PROFÍCUAS PARCERIAS

Gabaritados colunistas e colaboradores, de domingo a domingo, sempre com novos temas.

ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

HANGOUT MUSICARIA BRASIL

Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

sábado, 30 de novembro de 2013

MORRE O PRODUTOR MUSICAL JOÃO ARAÚJO, PAI DE CAZUZA

Um dos maiores nomes da indústria fonográfica do país faleceu na manhã deste sábado, por conta de uma parada cardíaca



Faleceu no início da manhã deste sábado (30), o produtor carioca João Araújo, 78, pai do cantor Cazuza. João Araújo sofreu um ataque cardíaco no seu apartamento no Rio e Janeiro. João Araújo era um dos mais importantes nomes da indústria fonográfica brasileira, tendo participado da criação da Som Livre, em 1969. 

De acordo com a Folha, João sofreu uma queda há três semanas, em Angra dos Reis, quando fraturou a cabeça do fêmur. Em seguida, foi detectado com um problema nos rins, quando estve internado para realizar uma cirurgia e foi obrigado a passar por hemodiálise. Voltou para casa na última segunda-feira (25).

João Araújo começou sua carreira na indústria musical aos 14 anos, como auxiliar de imprensa na Copacabana Discos, gravadora das cantoras Ângela Maria e Elizeth Cardoso. Passou pela Philips, onde trabalhou como diretor artístico e ajudou a lançar artistas como Caetano Veloso, Gal Costa, Jorge Ben e Djavan. Na Som Livre, gravadora que comandou por quase quatro décadas, lançou fenômenos de venda como Xuxa, além das famosas e muito vendidas trilhas de novelas.

No início, foi contra investir no Barão Vermelho, por medo de ser acusado de favorecer o filho único, Cazuza (1958-1990), mas se convenceu e decidiu lançar o disco de estreia do Barão Vermelho, em 1982. João Araújo foi eleito presidente de honra da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), em 2007. Ele recebeu o prêmio Grammy Latino por sua contribuição à indústria musical, no mesmo ano.

Fonte: correio 24 horas

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

METAMORFOSEANDO A OBRA DO PAI...

Revirando o baú de seu pai, Vivi Seixas traz onze canções da lavra do maluco beleza no álbum Geração da Luz

Por Bruno Negromonte


Vivi Seixas lança festa mensal de house em SP (Foto: Divulgação)Em 1977 Raul Seixas lançava pela Warner, gravadora  recém chegada ao país, o álbum "O dia em que a terra parou", um álbum composto apenas de parcerias com Claudio Roberto. Dentre as dez canções existentes no disco, destaque para a faixa título, a canção "Maluco Beleza" (que acabou gerando ao artista cognome homônimo a composição) e "Sapato 36", letra que traz em seu bojo a conflituosa relação entre um filho insatisfeito com atitudes do pai que cerceiam as expectativas e projetos seus. Raul e Claudio souberam utilizar muito bem de paráfrases e outros artifícios linguísticos para dar o tom da narrativa. Frases como "Eu calço é 37, meu pai me dá 36..." explicita a insatisfação existente e que tem como veredito a abrupta mudança por si só quando o personagem diz: "Pai já tô indo-me embora... Eu quero partir sem brigar...  Já escolhi meu sapato... Que não vai mais me apertar...". Esta lição foi muito bem incutida posteriormente por Vivian Costa Seixas, que à época ainda não era nascida.

Quando o pai partiu Vivian estava com 8 anos de idade e talvez não mensurasse a grandeza da obra de Raul dentro da música popular brasileira e nem muito menos imaginava que os caminhos que viria a traçar posteriormente em dado momento se encontraria com esta obra atemporal. Tudo começou em 1998 quando a artista partiu para um intercâmbio na Austrália que durou um ano. Foi neste período que a filha ultimogênita de um dos maiores nomes da música brasileira escolheu o sapato que coube de modo mais adequado ao seu pé ao encantar-se pelos bits da house music, estilo música eletrônica estilo surgido nos Estados Unidos na primeira metade da década de 1980 derivada da disco music. Ao voltar para o Brasil adotou o nome artístico de Vivi Seixas e começou a discotecar tornando-se hoje  uma das deejays mais conhecidas e prestigiadas na cena eletrônica nacional, mostrando sem delongas a hegemonia do seu DNA sobre sua arte.

