria teórica, como contraponto, harmonia, etc. Também no MIS, foi membro dos Conselhos de Música Popular e de Música Erudita. 

A partir de 1970, passou a apresentar-se como violinista, regente e compositor em diversos concertos pelo país, sempre procurando selecionar um repertório dedicado a autores nacionais. Destacou-se como professor tendo diversos alunos que alcançaram renome no Brasil e no exterior entre os quais Jorge Antunes, José Maria Neves, Guilherme Bauer, Maria Aparecida Antonello Ferreira, Clóvis Pereira, Murilo Tertuliano dos Santos, Ernâni Aguiar, Antônio Guerrero, Paulo Moura, Airton Barbosa, Antônio Jardim, Carlos Cruz. Também teve como alunos diversos arranjadores e compositores populares tais como Chiquinho Morais, Capiba, Sivuca, Rildo Hora, Baden Powell, Formiga, Juca Chaves e Roberto Menescal. Lecionou harmonia, composição, orquestração, contraponto e fuga em diversos estados brasileiros. 

Entre os anos de 1972 e 1980 foi professor do Centro de Estudos Musicais do Rio de Janeiro, da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de São Paulo. Foi também professor da UFRJ, da Pró-Arte e da Escola Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. Em 1978 gravou pela RGE Fermata o LP "Sedução do norte", todo com composições do compositor pernambucano Capiba, entre as quais "Recife, cidade lendária", "Um pernambucano no Rio" e "A uma dama transitória". Ao final dos anos 1970, desenvolveu o projeto de arranjos sinfônicos para song-books dos grandes compositores populares, dos quais se destacaram os elepês de Luiz Gonzaga e Tom Jobim, editados pela Copacabana Discos. 



Em 1982, recebeu a Medalha do Mérito da Fundação Joaquim Nabuco. Em 1984 recebeu a Medalha Koeler da Câmara Municipal de Petrópolis. Em 1986, recebeu o Prêmio Shell pelo conjunto de sua obra. Recebeu por três vezes o Prêmio Golfinho de Ouro do MIS do Rio de Janeiro. Foi assíduo colaborador da "Revista Brasileira de Folclore". Em 1993, recebeu o título de Maior Compositor Brasileiro Vivo. Compôs dezenas de obras clássicas gravadas por inúmeras orquestras no Brasil e no exterior. Em 2010, sua obra passou por um processo de redescoberta com o lançamento de três CDs dedicados à suas composições. O primeiro CD foi "Tributo à Guerra-Peixe". O segundo CD foi gravado no Paraná pela orquestra de câmara solistas de Londrina intitulado "Retratos brasileiros". O terceiro CD foi gravado pela pianista Ruth Serra intitulado "O piano de Guerra-Peixe". Além disso, suas partituras manuscritas estão sendo editoradas com patrocínio do Sesc. Ainda em 2009/2010, o produtor Ricardo Cravo Albin apresentou na Rádio MEC AM/FM uma série de oito programas de uma hora cada um perfilando toda sua obra fonográfica para a radiodifusora.


Fonte: Dicionario da MPB

quarta-feira, 26 de março de 2014

30 ANOS SEM COPINHA


Começou, ainda menino e com a ajuda dos irmãos mais velhos, a tocar flauta, clarineta e saxofone.

Aos 10 anos já participava de rodas de choro e serenatas na capital paulista. Foi para o Rio de Janeiro no fim dos anos 1930.

Concluiu o curso de Engenharia, chegando a exercer a profissão ainda na década de 1930.

Em 1924, iniciou sua carreira profissional como flautista, acompanhando filmes mudos em cinemas de São Bernardo do Campo (Cine República) e de São Paulo (Cine Brás Politeama). 

Já dominava também o clarinete e o saxofone, que começou a estudar em 1928. Atuou no início dos anos 1930 em São Paulo, algumas vezes na Rádio Paulista, ao lado do violonista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha).

Junto com os violonistas Aimoré, Armandinho e o cantor Moreira da Silva, gravou seu primeiro disco em 78 rpm.

Nessa época, organizou com seus irmãos uma orquestra (a "Orquestra Irmãos Cópia", cujo líder era Vicente, o irmão mais velho), com a qual atuou intensamente até 1934.

Além dos músicos (quase todos da família), tiveram como "crooners" da orquestra os seguintes cantores: Nuno Roland, Grande Otelo e Ruy Rey.



Atuou, no início dos anos 1930, ainda em São Paulo, na orquestra "Juca e seus rapazes", na Rádio Record.

Em 1931, fez uma viagem à Alemanha, acompanhando o "Quarteto de Spartaco Rossi". No ano seguinte, contratado pela Companhia de Revista Margarida Max, participou de espetáculos da dupla Mário Reis e Francisco Alves, nos Teatros Cassino Antártica e Santana. 

Em 1933, integrou a orquestra do maestro Gaó ("Orquestra Colúmbia"), em apresentações na Rádio Cruzeiro do Sul.

