PROFÍCUAS PARCERIAS

Gabaritados colunistas e colaboradores, de domingo a domingo, sempre com novos temas.

ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

HANGOUT MUSICARIA BRASIL

Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

NINGUÉM PASSA INCÓLUME AO SEU SOM...

Entre sambas, charmes e rhythm'n'blues Wesley Nóog mostra aquilo que lhe constitui e o porquê é considerado como uma das maiores inovações da nova geração da música brasileira

Por Bruno Negromonte





Com quinze anos de estrada e cinco álbuns lançados Wesley Nóog traz em sua música um balanço genuinamente brasileiro norteado principalmente pelos grandes nomes do soul nacional. Ativista cultural, poeta, cantor e compositor, Nóog traz seu DNA constituído por música, uma vez que seus pais e tios são coristas e maestros. Filho de funcionários públicos e de família religiosa baseada na tradição metodista, o pequeno  Ocimar Wesley Nogueira estudou Teologia e música e teve uma infância ambientada neste contexto sempre alimentando o desejo de cantar e compor. No entanto a sua pobre infância acabou o afastando deste desejo que tanto acalentava por conta de motivos maiores. Atendendo a vontade dos pais Wesley priorizou seus estudos seguindo, aos 16 anos, para o Seminário, onde permaneceu por 12 anos sem nunca abrir mão do desejo germinado ainda na infância. Pelo contrário, foi no Seminário que o artista teve a oportunidade de não só alimentar a sua fé assim como também mergulhar na música e desenvolver as suas aptidões para a arte a partir de um bem estruturado ambiente, onde somado a atmosfera da década de 1970 propiciou ao jovem Ocimar o ambiente ideal para sincretizar a sua arte. Vale registrar que ao longo deste período teve a oportunidade não só de estudar em uma escola estruturada numa fazenda ocupada como também foi educado e conviveu com professores que tinham como herança a Teologia da Libertação das comunidades eclesiais de base, fomentando de modo substancial aquilo que Nóog começou a desenvolver como arte a partir das influências captadas através da sonoridade de nomes como Tim MaiaJorge BenCassianoCarlos Dafé e Hyldon, artistas de fundamental importância para a formação da sonoridade do artista.



Ligado a movimentos populares, Wesley Nóog procura levar para a sua arte um pouco daquilo que busca alcançar também enquanto cidadão desde que iniciou sua carreira em 1993 com o grupo Swing e Cia. Após cinco anos no grupo passou a integrar outro grupo, o Estação Fankalha, relevante grupo do cenário musical alternativo. Seu primeiro trabalho solo foi registrado em forma de single e foi composto por duas faixas. Intitulado de "Mameluco Afro Brasileiro", este debute fonográfico do artista se deu em 2008 como prévia de um projeto mais ousado que culminaria dois anos depois com um álbum constituído por 10 músicas, esmerado através do resultado de um profícuo diálogo entre os ritmos existentes no Brasil aliados as influências do soul e da black music. Nesta trajetória sempre optou por seguir um caminho alternativo aquele imposto pelas indústrias fonográficas, o que fez com que sua música fosse atrelada ao que lhe convém, o que favoreceu de modo substancial o seu engajamento devido as parcerias com alguns movimentos populares, como a Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) um dos movimentos artísticos mais ativos do estado de São Paulo. "Estar ligado a estas iniciativas permite que eu tenha uma visão mais clara da realidade como também ter ações transformadoras que são negadas pela educação 'oficial' e, acima de tudo, exercer a minha função na história como artista cidadão, aquele que vai onde o povo está", bem define o artista mostrando a  sua arte em lugares como a França, por exemplo.


"Soul assim" é um projeto totalmente autoral que busca refletir, de certo modo, como uma espécie de autobiografia coletiva, procurando registrar histórias da periferia a partir da figura de Wesley. O disco que conta com onze faixas que perpassam por gêneros como o samba soul, o funk, o charme entre outros que não só constituem toda a sua sonoridade mas também daqueles que o influencia artisticamente. Faixas como "Não Há Mal que Prevaleça", Nóog conta que fez uma modesta leitura do suingue do mestre Tim Maia nesses 16 anos de ausência. Em "ParatiWesley tem a possibilidade de não só prestar uma homenagem ao município do litoral carioca como também usar o título como dedicatória a partir de um jogo de palavras, o samba-soul "Melhores Sabores" trata de modo análogo alguns dos diversos sabores que extrapolam os dotes culinários. Canções como "Chora Cuíca", "Meu Samba", "Vários Erros", "Presente de Flores" e "Salve a Flor" trazem a possibilidade de ouvir e avaliar a diversidade do artista a partir de sua veia sambista. Em síntese pode-se afirmar que o álbum é uma espécie de autobiografia de todas as coisas que o artista vive e observa."Cantador Guerreiro" que aborda de modo melódico e poético o sincretismo religioso existente em nosso país. O disco ainda conta com "A Esperança Passa" e "Soul Assim" que batiza o álbum deste artista que almeja um dia conquistar os fãs do ídolo Tim Maia.

Produzido pelo maestro Claudio Miranda e pré produzido pelo próprio Nóog em parceria com Tiano Bless (que também é responsável pelos teclados, efeitos e moogs), a ficha técnica do álbum "Soul assim" conta ainda com nomes como Paulinho (bateria) Pikeno (percussão), Claudio Miranda (cavaquinho, banjo, baixo, guitarra, violão e percussão); Cintia Pitcci (flautas, sax e arranjos), Richard Oliveira (trombone, trompete, sax, flautas e arranjos); Nando Rangel e Celso Bernucio (guitarra musical parati) e Rafael Azevedo (contra baixo elétrico). A divulgação e prensagem do álbum contou com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, que através do Corredor Cultural Mameluco Afro Brasileiro (iniciativa criada pelo próprio Nóog). É válido registrar que todas essas parcerias e articulações contribuíram de modo significativo para o barateamento do projeto. O disco que a princípio exigia um investimento de cerca de R$ 70 mil, saiu por cerca de R$ 20 mil, ou seja, 70% a menos que os números iniciais. Deste modo Wesley Nóog vem traçando de forma bastante peculiar a sua arte, deixando refletir-se nela tudo aquilo que a periferia assimila a partir da grande mídia e da indústria cultural em um momento de verdadeira antropofagia de nós mesmos como vocês poderão conferir ao ter a oportunidade de conhecer não só a arte mas todo o engajamento do artista.