"Geração da luz - Clássicos de Raul Seixas metamorfoseados" é a prova documental dessa afirmação. É um álbum com faixas que intercalam-se entre sucessos e temas menos conhecidos da lavra de Raul e seus parceiros. Dentre as onze faixas estão a versão em espanhol de um grande sucesso composto por Raul a exatamente 40 anos: 'Metamorfose Ambulante', canção lançada no álbum "Krig, ha, Bandolo!" e que vem atravessando as décadas intactas como uma das obras-primas da música popular brasileira. Deste mesmo álbum há também a faixa 'Mosca na sopa', outro hit de autoria do músico baiano. Do disco "Abre-te Sésamo", de 1980, a Dj pincelou quatro canções: 'Conversa Pra Boi Dormir' (Raul Seixas), 'Só Pra Variar(Raul Kika Seixas - Cláudio Roberto) e duas parcerias entre Raul e Claudio Roberto, são elas 'Aluga-se' e 'Rock das Aranha'. De 1983 vem 'Carimbador Maluco', cujo autoria é creditada apenas a Raul.



Da antológica parceria entre Raul e Paulo Coelho há duas canções: 'super heróis' e 'Como vovó já dizia', ambas lançadas em 1974. A primeira fez parte da trilha sonora da telenovela global O Rebu, cuja a trilha foi quase toda composta pela dupla e a segunda encontra-se no disco "Gita", lançado em 1974. O álbum ainda conta com faixa 'A geração da luz', uma das parcerias existente entre os pais de Vivi e registrada em 1984 no álbum "Metrô Linha 743". 

A ideia dessa homenagem surgiu quando Vivi conseguiu junto as gravadoras vários registros a capella do pai. Dessa aquisição até a realização do projeto foram cerca de 06 anos e parece que veio a contento, pois o álbum trata-se de uma realização pessoal fundamentada no desejo de sacramentar em definitivo para as novas gerações a obra de um pai por sua filha a partir da uma nova roupagem estética e musical.  "O desejo de Raul era colocar sua impressão digital no planeta terra. Hoje, realizo o seu sonho e  o meu sonho de passar suas mensagens para as próximas gerações."


O álbum foi gravado nos Estudios Hanoi Hanoi e NaGarage e conta com a participação de alguns músico como Alamo Leal (national stell, violão e guitarra), Arnaldo Brandão (baixo e guitarra), Pedro Augusto (rhodes), Donatinho (teclados) e Plínio Profeta (theremin, guitarra, baixo e piano). Plínio (vencedor de um Grammy Latino) ainda assume ao lado de Vivi e do californiano Mike Frugaletti as programações, produção  e batidas. Curiosamente sob este prisma, a deejay traz ao álbum uma miscelânea sonora composta por ritmos como o hip hop, o rock, o drum and bass, o deep house, entre outros que curiosamente não fazem com que o trabalho perca a unidade peculiar na qual a obra do roqueiro baiano encontra-se eternizada. Se analisarmos bem veremos que esse experimentalismo encontra-se de modo bastante marcante também na obra de Raul conforme a própria Vivi afirma: "Ele adorava mudar, evoluir, misturar estilos, por isso não tive medo de ousar." 


Metamorfoseando-se entre bits e lembranças afetivas Vivi atesta veementemente a sua condição de destaque dentro do gênero musical ao qual abraçou. E é tocando a obra de seu genitor nas pistas de dança (e agora em disco) que o famoso bordão "Toca Raul" ganha, de modo sui generis, um novo sentido, mais vibrante e altivo. Fazendo com que as mais de duas décadas de partida do saudoso maluco beleza percam o sentido. Vivi Seixas, com toda elegância e versatilidade, substancia-se nas variantes do house e nas diversas influências que constitui o seu trabalho para fazer valer que, assim como seu pai, não vale a pena ter aquela velha opinião formada sobre tudo.



