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quarta-feira, 30 de abril de 2014

DORIVAL CAYMMI, O NETUNO DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Por Bruno Negromonte




A música popular brasileira, como todos devem saber, sempre foi constituída pelos mais variados elementos rítmicos. Isso se deu a partir da absorção e fusão das diversas influências culturais que sempre constituíram a nossa identidade ao longo de nossa história a partir da miscigenação a qual o povo brasileiro foi submetida ao longo de todos esses anos de formação. A junção desses elementos através das mais distintas culturas acabou por enriquecer nossa música de modo sem igual, fazendo-a uma das mais respeitadas ao redor do mundo por peculiaridades que são encontradas apenas a partir dessa coisa tão genuína e brasileira. Ao longo da formação dessa sonoridade tão particularmente nossa é preciso destacar alguns nomes que servem e serviram não apenas para fundamentação dessa matriz sonora, mas para a constituição de certo modo de nossa identidade cultural a partir do século XX. Por mais que tentemos pontuá-la a partir de alguns marcos, há nomes que de tão emblemáticos transpõe-se ao tempo como é o caso de Dorival Caymmi, que apesar de uma obra escassa em quantidade traz nestas canções uma imensurável qualidade que acabou tornando-se imprescindível para a constituição da música brasileira como hoje ela é. Pontuada em três momentos distintos, a obra de Dorival Caymmi traz em cada uma delas uma ótica singela e aparentemente óbvia, mas que no entanto só foi possível ser observada a partir da perspicácia do mestre baiano. Só Caymmi soube dar ritmo as peculiaridades de uma Bahia que hoje não existe mais através de sua gente e seu cotidiano; quando já morador do Rio de Janeiro, na década de 1950, foi capaz de compor diversos samba-canções fazendo, de certo modo, do seu violão o local onde o Rio fez-se mais baiano. Sem contar nas canções praieiras, fase insuperável deste cantor que fez-se Netuno em versos e canções impregnadas de mar.



E eu, de modo particular, tenho uma grande feição pelo mestre baiano, pois desses grandes nomes da música brasileira que hoje encontram-se no panteão da cultura nacional Dorival (juntamente com Jobim) foram os únicos que eu tive a oportunidade de conhecer quando os mesmos ainda encontravam-se vivos. O contato com a obra do Tom foi em uma dimensão menor, no entanto com os versos e melodias de Caymmi não... da grande festa em forma de show pela passagem dos 80 anos do mestre em diante fui ao pouco me habituando a ouvir "Oração a mãe menininha", "A vizinha do lado", as canções praieiras e tantas outras que fazem parte desse universo tão particular do mestre baiano. Em seguida tive a oportunidade de estar presente em um dos shows em comemoração aos 90 anos de Caymmi. Era uma grande celebração onde os três talentosíssimos filhos curvavam-se diante da obra do pai.

A obra de Caymmi nos encanta tal qual como a lenda do canto da sereia. A batida do violão, o modo simples de dizer tudo e tantas outras peculiaridades condicionam-nos de modo que torna-se impossível não admirá-lo e venerá-lo. Essa afirmação pode ser atestada a partir da opinião de alguns dos grandes nomes de nossa música a partir da segunda metade do século XX como Chico Buarque, Caetano Veloso entre tantos. João Gilberto tem uma sucinta, porém irretocável definição para o mestre baiano: "Caymmi é o verdadeiro gênio da raça". Se vivo estivesse (Caymmi faleceu em 2008, aos 94 anos de idade) este mês esse ícone da música completa um século de existência. Mas não importa a sua presença física, pois sua obra de tão imensurável que tornou-se hoje faz-se onipresente tal qual Gil escreveu para homenagear seu grande ídolo na década de 1990 a partir dos versos de Buda Nagô:  "Dorival é terra... Dorival é mar... Dorival tá no céu... Dorival tá no chão"


Caymmi é isso. Simplicidade e sofisticação, tradição e modernidade, vanguardismo e saudades a partir da sonoridade de um violão que, segundo Paulo César Pinheiro, é composto por cordas de sargaço e pedaços de uma velha embarcação capaz de navegar as águas da canção de modo ímpar. Talvez por ter sido coroado por Yemanjá para tornar-se cavaleiro do oceano com a sua voz de arrebatação só ele tenha tido a capacidade de desvendar os mais recônditos segredos de todas as marés; talvez isso tenha se dado devido a sua condição de  Deus do mar reencarnado, de canoeiro de São Pedro como tão bem definiu Pinheiro. Como criador abençoado foi capaz de criar personagens que hoje permeiam o imaginário popular como poucos. Quem não idealizou João Valentão, Dora, Marina, Rosa Morena, Doralice e tantas outras figuras do seu repertório. Parabéns Caymmi, obrigado não apenas pelo legado deixado, mas também pela prole de talentosíssimos cantores, compositores e músicos tais quais Dori, Danilo e Nana Caymmi que você nos presenteou. E obrigado sobretudo por ter deixado, de modo indelével, a sua assinatura dentre as principais influências que me levaram a essa arrebatadora paixão pela música brasileira. Que o seu nome ecoe ainda por muitos e muitos séculos e sempre sendo lembrado como um dos maiores.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

MESTRE MARÇAL – A BOA MALANDRAGEM DE UM BAMBA INESQUECÍVEL

2014 completa-se duas décadas que o cantor e compositor faleceu


Por Marcos Salles



No final do ano de 1993 ganhei um presente dos céus. Tive a honra de dirigir e estar no palco conduzindo, com a cantora Karla Prieto, o show de uma lenda viva do samba. E foi aqui na Lapa. No Casa Branca (nome que o Asa Branca teve por algum tempo). Marçal Entre Amigos era o nome do show deste personagem, dos mais folclóricos da galeria do samba. Ele é Nílton Delfino Marçal, sinônimo de elegância, de ritmo e mais conhecido como Mestre Marçal. Era pra ser apenas um final de semana, mas foi tão bom e tinha tantos amigos querendo participar que virou uma temporada de um mês. E tive a sorte de ter feito o roteiro, levado pelas boas histórias deste fantástico sambista.

Para os que não sabem, Mestre Marçal, que nos deixou em meados de 1994, trazia o samba na veia. E trazia mesmo, por ser filho de um baluarte do início das escolas de samba, o compositor Armando Marçal, da dupla Bide e Marçal, bambas do Estácio. A dupla, aliás, participou com Ismael Silva na fundação da Deixa Falar, primeira escola de samba. Mas isso é papo pra outra coluna. Nesta, ficamos com Mestre Marçal e sua manha de bom malandro, termo tão desgastado nos dias de hoje.