Maiores Informações:

Facebook (Página) - https://www.facebook.com/WESLEYNOOG

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Myspace - https://myspace.com/wesleynoog

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Kboing - http://www.kboing.com.br/wesley-noog/

SoundCloud - https://soundcloud.com/wesleynoog

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TNB - http://tnb.art.br/rede/wesleynoog

Rádio UOL - http://www.radio.uol.com.br/#/artista/wesley-noog/90452



Onde encontrar o álbum:
Taiyo Record (Tokio - Japan)
Hipermercado Baronesa (Pouso Alegre - MG) - Tel: 35 3449-1711
Ná Figueredo - Estação (PA - Belém) - Tel: 91 3225-0908

Livraria Cultura - http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=42138330


Vendas Online:

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A DIVINA TRAGÉDIA DE BELCHIOR - SAIA DO MEU CAMINHO, EU PREFIRO ANDAR SOZINHO (CAPÍTULO 04)

Procurado pela polícia e hospedado de favor na casa de fãs, o compositor de clássicos como “Divina comédia humana” protagoniza uma história de amor e decadência

Por Marcelo Bortoloti


CANTOR EM FUGA 1. Com o advogado Jorge Cabral, que hospedou Belchior em seu sítio em Guaíba, Rio Grande do Sul 2. Na União Brasileira de Compositores  3. Num hotel no Uruguai, de onde saiu sem pagar a conta (Foto: Reprodução e arq. pessoal )

Em janeiro deste ano, Edna e Belchior procuraram a Defensoria Pública em Porto Alegre. A história ganhou ingredientes ainda mais estranhos. Os dois alegavam que o bloqueio das contas e os mandados de prisão impediam que ele trabalhasse e voltasse a ganhar dinheiro para pagar as dívidas. Belchior aparentemente estava disposto a voltar. Mas o comportamento do casal era confuso. Edna falava desbragadamente, enquanto Belchior ficava quase sempre calado. “Durante um mês, me informei sobre os processos que tramitam em São Paulo. Fizemos um pedido judicial para a suspensão da execução, até que ele conseguisse se restabelecer. Nesse meio-tempo, Belchior sumiu”, diz a defensora pública Luciana Kern, que o atendeu.

Nesse mesmo período, Edna ligou para o jornalista gaúcho Juremir Machado, que não conhecia. Disse que Belchior estava escondido na cidade e precisava de ajuda. Ela queria que Juremir os levasse à sede regional da TV Record para fazer uma denúncia delirante. Juremir notou algo de incomum no casal. Eles se escondiam atrás de pilastras e ficavam olhando a movimentação nas ruas antes de entrar em algum lugar, como se fossem seguidos. Na retransmissora da TV, Edna afirmou ter um dossiê contra a TV Globo. O programa Fantásticonoticiara o desaparecimento de Belchior em 2009 e a fuga do hotel uruguaio, em 2012. “Ela dizia que Belchior era difamado pela Globo e queria justiça. Falou até que havia uma tentativa de matá-lo”, diz a jornalista Vânia Lain, que recebeu os dois. Eles disseram que voltariam na semana seguinte trazendo os documentos, mas desapareceram.

Em Porto Alegre, Belchior e Edna ficaram inicialmente hospedados num hotel simples no centro, pago com ajuda dos funcionários do Tribunal de Justiça, primeira porta em que o casal bateu quando chegou à capital gaúcha. Depois, foram abrigados no Centro Infantojuvenil Luiz Itamar, instituição de caridade na região metropolitana. Dali, foram levados ao advogado Aramis Nacif, ex-desembargador do Estado, que poderia ajudar Belchior com os processos. “Ele dizia que um agente apareceria, mas nunca apareceu”, diz Nacif. Durante um mês, o casal ficou abrigado na casa de praia do filho dele. “Eles não tinham dinheiro algum. Edna apresentava um sentimento de perseguição muito grande, parecia ter algum distúrbio psicológico”, diz. Foi nesse momento que Belchior conheceu o advogado Jorge Cabral, na casa de quem se hospedou por quatro meses.

Cabral tomou um susto ao perceber que um músico importante como Belchior estava ali. E os convidou para ir a um sítio de sua propriedade, em Guaíba, local mais agradável. Belchior e Edna continuavam sem dinheiro. Nesse período, o advogado levou mantimentos, roupas, itens de higiene pessoal e até tintura para Belchior pintar os bigodes de preto.

No sítio de Cabral, Belchior não bebia nem comia carne vermelha. Passava os dias tomando chá, caminhando e cuidando das ovelhas. Fazia muitas anotações em papéis, que escondia numa pasta. Durante esse período, gastou duas canetas inteiras. Leu cerca de 40 livros. Não apresentava sinais de depressão. Parecia, segundo Cabral, alheio aos problemas que o cercavam. “Eu imaginava que ele era apenas um compositor nordestino, mas encontrei um artista plástico, um pensador, um filósofo”, diz Cabral. Ele pretende escrever um livro sobre a experiência.

Belchior só não gostava de falar sobre sua situação. Recusava-se a tocar violão e cantar. Edna impedia que ele fosse fotografado. O casal também não tomava nenhuma providência para resolver os problemas jurídicos. “A gente esperava que a situação se resolvesse, mas não acontecia nada. E aquilo não condizia com um homem lúcido, com memória fantástica, que fala várias línguas e tem uma quantidade enorme de músicas gravadas”, diz Jorge Cabral.
“Esse tempo que ele falou que daria na carreira já está longo demais. Só queremos notícias dele”, diz a irmã, Ângela Belchior. Belchior não apareceu nem no enterro da mãe, que morreu em 2011. Por telefone, a ex-mulher Ângela soa reticente. Não gosta de falar sobre um assunto tão delicado com a imprensa. Ela conta que, desde 2007, Belchior não entra em contato nem com os filhos. “Não entendo. Os empresários dele não entendem”, diz.

Em julho deste ano, Cabral pediu que o casal saísse, dado que Belchior e Edna não davam sinal de acabar com aquela situação de total dependência. Ele os deixou na porta da sede regional da União Brasileira de Compositores, com R$ 50 no bolso. Na União, Belchior tentou desbloquear o pagamento de seus direitos autorais, comprometido pelos processos na Justiça. Não conseguiu.

Belchior foi visto pela última vez na entrada do prédio, um edifício moderno num bairro de classe média de Porto Alegre, em frente a uma avenida bastante movimentada. Carregava uma pequena mala nas mãos e material de pintura debaixo do braço. Belchior – na belíssima letra de “Comentário a respeito de John”, ele cantava “eu prefiro andar sozinho” – estava, como sempre, ao lado de Edna.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

MÚSICA, ÍDOLOS E PODER (DO VINIL AO DOWNLOAD) - PARTE 31



CAPÍTULO 31 


Antes do jantar, eu costumava passar frequentemente pelo Antonio’s — restaurante que era o local de encontro da intelectualidade carioca — para encontrar o Tom, o Vinicius, o Cacá Diegues e o Tarso de Castro, entre muitos outros, para bater papo e trocar ideias. No entanto, de vez em quando eu era envolvido nas eternas discussões sobre o mal que o capital estrangeiro representava para o Brasil e, em particular nesse recinto, sobre o perigo que eu representava, na cabeça de alguns: um estrangeiro com o poder de uma multinacional, podendo manipular, para o proveito financeiro da minha empresa, os destinos da música popular brasileira. 

O Glauber Rocha liderava o grupo que me interpelava. Mas sua postura era compreensível: 

— André, pessoalmente não tenho nada contra você. Porém, estou cansado de ver que, neste país, ainda dependemos de estrangeiros — e, no caso da música brasileira, de um estrangeiro: você — para fazer o que cabe a nós resolver. Isso tem que acabar! 

Tornando-se progressivamente mais obcecado e mais irritado com esse pensamento, Glauber, poucos dias depois dessa conversa, foi desabafar, escrevendo um longo e brilhante artigo publicado na primeira página do “Caderno B” do Jornal do Brasil, cuja manchete de tamanho sensacionalista gritava: “ANDRÉ MIDANI, O AGENTE DA CIA.” 

Fiquei apavorado, pois era um tiro mortal! Glauber não era um idiota qualquer. Suas opiniões eram importantes. Portanto, eu tinha que responder a essa acusação pública. Mas provar não ser um agente secreto estava acima da capacidade de qualquer infeliz! Acovardado, deixei de ir ao Antonio’s por um bom tempo, até que um dia meu querido amigo Tarso de Castro me chamou: 

— Rapaz, o que aconteceu que você não aparece mais no Antonio’s? 