Maiores Informações:
Site Oficial - http://www.viviseixas.com.br
Facebook - https://www.facebook.com/djviviseixas
Myspace - https://myspace.com/djviviseixas
Soundcloud - https://soundcloud.com/vivi-seixas
Twitter - https://twitter.com/djviviseixas
Youtube - http://www.youtube.com/user/viviseixas
Rádio UOL - http://www.radio.uol.com.br/#/artista/vivi-seixas/447445


O álbum pode ser encontrado nos seguintes endereços:
Itunes - https://itunes.apple.com/br/album/geracao-da-luz-remix/id608016745
Livraria Saraiva - http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/4841224/geracao-da-luz-classicos-de-raul-seixas-metamorfoseados
Livraria Curitiba - http://www.livrariascuritiba.com.br/cd-vivi-seixas-geracao-da-luz-classicos-de-raul-seixas-metamorfoseados-2013,product,AV092134,2912.aspx 
Submarino - http://www.submarino.com.br/produto/112952621/cd-vivi-seixas-geracao-da-luz
Bemol - http://www.bemol.com.br/loja/pt/bemol/cd-vivi-seixas-geracao-da-luz-000000000000160500
FNAC - http://www.fnac.com.br/vivi-seixas-geracao-da-luz/p/632444
Livraria Cultura - http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=30758991&sid=62497310815510178311793974

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CIDADÃO DO MUNDO, FLÁVIO RENEGADO MOSTRA, EM FORMA DE DISCO, QUE A SUA SONORIDADE NÃO TEM FRONTEIRA

O artista chancela a condição de cidadão universal em seu segundo álbum “Minha tribo é o mundo”

Por Bruno Negromonte




Cosmopolita, Flávio Renegado é um artista que torna-se mais universal a cada novo projeto ao qual se envolve. Isso talvez seja por procurar seguir a cartilha do escritor russo Leon Tolstoi procurando sempre pintar a própria aldeia. Mineiro, nascido e criado na comunidade do Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte o artista está na estrada divulgando o seu segundo álbum cujo título por si só já fala e muito de sua condição enquanto artista. Minha tribo é o mundo” substancia-se desse contexto em uma espécie de continuidade do seu primeiro CD que tem por título Do Oiapoque a Nova York” e que chegou ao mercado a exatamente cinco anos atrás. Neste primeiro título lançado de modo independente, Renegado apresenta ao público uma mistura sonora imbuída dos mais diversos gêneros musicais existentes ao redor do planeta em uma heterogeneidade de ritmos que perpassam por diversas influências, dentre as a da música brasileira, a latina e a jamaicana, tendo como base o som do hip hop. Este primeiro trabalho talvez não o tenha levado ao Oiapoque, no entanto o habilitou a apresentar-se em Nova York em pleno Central Park, além de propiciar-lhe apresentações não só no Brasil assim como também  Europa, Oceania e todas as Américas. Sem contar que com este debute fonográfico o artista venceu prêmios como o de “artista revelação de 2008” (no prêmio Hutúz).

Essas viagens ao redor do mundo na divulgação desse primeiro projeto foram fundamentais para substanciar o som que passou a produzir posteriormente e hoje está presente no álbum
Minha tribo é o mundo”. Pode-se afirmar que hoje o artista encontra-se plenamente imbuído do espírito cosmopolita a qual sua arte se propõe, uma vez que os elementos que constituem o mosaico que a define foram constituídos ou substanciados das diversas influências sofridas ao longo desse amadurecimento profissional. Uma conquista que só podia ser obtida paulatinamente, uma vez que haveria necessidade não só da influência de todos estes elementos, mas principalmente da absorção, degustação e construção daquilo que hoje se expressa na forma da música apresentada por pelo artista, uma sonoridade mais urbana e influenciada pela multiplicidade dos movimentos sonoros contemporâneos.



O álbum “Minha tribo é o mundo” (também lançado em vinil) apresenta um pouco do que foi apresentado no parágrafo anterior, uma vez que não se prende a limites geográficos ou contextos pré-moldados. Seu som dialoga amistosamente com as influências da música africana, toda a malemolência dos contagiantes ritmos caribenhos, somando-se aí texturas da cultura hip hop norte-americana, a energia da música eletrônica e sem esquecer do mais genuíno dos ritmos brasileiro: o samba e a sua malandragem. É desse caldeirão que edifica-se a arte que o artista vem mostrando em turnês por diversos países da Europa e significativos festivais ao redor do mundo, como é o caso do Back2Black, onde o Flávio teve a oportunidade de apresentar em Londres e no Rio de Janeiro toda a gama sonora e artística que o constitui. Ciente de sua capacidade de criação e movimentação por diferentes manifestações artísticas, ele parece ter noção de não pertencer a nenhum gênero específico, nenhuma classe artística definida, nenhuma região. Ao mesmo tempo, absorve todas e as transforma em arte como pode-se observar em suas apresentações.