Ele nasceu em 1930, no subúrbio carioca de Ramos, e aos nove anos de idade já desfilava na Recreio de Ramos, atual Imperatriz Leopoldinense. Sua especialidade era a percussão. Do tamborim à cuíca, passando pelo instrumento que você quiser, ele dava show. Ao lado de Luna, Eliseu e do baterista Wilson das Neves formava um time da elite dos músicos de estúdio. E num tempo em que os estúdios de gravação não tinham os canais separados. Tinha de ser de primeira, para não ter de começar tudo de novo. 

Em sua trajetória na música o que Marçal tinha de talento tinha também de figura. Ele era uma figuraça de carteirinha. E suas histórias são repetidas nos dias de hoje por seus fãs, como eu e o músico Márcio Wanderley. Eram essas histórias que pontuavam o show no Casa Branca. E, muitas vezes, chorávamos de rir no palco. Vou lembrar-me de algumas destas histórias.

Logo no primeiro conjunto musical que trabalhou, era o único que enxergava. Isso mesmo. Eram oito cegos. E, por quase dois anos ele fazia vezes de guia. “Eu dava o braço a um e vinha trazendo aquela manada toda. Um dia eles se desmontaram e ficou a metade no meu braço e a outra metade na estrada. Eu não sabia se voltava pra calçada ou se ia pegar o resto”, contava o Mestre.

Outra que ele contava no show foi da vez em que foi chamado para gravar um jingle: “Mas a minha língua é meio enrolada, tem hora que ela não vai. O jingle era “poupe na letra uma nota preta”. Eu fui pro sacrifício. Fui pra boca de ferro (microfone), mas não deu um quilo certo. Aí, eu disse pro maestro Cipó, o senhor me dá a mixaria da cuíca que já toquei, pois o buraco do pano tá vazio e preciso ir ao mercado amanhã”. Para convencer o amigo, Cipó disse que ele parecia um canário, por conta de sua voz. E Marçal mandou de primeira: “Mas eu nunca vi um canário preto, você tá me enganando”. E ficou assim.

E nós também. Na próxima semana trago as impagáveis tiradas de Mestre Marçal. Fui. Mas volto.

ZEH ROCHA, 60 ANOS

Começou a tocar violão ainda criança, graças a um presente de uma tia. Viveu até os 15 anos no bairro da Encruzilhada, onde teve contato com diversos ritmos pernambucanos, como o frevo e o maracatu. Começou a compor ainda adolescente, quando estudava no Colégio de Aplicação em Recife. Em 1985, passou a residir na cidade de São Paulo e dois anos depois voltou a morar em Recife.

Iniciou a carreira artística na década de 1970. Entre seus parceiros está o cantor e compositor Lenine, de quem se tornou amigo na década de 1970 e com quem integrou o grupo Flor de Cactus que, em 1978, gravou um compacto simples com as músicas "Festejos", de sua autoria e "Giração", de Lenine.

No início da década de 1980, apresentou-se com Lenine em Olinda, Recife, João Pessoa e Campina Grande. Em 1981, o grupo vocal Céu da Boca gravou a música "Bumba-meu-boi da boa hora", de sua autoria, em disco independente.

Em 1981, a composição "Prova de Fogo" parceria sua com Lenine, fez parte do Festival da Globo daquele ano, pela interpretação de Lenine. Em 1983, a referida música, juntamente com "Maracatu silêncio", esta última com Erasto Vasconcelos e "Raoni", foram gravadas no LP "Baque Solto", de Lenine e Lula Queiroga. Por essa época, Elba Ramalho gravou o maracatu "Toque de Amor", feito em parceria com João Lira.

Em 1985, foi para São Paulo, a fim de dar sequência à carreira artística e lá trabalhou com a banda Capote Valente. Em 1986, as músicas "Amor de papel"; "Mudança do tempo" e "Maracatu nação brasileira", as três com Vicente Barreto, foram gravadas no LP "Nação brasileira", de Vicente Barreto. 

Em 1996, o grupo vocal Boca Livre regravou a música "Maracatu silêncio". Nesse ano, sua composição "Loa de praia", foi gravada pelo grupo Asas da América, tradicional trio elétrico do carnaval pernambucano. A música se transformou num grande sucesso no período carnavalesco daquele ano. 



Em 1997, teve a música "Aboio Avoado" gravada por Lenine no CD "O dia em que faremos contato", da BMG.

Em 2000, lançou "Loas, lendas e luas", seu primeiro CD solo, que começou a ser gravado dois anos antes. Nesse disco, misturou maracatu, forró, samba, crianda e música sertaneja. O CD, que trazia 13 músicas, foi lançado de forma independente e contou com as participações especiais de Lenine, Antonio Nóbrega e Zé Renato. Entre as faixas, está "Tambores, terremotos, marés", que foi inscrita no Festival da Música Brasileira, promovido pela Rede Globo. Nesse ano, apresentrou-se dentro do projeto "Canto na Praça", no bairro dos Guararapes. Na cidade de Recife, PE. Também estão presentes no disco as músicas "Salve a nação pau Brasil"; "Maracatu das ondas"; "Aboio avoado"; "Toada para Maria bonita"; "Mundana"; "Tanta sede ao pote"; "Severina buscapé"; "Ciranda buscada"; "No topo da palmeira" e "Convite ao encantamento", todas de sua autoria, além de "Dia feliz", parceria com Lenine. 

Em 2001, teve a música "Samba escrachado", com Lenine lançado por Carol Sabóia. Teve ainda músicas gravadas, entre outros, por Geraldo Maia, Gisele Tigre, Eliane Ferraz, Elba Ramalho e o grupo Boca Livre. Entre seus sucessos estão as músicas "Morena rara" e "Maracatu silencioso".

MÚSICA, ÍDOLOS E PODER (DO VINIL AO DOWNLOAD) - PARTE 44



CAPÍTULO 44 

Durante o Campeonato Mundial de Futebol de 1986, Nesuhi, fanático inveterado, mudou-se para a Cidade do México, e lá conheceu um cantor chamado Luis Rey, pai de um menino de 15 anos, que gravava na Odeon, na Espanha, e que, nessa idade, já tinha vencido um Festival de San Remo, na Itália. Luis Rey — como veremos — estava sempre em constantes conflitos com o resto do mundo e, naquele momento, seu conflito era com o diretor artístico da Odeon na Espanha, que queria impor a seu filho um percurso artístico do qual ele discordava, e procurava uma outra companhia de discos onde seria tratado melhor. 