Tarso, você não leu o artigo do Glauber ? Com que cara eu vou aparecer por lá?! 

Bobagem! Bobagem, André. Me espera aí que eu vou te pegar e vamos entrar nós dois no Antonio’s. E você vai ver que não vai acontecer nada. 

E assim foi. Entramos no Antonio’s e, de fato, não aconteceu coisa alguma, a não ser um aceno
irônico do Glauber: 

— Oi, André. Tudo bom? 

Devo a um outro grande cineasta minha estreia no cinema brasileiro. Nelson Pereira dos Santos estava lá no Antonio’s e perguntou se eu aceitaria atuar no seu próximo projeto, que filmaria dentro de alguns meses. Eu me senti muito lisonjeado, pois atuar sempre foi o outro sonho da minha vida. 

Claro, Nelson , eu aceito… Com imenso prazer! 

Então eu te chamo quando chegar a hora. De fato, uns dois meses depois o Nelson me ligou. 

Está tudo certo com você? 

Claro, Nelson . Está super de pé! — respondi com entusiasmo. 

Então daqui a dez dias, domingo, na parte da manhã, no edifício Avenida Central. Certo? 

Certo — respondi, já vendo meu nome bem grande nos créditos do filme, nos anúncios de jornais, nos cartazes de rua e nos néons dos cinemas. Em poucas palavras, eu previa ser a nova descoberta e a sensação do cinema brasileiro. Porém, para ser uma estrela do cinema eu tinha que atuar. Para atuar, tinha que receber o texto, tinha que ensaiar com os outros atores... 

Não era bem assim:“Apareça domingo que vem na parte da manhã...” Liguei de volta. 

— Nelson , cadê o texto que eu vou falar? Tenho que aprender o texto direito. E meu sotaque etc. 

André, não se preocupa, não.Você não vai falar. 

Como não vou falar?! E o que vou fazer, então? 

Olha, você vai ser assassinado. 

Assassinado?! E quanto tempo vai levar esse meu assassinato? 

—Você entra no elevador, te dão um tiro e pronto. O trabalho de filmagem da tua cena não dura mais de uma hora. No máximo! 

Profundamente decepcionado, à medida que a conversa ia progredindo, eu via meu nome diminuindo de tamanho e minha carreira cinematográfica reduzida a uma mera figuração! Para meu consolo, o assassinato era o ponto central da trama do filme. E quando O amuleto de Ogum entrou em cartaz, foram muitos os cumprimentos pela minha atuação: 

— Pô, André, você morreu bonito... Parabéns! Gostei!

ZABÉ DA LOCA, 90 ANOS

Aos 90 anos, Zabé continua em plena atividade apresentando-se em diversos lugares no Brasil, em homenagem aos seus noventa anos transcrevemos a reportagem exibida em 2011 no programa Globo Rural





Em 2011, o Globo Rural apresentou uma das personagens incríveis que o Brasil produz: uma mulher da Paraíba que toca pífano, a flauta típica do Nordeste. Ela é conhecida como Zabé da Loca. Loca é uma gruta pequena. Essa reportagem explica porque a dona Isabel, ou Zabé, é da loca.

Na dureza das pedras crescem cactos. Na aridez do cenário, surgem personagens que só o sertão parece fazer brotar. É assim na região do Cariri Paraibano, no município de Monteiro. Na zona rural, há uma moradora ilustre conhecida como Zabé da Loca.

A idade não tirou seu senso de humor da dona Zabé. Ela, na época com 86 anos, passava boa parte dos dias na varanda de casa azul, observando o movimento, que não é muito, e lembrando a sua história, que não é pouca. “Eu já trabalhei muito. Trabalhei tanto que fiquei velha no tempo. Pai gritava. Nós éramos quatro. Era um em casa mais a mãe e os outros no roçado mais ele. Me criei trabalhando, minha filha”, contou Isabel Marques da Silva.

Zabé é nascida em Buíque, Pernambuco. Ainda adolescente foi para o município de Monteiro, na Paraíba, e há sete anos vive no assentamento Santa Catarina, em uma casa que ganhou do Incra no processo de reforma agrária. “Eu gosto da minha serra. Eu não vou porque a subida pra mim é ruim demais”.

Ela prefere mostrar o lugar da antiga casa sem sair da atual e aponta para um grupo de pedras. Uma delas costumava ser sua morada. É daí que vem o apelido “Zabé da Loca”. Loca quer dizer gruta, caverna. “Eu morei 25 anos debaixo dela. Era eu e os filhos. Tinha um marido, mas o marido morreu. Daí ficou eu e os dois filhos. Fui feliz, graças a Deus”.

A dona Zabé tem bronquite crônica. A audição também é bem prejudicada. “Eu fumo, mas é pouquinho”, disse.

Fôlego e ouvido são essenciais para o pífano, a arte que deu fama a ela. Zabé é conhecida como a rainha do pífano. Ela aprendeu a tocar o instrumento com o irmão aos 10 anos. “To com vontade de parar com isso porque isso acaba com o fôlego, acaba com os pulmões. O cigarro eu fumo só um pouquinho”, acredita.

Além do pífano, a vida passada na antiga loca define a figura de Zabé. O apelido acabou por virar seu nome artístico.

A equipe de reportagem tentou convencê-la a visitar a loca mais uma vez. “Sei lá, minha filha. Se for muito cedinho”, propôs dona Zabé.

No dia seguinte, bem cedinho, o grupo voltou à casa de dona Zabé. Ela já estava acordada, tomando um cafezinho. “Eu acho que não vou, não. Sei não. Eu vou resolver”, disse.

A dona Zabé teve três filhos. Uma filha foi criada por outra família, um filho é doente e o outro morreu. Quem cuida dela é Josivane Caiano.

A senhora trocou de roupa e concordou em acompanhar a reportagem. Para chegar até a antiga casa de dona Zabé foi preciso subir cerca de 200 metros. O caminho foi feito bem devagarzinho e trouxe muitas lembranças.

Josivane ajudou na subida e na conversa. “Naquele tempo eu tinha mais força”, relembrou.

O pequeno espaço formado por uma pedra inclinada e outra que serve de apoio foi bem aproveitado com a construção de duas paredes de taipa, uma nos fundos e outra na frente, com porta e janela. A dona Zabé logo se emocionou. Nas lágrimas estão a saudade do dias que ela viveu dentro da gruta, quase um terço da vida.

A dona Zabé mostrou onde costumava cozinhar. “Era assim: riscava o fósforo e fazia o fogo. Botava as panelas no fogo, botava feijão, botava carne, se quisesse. Aí pronto. Era só comer, pronto. A gente fazia de comer, comia, aí quando dava meio dia eu corria pra cama, ficava lá e dormia”, recordou.

Na loca não havia medo e dona Zabé disse que foi feliz no lugar. Ela passou necessidade, mas nunca fome. Do lado de fora, ela se lembrou do trabalho na roça para sustentar os filhos. “Eu plantava milho, plantava feijão por isso tudo. É que eu não posso mais trabalhar agora, não, mas se eu pudesse trabalhar, eu estava era aqui. Aqui é meu. Aqui eu comprei, lá foi o Incra que deu”.

Não demorou para dona Zabé sentir falta de Josivane. “Essa moça aqui, quando eu morrer, com uns oito dias, um mês, eu venho aqui buscar ela”, brincou.

“Nem pense, nem pense. Eu não vou não”, avisou Josivane.