Constituído por onze faixas, Minha tribo é o mundo”  reflete de modo substancial a realidade do artista. Atravessando o tempo e sem fazer concessão Renegado traz no bojo de suas letras mensagens que se propõem a mostrar aquilo que mais interessa em sua arte através de 'deixas' como a presente na faixa que dá título ao disco: 'Não importa qual a sua língua, mas que a tribo comunique-se'. Produzido por Plínio Profeta (que também é responsável por parte da instrumentação do álbum) e gravado no Rio de Janeiro, o álbum conta ainda em sua constituição com nomes como Jongui (bateria), Laércio Vilar (bateria e tambores), Egler Bruno (guitarra), Dj Spider (programação), Gustavo Maguá (violão), Aloísio Horta (baixo), Dani Crizz (voz), Thiago Delegado (violão), Cristiano Caldas (rhodes e synths), Humberto Barros (rhodes e hammond) entre outros. O álbum ainda conta com as participações dos conceituados músicos Marcos Suzano, Donatinho, Edu Krieger e Arthur Maia dando um toque especial ao trabalho de um artista que que vem ganhando espaço e reconhecimento não apenas de um público ávido por boas novidades, mas também do meio artístico.  Não por acaso, nos últimos anos ele esteve ao lado de alguns dos mais originais artistas da cena musical brasileira, indo do virtuoso guitarrista Toninho Horta a astros da MPB como Guilherme ArantesFernanda Takai, Lenine, Mart’náliaSeu Jorge, Maria Alcina, Otto, Aline Calixto e Bebel Gilberto. Sem contar com o intercâmbio cultural com artistas de diversos cantos do planeta como a parceria com a cantora nigeriana Nneka

Este ano Flávio Renegado gravou o seu primeiro DVD ao vivo em Belo Horizonte com cenografia de Gringo Cardia, direção musical de Liminha e Kasin, direção de Joana Mazzucchelli e participações de Rogério Flausino (Jota Quest), Aline Calixto e Meninas de Sinhá. Este registro audio-visual vem como prova documental que um artista da periferia pode ir além, desenvolvendo uma carreira fundamentada na esperança de uma sociedade mais justa e uma sonoridade agregadora somando ao seu som reggae, maracatu, música cubana, samba além de outras influências da cultura típica brasileira e de tradições regionais, sem, no entanto, abandonar características do tradicional rap norte-americano e o apelo social do rap brasileiro. Rapper, compositor, instrumentista, poeta, ator e líder comunitário, Renegado mostra que adversidades muitas vezes serve de impulso para a construção de novos horizontes. Exemplo de superação, o artista partiu dos estreitos becos da favela para tomar o mundo de assalto com trabalhos coerentes com as suas origens, mas sem prender-se a rótulos. Essa possibilidade de agregar valores culturais diversos e abraçar as mais variadas influências e  condensar em disco através de uma sonoridade urbana e contemporânea transformou a vida do menino da comunidade do Alto Vera Cruz e o levou a circular por todo o país assim como também em diversos países no exterior. Enquanto a música transforma a vida de Flávio Renegado e o leva aos mais diversos lugares ao redor do mundo, também altera aqueles que são tocados por ela, restando a certeza de que ninguém ficará indiferente às suas obras.


Maiores Informações:
Site oficial - http://flaviorenegado.com.br/site/
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Soundcloud - https://soundcloud.com/flaviorenegado

Youtube - http://www.youtube.com/flaviorenegado
Produção Casulo Cultura - 55.31.3222.3242
Contratação de shows - contato@casulocultura.com.br
Informações para imprensa -  comunicacao@casulocultura.com.br

Rádio UOL - http://www.radio.uol.com.br/#/artista/flavio-renegado/414126
Palco MP3 - http://palcomp3.com/renegado/

Letras - http://letras.mus.br/renegado/
 

 O álbum pode ser adquirido nos seguintes endereços:
Livraria Cultura:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=29928108&estat_id=0&sid=6249731391593564151980881
Itunes - https://itunes.apple.com/us/artist/flavio-renegado/id474030243
Vinyl Land Records - http://www.vinyllandrecords.com/pt/releases/minha-tribo-e-o-mundo/

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

CARTOLA, MÚSICA PARA OS OLHOS

PROGRAME-SE


Serviço:

O Que A Gente Ouvia Lá Em Casa
28/11 - quinta-feira
Tom Jazz (Av Angélica 2331)
Horário: 21:30h.