Nesuhi pediu que eu desse uma olhada no menino. Viajei, então, para o Chile, e fui assistir ao importante Festival de Valparaíso, para conhecer o Luis Miguel. Os artistas se apresentavam num anfiteatro ao ar livre, à beira do mar, para um público de vinte a trinta mil pessoas. O ambiente era como em qualquer festival do mundo: normalmente histérico. Porém chegou ao paroxismo quando Luis Miguel irrompeu no palco, recebido por gritos e choros enlouquecidos de milhares de meninas. 

Fiquei muito impressionado por sua beleza ainda infantil e por sua performance — embora cantasse canções pop corriqueiras, o jeito de interpretá-las era fabuloso. Ele já tinha uma sensibilidade musical fantástica, um suingue extraordinário. A movimentação no palco era vigorosa. A voz, naturalmente soul, tinha uma riqueza e uma sonoridade excepcionais para a idade. Não havia dúvida, tratava-se de um grande artista. Porém, naquele instante, havia um risco: estando na puberdade, poderia perder aquela voz magnífica de um dia para o outro. Levei um vídeo que deixou todo mundo entusiasmado e, graças a Ramon Lopez, futuro sucessor do Nesuhi, contratamos o Luis Miguel. 

Luis Miguel não perdeu a voz e o seu sucesso foi instantâneo. O que não foi fácil foi administrar Luis Rey, o pai. Era um caricatural personagem de quarenta e poucos anos de idade, muito baixinho, os cabelos negros penteados com Gumex, um fino bigode “à la Zorro”. Usava ternos impecavelmente passados, espalhafatosos, calças boca-de-sino e sapatos com saltos de cinco centímetros de altura. Era de uma arrogância doentia, quase monstruosa. Não deixava ninguém se aproximar do filho, que mantinha encarcerado nos quartos de hotéis, em companhia de prostitutas, soltando-o no palco na hora de cantar. 

Porém, o caótico Luis Rey, em meio à sua loucura, tinha um excelente faro artístico para orientar o repertório do filho e direcionar sua carreira a longo prazo. Dizem as más línguas que Luis Rey, além de cuidar da carreira do filho, tinha ou tivera ligação com uma autoridade mexicana, foragida em Miami por ser — ou ter sido — chefe do tráfico de drogas entre o México e os Estados Unidos na década de 1970. A tal autoridade, diziam as mesmas más línguas, vivia numa mansão em Miami, com torneiras de ouro nos banheiros. 

Na primeira vez que eu fui a Madri conversar com Luis Rey, uns três sujeitos de aspecto cigano me esperavam no aeroporto. Eles me escoltaram, levando minhas bagagens até o carro. Seguimos caminho, acompanhados por um outro carro. Para aumentar o suspense, à medida que chegávamos aos subúrbios de Madri, se faziam mais frequentes as comunicações por rádio com a casa do Luis Rey. Os homens nos esperavam sentados sobre o telhado, parecendo talvez sentinelas armados. Fiquei hospedado na casa — que parecia sair do programa de TV “A Família Addams” — durante uma noite e dois dias, tentando conversar seriamente com o Luis Rey, que bebia o dia inteiro e, estranhamente, parecia nunca dormir. 

Tossindo feito um gambá, com febre alta, aguentei o primeiro dia e a primeira noite ouvindo Luis Rey cantar músicas supostamente compostas por ele. E, nos poucos momentos em que eu conseguia focar a conversa no planejamento das gravações e na política de marketing do filho, ele me levava, misterioso, até a garagem. Abria a porta de um Rolls-Royce ali estacionado, entrávamos, ele fechava a porta e dizia: 

— É melhor conversarmos aqui, onde ninguém pode nos ouvir, ou nos espionar... 

Voei, em seguida, de Madri para a Cidade do México, onde encontrei Luis Miguel cercado por personagens que também não inspiravam a mínima confiança, que não nos deixavam a sós nem por um instante. E adorei o bichinho. 

Eu tive que suportar Luis Rey por mais três intermináveis anos, até o dia em que Luis Miguel, tendo chegado aos seus 18 anos, decidiu ele mesmo cuidar de todos os aspectos de sua carreira. No desfecho da relação, Luis Miguel descobriu que todos os bens que ele tinha acumulado estavam registrados em nome do pai, e que, além disso, devia ao fisco norte-americano mais de US$700 mil de impostos que Luis Rey e seus acólitos não pagaram. Luis Miguel estava falido. Emprestamos o suficiente para ele viver nos seis meses seguintes e saldar as dívidas com o fisco. 

Liberado dos laços paternos, Luis Miguel saiu à procura da mãe, atriz do cinema italiano, que havia fugido da família alguns anos antes sem deixar rastro. Parece que ele afinal recorreu ao FBI, que investigou na Itália durante meses. Em vão... Correram vários boatos: um dizia que sua mãe mudara o nome e fizera plásticas para não ser reconhecida, e que finalmente teria se casado com um capo da máfia siciliana, sendo seu paradeiro desconhecido; segundo outro, teria sido assassinada a mando do ex-marido Luis Rey; outro dizia que estaria enferma num manicômio, em algum lugar desconhecido na Itália! 

Luis Miguel, roubado pelo pai e abandonado pela mãe, não confiava em ninguém, nem na sua sombra, nem nas suas namoradas, nem no seu empresário e, obviamente, tampouco em mim. Seu único universo seguro era sua carreira, que tive o imenso prazer e a constante angústia de acompanhar durante os 15 anos seguintes, com cinquenta milhões de discos vendidos até a minha saída da Warner. 

Em 1987, Nesuhi estava com setenta anos, e Steve Ross o aposentou em grande estilo, com uma festa de despedida em Veneza, num palácio suntuoso e decadente à beira de um canal. A chuva caía fina e fria, e se instalava um cenário apropriado para a melancolia do evento, todo iluminado à luz de velas. Éramos uns cinquenta convidados, além da Roberta Flack e do Modern Jazz Quartet, amigos do Nesuhi que o homenagearam com uma magnífica jam session. A aposentadoria foi fatal para Nesuhi. A noção de ter perdido um poder que exercia impulsivamente em qualquer parte do globo pareceu-lhe uma traição do Steve Ross. Além do mais, o seu sucessor, Ramon Lopez, homem racional e objetivo do qual eu gostei muito, tinha lhe sido imposto muito contra sua vontade. Nesuhi permaneceu como presidente da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), continuou com uma sala no prédio da Warner e fundou um selo chamado East West Records, que não deu em nada. 

Em janeiro de 1990, Nesuhi e eu marcamos um almoço no Restaurante 21, em Nova York. Ele apareceu atrasado e muito nervoso: 

— Haidar, eu estou doente, muito doente! 

— Nesuhi, excelentes médicos não faltam em Nova York, nem dinheiro na sua conta bancária. 

Então, é bobagem você ficar tão nervoso. Vai se tratando e isto vai passar — falei repetidas vezes. 