 Em 1936, com Gaó, passou a atuar também na Rádio Ipanema do Rio de Janeiro. Na então capital do país, participou também de orquestras e tocou em teatros e cassinos, tendo se apresentado ao lado de Pixinguinha no "Dancing" Eldorado.

Foi, nas décadas de 1930 e 1940, um dos instrumentistas mais requisitados para acompanhar os grandes nomes da era do rádio como Francisco Alves, Mário Reis, Sílvio Caldas, Carmen Miranda, Carlos Galhardo, Ciro Monteiro, Aracy de Almeida, Orlando Silva e outros.

Em 1939, passou a integrar a orquestra de Simon Bountman na qual permaneceu por quatro anos, atuando no Cassino do Copacabana Palace.

Em 1944, passou a atuar na orquestra de Carlos Machado no Cassino da Urca, na qual permaneceu por dois anos e na orquestra de Paul Morrys, no Quitandinha de Petrópolis, RJ. 

Em 1946, criou sua própria orquestra, Cópia e sua orquestra.



Em 1949, ingressou na gravadora Continental onde acompanhou gravações de diferentes artistas entre os quais Lúcio Alves, Sílvio Caldas, Ivon Curi, Déo, Dick Farney e Jorge Goulart.

Em 1951, acompanhou com sua orquestra na Todamérica a cantora Elizeth Cardoso na gravação dos sambas "Dá-me tuas mãos" e "O amor é uma canção".

Em 1952, gravou com sua orquestra na Continental o "Baião de Cabo Verde", de sua autoria e Edu e o "Choro perpétuo", de Paganini com arranjo de César Siqueira. No ano seguinte, com sua orquestra, gravou o beguine "Juras de amor", parceria com Edy e Gloz e o maxixe "Corruira saltitante", de Lina Pesce.No mesmo ano, gravou o samba canção "Deixa-me", de sua parceria com Júlio César, com Nora Ney e o samba "Paulista do centenário", de Bruno Gomes, José dias e Airton Amorim, com Jorge Goulart.

Em 1954, gravou com sua orquestra o coco "Bam-bam-biá", de sua parceria com Ferreira Gomes. No lado A do disco, o cantor Carlos Augusto gravou o samba canção "Adeus mocidade", também de sua parceria com Ferreira Gomes.

Em 1956, gravou com seu conjunto na Odeon o samba "Na Pavuna", de Almirante e Homero Dornelas e o "Mambo brasileiro", de sua autoria e Ferreira Gomes. Por essa época, dirigiu a Orquestra do Copacabana Palace com a qual gravou na Odeon o fox "C'est à Hamburg", de M. Monnot e o samba "Abre a janela", de Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti.

Em 1957, lançou pela Odeon o LP "Dançando no Copacabana Palace". Quando a bossa nova surgiu, participou de suas primeiras gravações, com Tom Jobim e João Gilberto, tornando-se assíduo participante de discos dos artistas do novo gênero.

No início dos anos 1960, trabalhou na Rádio Nacional carioca, na TV Rio e na TV Globo. 

Apresentou-se, em 1966, no Cassino Monte Carlo de Mônaco, com sua orquestra, a "Copinha do Rio". Em 1967, fez excursão aos EUA (Dallas, Miami, Minneapolis), ao lado de grandes músicos brasileiros (o pianista Dom Salvador, o contrabaixista Sérgio Barroso e o baterista Chico Batera).

Em 1972, foi contratado pela TV Globo para atuar na orquestra da emissora.

Com a revitalização do choro em meados dos anos 1970, voltou a ser muito requisitado. Acompanhou grandes ídolos da MPB, tais como Chico Buarque, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Paulinho da Viola e outros.

Em 1975, gravou um LP comemorativo de seus 50 anos de carreira intitulado "Jubileu de ouro", pela Som Livre com destaque para "Primavera", de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes, "Por um beijo", de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense, "Kalu", de Humberto Teixeira e "Reconciliação" e "Lambada", de sua autoria.

Em 1976, participou do LP de Abel Ferreira "Brasil, sax e clarineta", pela Marcus Pereira Discos. Ainda naquele ano, participou do LP, brinde de natal, "Chorada, chorões, chorinhos", produzido por Reginaldo Bessa e organizado por Mozart de Araújo e Ricardo Cravo Albin.

Em 1977, partcipou com Waldir Azevedo, Zé da Velha, Abel Ferreira, Joel Nascimento e Paulo Moura do LP "Choro na praça" lançado pelo selo Elektra no qual interpretou O amolador", de sua autoria e "Acerta o passo", de Benedito Lacerda e Pixinguinha.

Em 1979, participou o LP "Chorando baixinho - Um encontro histórico" lançado pelo selo Kuarup com a participação de Abel Ferreira, Arthur Moreira lima, Joel Nascimento e Época de Ouro.