A ligação entre Josivane e dona Zabé é quase de mãe e filha. As duas estão juntas há muitos anos. “Desde pequena eu convivo com Zabé. Minha mãe ia pra cidade e a gente ficava com Zabé, eu e mais quatro irmãos. Hoje, a gente não tem mais como se afastar. Ela adoece quando eu saio de perto dela. Acho que sente mais segurança”, acredita a jovem.

Ao lado da Loca, Zabé ensaiou as notas do Hino Nacional. A música, ao som do pífano de dona Zabé e sua banda foi parar em CD. Zabé ainda morava na gruta quando foi descoberta, aos 79 anos, pelo pessoal do projeto Dom Helder Câmara, do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Saída da loca, Zabé foi ganhando reconhecimento. Aos 85 anos, quem diria, recebeu o prêmio Revelação da Música Popular Brasileira em 2009. Ela coleciona diplomas importantes e muitas viagens de trabalho. As viagens e os shows pelo Brasil mudaram a vida de Zabé e de muita gente ao redor.

“A dificuldade quando a gente começou a viajar, sete anos atrás, era de chegar ao hotel e não saber preencher a fichinha. Eu ficava morrendo de vergonha, meu Deus do céu. Eu ficava empurrando para os outros fazerem. Aí me perguntavam ‘por que você não faz?’ e eu ficava com vergonha de dizer que não sabia ler. Quando eu comecei a preencher aquela fichinha eu disse ‘agora eu já sei, agora não tenho mais vergonha, não’. Antes de alguém pegar, eu já pegava. Falava ‘me dá a minha fichinha porque eu vou preencher a minha e as dos outros’”, revela Josivane.

Antônio Soares da Silva, conhecido como seu Pitó, tem história parecida. Ele também faz parte da banda. “Da primeira vez que fui pra Brasília com ela, fiquei na rodoviária atado, sem saber onde estava o sanitário, porque não sabia o nome do sanitário, onde era. Estava vendo, mas não sabia. Daí apareceu esse Brasil Alfabetizado, eu fui, comecei e hoje eu leio até o jornal”, conta.

Com a fama de Zabé, a já letrada Josivane fez um projeto e venceu o prêmio do Ministério da Cultura. Com a verba que recebeu, de R$ 10 mil, criou uma escola de músicos. Ele dá aula de percussão e mostra que tem muito jeito com a criançada.

A dona Zabé ensina o pífano a Daniele, de 11 anos. Ela deve aprender logo, assim como Ranielson. Neto de pifeiro, ele só foi aprender a tocar com o projeto de Zabé.

A banda dos meninos, formada há dois anos, já participa de festivais no estado da Paraíba. “Meu sonho é poder ampliar este projeto para outras áreas que não tenham Zabé como estímulo e que não tem músicos, mas que tenham pessoas ali que carreguem uma cultura, que tenham uma raiz forte na música, na cultura, na arte”, afirmou Josivane.

Cultivar a raiz cultural do nosso povo e fazer brotar desejos antes nem sonhados. Josivane que se tornar assistente social, o seu Pitó sonha em escrever suas próprias canções e os meninos da banda querem se tornar profissionais da música.

E o sonho de dona Zabé? “Meu sonho é trazer tudo de casa e vou me mudar para aqui”, revelou.

A Zabé quer voltar para a loca, mas ela também adora viajar. Ela disse que vai de carro, de avião ou do que aparecer.

Fonte: G1

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

CONFIRA OS DISCOS MAIS ESPERADOS PARA 2014 EM PERNAMBUCO

Viver listou artistas de terrinha com lançamentos previstos para o ano

Por Camila Souza


O ano de 2014 começa com um desafio para o mercado fonográfico do estado: ser tão aquecido quanto o anterior, quando aproximadamente 200 CDs e DVDs foram lançados por artistas pernambucanos ou radicados aqui. A forte produção de dois anos para cá - em 2012, cerca de 170 trabalhos chegaram às lojas, diante de 180, em 2011 - enfrenta um percalço importante nos próximos meses. Uma Copa do Mundo entre o carnaval e as eleições presidenciais.

Mas nem o calendário atípico parece desencorajar os músicos. O Viver listou projetos engatilhados (e esperados) para o ano. Alguns em fase adiantada de produção, como o primeiro disco solo de Fabio Trummer, o Trummer super sub América, que aguarda ajustes gráficos para chegar às prateleiras. E outros, na agulha, caso do álbum de estreia do Afrobombas, a banda de Jorge Du Peixe e Lula Lira, filha de Chico Science. Esse, embora pronto, deve ter o lançamento atrasado devido ao próximo CD da Nação Zumbi - um dos mais aguardados de 2014. Não seria estratégico dividir as atenções de Jorge na divulgação dos dois projetos.

O cenário movimentado é visto com otimismo por produtores. “A gente chega ou até bate a marca dos 200 CDs e DVDs de 2013. O movimento do início do ano já está bem melhor do que o do ano passado”, revelou o produtor cultural e sócio do Estúdio Base, Arthur Soares, envolvido em mais de cinco projetos simultâneos. O colega Diego Cunha, do atendimento do Estúdio Carranca, reforça. “Os horários de janeiro já estão quase todos ocupados por aqui.” Fábio Cabral, dono da Passadisco, loja especializada em música brasileira, enxerga um impulso. “Sou sempre positivo. E a Emenda Constitucional da Música pode influenciar”. A lei de 2013 isenta de impostos os CDs e DVDs produzidos no Brasil com obras de autores ou intérpretes do país.

Mas o coordenador de produção do Estúdio Fábrica, Jeff Moura, acredita que a emenda não tenha tanto poder de decisão na hora de produzir um álbum. “Trabalhamos com dois tipos de artistas. Os que têm carreiras consolidadas e utilizam os álbuns para dar continuidade. E as bandas novas que precisam desse recurso para se lançar. A EC não influi muito”, diz. Ele atenta, no entanto, para o interesse crescente no vinil: “Com o CD perdendo espaço, a procura pelo formato vem se tornando recorrente”. O músico Claudio N pensa na possibilidade. “O CD é mais cartão de visitas. Se for para investir em suporte físico, o vinil é mais interessante.” O formato importa menos. O que 2014 promete, além de muitos feriados, é música. E com sotaque pernambucano.

Confira os CDs esperados para 2014

China
Após lançar a faixa Panorama em 2013, China planeja disparar neste mês outro single do álbumTelemática - em março ou abril. O disco mostra a “velha nova cara”, adianta. Será mais percussivo, memória dos tempos da primeira banda. “Brincamos com tecnologia e a forma mais primitiva é a percussão”, conta China, que reformula a banda que o acompanhará na turnê de divulgação.

Mombojó
A banda planeja turnê nacional para este ano e, simultaneamente, grava um novo disco. A intenção é lançar álbum de inéditas no fim de março. Felipe S corre em estúdio para finalizar as dez músicas. Uma éPro Sol, single de 2013. Segundo o cantor, o Mombojó se apressa para iniciar a divulgação no canal de financiamento coletivo Queremos. Recife está na rota das possíveis cidades contempladas pela turnê.

Frevotron
O primeiro disco do projeto encabeçado por DJ Dolores, Maestro Spok e Yuri Queiroga começa a ser desenhado. Quatro músicas estão prontas. O conceito lembra o do Stank, “a música livre” feita por Dolores e Yuri juntos. “É um lance experimental e improvisado. Tem eletrônica, guitarra e, agora, sax e frevo. Não pensamos muito em formatos. As coisas fluem naturalmente”, conta Queiroga. 