Nosso almoço foi melancólico. E as notícias nos meses seguintes não foram melhores. Nesuhi morreu em julho. E com ele morria, se não o último, com certeza um dos últimos gentlemen dessa indústria. Em reunião com seu irmão Ahmet e sua viúva Selma , decidimos organizar dois memoriais — um em Nova York, no Lincoln Center, para celebrar a sua trajetória na indústria fonográfica, e outro em São Paulo, para celebrar a sua paixão pelo futebol. Pedi ao Gil, que conhecia muito bem o Nesuhi, para ser o padrinho da partida de futebol que organizamos em São Paulo, entre os veteranos do Cosmos e os da Seleção Brasileira. O Pelé entrou em campo alguns minutos do primeiro tempo com a Seleção Brasileira, e jogou alguns minutos do segundo tempo pelo Cosmos, comandado pelo Beckenbauer. O jogo foi transmitido para o Brasil pela TV Bandeirantes, com locução do Luciano do Valle. O time do Cosmos me entregou uma taça comemorativa; e Luciano do Valle, um videoteipe da partida e uma camisa de cada equipe, ambas autografadas pelos jogadores, para o pequeno Rustem, filho de Nesuhi. 

O memorial no Lincoln Center foi inesquecível. Ahmet Ertegun e Claude Nobs tinham coordenado o evento, que teve início em torno das 17h de um dia quente de verão nova-iorquino e entrou noite adentro, só terminando quando o chefe do sindicato do teatro apagou as luzes para nos expulsar. O teatro estava repleto de artistas — de Ray Charles e Mick Jagger a Robert Plant e Jimmy Page, do Led Zeppelin , sem esquecer o Tom Jobim —, que esperavam na fila sua vez de cantar uma última canção, ou tocar uma música, ou simplesmente dizer algumas palavras de recordação. 

Na saída, Claude Nobs e Bernard de Bosson, querido amigo e colega nosso, organizaram um jantar para umas dez pessoas num restaurante ali perto. Bebeu-se muito vinho e champanhe, e cada um foi lembrando e contando suas histórias com Nesuhi. Talvez a mais interessante tenha sido contada pelo Claude. 

Claude era filho de um padeiro de Montreux e, no início da década de 1960, organizou o primeiro Festival de Jazz, que não durou mais do que um fim de semana, e no qual somente se apresentaram jazzistas suíços. Dez anos depois, o festival crescera, tornando-se famoso internacionalmente. No entanto, não agradava aos respeitáveis burgueses da conservadora e sisuda cidade que o Claude, filho de um padeiro, homossexual, se tornasse o símbolo internacional da pacata cidade de Montreux. 

Para se verem livre dele, prepararam uma armadilha, pagando um garoto de programa para seduzir o Claude. O plano deu certo e, no dia seguinte, foram publicadas no jornal local algumas fotografias, acompanhadas de um artigo devastador. O Claude pensou estar liquidado, e viajou para Nova York na esperança de arranjar um trabalho como produtor de jazz numa companhia de discos. Ele foi primeiro para a Atlantic Records, onde foi recebido pelo Nesuhi. Não se conheciam pessoalmente, apenas de nome. Claude lhe pediu um emprego na Atlantic. 

— Mas por que você quer sair de Montreux se o festival está indo tão bem? O que vai acontecer com o seu festival? Você não pode largar assim uma coisa tão importante para todos nós... E o pessoal do jazz? Onde eles vão tocar no verão? — espantou-se Nesuhi. — Aqui você vai ser mais um produtor de jazz... 

Aí, o Claude teve que contar a sua triste história. Nesuhi pensou, pensou, e disse: 

— Não. Você não vai ficar aqui, não...Você vai voltar para a sua terra. Vou nomeá-lo diretor de relações públicas da Warner Music internacional para toda a Europa, com sede em Montreux, e você vai ver que nem os burgueses da cidade, nem quaisquer outras pessoas vão incomodar você e seu festival. Você ficará duplamente importante! 

Claude acabou aceitando a proposta do Nesuhi, que mandou para a imprensa europeia um press release anunciando a contratação do Claude, que retomou o caminho de casa. Claude ficou por muitos anos com o cargo, seu festival ficou cada vez maior e mais conhecido, e ele foi reintegrado, com respeito, na sociedade local.

domingo, 27 de abril de 2014

DINHO OURO PRETO, 50 ANOS

Fernando de Ouro Preto nasceu em Curitiba, Paraná, em 27 de abril de 1964, filho do embaixador Afonso de Celso Ouro-Preto - tataraneto do Visconde de Ouro Preto - e a historiadora Marília. Era o terceiro filho, depois de Ico e Ana. A carreira do pai fez a família se mudar para os Estados Unidos, Áustria e Suíça antes de se fixar em Brasília. Em meio às viagens, conheceu em 1974, outro filho de diplomatas, Dado Villa-Lobos, que mais tarde se tornaria seu meio-irmão. Aos 11 anos, teve seus primeiros contatos com o rock através de Herbert Vianna e Bi Ribeiro, que mais tarde fundariam Os Paralamas do Sucesso.


Sai do Brasil e volta aos 16 anos, na época da ditadura, quando a tribo punk começava a invadir as ruas de Brasília. Começou a participar das reuniões da chamada turma da colina, um lugar estratégico, de onde era possível ver toda cidade. Em 1981, Afonso se casou com a mãe de Dado, Lucy, e ambos vão trabalhar em Guiné-Bissau, enquanto Marília se muda para a França. O pai de Dado também sai do país, então Dinho, Dado, seu irmão Luiz Otávio "Tavo" Villa-Lobos, e o irmão de Bi, Pedro Ribeiro, passam a morar juntos no mesmo apartamento em Brasília.

Dinho começou a namorar com uma garota chamada Helena que era irmã de Felipe "Fê" e Flávio Lemos, os quais eram integrantes da banda Aborto Elétrico. Lá Dinho virou amigo de Renato Russo, vocalista da banda dos irmãos Lemos, Aborto Elétrico. Dinho tornou-se fã incondicional da banda, frequentando ensaios e shows e conhecendo todas as músicas.
Carreira

Quando o Aborto Elétrico se separou em maio de 1983, os irmãos Lemos, junto ao guitarrista Loro Jones, pretendiam criar um novo grupo. Dinho compareceu a uma audição na casa de Fê, e após uma performance da canção "Psicopata", foi aceito como vocalista do Capital Inicial aos 19 anos. Três meses depois faziam seu primeiro show na Universidade de Brasília, no mesmo dia em que Dinho fez o vestibular. Um mês depois faziam um show no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e outro no SESC Pompeia em São Paulo. Eventualmente o grupo decidiu se mudar de Brasília para São Paulo, onde todos residem até hoje. Os pais de Dinho estavam fora do país e nada sabiam de sua carreira artística, só souberam que ele tinha se tornado músico quando ele e a banda já estava fazendo sucesso.