No mesmo ano, lançou pelo Museu da Imagem e do Som - FEMURJ o LP "Bonfiglio de Oliveira interpretado por Copinha e seu conjunto", doze obras do compositor paulista.

Em 1980, tocou flauta nas músicas "Camisa amarela"; "Na baixa do sapateiro"; "No tabuleiro da baiana"; "Inquietação" e "Faceira", de Ary Barroso, todas para o LP "Aquarela do Brasil", lançado por Gal Costa, pela Philips.

Em 1981, lançou pela CBS seu último disco, o LP "Amano sempre", no qual interpretou obras de sua autoria como "Saudade (De Carolina), "Reconciliação" e a faixa título além de "Flores da vida", de Patápio Silva, "Ele e eu", de Benedito Lacerda e Pixinguinha e "Remexendo", de Radamés Gnatalli.

Em 2000, o selo do SESC - SP lançou denro da série "A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes" um CD em sua homenagem com interpretações suas de obras como "Manhã de carnaval", de Antônio Maria e Luiz Bonfá, "Falsa baiana", de Geraldo Pereira, "Abismo de rosas", de Canhoto, "Naquele tempo", de Pixinguinha e Bendito Lacerda e "Numa seresta", de Luiz Americano.

Fonte: Dicionário da MPB

segunda-feira, 24 de março de 2014

MÚSICA, ÍDOLOS E PODER (DO VINIL AO DOWNLOAD) - PARTE 39



CAPÍTULO 39 

Uma vez por ano, os diretores das filiais espalhadas pelo mundo viajavam para assistir a convenções mundiais organizadas pela matriz, que sempre aconteciam em lugares exóticos: Barbados, Bali, Haiti, Kyoto, Veneza. E dessa vez o Nesuhi me telefona: 

— Este ano nós nos encontramos em Saint John, no hotel tal, tal dia, a tal hora. 

Saint John faz parte dessas centenas de ilhas do Caribe. Reservei minha passagem via Caracas e, como era de praxe na época, pessoas nascidas na Síria — meu caso — eram obrigadas a esperar pela conexão na prisão do aeroporto. Não era nada agradável, mas dava à viagem um twist romântico do tipo 007. Na hora prevista, saí da prisão do aeroporto e embarquei num Jumbo cheio de turistas que iam desembarcando nas ilhas paradisíacas, e, lá pelas oito da noite, o avião, já quase vazio, chegou a Saint John, seu destino final. O aeroporto estava vazio. Retirei minhas malas, peguei um táxi e dei o nome do hotel ao motorista. Após uma curta corrida de cem metros, o motorista parou e, com uma fisionomia encabulada, disse: 

— Mister, lamento, mas não existe esse hotel aqui. Isto aqui é uma ilha pequena. Dirijo este meu táxi há mais de vinte anos e nunca ouvi falar desse hotel... 

Já estava ficando tarde; contudo, por desencargo de consciência, dei uma volta pelos hotéis para ver se encontrava meu pessoal. Não tendo encontrado sinal de vida da Warner Communications ou de seus executivos, demos mais uma volta, dessa vez para arrumar um quarto onde dormir. 

— Sinto muito, mas nós estamos com todas as reservas esgotadas — disse a recepcionista do primeiro hotel. 

A cena se repetiu. Não tendo lugar em hotel algum, meu motorista sugeriu tentar a sorte com os albergues. Visitamos alguns deles e todos também estavam ocupados, até chegarmos a uma bonita casa. Toquei o sino da recepção e, minutos depois, apareceu um típico norte-americano, de uns sessenta anos, obviamente o dono do lugar: 

— Sim, tenho um quarto. Não é o melhor dos quartos, mas se você fica só por uma noite, deve ser 

ok. Por favor, me dá seu passaporte... Oh! Você é brasileiro! Então, me faz um favor... O jantar e as bebidas vão ser por minha conta. Porém, você vai me ajudar a mostrar aos meus amigos que eu sei falar português. Porque eles acham que eu sou mentiroso. 

De fato, o cara falava razoavelmente português, com um forte sotaque gringo. Então, fomos até o bar, onde um bando de americanos aposentados bebia sua dose diária de álcool. Eu falava em português com o dono e o cara ia me respondendo na mesma língua, acompanhado pelos “Hip, hip, hurras!” da plateia. Dali a pouco, os aposentados foram para casa e eu fiquei jantando na companhia do meu anfitrião, que me contou como e por que conhecia o nosso idioma. 

— Você sabe, os anos que passei no Brasil foram os melhores da minha vida. Eu trabalhava para a CIA e nós tínhamos sido convidados pelo presidente de vocês, Castelo Branco, para ajudar no planejamento da revolução em 1964. Oh, boy, você não pode imaginar o fun that we had 78! 

Tentei puxar um pouco mais daquela inesperada e surpreendente conversa, mas ele, num pileque razoável, preferiu parar por ali. 