Claudio N
O músico escolheu 12 músicas, reduziu e fez mais duas. O plano é fechar em dez. Até o fim do mês, entra em estúdio para gravar os vocais. A previsão é de que esteja pronto em março ou abril. No bolo, um cover de Raimundo Salgado, Não vá nessa, e uma aposta, Deixe de ser hippie. O álbum “tem humor”, diz Claudio, e se chama Ambiente familiar, em menção às referências musicais do cantor.

Afrobombas
Desde que a banda da filha de Chico Science estreou, em 2013, o público espera o primeiro álbum. Jorge Du Peixe “segurou a onda” e tratou de testar as músicas entre um show e outro. Fechou repertório e, na surdina, gravou o CD. “O disco está pronto. Tentamos formatá-lo a partir das respostas em cima do palco”, diz. A ideia é lançá-lo no segundo semestre, após o disco da Nação Zumbi chegar nas lojas.

Lula Queiroga
Com composições prontas, o pernambucano tenta encontrar um conceito para o novo trabalho. O nome, por hora, é Aumente o sonho, álbum com proposta mais “dançante e balançada”. Queiroga se diz influenciado pelo projeto solo do vocalista do Radiohead, Thom Yorke, o Atoms For Peace. Ele, inclusive, quer trazer o percussionista Mauro Refosco para contribuir. Nos próximos dias, entra em estúdio.

Nação Zumbi
No ano em que a banda faz 20 anos do primeiro álbum, Da lama ao caos (Chaos/Sony Music, 1994), sai um novo CD de inéditas. A Nação está envolvida com as gravações, quebrando jejum de sete anos - o último disco foi Fome de tudo (Deckdisc, 2007). Serão dez músicas novas, uma divulgada neste mês. Na agenda: São Paulo, Rio de Janeiro e outra cidade serão as primeiras a receber os shows.

Fabio Trummer
O primeiro disco solo do vocalista da Eddie sai no fim de janeiro. Primeiro, no site dele. “Queria variar o formato das minhas composições e tocar com outras pessoas”, contou. Do álbum, participaçam Daniel Ganjaman e Stela Campos. São nove faixas autorais de Trummer e uma de Rogerman, Eu tenho fé. O primeiro single deve ser Salve a América do Sul, cujo clipe de ensaio já circula na internet.

Tibério Azul
Dono de um processo de produção autointitulado “arcaico”, Tibério conclui as 15 composições para, assim, entrar em estúdio. “Primeiro, deixo o disco existir no mundo invisível para, só depois, torná-lo concreto”. O nome provisório do álbum é Líquido, flash do quão diluído pode ser o projeto, com parcerias de Castor Luiz, Vitor Araujo, Vinicius Sarmento e Zé Manoel. O CD sai em outubro. 

Ortinho 
Com o título provisório de Fóssil, o novo disco brecha a sonoridade dos anos 1950 e 1960, “cercado de influências do blues e rock”, ele diz. Embora com composições já feitas, inicia a pré-produção do álbum após o carnaval, em temporada por São Paulo, para ficar perto da rapaziada do projeto. São parceiros Junio Barreto, Otto, Arnaldo Antunes, Pupillo e Luiz Chagas. O CD será lançado no fim do ano. 

 (DP/Montagem )

Som da Terra
Às vésperas do carnaval, novo álbum. Nem céu, nem Sol, nem mar será divulgado nesta semana. São nove inéditas, mais uma, Banho de cheiro, em homenagem ao compositor Carlos Fernando, falecido em setembro de 2013. A banda escreveu Oiti da Hora, hino do bloco carnavalesco homônimo, e, ainda neste ano, prepara o CD comemorativo dos 40 anos de carreira, celebrados em 2015.

Silvério Pessoa
Nos dez dias de folga da turnê pela Europa em 2013, o cantor se viu diante de super estrutura de estúdio e banda motivada. Iniciou a pré-produção do novo disco ali, no Sul da França. Sangue de amor (provisório) tem dez músicas e afasta Silvério da cultura popular, lançando-o em linguagem mais universal. “É um disco que tenta traduzir as contradições de amar”, antecipa. Participam Tibério Azul, Filipe Catto, Bruna Caram e outros.

JuveNil Silva 
Com um ritmo de gravações frenético, o cantor finaliza os arranjos para lançar o primeiro disco. Na verdade, o segundo, porque Desapego (2013) foi feito na informalidade. O novo álbum, não. Foi gravado com mais recursos e dá vida a um herói que busca salvar o próprio dia. Sai em março, revelando a rotina do personagem “do acordar ao fechar dos olhos”. Wander Wildner, Aninha Martins e Rafael Castro contribuem. 

Zé Manoel 
Dois anos após o álbum de estreia, o 2º trabalho do instrumentista chega depois da Copa. Há canções prontas, inacabadas e por fazer. Embora Zé esteja desenhando um cronograma, bateu o martelo quanto às parcerias. Tem Juliano Holanda, Tibério Azul e Mavi Pugliese. A produção deve ficar com Miranda ou Kassin. Recife recebe show, além de São Paulo, Rio e Salvador. “Muitas portas vão se abrir com esse projeto”, acredita.

Irah Caldeira
A mineira radicada em Pernambuco prepara álbum para celebrar o cinquentenário, em agosto. Mas a ideia é por o disco na rua no fim de abril. “Escolhi canções que não entraram em discos anteriores e regravações, como Amor de Zabelê, de Anastácia, além de composições de Xico Bizerra e Maviael Melo”. Maciel Melo produz o projeto e corre para, com a cantora, fechar o repertório em 15 faixas. 

Maciel Melo 
O forrozeiro revela uma outra faceta com o álbum pronto (Canta coração). Planeja lançamento para o fim do ano. A intenção é esgotar a turnê junina, antes de jogar luz sobre o trabalho “mais universal”. “O forró, de certa forma, ficou limitado ao regional. Continuo com os elementos do gênero, mas com linguagem mais abrangente”, pontuou. No repertório, tem versão de Bob Dylan e de Gilberto Gil, com Soy loco por ti, América. 

Josildo Sá
Quando o cantor gravou o primeiro CD da carreira, Virado num paletó véio (1998), dois cantadores ajudaram a angariar recursos para lançar no mercado: Vavá Machado e Marcolino. Ele retribui o favor com o tributo Latada para vaquerama, após o carnaval. O projeto reúne seis toadas com arranjos e musicalidade do forró sambado. “Faz dez anos que vou à Missa do Vaqueiro. É uma forma de agradecimento”, confessa. 

A Banda de Joseph Tourton
Em fase de finalização, o segundo CD foi gravado às custas das economias de Gabriel Izidoro, Pedro Bandeira, Rafael Gadelha e Diogo Guedes. Eles usaram a acústica da mata de um sítio em Carpina (PE) e dos estúdios no Recife e no Rio, onde registraram canção com Bruno Giorgi e Caio Lima. O album 2014 sai antes do carnaval, com nove autorais. Harley, da Burro Morto (PB), tem o dedo em uma delas.

Quinteto Violado
Eu disse frrrrevo, o 33º disco do grupo pernambucano, já tem data e local de lançamento: 19 de janeiro, às 20h, no Dona Lindu. O título excede o significado. “É um grito de carnaval a fim de chamar a atenção para o gênero”, diz o tecladista Dudu Alves. Além das inéditas, o álbum tem frevos marcantes, com releitura “free nordestina”. A intenção é 
renovar o estilo. 