O Capital Inicial lançou seu álbum homônimo de estreia em 1986, com canções escritas ao longo de 3 anos de carreira. A banda então começou a ter um sucesso estrondoso, vivendo uma vida de excessos - sexo, drogas, festas - e discos compostos às pressas. Em 1993, após um show frustrante no Circo Voador, Dinho anunciou sua saída do Capital.Dinho parou de trabalhar, passando noites em claro em raves, consumindo muita bebida alcóolica e drogas. Quando o dia amanhecia voltava para casa e dormia o dia inteiro. Nessa época Dinho tornou-se irreconhecível, tinha dreadlockss no cabelo, era clubber e diariamente estava bêbado; seu apartamento sempre estava cheio de pessoas desconhecidas. Em alguma dessas festas que aconteciam em seu apartamento, alguém acabou levando certa quantia considerável de seu dinheiro cerca de 20.000 de dólares, deixando-o quebrado. Durante o hiato, Dinho decidiu estudar música, aprendendo a tocar instrumentos e buscando ser artista indpendente. Lançou dois álbuns em carreira solo,Vertigo, em 1994, e Dinho Ouro Preto, em 1995, sem sucesso. Para ganhar dinheiro, procurava serviços em tradução e publicidade.

Em março de 1998, Dinho e os ex-companheiros decidiram se encontrar para marcar uma série de shows em comemoração aos 15 anos de nascimento do Capital Inicial. Após a bem-sucedida turnê, dois meses depois receberam proposta para um novo álbum, e em novembro daquele ano lançaram o CD Atrás dos Olhos. O sucesso do disco levou a um show na série Acústico MTV, com o álbum resultante em 2000 passando de um milhão de cópias vendidas e consagrando o retorno do Capital Inicial. 

Em 2012 lançou seu terceiro álbum em carreira solo intitulado Black Heart, todas as canções são em inglês, o álbum conta apenas com regravações de bandas de rock.
Vida pessoal

O primeiro casamento de Dinho foi com a modelo e produtora de moda Mary Stockler, que segundo o cantor "desandou por abuso de drogas.Então, traía e ela ficava sabendo , E eu também descobria [traições] dela." Também namorou com mais uma produtora, Flávia Lafe.

Em 1994, Dinho conheceu a arquiteta Maria Cattaneo em um evento da MTV Brasil. Passaram dez dias juntos, até ela ir para Gênova, onde estava de casamento marcado. Os dois continuaram em contato, e seis meses depois Cattaneo decidiu romper o noivado e se mudou para o Brasil. Dinho e Maria se casaram em 1995, e o casal tem três filhos: Giulia (n. 1997), Isabel (n. 1999) e Affonso (n. 2006).

Em 31 de outubro de 2009 o vocalista sofreu um acidente durante um show realizado em Patos de Minas, Minas Gerais. Dinho caiu de uma passarela com cerca de 3 metros de altura, sofrendo traumatismo craniano leve, mais a quebra de três costelas e a fratura de seis vértebras. O cantor foi socorrido e levado a um hospital na cidade mineira, de lá ele foi transferido para o Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista. Dinho foi internado na manhã de 1 de novembro na unidade de terapia intensiva do hospital. Ficou 20 dias internado na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo e impossibilitado de cantar por seis meses, mas se recuperou.


Discografia Solo

Vertigo (1994)

Faixas:
01 - Vertigo
02 - Vida Selvagem
03 - Noiaba Carlos
04 - Dia De Cão
05 - Freiras Lésbicas Assassinas do Inferno
06 - 1+1
07 - Rush
08 - Suzi Suicida
09 - Lost
10 - Avenida Paulista
11 - Inverno



Dinho Ouro Preto (1995)

Faixas:
01 - Irresistível
02 - Marcianos Invadem a Terra
03 - Ácido
04 - Castles Made of Sand
05 - Ela Morde
06. Alguém Como Eu
07 -La Costa Del Crime
08 - Kuala Lumpur
09 - Storms
10 - Echo
11 - Ao Som De Um Tambor


Black Heart (2012)


Faixas:
01 - Hallelujah
02 - Dancing Barefoot
03 - Nothing Compares 2 U
04 - LoveSong
05 - Are You The One That I’ve Been Waiting For
06 - Steady As She Goes
07 - Suspicious Minds
08 - Hard Sun
09 - There Is a Light That Never Goes Out
10 - Time Is Running Out
11 - Love Will Tear Us Apart
12 - Being Boring



Fonte: Wikipedia

01 ANO SEM MARKUS RIBA

Este mês completa-se um ano que o artista mineiro partiu para alegrar outras pairagens



Marku Antônio Ribas, ou Marku Ribas, como ficou conhecido, era mineiro de Pirapora. Dito isso, vale também lembrar que era músico de primeiríssima grandeza. Cantor. Compositor. Percussionista. Ator. E o único brasileiro a gravar com os Rolling Stones!

“Um dos verdadeiros arquitetos da Música Brasileira”: é assim que a nova geração se refere ao grande músico e compositor Marku Ribas."É samba, é patchanga, é jazz, reisado e batuque...", como descrito na biografia do seu site. 

Marku viveu sete anos na Martinica e na Jamaica, encontrando-se muitas vezes com Bob Marley. Gravou o  primeiro disco autoral em 1976, com nove composições de sua autoria e mais "La pi tombé", do folclore da Martinica, com adaptação sua. Entre suas composições incluídas no disco estão "Coisas de Minas", "Canviá", "Deixa comigo" e "Curumim". 

Em 1978, gravou pela Philips o LP Barrankeiro, onde registrou de sua autoria "Quem sou eu?", "Maleme" e "A lua e o rio", entre outras, além de "Colcha de retalhos", clássico de Raul Torres, e "Kelé", parceria com João Donato e Djalma Correia. 

Em 1979, gravou pela Philips o LP "Cavalo das alegrias", com destaque para "Beira D'Água", com a participação vocal de Erasmo Carlos, co-autor da música "Maria Mariá", com Walter Queiroz, "Cirandando" e "Balaio da nega" com Armando Pittigliani e "Canção do sal" de Milton Nascimento. 

Em 1980, gravou o LP "Mente e coração" pela Philips, com participação especial de João Donato, Ed Maciel, Jotinha e Bira Brasil. Destacam-se no disco as composições "Choro verde", de sua autoria, "Mente e coração", com Carlos Cao Jr., "As vozes não mentem" com Luizão Maia e "Novo dia" de Carlos Cao Jr. e Fatão Ribas. Rodou o mundo sintonizado em novas sonoridades, lançou 12 discos no Brasil, e mais 2 na França. Trabalhou com gente como Erlon Chaves, Wilson das Neves, João Donato e Erasmo Carlos.