Na manhã seguinte, meu novo amigo da CIA me levou para um aeroporto bem pequeno, à beiramar, com alguns hidroaviões ali parados. Logo descobri que eu estava perdido nas ilhas do Caribe e que eu tinha aterrissado na cidade de Saint John, e não na ilha de mesmo nome... 

— Fique tranquilo. Eu não conheço essa ilha de Saint John. Mas você vai ver: esses pilotos filhos da-puta sabem qualquer coisa que você perguntar sobre essa porrada de ilhas — disse meu novo amigo. 

Aí, os três ou quatro pilotos que estavam de plantão à espera de algum cliente me disseram que de fato existia uma ilha chamada Saint John, a uns 150km dali, e que só podia ser a ilha que eu estava procurando. 

Embarquei num dos hidroaviões que levantaram vôo naquela manhã ensolarada. “Nada mais sofisticado que se perder no Caribe... Que aventura mais alegre!”, pensava eu. 

Depois de três ou quatro horas, chegamos a Saint John lá pelas 15h. O piloto ainda deu um vôo rasante sobre a minúscula ilha e pude ver o meu pessoal estendido na praia. Graças a Deus, havia chegado ao lugar certo! Na recepção do hotel, dei de cara com o Nesuhi : 

— O que é isso, Haidar? Chegando atrasado… Nós estávamos preocupados... 

— Imagina, Nesuhi ... Fiquei na prisão do aeroporto em Caracas ontem à tarde, me perdi nas ilhas do Caribe e fui parar lá longe, numa cidade chamada Saint John numa ilha qualquer ontem à noite! 

No ano seguinte, a convenção teve lugar em Milão e para o encerramento foram convidados, na melhor tradição italiana, alguns dignatários locais, sem esquecer alguns religiosos e militares importantes. Ao final do jantar, subiu ao pódio uma mulher de seus sessenta anos, forte feito uma camponesa, a cabeleira branca abundante e desordenada, vestida de preto, as mãos firmes sobre a tribuna. Olhou-nos longamente, respirou fundo e, com uma voz imponente, começou: 

— Eu sou Fulana, sou ministra do Trabalho e militante comunista desde a infância... 

E deu início a um discurso eletrizante — quase que sinfônico —, que terminou mais ou menos assim: 

— Agora seria um terrível equívoco acreditar que o Partido Comunista Italiano se assemelha e depende filosoficamente da União Soviética... O Império Romano inventou os alicerces da democracia há dois mil anos e ninguém deve esquecer que o povo italiano e o nosso partido sempre beberam o leite das tetas da loba romana. 

“Era ainda a voz da loba que saía da boca dessa mulher”, pensei. Fiquei muito impressionado com esta imagem: “Bebeu o leite das tetas da loba romana!” A loba romana havia dominado a ferro e fogo, durante séculos, os gauleses, os visigodos, os ostrogodos, os teutões, os tártaros e outros mais. E, na hora da decadência do Império, transformando o manto dos imperadores no manto dos papas, seguiu dominando a ferro e fogo grande parte do mundo, até hoje.

sábado, 22 de março de 2014

TETÊ ESPÍNDOLA, 60 ANOS


Iniciou sua carreira artística como integrante do grupo Luz Azul, tocando craviola (instrumento de cordas criado por Paulinho Nogueira).

Em 1978 gravou seu primeiro LP, "Tetê e o lírio selvagem". Por essa época, atuou em São Paulo com Arrigo Barnabé.

Em 1980 lançou o LP "Piraretã". No ano seguinte, participou do festival "MPB Shell", interpretando a canção de Arrigo Barnabé "Londrina", contemplada com o prêmio de melhor arranjo, assinado por Cláudio Leal.

Em 1982 gravou o LP "Pássaros na garganta". O disco, cujo título remete à denominação feita por Augusto de Campos para definir o timbre de voz da cantora, incluiu canções de sua autoria, como "Amor e guavira", com Carlos Rennó, e de outros compositores, como Arrigo Barnabé, "Canção dos vagalumes", entre outras. Seu repertório, até então, refletia uma temática regionalista, com influência de ritmos paraguaios.



Em 1985 tornou-se conhecida do grande público ao vencer o "Festival dos Festivais" da TV Globo, interpretando a canção "Escrito nas estrelas", de Arnaldo Black e Carlos Rennó, registrada em compacto simples.

Em 1986 gravou o LP "Gaiola", com destaque para a faixa "Na chapada", com Carlos Rennó, interpretada em dueto com Ney Matogrosso, entre outras composições próprias e de outros autores. Dois anos depois, representou o Brasil no festival "The concert voice", realizado em Roma na Itália.

Em 1989 participou do "Festival New Morning", em Paris (França), e do "Festival de Jazz", da Bélgica. Em seguida, foi contemplada com uma bolsa da Fundação Vitae, para desenvolver um projeto relativo ao tema "A instrumentalidade da voz humana e a musicalidade dos pássaros da Amazônia e do Pantanal".