Lista amiga a R$25,00, envie os nomes para: arts.prod@uol.com.br.

MÚSICA, ÍDOLOS E PODER (DO VINIL AO DOWNLOAD) - PARTE 22



CAPÍTULO 22 

Conheci Elis Regina em 1968 através de seu marido, Ronaldo Bôscoli, e de seu diretor musical, Roberto Menescal. Ela sabia de antemão que Ronaldo, Menescal e eu éramos amigos do tempo da bossa nova. Porém, bem ao seu estilo, e para mostrar que era ela quem mandava, recebeu-me friamente em casa, deixando claro, ao sentar no sofá, antes de oferecer qualquer whisky, que, apesar da minha amizade com Bôscoli e Menescal, ela não pretendia ficar na CBD. 

Poucos minutos depois, Bôscoli desceu do quarto e, pela primeira vez, tive o privilégio de assistir à explosão de uma briga monumental, o passatempo favorito do casal. Sentamos todos à mesa de jantar e, graças ao vinho, o ambiente foi se aliviando até que, na hora da sobremesa, consegui de Elis um ano de trégua, quando tomaria uma decisão definitiva quanto à sua permanência na gravadora. 

Aprendi a gostar dessa personagem forte, dura de coração, generosa, sempre pronta a socorrer qualquer pessoa em perigo e dividida entre paixões passageiras e ódios exagerados. Trabalharíamos juntos de 1968 a 1981. 

Na tarde do sábado de Carnaval de 1970, fui visitar Elis na casa das encostas da avenida Niemeyer. Entrei casa adentro... Não havia ninguém. Subi até o primeiro andar... Não havia ninguém, tampouco. Subi, então, para a piscina... E outra vez ninguém... A não ser uma moça desconhecida, tranquilamente nadando na piscina: 

—Você está procurando Elis ? Eu também — disse, com uma voz rouca e olhos esverdeados. 

Era Márcia Mendes, repórter e apresentadora do “Jornal Hoje”, da TV Globo. Ficamos mais um tempo esperando por Elis, que não chegava, e lhe dei uma carona até sua casa, no final do Leblon. 

—Você não quer subir? — perguntou. — Não, Márcia , obrigado. Se um dia subir, será para nunca mais sair — disse eu. 

Ela simplesmente sorriu. Os seus olhos e a sua voz não saíam do meu coração. E o coração batia forte, em pânico — eu já estava apaixonado. Poucos dias depois, telefonei para ela e me mudei de armas e bagagem. 

A nossa vida era muito tranquila, até que Márcia não parava de ter uma febre ligeira, que não passava. 

— Márcia , vai ver o médico — dizia eu. 

Uma quarta-feira — todas as quartas-feiras eu ia para São Paulo —, ao chegar ao escritório, recebo um recado da clínica: era para eu voltar urgentemente para o Rio, pois Márcia seria operada de emergência. Quando cheguei à clínica, no início da noite, encontrei Márcia, já operada, sozinha, abandonada, aos prantos... 

— Eu estou com câncer... Me tiraram tudo... Os ovários... Não posso mais ter filhos e nem sei se ainda posso ser mulher... 

O médico chegou nesse mesmo momento, e eu, louco de raiva com sua indelicadeza, disse: 

— Seu idiota, você não podia esperar minha volta para dar a notícia?! 

E lhe dei uma bofetada desesperada. Márcia tinha 24 anos, era belíssima, celebrada, porém mutilada… 

Guilherme Araújo era um personagem caótico, de humor irascível, de uma lógica incoerente, porém dono de uma criatividade privilegiada e de uma sensibilidade aguda, que foi de uma importância capital no lançamento dos seus artistas Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa. 
Foi por meio dele que conheci Caetano. O dia e a hora do encontro foram marcados com muita cerimônia e suspense, para que não houvesse a menor dúvida da minha parte de que era um grande privilégio conhecer Caetano. 