Com Mick Jagger, participou do videoclipe da música “Just another night” (Rio de Janeiro, 1984), e com os Rolling Stones, no disco “Dirty Work” (Paris, 1985, na faixa “Back to Zero”), abriu o show de James Brown em Barbados (1974), do contrabaixista Ron Carter na Ilha de Martinica (1971) e foi o único brasileiro a se apresentar durante as comemorações da Independência da Namíbia (África), em 1990. Viajou pela África, morou na França, no Caribe... tem história esse marku, nesses 50 anos de carreira!


Fonte: musicaminas.com

sábado, 26 de abril de 2014

MESTRES DE OUTROS CANTOS CANTANDO PERNAMBUCO – PARTE IV (ÚLTIMA) – MORAES MOREIRA

(Esta série é uma homenagem ao meu mestre e professor de vida Abdias Moura. Inspira-se na idéia de seu livro “O Recife dos Romancistas” – Paisagens – Costumes – Rebeliões – FacForm, 2010)

Por Joaquim Macedo Junior



Moraes Moreira: “Vassourinha Eletrônica”



Moraes Moreira é de outros carnavais. Não fosse ele a mais importante e genuína conexão das folias baiana e pernambucana, estaria na minha lista TOP-10 pelo trabalho solo e antes, com a fantástica experiência de música e de convivência social alternativa, quando viveu em Arembepe com a tropa, a turma, a trupe do inesquecível “Novos Baianos”.

Na minha limitada opinião, entendo que os “Novos Baianos” estão entre grupos revolucionários como “Os Mutantes”, “Som Imaginário”, “Secos e Molhados”, cada um no seu cenário e na sua estética.

Quando os conterrâneos de Dorival tocaram “Brasil Pandeiro”, de Assis Valente, também natural de Santo Amaro da Purificação de personalidades como Emanuel Araújo e d. Canô, despertaram a musicalidade adormecida entre os brasileiros e até rejeitada pelas gerações mais novas. É de fundamental importância o trabalho, de Moraes, Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Baby e Pepeu (que som!).

Aqui a nossa conexão se faz pelo excelente “Vassourinha Eletrônica” que dispensa de vez as intrigas e pendengas de pernambucanos e baianos quanto à criação e fundação do frevo. Moraes diz: “o frevo, que é pernambucano, sofreu ao chegar na Bahia, um toque, um sotaque baiano, uma nova energia…”

Moraes agregou duas das três potências do carnaval brasileiro e assim reina como ídolo em todos os cantos, incluindo no carnaval de Recife e Salvador.

Vassourinha Eletrônica – Moraes Moreira



Varre, varre, varre vassourinhas
Varreu um dia as ruas da Bahia
Frevo, chuva de frevo e sombrinhas
Metais em brasa, brasa, brasa que ardia

Varre, varre, varre vassourinhas
Varreu um dia as ruas da Bahia

Abriu alas e caminhos pra depois passar
O trio de Armandinho, Dodô e Osmar (bis)

E o frevo que é pernambucano, ui, ui, ui, ui
Sofreu ao chegar na Bahia, ai, ai, ai, ai
Um toque, um sotaque baiano, ui, ui, ui, ui
Pintou uma nova energia, ai, ai, ai, ai

Desde o tempo da velha fubica, hahahahaha…
Parado é que ninguem mais fica

É o frevo, é o trio, é o povo
É o povo, é o frevo, é o trio
Sempre junto fazendo o mais novo (bis) – Carnaval do Brasil


A História

Dodô e Osmar foram os inventores do trio elétrico do carnaval baiano. Dodô (Antônio Adolfo Nascimento) e Osmar Macedo se conheceram em um programa de rádio em 1938.

Os dois estudavam música e eletrônica e pesquisavam uma forma de amplificar o som dos instrumentos de corda. A amplificação aconteceu dez anos depois e, no carnaval de 1950, a dupla saiu em cima de um Ford 1929 – a Fobica – tocando um violão e um protótipo de guitarra, adaptados à bateria do automóvel as canções de uma Academia de Frevo do Recife, que se apresentava em Salvador.

No começo de 1950, o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas, do Recife, seguiu para um desfile no Rio de Janeiro e, como a embarcação em que viajava fez uma escala na capital baiana, a prefeitura o convidou para realizar uma apresentação.

Assim, no dia 31 de janeiro Vassourinhas desfilou pelas ruas de Salvador. Nosso colega de “Besta Fubana”, o historiador Leonardo Dantas Silva registrou: “rico estandarte alçado ao vento, morcego abrindo a multidão, balizas puxando dois cordões (…) tudo ao som de uma fanfarra de 65 músicos que, com seus metais em brasa, viriam naquele momento revolucionar a própria história da música popular brasileira.”

Logo a multidão empolgada acompanhava o cortejo.

Vendo a animação com que o público reagiu ao frevo pernambucano, Dodô e Osmar saíram pelas ruas executando o ritmo recifense, com enorme sucesso.

Em um ano, fizeram aperfeiçoamentos e incluíram mais um membro, Temístocles Aragão, formando assim o trio elétrico em 1951. No ano seguinte uma empresa de refrigerantes percebeu o enorme sucesso do trio e colocou um caminhão decorado à disposição dos músicos, inaugurando o formato consagrado por todos os carnavais até hoje – o trio elétrico.

Em 1978, Moraes Moreira e o guitarrista Armandinho, filho de Osmar, inovaram trazendo um cantor no trio elétrico, com a canção “Assim Pintou Moçambique“. Teve início, então, uma nova fase do carnaval baiano, e do próprio trio, renovado com a presença vocal, na figura de Moraes, que apresentava sucessos cantados pela primeira vez no “palco móvel” dos trios, como “Vassourinha Elétrica” – homenagem ao clube recifense que deu início a tudo – pois até então os trios eram exclusivamente instrumentais, como relembra o compositor Manno Góes.


Brevíssimo perfil:

Antônio Carlos Moreira Pires, cantor, compositor e músico, ex-integrante do grupo “Os Novos Baianos”, nasceu em Ituaçu, 8 de julho de 1947.

Moraes Moreira começou tocando sanfona de doze baixos em festas de São João e outros eventos de Ituaçu, o “Portal da Chapada Diamantina”.

Na adolescência aprendeu a tocar violão, enquanto fazia curso de ciências em Caculé, Bahia. Mudou-se para Salvador e lá conheceu Tom Zé, e também entrou em contato com o rock n’ roll.