O trabalho gerou o lançamento, em 1991, do disco "Ouvir". Três anos depois, gravou o CD "Só Tetê", contendo músicas de Djavan, "Esquinas" e Tom Jobim e Chico Buarque, "Imagina", entre outras. Em seguida, excursionou pelo Brasil, divulgando o disco.

Em 1995 lançou o CD acústico "Canção do amor", tocando craviola em todas as faixas. O disco contou com a participação especial de seus irmãos Humberto, Geraldo e Alzira Espíndola, do trombonista Bocato, do grupo instrumental Duofel e do parceiro Chico César. No repertório, destacam-se regravações de "Na chapada", com Carlos Rennó, "Escrito nas estrelas", de Arnaldo Black e Carlos Rennó e "Vida cigana", de Geraldo Espíndola.

Três anos depois, gravou, com sua irmã Alzira Espíndola, o CD "Anahí", que registrou, entre outras, as canções "Pé de cedro", de Zacarias Mourão e "Serra da Boa Esperança", de Lamartine Babo. Dona de uma grande extensão vocal e um raro timbre de voz situado em um registro muito agudo, seu trabalho incorporou pesquisas realizadas com sons de pássaros, influência de temas regionalistas e fusões do acústico com o eletrônico.

Em 2001 participou do CD "Acústico Brasil" juntamente com Amelinha e Cláudia Telles, entre outras, lançado pela Seven Music, com versões acústicas para sucessos populares dos anos 1970 e 1980, no qual interpretou "escrito nas estrelas".

Em 2002 participou do CD "Canções de Tom e Vinícius" com o maestro Leo Peracchi e a Jazz Sinfônica, contando ainda com as participações de Jane Duboc, Mônica Salmaso, Ná Ozzetti e Vânia Bastos, no qual interpreta "Valsa de Orfeu", de Vinícius de Morais e "Cai a tarde", de Tom Jobim, além de "Eu sei que vou te amar", de Tom e Vinícius, esta última, juntamente com as demais cantoras.



Em 2005, apresentou o show "Zencinema" em dois dias consecutivos, na Sala Baden Powell, no Rio de Janeiro, recebendo Ney Matogrosso como convidado.

Em 2007, lançou o CD "EVAporAR", em que mostra composições próprias e também toca craviola. O CD teve, entre outros, laNÇmento na no Teatro Aracy Balabanian, no projeto Cena Som, em Campo Grande (MS), sua terra natal.Ainda em 2007, foi incluída no ivro "MPB - Mulher", de R. C. Albin, editado pelo ICCA.

Em 2008, deu continuidade ao projeto do CD "Evaporar", de conceito ambientalista, que incluiu composições de sua autoria como "Semente de som", com Chico César, e "Ópera da natureza", com Arnaldo Black. Lançou também o DVD "Águas dos matos" distribuído em escolas e centros de estudo. Lançou, ainda, o videoclip "Adeus Pantanal", gravado em Brasília, composição inédita de Itamar Assumpção. 




Discografia Oficial


Tetê e o Lírio Selvagem (Philips) (1978)


Faixas:
01 - É Necessário (Geraldo Espíndola)
02 - Rio de Luar (Geraldo Espíndola)
03 - Vôos Claros (Geraldo Espíndola)
04 - Quando Você Tá Por Perto (Marcelo Espíndola)
05 - Andorinha Manca (Geraldo Espíndola)
06 - Caucaia (Marcelo Espíndola - Carlos Rennó)
07 - Na Catarata (Alzira Espíndola - Carlos Rennó)
08 - Bem-te-vi (Geraldo Espíndola)
09 - Em Piralenta (Geraldo Espíndola)
10 - Santa Branca (Geraldo Roca)
11 - Pássaro Sobre o Cerrado (Tetê Espíndola - Carlos Rennó)
12 - Alegria de Cantarolar (Tetê Espíndola)




Piraretã (Philips) (1980)



Faixas:
01 - Piraretã (Marcelo Ricardo - Tetê Espíndola)
02 - Cunhãtaiporã (Geraldo Espíndola)
03 - Refazenda (Gilberto Gil) (Com Alzira Espíndola e Geraldo Espíndola)
04 - Rosa Em Pedra Dura (Geraldo Espíndola)
05 - Melro (Black Bird) (John Lennon - Paul McCartney - Vrs. Carlos Rennó)
06 - Tamarana (Arrigo Barnabé - Paulo Barnabé) - com Arrigo Barnabé
07 - O Cio da Terra (Milton Nascimento - Chico Buarque)
08 - Vida Cigana (Geraldo Espíndola)
09 - Beija-flor (Geraldo Espíndola - Paulo César Campos)
10 - Viver Junto (Tetê Espíndola - Carlos Rennó)
11 - Matogrossense (Carlito - Lourival dos Santos - Tião Carreiro)
12 - Aratarda (Tetê Espíndola / Alzira Espíndola) 
(Com Alzira Espíndola e Geraldo Espíndola)