Entrei no saguão do hotel, Guilherme pediu que eu me sentasse — pois não se sabia ainda se Caetano poderia me receber —, e ali fiquei, durante uma boa hora cheia de incertezas. Enfim, subi sozinho, bati na porta e alguém, muito compenetrado e silencioso, abriu. Lá ao fundo da suíte estava Caetano, com uma bela bata branca, semi-deitado num sofá, me esperando. 

De fato, o personagem era impressionante, o sorriso era impressionante, o olhar era impressionante, a doçura era impressionante... Porém, sua postura ligeiramente aristocrática estabelecia uma certa distância. Em Caetano descobri uma inteligência invulgar, e falava suavemente coisas que, de imediato, eu não entendia, por serem demasiadamente originais e sofisticadas para meu universo de reflexões da época. 

Dois acontecimentos logo me fizeram entender que o Brasil, que eu havia deixado de um jeito cinco anos antes, tinha virado de cabeça para baixo. O primeiro foi ao entrar no estúdio em São Paulo. Os Mutantes — Arnaldo e Sérgio ainda meninos, lindos e comoventes; Rita, um sonho de beleza anglo-saxônica, dotada de uma voz de muita personalidade — estavam gravando sua participação no antológico disco Tropicália. Fiquei impressionado e entusiasmado pelo vigor, pelo frescor, pela qualidade musical e poética, e pela extrema originalidade e modernidade do grupo. 

Semanas depois, cheguei ao TUCA para assistir às eliminatórias da final paulista do III Festival Internacional da Canção, em 15 de setembro de 1968. Eu me recordava, no tempo da bossa nova, de um público jovem, quieto e respeitoso ao ouvir seus ídolos, e, quando sentei na poltrona, com Nelson Motta ao lado, fiquei abismado com as reações tumultuadas do público, que iam num crescendo e culminaram com a apresentação de Caetano e Os LP Tropicália ou Panis et Circencis (Philips, 1968), participação dos Mutantes na faixa “Panis et Circencis” (Gil e Caetano ) e, junto com Gil, Caetano e Gal, nas faixas “Parque industrial” (Tom Zé) e “Hino ao Senhor do Bonfim” (João Wanderley e Petion de Vilar). Teatro da Universidade Católica de São Paulo. 

Mutantes em “É proibido proibir” . Era tanto grito que não se podia ouvir a canção. Objetos e tomates caíam sobre o palco, e eu, boquiaberto, pensava: “O que aconteceu ao Brasil durante meus cinco anos de ausência?!” 

O discurso de revolta do Caetano* em meio aos protestos dos estudantes me impressionou tanto que eu pedi na mesma hora ao Manoel Barenbeim, coordenador das gravações dos tropicalistas, que obtivesse uma cópia áudio da gravação ao vivo feita pela emissora de TV, para ser o lado B do disco da mesma canção gravada em estúdio dias antes. Em seguida, dei instruções para que o compacto fosse distribuído o mais breve possível para as rádios e para as lojas. 

A primeira vez que vi o Gil foi durante a performance da mesma música. Naquela noite, quando ele subiu ao palco para dar seu apoio ao Caetano e aos Mutantes, vi um personagem gordo e barbudo, com uma atitude antipaticamente agressiva. Confesso que não gostei nada e temi por nossos futuros encontros. Mal sabia eu que, paulatinamente, Gil se tornaria o mais fiel companheiro da minha vida profissional, nas horas felizes e nos episódios difíceis. 

*“Essa é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...) Se vocês forem em política como são em estética, estamos fritos” (trechos do discurso de Caetano Veloso ).

sábado, 23 de novembro de 2013

DOIS COMPASSOS DE DELICADEZA

De modo singelo, Delcio Carvalho e Marcelo Guima conseguem imprimir uma marca bastante pessoal em 'Dois Compassos', trabalho que traz alguns clássicos da lavra de Delcio emoldurados em requinte e bom gosto.