Juntamente com Luiz Galvão, foi compositor de quase todas as canções dos “Novos Baianos”. O álbum ‘Acabou Chorare’, lançado pela banda em 1972, foi considerado pela revista Roling Stone Brasil um dos 100 melhores álbuns da história da música brasileira.

Moraes Moreira possui 40 discos gravados, entre Novos Baianos, Trio Elétrico Dodô e Osmar e ainda dois discos em parceria com o guitarrista Pepeu Gomes. É um dos mais versáteis compositores do Brasil, misturando ritmos como frevo, baião, rock, samba, choro e até mesmo música erudita.

Alguns dos sucessos dessa fase são “Pombo Correio“, “Vassourinha Elétrica” e “Bloco do Prazer“, dentre outras. Durante os anos 80 se afastou um pouco do carnaval baiano, devido a sua comercialização para a indústria do turismo.

Em 2012, Moraes gravou o disco “A Revolta dos Ritmos”, um disco com 12 composições inéditas dele. Paralelo ao novo CD Moraes, viajou pelo Brasil, ao lado do seu filho Davi Moraes, com uma turnê comemorando os 40 anos do disco “Acabou Chorare”.


Em tempo:

Pude ver, pela televisão, a apresentação de Moraes na última noite do Carnaval Pernambucano de 2014. Não sei se eu estava com disenteria ou de mau humor, mas considerei a apresentação muito fraca. Parecia um Moraes rouco e desmotivado. Quem salvou o show foi o filho David Moraes. Sei o que aconteceu, não!

sexta-feira, 25 de abril de 2014

BEATRICE MASON - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Após cinco anos do lançamento do bem sucedido "Mosaico", Beatrice volta ao mercado fonográfico com “12 Seconds”, um projeto caracterizado pela participação de músicos brasileiros e internacionais

Por Bruno Negromonte



Com show marcado para o final deste mês no Rio de Janeiro e turnê agendada para América do Norte a partir de maio, Beatrice gentilmente abriu este espaço em sua agenda para nos prestigiar com este bate-papo exclusivo onde fala dentre outras coisas sobre este novo projeto que está prestes a ser lançado, as peculiaridades que o diferencia do projeto anterior, a expectativa para as apresentações no Exterior e que o público pode esperar no próximo dia 27 de abril quando ocorrerá o lançamento do novo álbum no Solar Botafogo, no Rio de Janeiro. Boa leitura!


Há exatamente 05 anos atrás você “dava a luz” ao seu primeiro projeto fonográfico após deixar de lado a bem sucedida carreira de advogada no exterior para dedicar-se a música. É natural que diversas pessoas à época tenham visto esse seu ato como algo, de certo modo, tresloucado. Hoje, depois depois de todo esse tempo e o segundo disco prestes a ser lançado quais as opiniões você ainda costumam ouvir sobre tal escolha?

Beatrice Mason - Realmente, na época todo mundo (família e amigos) achou que eu estava louca. Hoje já acostumaram, muitos até acham que fiz a coisa certa.


12 Seconds” é um projeto que já pelo título denota algo que remete às suas experiências internacionais. O caminho é mais ou menos por aí? A base desse novo projeto está justamente neste período que você passou fora do país?

BM - Acho que assumi o lado gringo do meu trabalho, que é forte mesmo. Sem dúvida pensei no mercado estrangeiro, a partir das informações e experiências que absorvi na minha interação com músicos, produtores e empresários lá fora. Na verdade, esse caminho é natural para mim, tenho muita afinidade com línguas e culturas estrangeiras.


Neste tempo de maturação entre o “Mosaico” e “12 Seconds” você enquanto artista acumulou diversas experiências. Qual delas você destacaria ao ponto de deixar-se imprimir dentre as características desse novo projeto?

BM - Eu ainda não tinha pensado nisso. Talvez a dificuldade (técnica e financeira) em fazer viagens ou turnês longas, em outros países, tenha me encaminhado para um som mais minimalista, com poucos instrumentos. Acabei de tirar esta explicação da cartola, rsrs.


Como aconteceu o processo de escolha de repertório? Quais foram os critérios que você mais levou em consideração na hora de optar por tais canções?

BM - Não foi fácil escolher o repertório. Eu partia de algumas convicções como: quero gravar Ramil e Drexler, quero colocar mais músicas em inglês do que no Mosaico, quero gravar alguma canção brasileira muito conhecida e que faça parte da minha memória musical quero gravar em espanhol, quero gravar uma das minhas músicas, quero fazer um disco enxuto. Com todos esses fatores, a costura e o equilíbrio entre as canções deu um pouco de trabalho. Mas o Alexandre Vaz (produtor) fez toda a diferença.


Em “Mosaico” você apresenta canções de artistas como Vitor Ramil, Ana Clara Horta e Edu Krieger. Ramil volta a este projeto assinando a faixa título em parceria com Jorge Drexler não é? Você poderia falar um pouco mais dos outros nomes que estarão presente em “12 Seconds”?

BM - Pois é, não consigo fugir do Ramil e do Drexler. Aliás nem tento e nem quero, adoro os dois. A grande novidade é minha presença como compositora. Fiz a letra de "Slow mornings" e mandei para Ana Clara Horta, que rapidamente me devolveu a música completa. Também gravei "Pra não me machucar", do Rodrigo Bittencourt e Liah Soares, e "Quem ama", do Fred Martins e Fred Girauta.


Quanto a escolha do repertório canções há alguma conhecida do grande público ou todas as faixas são inéditas?

BM - Dessa vez sucumbi a alguns "hits". Regravei "When love breaks down" do Prefab Sprout, sucesso na década de 80. Encarei "Minha flor, meu bebê", do Cazuza e Dé Palmeira, e ainda "No voy a ser yo" (Johansen/Drexler) e "12 Seconds" (Drexler/Ramil, em versão para inglês escrita por mim).


Se houvesse a possibilidade de definir “12 Seconds” com apenas um adjetivo qual seria? 

BM - Cool


Por que a escolha de tal característica?

BM - Por causa da sonoridade, dos arranjos, do climão.


Você poderia adiantar um pouco sobre o lançamento do álbum que ocorrerá no próximo dia 28 no Solar Botafogo?

BM - O show vai apresentar todas as músicas do disco (que são apenas 7) e mais algumas do Mosaico, além de Melodrama (Ana Clara Horta e Gabriel Pondé, que entrou no meu set list há 4 anos e não saiu mais) e Charme do Mundo (Marina). Maíra Knox está assinando cenário e figurino e Cadu Fávero a luz. A banda é composta de Marcelo Vig (bateria e programações), Rodrigo Tavares (teclados) e Pedro Braga (guitarra e violão).