Londrina (COMPACTO) (Zoo Discos) (1981)



Faixas:
01 - Londrina (Uma valsa para Londrina) (Arrigo Barnabé)
02 - Canção dos vagalumes (Arrigo Barnabé)



Pássaros na Garganta (Som da Gente) (1982)


Faixas:
01 - Amor e Guavira (Tetê Espíndola - Carlos Rennó)
02 - Cunhataiporã (Geraldo Espíndola)
03 - Canção dos Vagalumes (Arrigo Barnabé)
04 - Olhos de Jacaré (Geraldo Espíndola - Carlos Rennó)
05 - Fio de Cabelo (Tetê Espíndola)
06 - Cuiabá (Tetê Espíndola - Carlos Rennó)
07 - Pássaros na Garganta (Tetê Espíndola - Carlos Rennó)
08 - Sertaneja (René Bittencourt)
09 - Longos Prazeres de Amor (Celito Espíndola)
10 - Paisagem Fluvial (Tetê Espíndola - Arrigo Barnabé)
11 - Ibiporã (Arrigo Barnabé)
12 - Jaguadarte - Galadriel (Arrigo Barnabé - Tetê Espíndola)
13 - Sertão (Tetê Espíndola - Arrigo Barnabé)



Escrito nas Estrelas (COMPACTO) (Barclay/Ariola) (1985)


Faixas:
01 - Escrito nas Estrelas (Arnaldo Black - Carlos Rennó)
02 - Ai Ioiô (Linda Flor) (Henrique Vogeler - Marques Porto - Luis Peixoto)




Gaiola (Barclay/Ariola) (1986)


Faixas:

01 - Deixei Meu Matão (Geraldo Espíndola)
Tao (Vinheta) (Com Uakti)
02 - Na Chapada (Tetê Espíndola / Carlos Rennó)
Orgia das frutas (Vinheta) - com Ney Matogrosso
03 - Gata Vadia (Celito Espíndola)
Encontro das harpas (Vinheta)
04 - Balanço (Tetê Espíndola / Arnaldo Black)
Chuva de meteoros (Tetê Espíndola-Mazola) (Vinheta) - com Egberto Gismonti
05 - Visão da Terra (Tetê Espíndola / Carlos Rennó)
Relâmpago (Vinheta)
06 - Gaiola (Tetê Espíndola)
07 - Lava (Geraldo Espíndola)
Calimbas na noite (Vinheta) - com Grupo Vissungo
08 - Mais Uma (Carlos Rennó / Arnaldo Black)
Solo oriental (Vinheta) - com Egberto Gismonti
09 - Nós (Tetê Espíndola / Carlos Rennó)
Zup (Vinheta) - com Uakti
10 - Cururu (Tetê Espíndola - Carlos Rennó)
Criação (Vinheta) 
 (Com Hermeto Pascoal)
11 - Girando (Tetê Espíndola) (Com Hermeto Pascoal)




Ouvir / Birds (Independente) (1991)


Faixas:
01 - Colagem da Mata I (Tetê Espíndola)
02 - Migração (Arnaldo Black)
03 - Quero-quero (Arnaldo Black)
04 - Jaó e Cia (Tetê Espíndola) (Com Alzira Espíndola)
05 - Tinguaçu (Tetê Espíndola)
06 - Garrincha da Chuva (Tetê Espíndola - Arnaldo Black)
07 - Colagem da Mata II (Tetê Espíndola)
08 - Bico de Brasa (Tetê Espíndola)
09 - Seriema (Tetê Espíndola)
10 - Sabiá Verdadeiro (Arnaldo Black)
11 - Urú (Arnaldo Black)
12 - Festa da Curicáca (Tetê Espíndola)



Só Tetê (Camerati) (1994)

Faixas:
01 - Noite Torta (Itamar Assumpção)
02 - Relógio Da Paulista (Passoca - Guga Domenico)
03 - Saber Nadar (Luhli - Lucina)
04 - Nossos Momentos (Arnaldo Black - Carlos Rennó)
05 - Esquinas (Djavan)
06 - Ajoelha E Reza (Arnaldo Black - Carlos Rennó)
07 - Imagina (Tom Jobim - Chico Buarque)
08 - Serenata Do Prado (Meadon Serenade) (George Gershwin - Ira Gershwin /-
 Adpt. Carlos Rennó)
09 - Meu Caboclo (Laurindo Almeida - Junquilho Lourival)
10 - Londrina (Arrigo Barnabé)
11 - Judiaria (Lupicínio Rodrigues) (Com Arrigo Barnabé)
12 - Mensagem (Péricles Cavalcanti - John Donne - Adpt. Augusto de Campos)
13 - Que Será (Marino Pinto - Mário Rossi)
14 - Solidão (Cláudio Leal Ferreira - Oswald de Andrade)
15 - Água (Arrigo Barnabé - Arnaldo Antunes)