Alceu Valença 
O 29° disco será lançado no dia 8 de fevereiro, no Rio de Janeiro. É inteiramente dedicado aos gêneros do carnaval de Pernambuco, como frevos de bloco e cirandas. Tem recriações autorais, como Amigo da artee Olinda, e canções não lançadas em discos de carreira, como Frevo dengoso, no site do cantor, em 2010, e Sou eu teu amor, parceria com Carlos Fernando. Recife conhece o trabalho no carnaval. 

Confira o single de China, Panorama, e a canção de Claudio N, Bad trip:




terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A DIVINA TRAGÉDIA DE BELCHIOR - SOU APENAS UM RAPAZ LATINO-AMERICANO SEM DINHEIRO NO BANCO (CAPÍTULO 03)

Procurado pela polícia e hospedado de favor na casa de fãs, o compositor de clássicos como “Divina comédia humana” protagoniza uma história de amor e decadência

Por Marcelo Bortoloti


Nos últimos anos, Belchior se manteve à distância de qualquer atividade remunerada. Em 2009, quando o desaparecimento ganhou repercussão nacional, a montadora General Motors ofereceu um cachê milionário para ele aparecer num comercial. Belchior deveria dizer que, com o novo carro da GM, até ele voltava. Belchior recusou o convite e ficou bastante chateado com o teor da proposta. O empresário Jackson Martins diz que recebe constantes pedidos para shows, mas não consegue localizá-lo desde 2007. “Pago as dívidas dele se ele voltar”, diz. Outro empresário que trabalhou com Belchior por quase 30 anos, Hélio Rodrigues, diz que o desaparecimento fez aumentar o interesse do público. “Depois do escândalo, ele consegue lotar qualquer casa de espetáculo. Com dois shows em São Paulo, eliminaria as dívidas”, diz.

Hoje, a maior pendência de Belchior é o processo trabalhista ganho pelo secretário Célio, no valor de R$ 1 milhão. A causa está julgada. Um apartamento de propriedade do músico em São Paulo está em execução. A dívida da pensão para a ex-mulher Ângela soma cerca de R$ 300 mil. Mas cresce a cada dia, já que Belchior continua obrigado a pagar R$ 7 mil por mês. “O sumiço só agravou a situação dele. Se não tem dinheiro, deveria enfrentar juridicamente o processo, argumentando que não pode pagar”, diz Paulo Sato, advogado de Ângela. A pensão atrasada da filha que mora em São Carlos gira em torno de R$ 90 mil. As dívidas com hotéis cobradas na Justiça somam R$ 47 mil. Não são impagáveis, desde que Belchior volte a se apresentar.

A derradeira fonte de renda de Belchior eram os direitos autorais de suas músicas. Segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), nos últimos cinco anos foram depositados R$ 367 mil referentes à execução pública de suas obras. Parte do dinheiro ficou retida quando as contas bancárias foram bloqueadas. Desde então, Belchior não contou com nenhum outro tipo de renda.

MÚSICA, ÍDOLOS E PODER (DO VINIL AO DOWNLOAD) - PARTE 30



CAPÍTULO 30 

O nosso estúdio de gravação ficava num edifício da avenida Rio Branco. Era muito velho, muito pequeno e, pior ainda, ficava logo ao lado da lixeira de um prédio de uns dez andares, onde as ratazanas passeavam à vontade. Os equipamentos de gravação datavam de muitos anos, sem qualquer confiabilidade quanto à qualidade. Umberto Contardi, gerente do estúdio, liderava com Menescal, Jairo e Manoel o movimento para que eu finalmente encarasse a resolução daquele grave problema. 

Com a ajuda do presidente da Philips eletrônica brasileira, consegui uma audiência na reunião 
semestral da diretoria do board Philips/Siemens em Amsterdã, cuja finalidade era examinar as solicitações de investimentos extraordinários das filiais. Após demoradas negociações, quando definimos a ordem de grandeza do investimento, surgiu um acordo de princípios, que nos obrigava a seguir as diretrizes da Philips eletrônica brasileira para a construção dos prédios, e a perícia dos técnicos holandeses para a escolha dos equipamentos de gravação. 

Poucas semanas depois, uma comissão de peritos holandeses chegou ao Rio. Ainda com os ternos com que embarcaram, sem terem ido ao hotel, foram visitar o local que eles próprios tinham escolhido a partir de um estudo que fizeram na Holanda sobre o mapa da cidade do Rio de Janeiro. Para espanto do Menescal e do Umberto, que os ciceroneavam, o bairro que sugeriam para a construção do estúdio era Marechal Hermes — aparentemente ideal, por ser equidistante do Aeroporto Internacional do Galeão, da estrada Rio-São Paulo, da Rodoviária, do Cais do Porto e do centro da cidade. Ao chegarem a Marechal Hermes, com o sol beirando os quarenta graus, os holandeses já suavam desesperadamente ao descer dos carros. Olharam para o desolador espetáculo da pobreza tropical: alguns operários comendo em marmitas; outros descansando, meio dormindo, embaixo das marquises; os vira-latas, em bando, fazendo alarde; e, finalmente, um burro aqui, outro ali, pastando pacificamente. Não havia dúvida: Marechal Hermes não servia para se construir um moderno complexo de gravação e muito menos para se levarem ali músicos e artistas. A caravana saiu em direção ao hotel na Zona Sul e, durante o almoço, os holandeses perguntaram a Umberto e Menescal se tinham alguma sugestão. A resposta estava na ponta da língua: 

— São Conrado ou Barra da Tijuca. 

Após intermináveis discussões e muitas hesitações, a sugestão foi aceita. Compramos vários terrenos na Barra — ainda semi deserta naquele 1974 — e começou a fase do planejamento da construção, a ser realizada por uma firma indicada pela Philips brasileira, conforme os entendimentos mantidos na Holanda. Porém, por ironia do destino, a firma quebrou depois de cinco meses do início da obra. Os holandeses queriam que a gente comprasse seus equipamentos de gravação, que custavam muito mais caro e eram muito mais delicados que os americanos, cujos fabricantes, aliás, dispunham de uma perfeita organização para contrabandear para o Brasil as peças de reposição. Depois de muitas brigas entre Umberto e os holandeses, enfim compramos os equipamentos americanos. Dois anos depois, sob os protestos dos músicos, que não queriam ir até a Barra gravar, o estúdio estava pronto. E era o estúdio mais sofisticado e moderno de todos os estúdios do grupo Philips/Siemens.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

MORRE MÁRCIO ANTONUCCI, DA DUPLA 'OS VIPS'

Cantor estava internado em Angra dos Reis após contrair uma pneumonia



Rio - Morreu, nesta segunda-feira, o cantor e produtor musical Márcio Antonucci, 68 anos, conhecido como Márcio Vip, da dupla vocal Os Vips. Márcio estava internado em um hospital de Angra dos Reis, no Sul Fluminense, após contrair uma pneumonia e morreu de complicações da doença. A ex-mulher do cantor, Lilian Knapp, também da dupla Leno e Lilian, repassou a informação por meio de uma rede social.

Márcio começou a carreira com Ronaldo Luís Antonucci em 1964. Os dois gravaram músicas de Roberto Carlos e regravaram clássicos dos Beatles, fazendo muito sucesso durante a Jovem Guarda. A carreira do músico e produtor musical também foi marcada pela direção de programas em emissoras de televisão, como Rede Globo e Record.

Ainda não há informações sobre a data e local de sepultamento do cantor. 