Após o lançamento no Rio de Janeiro você embarca para a América do Norte para por lá lançar o “12 Seconds” não é isso? Qual a expectativa desse lançamento no Exterior?

BM - Para falar a verdade, não tenho ideia... Mas o objetivo é sempre fincar bandeira e voltar para lá em breve.






Serviço:


quarta-feira, 23 de abril de 2014

ANO EMBLEMÁTICO PARA A HISTÓRIA DA MPB, 1973 GANHA REGISTRO LITERÁRIO

Livro debruçasse sobre ano que traz, além que a repressão do governo Médici, um honroso lugar no calendário da música brasileira


Por Bruno Negromonte



Poucos foram os anos tão importantes quanto o de 1973 para o cenário musical brasileiro. Se pontuarmos, poderemos levantar alguns onde foram lançados movimentos importantes dentro do cenário musical brasileiro servindo como exemplos pode ser citado os que surgiram a Bossa Nova, a Jovem Guarda e o Tropicalismo. Apesar de 1973 não ser caracterizado pelo lançamento de nenhum movimento foi lançamentos e durante o mês de fevereiro a música brasileira ter ficado mais pobre com a partida do compositor e instrumentista Pixinguinha, considerado por muitos como um dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos, o ano de 1973 foi um período marcado pela estreia fonográfica de artistas que viriam sacramentarem seus respectivos nomes no cenário musical brasileiro dali em diante. Indo um pouco além disso "1973 - O ano que reinventou a MPB", não só aborda o debute fonográfico de nomes como João Bosco, Gonzaguinha, Raimundo Fagner, Raul Seixas e Sérgio Sampaio, mas também outros 47 discos lançados à época e que algum modo deixou a sua marca dentro da música brasileira vislumbrando novos horizontes e rumos para a música brasileira dali em diante. Dentro das 432 páginas existentes no livro são abordados LP's como "Phono 73, O Canto de um Povo" e "Bem-Amado - Trilha Sonora" (com textos assinados pelo organizador e idealizador Célio Albuquerque), "Beto Guedes / Danilo Caymmi / Novelli / Toninho Horta" (sob a ótica de Maurício Gouvêa), "Manera Fru Fru, Manera" (pelo jornalista mineiro Renato Vieira), "O pop maldito de Lamounier" (através da visão do também jornalista Ricardo Schott). Do universo jornalístico o livro ainda apresenta textos, dentre outros, de nomes como Pedro Só ("Luiz Melodia"), José Teles ("Satwa – Marconi Notaro no sub-reino dos protozoários"). Dentre os músicos e compositores que assinam textos pressentes no livro pode-se destacar os nomes de Tavito (que traz a sua visão sobre o álbum "1º Acto", do cantor e compositor carioca Zé Rodrix), Sérgio Natureza (abordando "Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua", debute fonográfico do cantor e compositor cachoeirense Sérgio Sampaio); Mona Gadelha (apresentando texto sobre o LP "Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto na Viagem", projeto coletivo lançado por Ednardo, Rodger e Tethy); Moacyr Luz (analisando o LP "Nervos de aço", do Paulinho da Viola); o pernambucano Rildo Hora (apresentando o álbum "Origens", quinto projeto fonográfico do cantor e compositor Martinho da Vila) e Marcos Suzano (relembrando "Amazonas", um dos discos mais importantes da discografia do percussionista Nana Vasconcelos). Editado pela Sonora Editora, "1973 - O ano que reinventou a MPB" já chega ao mercado com ares documentais e tornando-se como uma excelente fonte de consulta as futuras gerações amantes da MPB.



Eis os 52 discos abordados em "1973 - O ano que reinventou a MPB":

01 - Phono 73, O Canto de um Povo (Diversos artistas)
02 - Um Passo à Frente (A Bolha)
03 - Antonio Marcos (Antonio Marcos)
04 - Canto por um Novo Dia (Beth Carvalho)
05 - Beto Guedes / Danilo Caymmi / Novelli / Toninho Horta (Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta)
06 - Araçá Azul (Caetano Veloso)
07 - Chico Canta (Calabar, O Elogio da Traição) (Chico Buarque)
08 - Clara Nunes (Clara Nunes)
09 - Marinheiro Só (Clementina de Jesus)
10 - Edu Lobo (Edu Lobo)
11 - Elis (Elis Regina)
12 - Elton Medeiros (Elton Medeiros)
13 - Sambas de Enredo das Escolas de Samba do Grupo I (Escolas de Samba do Grupo 1)
14 - Prelude (Eumir Deodato)
15 - Manera Fru Fru, Manera (Raimundo Fagner)
16 - Francis Hime (Francis Hime)
17 - Índia (Gal Costa)
18 - Guilherme Lamounier (Guilherme Lamounier)
19 - A Música Livre de Hermeto Paschoal (Hermeto Paschoal)
20 - João Bosco (João Bosco)
21 - Quem é Quem (João Donato)
22 - João Gilberto (João Gilberto)
23 - Satwa – Marconi Notaro no sub-reino dos protozoários (Lula Côrtes e Lailson)
24 - Luiz Gonzaga Jr. (Luiz Gonzaga Jr.)
25 - Pérola Negra (Luiz Melodia)
26 - Previsão do Tempo (Marcos Valle)
27 - Drama 3º Ato (Maria Bethânia)
28 - Origens (Martinho Da Vila)
29 - Milagre dos Peixes (Milton Nascimento)
30 - Amazonas (Nana Vasconcelos)
31 - Nelson Cavaquinho (Nelson Cavaquinho)
32 - Novos Baianos F. C (Novos Baianos)
33 - Odair José (Odair José)
34 - Nervos de Aço (Paulinho Da Viola)
35 - Krig-ha, Bandolo! (Raul Seixas)
36 - Terra (Sá, Rodrix e Guarabyra)
37 - Secos & Molhados (Secos & Molhados)
38 - Piri, Fred, Cássio, Franklin e Paulinho Camafeu com Sérgio Ricardo (Sérgio Ricardo)
39 - Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio)
40 - Matança do Porco (Som Imaginário)
41 - Fotografias (Taiguara)
42 - Terço (O Terço)
43 - Tim Maia (Tim Maia)
44 - Matita Perê (Tom Jobim)
45 - Todos os Olhos (Tom Zé)
46 - O Bem-Amado (trilha sonora) (Toquinho e Vinicius)
47 - Ou Não (Walter Franco)
48 - 1º Acto (Zé Rodrix)
49 - A e o Z (Mutantes)
50 - Tutti Frutti (Rita Lee)
51 - Cidade do Salvador (Gilberto Gil)
52 - Banquete dos Mendigos (Diversos Artistas)