Canção do Amor (JHO Music / Movieplay) (1995)


Faixas:
01 - Umbigo (Chico César - Arnaldo Black)
02 - Vida Cigana (Geraldo Espíndola)
03 - Carinhoso (Pixinguinha - João de Barro)
04 - Poema Da Lesma (Tetê Espíndola - Manoel de Barros)
05 - Na Chapada (Tetê Espíndola - Carlos Rennó)
06 - Águas Irreais (Tetê Espíndola - Aranaldo Black)
07 - Quyquyho (Geraldo Espíndola)
08 - Vento Da Noite (Geraldo Espíndola)
09 - É Demais (Tetê Espíndola - Chico César)
10 - Pulsação Das Águas (Tetê Espíndola - Maria Catunda)
11 - Saudade (Tetê Espíndola - Humberto Espíndola)
12 - Escrito Nas Estrelas (Arnaldo Black - Carlos Rennó)
13 - Vulgar (Hilton Raw - Arnaldo Black)
14 - Gata Vadia (Celito Espíndola)
15 - Mulher O Suficiente (Alzira Espíndola - Vera Lúcia)
16 - Canção do Amor (Geraldo Espíndola)
17 - Adeus Dias Doidos (Chico César - Tata Fernandes)



Anahí (Dabliú Discos) (Com Alzira Espíndola) (1998)


Faixas:
01 - Pé De Cedro (Zacarias Mourão)
02 - Chalana (Arlindo Pinto - Mário Zan)
03 - Meu Primeiro Amor (Lejania) (Hermínio Gimenez - Adpt. José Fortuna - Adpt. Pinheirinho Jr.)
04 - Garota Solitária (Adelino Moreira)
05 - Serra Da Boa Esperança (Lamartine Babo)
06 - Mágoas De Caboclo (Leonel Azevedo - J. Cascata)
07 - Ciriema (Nhô Pai - Mário Zan)
08 - Sertaneja (René Bittencourt)
09 - Merceditas (Ramon Sixto Rios)
10 - Anahí (Leyenda De La Flor Del Ceibo) (O. J. Sosa Cordero - Adpt. José Fortuna)
11 - Índia (Manuel Ortiz Guerrero - José Asunción Flores - Adpt. José Fortuna)
12 - Galopera (Maurício Cardozo Ocampo)



VozVoixVoice (MCD World Music) (2002)


Faixas:
01 - Gotículas (Philippe Kadosch)
02 - Pausa (Philippe Kadosch)
03 - Indiu (Philippe Kadosch - Shyamal Maitra)
04 - Pelicong (Philippe Kadosch - Bertrand du Chambon)
05 - Borboleta (Philippe Kadosch)
06 - Trompe L'oeil (Philippe Kadosch)
07 - Grilos Do Além (Philippe Kadosch)
08 - Ararinha Azul (Philippe Kadosch - Arnaldo Black)
09 - Cobra (Tetê Espíndola)
10 - Arabian Tango (Philippe Kadosch)
11 - Estalactites (Philippe Kadosch)
12 - Autant D'amour - Part I (Philippe Kadosch)
13 - Dança Das Baleias (Philippe Kadosch - Tetê Espíndola)
14 - Autant D'amour - Part II (Philippe Kadosch)
15 - Autant D'amour - Part III (Philippe Kadosch)
16 - Conte Goutte (Philippe Kadosch)
17 - Baiaoriental (Philippe Kadosch - Tetê Espíndola)
18 - Golfinhos (Philippe Kadosch)
19 - Cronos (Philippe Kadosch - Arrigo Barnabé)
20 - Five O'scope (Philippe Kadosch)
21 - Papa Chocho (Philippe Kadosch)




Fiandeiras do Pantanal (Luz Azul) (Com Raquel Naveira) (2003)


Faixas:
01 - Fiandeira (Tetê Espíndola - Raquel Naveira)
02 - Taça de Licor (Raquel Naveira) - Texto narrado por Raquel Naveira
03 - Canção (Tetê Espíndola)
04 - Violeta (Raquel Naveira) - Texto narrado por Raquel Naveira
05 - Beijo (Tetê Espíndola)
06 - Deusa (Raquel Naveira) - Texto narrado por Raquel Naveira
07 - Chorinho (Tetê Espíndola)
08 - Navio (Raquel Naveira) - Texto narrado por Raquel Naveira
09 - Guaranita (Tetê Espíndola)
10 - Canção Paraguaia (Raquel Naveira) - Texto narrado por Raquel Naveira
11 - Rondó (Tetê Espíndola)
12 - Rio Paraguai (Raquel Naveira) - Texto narrado por Raquel Naveira
13 - Festa (Tetê Espíndola)
14 - Garça (Raquel Naveira) - Texto narrado por Raquel Naveira
15 - Paixão (Tetê Espíndola)
16 - Guavirais (Raquel Naveira) - Texto narrado por Raquel Naveira
17 - Modinha (Tetê Espíndola)
18 - Fonte Luminosa (Raquel Naveira) - Texto narrado por Raquel Naveira
19 - Relógio da 14 (Tetê Espíndola - Raquel Naveira)