Fonte: O Dia

domingo, 19 de janeiro de 2014

COM CAMALEÃO I ADEMIR JUNIOR DÁ INÍCIO A COMEMORAÇÃO DE SEUS 25 ANOS DE CARREIRA

Não poderia existir nome mais apropriado para um trabalho elaborado por este músico que traz em sua bagagem, ao longo de duas décadas de música, os mais variados ritmos

Por Bruno Negromonte



Os camaleões possui uma certa capacidade de imitar alguns ambientes para que possam ser confundidos com eles. Tal metamorfose é intitulada de mimetismo, e isso ocorre quando o animal troca de cor conseguindo controlar a concentração de pigmento nas células de sua pele. No âmbito sonoro alguns artistas trazem em sua música tais características, agregando a sua música capacidades que os assimilam a tal lagarto. Com uma astúcia esmerada ao longo das últimas duas décadas o músico, maestro, compositor e arranjador brasiliense Ademir Junior traz em seu som tais adjetivos, constituindo um trabalho bastante peculiar mesclado pelos diversos gêneros e influências que constituem a sua rica sonoridade, e isso dá respaldo suficiente para este projeto que o músico vem desenvolvendo, uma trilogia que já conta com o primeiro volume da série cujo título é Camaleão I. Este trabalho que chega objetivando a comemoração das bodas de prata de Ademir com a música, traz como marca aquilo que constituiu a carreira do músico brasiliense desde o início de suas atividades como músico: a capacidade de integrar-se aos diversos gêneros existentes de modo uníssono, não só mesclando de modo harmonioso todas as expressões sonoras que absorve ao seu redor, mas também transformando isto tudo que assimila em algo maior, que busca fugir daquilo que é convencional adicionando peculiaridades bastante pessoais a esta nova expressão sonora que produz. E são essas peculiaridades que fazem a diferença, fato que pode ser atestado não só nas diversas apresentações do músico pelo país afora, mas principalmente através dos registros fonográficos que Ademir Junior vem somando a sua biografia desde 2002, quando lançou o álbum "Gratidão", título de cunho religioso. Junior ainda traz em sua bagagem títulos como "Vitória na cruz" (2007) e "Brasilidades" (2009), que são provas documentais que atestam tais afirmações. 



Seu interesse pela música é possível afirmar que vem ainda da infância, quando ao lado do pai deu início aos seus estudos musicais a partir da clarineta. Cerca de três anos após o início destes estudos Ademir ingressa na Banda do SESI, onde permaneceu pelos três anos seguintes. Após este período integra a Banda Sinfônica da Escola de Música, onde torna-se solista e tem a oportunidade de participar de alguns concertos para clarineta. Posteriormente passa a integrar a Orquestra Cristã de Brasília, onde desenvolve de modo mais intenso as suas habilidades musicais, principalmente a partir de sua inserção na UNB, onde tem a oportunidade de estudar e conhecer conceituados instrumentistas tais quais Idriss BoudriouaLuiz Gonzaga Carneiro, Lula Galvão e Ian Guest. No entanto é válido registrar que o interesse pelos estudos do saxofone só veio a acontecer quando o artista já encontrava-se com 18 anos como aluno da UNB e sob forte influência de nomes como Widor Santiago e Moises Alves. Seu talento nato fez com rapidamente o musicista desenvolvesse métodos e técnicas próprias para a execução do saxofone, fazendo-o destaque não apenas no cenário musical brasiliense, mas também, aos poucos, em uma escala cada vez maior desde 1994. Seja como maestro, seja executando saxofones e clarinetes, seja como arranjador ou compositor Ademir Junior vem galgando espaços cada vez mais expressivos e significativos neste cenário constituído por uma lista de relevantes instrumentistas como PixinguinhaVitor Assis BrasilMauro SeniseLéo GandelmanNailor ProvetaMarcelo Martins e tantos outros que fizeram a música instrumental brasileira chegar ao patamar que hoje ela encontra-se.

artista também atua de modo didático periodicamente em diversos festivais por todo o país, ora como professor de improvisação, ora como maestro. Seu curriculum também conta com projetos paralelos a sua carreira solo como é o caso da Brasília Big Band, hoje chamada de Orquestra JK. Idealizada  em 2009 pelo próprio Ademir Junior, a big band é constituída por 17 músicos profissionais brasilienses e vem apresentando-se em diversos festivais de música em todo o país desde a sua criação. O grupo já atuou ao lado de expressivos nomes da música popular como foi, por exemplo, do concerto realizado no Espaço da Côrte em comemoração ao dia do Policial Federal onde a orquestra apresentou-se ao lado da cantora mineira Paula Fernandesexecutando cinco de suas músicas. Além disso o músico é responsável pela idealização do curso de improvisação, que surgiu em Brasília como matéria do curso internacional de verão na escola de música e já completou 20 edições expandindo-se por todo o país, motivando e educando músicos de todas as idades na arte e no conhecimento técnico da improvisação e atua também como arranjador da Banda do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. Já se apresentou e gravou com vários artistas, entre eles, Hamilton de HolandaMat’naliaKiko FreitasJhonny Alf, Ney ConceiçãoRoberto MenescalRosa PassosElza Soares, Toninho Horta, Guinga entre outros expressivos nomes nacionais e internacionais como é o caso do Grupo Solo Brasil, com quem já viajou 16 países com o projeto ‘Uma viagem através da Música Popular Brasileira’.



Nesta trilogia a qual se propõe Ademir, o primeiro volume apresenta nove canções permeadas pelos diversos estilos que estruturam a formação musical do artista, fazendo jus a um título que caiu como uma luva para o projeto a qual se propõe: agregar os diversos ritmos que estruturam e estruturaram a sua formação musical. Quando abordado acerca da trilogia Junior responde: "Todos esses estilos agregados apontam para um caminho que ainda não se sabe onde vai dar, mas que não é a volta de nenhum desses e sim, algo que ainda não vivemos, pois tudo isso se chama evolução.A tessitura do projeto conta com nomes como o do saxofonista norte-americano Bob Mintzer, os guitarristas Alexandre Carvalho e Lula Galvão, o pianista Vitor Gonçalves, o saxofonista francês Idriss Boudrioua, o trompetista Jessé Sadoc, o baterista Rafael Barata e o baixista Jeferson Lescowich que expõem de modo preciso técnica e desenvoltura em canções como "JC" (uma homenagem ao saxofonista e compositor de jazz norte-americano John Coltrane), "Feelings", "Elegia pro Freddie" entre outros temas da lavra de Ademir Junior e de Jessé Sadoc, que assina três das faixas presentes neste arrojado projeto que, de modo veemente e eficaz, tem a capacidade de unificar distintos elementos sonoros sem perder a liga que o transforma na unidade coerente como pode-se ouvir. Tal qual a tez do multifacetado camaleão, Ademir aprendeu a ser assim ao longo dessas duas décadas e meia na qual vem transformando-se em muitos, mas sem perder a sua essência.


Maiores Informações: 
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Wordpress - http://ademirjunior.wordpress.com
Telefones: (61) 99812167 / (61) 82008162
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O álbum Camaleão pode ser encontrado nos seguintes endereços:
Reverbnation - http://www.reverbnation.com/store/index/artist_513118
Cdbaby - http://www.cdbaby.com/cd/ademirjunior2
Itunes - https://itunes.apple.com/us/album/pro-jt/id577931943?i=577932066&ign-mpt=uo%3D4

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

JOÃO TAUBKIN - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Um baixo, guitarra, violão e uma bateria; eis o João Taubkin Trio, um projeto contemporâneo constituído por diversos gêneros em uma coerente unidade sonora

Por Bruno Negromonte




Se alguns sobrenomes pesam dentro da música o que João traz é um deles. João Taubkin é filho do conceituado pianista, arranjador, compositor e produtor Benjamim Taubkin, mas vem trilhando o seu próprio caminho no universo fonográfico desde 2002, quando  participou da gravação do CD "Danças, jogos e canções", da Orquestra Popular de Câmara. De lá para cá veio dando vazão a sua sonoridade não só acompanhando o seu pai, mas através de diversos projetos acompanhando outros não só outros grandes nomes da música brasileira, tais quais Paulo MouraLéa Freire, Mônica Salmaso entre outros; mas também diversos artistas de outras partes do mundo como o argentino Carlos Aguirre, o indiano Madhup Mudgal e o suíço Laurence Revey como pode-se atestar através da pauta QUAL É A SUA TRIBO?, publicada recentemente aqui mesmo no Musicaria Brasil. Não deixando as parcerias de lado, atualmente João vem dedicando-se ao projeto João Taubkin Trio, que ao lado do baterista Bruno Tessele e do guitarrista Zeca Loureiro vem brilhantemente conseguindo encontrar o  eixo central da alquimia sonora a qual se propuseram.

De modo bastante solicito João Taubkin disponibilizou um pouco do seu tempo para nos presentear com esta despretensiosa e exclusiva entrevista que traz, dentre outras coisas, curiosidades a respeito de sua biografia e de sua carreira tais quais como o seu caminho cruzou com outros componentes do seu trio, suas influências enquanto músico e quais os projetos para este ano que acaba de começar. Boa leitura! 


Quem conhece a sua biografia sabe que você tem um histórico familiar de envolvimento com a música, mas isso nem sempre é fator determinante para que nos tornemos músico. Quando foi que você atinou para a música por conta própria? 

João Taubkin - No inicio do ginásio criei um grupo de rock com os amigos e desde então nunca mais parei. Na época tocava guitarra. Quando terminei o colegial não sabia o que eu queria fazer, entrei no cursinho no embalo e nesse cursinho fiquei por 1 mês. Cabulava muitas aulas e comecei a perceber que não tinha sido uma boa escolha. A partir daí, decidi me aprimorar como músico e o instrumento que escolhi foi o baixo (que já tocava no colegial). Fui fazer aula com o Celso Pixinga, que foi uma pessoa importante e por volta de 2001, meu tio Daniel Taubkin me chamou pra fazer parte do grupo dele que era formado por grandes músicos como o percussionista Guello, João Crystal, Emerson Villani e Gigante Brazil. O Gigante em especial, foi uma pessoa muito importante nesse inicio, principalmente pela generosidade. Daí em diante, comecei a tocar com o meu pai e com outros grandes professores. Essa foi a minha faculdade.


Você passou todo o ano de 2010 na maturação da ideia e na elaboração daquilo do molde que você buscava para o projeto. Ao longo desse tempo houve alguma mudança significativa na concepção do João Taubkin Trio?

JT - Quando você não está mais sozinho, as pessoas que estão no processo (Zeca e Bruno) passam a influenciar o trabalho. Isso é inevitável. 


Como se cruzaram os caminhos do Bruno Tessele e do Zeca Loureiro com o teu?

JT - O curioso é que conheci ambos na oficina de musica de Curitiba em momentos diferentes no inicio do ano 2000. Na experiência dessa oficina, os alunos de todos os cursos se encontravam nos intervalos pra fazer um som. Foi assim que a gente se conheceu, já tocando. 


Todas as faixas presentes neste projeto levam a sua assinatura. Todas elas foram concebidas para atender a este projeto ou já havia alguma engavetada que acabou encaixando-se a esta proposta?

JT - A maioria das músicas presentes no disco não foram feitas pensando na formação de trio. Quando o trio se formou, eu adaptei as músicas.


Certa vez em entrevista seu pai comentou que haveria dois tipos de música: uma que atende a expectativa do mundo e aquela que há dentro de você. O grande desafio seria conciliar essas duas realidades. Você quando compõe leva em consideração essas realidades e procura adequá-la do modo mais harmonioso possível ou não?

JT - Eu faço música sem pensar nessas questões. Ela nasce de uma expressão genuína. Se eu gostar, coloco ela no mundo.


Ser filho de um músico do gabarito do Benjamim facilita as coisas ou a responsabilidade só aumenta? Essa inevitável referência ao nome do seu pai o incomoda? 

JT - A responsabilidade aumenta mas ao mesmo tempo, ser filho dele, me possibilitou estar em contato com a música e músicos da melhor qualidade. Essas experiências sempre me colocaram em situações de muita exigência, que foi muito bom pra mim. Nunca consegui um trabalho por ser filho dele mas as experiências que tive ao lado dele são inesquecíveis. A referência que as pessoas fazem em relação ao meu pai é inevitável, mas quando as pessoas conhecem a minha música fica claro que a minha identidade é outra.


Quais as suas maiores influências que você destacaria na concepção de sua sonoridade além do Benjamim? 

JT - Minhas influências são diversas mas destaco como principais o Led Zeppelin e o Milton Nascimento. Esses sons mudaram a minha vida.


É possível perceber que sua música não faz concessão. Há ramificações sonoras diversas, por exemplo, neste seu primeiro álbum. Passar longe do conceitual é uma busca constante em sua sonoridade ou é algo espontâneo?

JT - A minha busca é pela identidade. Ela nasce como resultado das experiências que vivi ou inspirada por um filme, um show, uma viagem, uma pessoa, um lugar. 


A música instrumental brasileira apesar de riquíssima e de grande sucesso junto a festivais no Brasil e no Exterior não tem o espaço devido nos grandes meios de comunicação. Você acredita que este tipo de cenário é reversível ou tornou-se algo crônico, uma vez que a desvalorização de nossos valores culturais é algo que está presente em nosso consciente coletivo já há muitos anos.

JT - É uma situação delicada pois o ‘jabá’ é um sistema muito atrativo pra quem quer fazer dinheiro. Por exemplo, o artista paga pra rádio, a rádio toca a música infinitas vezes e com isso ele vende mais discos, mais shows e consegue continuar pagando esse jabá. É um sistema que se retroalimenta. Falo da rádio nesse exemplo, mas incluo todos os meios de comunicação. Daí cai na questão da educação. As pessoas são educadas por esses veículos. Esse sistema impossibilita a diversidade da informação. Quem não tem contato com uma cultura de qualidade tem o acesso muito mais restrito, pois esses veículos constrõem um muro de concreto na entrada do caminho que possibilitaria isso. Não acho que a música instrumental tenha que ser uma música das grandes massas, ao meu ver ela não tem esse perfil, mas o espaço que ela ocupa é muito pequeno, a fatia do bolo deveria ser mais generosa. Apesar disso, tem gente séria que divulga a boa música, com menos força que esses grandes veículos mas cumprem um papel muito importante.


Quais os projetos para este ano de 2014?

JT - Em 2014 o trio fará seu primeiro show fora do país, em um festival de música na Colômbia. Fora isso terei o prazer de participar de projetos de outros artistas. Sou muito feliz com o meu projeto, mas tenho muito prazer em fazer parte de outros trabalhos. Isso garante o meu sustento e me enriquece como ser humano. Amo o que faço! Eu vivo cada dia. Acho que isso afina o olhar para as coisas e abre um monte de possibilidades. 



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