Espíndola Canta (Luz Azul) (Com Alzira E, Jerry Espíndola, Celito Espíndola, Geraldo Espíndola, Sérgio Espíndola, Humberto Espíndola, Gilson Espíndola, Daniel Black e Iara Rennó) (2004)



Faixas:
01 - Poema Da Lesma (Tetê Espíndola - Manoel de Barros) (Com Humberto Espíndola, Sérgio Espíndola, Geraldo Espíndola, Tetê Espíndola, Celito Espíndola, Alzira Espíndola e Jerry Espíndola)
02 - Fala Bonito (Tetê Espíndola - Geraldo Espíndola) (Com Geraldo Espíndola)
03 - Ajoelha E Reza (Arnaldo Black - Carlos Rennó) (Com Tetê Espíndola e Dani Black)
04 - Tente Esquecer (Jerry Espíndola - Rodrigo Teixeira) (Com Sérgio Espíndola)
05 - Me Beija Agora (Jerry Espíndola - Ciro Pinheiro) (Com Jerry Espíndola)
06 - Não Embaça (Alzira Espíndola - Alice Ruiz) (Com Alzira Espíndola)
07 - Indiazinha (Celito Espíndola) (Com Celito Espíndola)
08 -
 Reino do Pantanal (Jerry Espíndola / Humberto Espíndola) (Gilson Espíndola)
09 - Passarinhada (Tetê Espíndola - Sérgio Espíndola) (Com Tetê Espíndola)
10 - Espelho Deslizante (Celito Espíndola - Paulo Simões - Guilherme Rondon) (Com Celito Espíndola e Tetê Espíndola)
11 - Não Quero Te Enganar (Alzira Espíndola - Jerry Espíndola) 
(Com Jerry Espíndola e Alzira Espíndola)
12 - É Necessário (Geraldo Espíndola) (Com Geraldo Espíndola)
13 - Brilho de Olhar (Alfredo Karam) (Com Sérgio Espíndola)
14 - Bomba H (Alzira Espíndola - Itamar Assumpção) (Com Alzira Espíndola e Iara Rennó)
15 - Malditos Astros (Humberto Espíndola) (Com Humberto Espíndola)



Zencinema (Luz Azul) (2005)



Faixas:
01 - Meridiano (Chico César - Arnaldo Black)
02 - Vulgar (Hilton Raw - Arnaldo Black)
03 - Visão (Arnaldo Black)
04 - Viaduto Do Tchá (Arnaldo Black)
05 - Sincronicidade (Arnaldo Black)
06 - Zencinema (Hilton Raw - Arnaldo Black)
07 - Nenhum (Arnaldo Black)
08 - Palato (Arnaldo Black - Chico César)
09 - Zumzum (Octacílo Rocha - Arnaldo Black)
10 - Animal (Hilton Raw - Arnaldo Black)
11 - Paranóia (Arnaldo Black)



E Vá Por Ar (Luz Azul)1(2007)


Faixas:
01 - Ópera da Natureza (Tetê Espíndola - Arnaldo Black)
02 - Toada da Saudade (Tetê Espíndola - Jerry Espíndola)
03 - Sertão (Tetê Espíndola - Arrigo Barnabé)
04 - Morena Amiga (Tetê Espíndola - Alzira Espíndola)
05 - Centro Vazio (Tetê Espíndola)
06 - Evaporar (Tetê Espíndola - Marta Catunda)
07 - Pássaros (Tetê Espíndola)
08 - Semente de Som (Tetê Espíndola - Chico César)
09 - Voz (Tetê Espíndola - Arnaldo Black)
10 - Prata do Mar (Tetê Espíndola - Alzira Espíndola)
11 - Amor de Graça (Tetê Espíndola - Humberto Espíndola)
12 - Ôm Pela Paz (Tetê Espíndola - Humberto Espíndola)
Babeleyes - Musique des Langues Vierges (Multicrea) (Com Philippe Kadosch) (2009)


Faixas:
01 - Noïram (Philippe Kadosch)
02 - Kaprolin (Marion Aris / Philippe Kadosch)
03 - Amigo (A. Mihanovich / Philippe Kadosch)
04 - Mawaga (Philippe Kadosch)
05 - Dinikita (Philippe Kadosch)
06 - Sadis Magicus (Philippe Kadosch)
07 - Toy Dance (Philippe Kadosch)
08 - Indiu (Shyamal Maïtra / Philippe Kadosch)
09 - Gliss (Philippe Kadosch)
10 - Unicornes (Philippe Kadosch)


Fonte:
Dicionário da MPB
Cantoras do Brasil

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