 Por Bruno Negromonte



Dois nomes, dois talentos. De um lado Delcio Carvalho, sambista carioca cujo a dureza do corte da cana lhe substanciou com uma doçura ímpar nesses mais de 40 anos de estrada e centenas de composições ao lado dos mais diversos nomes de nossa música. Dentre as canções de sua lavra há verdadeiros clássicos de nossa música popular brasileira como “Sonho meu”, “Acreditar” e Minha verdade”, além de tantas outras em parceria com os mais diversos conceituados compositores como Dona Ivone Lara, Wilson Das Neves, Noca da Portela, Ivor Lancelotti, Zé Kéti, Luisão Maia entre outros. Além disso o rol de intérpretes de sua canção conta com nomes como Marisa Gata Mansa, Elza Soares, Martinho da Vila, Maria Creuza, Elizeth Cardoso, Alcione, Beth Carvalho, Gal Costa, Nana Caymmi, Clementina de Jesus, Jair Rodrigues, Nara Leão, Maria BethâniaVanessa da Mata, Mônica Salmaso, Clara Nunes, entre outros que fazem com que seu nome figure entre os maiores compositores do gênero ao qual escolheu e defende de modo elegante e coerente desde a década de 1960, quando passou a morar na capital do Rio de Janeiro participando de diversos programas de calouros e shows de Gomes Filho, da Rádio Guanabara. Vem desse período a composição, em parceria com Dias Soares, Pingo de felicidade”, gravado na época pela cantora Cristiane.




A partir daí passou a ingressar o grupo Lá Vai Samba, onde ganhou uma visibilidade maior como compositor, chegando a ingressar na Ala de Compositores da Imperatriz Leopoldinense no início da década de 1970 e começou a ganhar a visibilidade de grandes intérpretes como foi o caso da 'divina' Elizeth Cardoso, que gravou ao longo de toda a década cerca de cinco canções de sua autoria: SerenouIgual à flor (em parceria com Neizinho) e Pra quê, afinal? (composta com Mauro Duarte), Voltar e Minha Verdade (composição a quatro mãos com Dona Ivone Lara). Ao longo da década seguinte Delcio chegou a fazer dois registros fonográficos, o primeiro em 1980 onde interpretou vários de seus sucessos e o segundo em 1987, álbum que contou com participações de nomes como o maestro Rildo Hora, o saxofonista Paulo MouraDona Ivone Lara e Elizeth CardosoOs anos seguintes sucederam projetos como o show De samba e poesia, em comemoração aos 40 anos de carreira. Nesse espetáculo Delcio apresentou 14 composições, 12 das quais inéditas em parceria com o poeta Mário Lago Filho; além de ter lançado dois projetos: o primeiro em 2006, intitulado Profissão compositor e o segundo, produzido por Paulão Sete Cordas e Mariozinho Lago, trata-se de Delcio - Inédito e eterno, um projeto que abrange três discos com cerca de 40 faixas lançados em 2007. Sem contar com 0 álbum que resultou esta pauta.

Já o segundo nome trata-se do também carioca Marcelo Guima, violonista e compositor que teve a sua iniciação musical em Brasília, estado onde foi morar ainda criança. Foi na capital federal que Guima obteve o bacharelado em violão pelo Departamento de Música da Universidade de Brasília e teve a oportunidade ao  longo de quatro anos ser professor da Escola de Música de Brasília - EMB, uma das maiores instituições públicas de ensino musical de nível técnico da América Latina. Como instrumentista vem escrevendo seu nome dentro da música brasileira defendendo-a em concertos tanto no Brasil quanto no exterior, mostrando a sonoridade de seu violão em países como México, Cuba, Alemanha, Guatemala, Panamá entre outros. Há de lembrar também que ao longo desses anos o instrumentista e compositor vem atuando na produção e composição de trilhas sonoras para TV, documentários e cinema (longas e curtas metragens). Essas incursões nos meios de comunicação renderam-lhe a apresentação e produção de dois programas de rádio: “Ouvindo Música” na Rádio MEC AM do Rio de Janeiro, com quase uma década em exibição e que traz como proposta um estilo didático usando como matéria-prima a Música Popular Brasileira para orientar o ouvinte a entender de forma mais prática os diversos aspectos da música; veiculado desde 2004,  o segundo programa trata do “Arte Petrobras” na rádio MPB FM também no Rio e que tem como proposta a divulgação de artistas e projetos patrocinados pela Petrobras, servindo também como uma vitrine da cultura produzida em todo o país. Quanto a sua discografia, Marcelo Guima tem álbuns como “Nova Mente" (disco de estreia do artista lançado em 1994); "Passagem", álbum que chegou ao mercado no ano de 2000 e que traz releituras instrumentais de sucessos de nossa música popular brasileira, além de diversos projetos como, por exemplo, o disco “Pesquisa Musical Brasileira”, trabalho em parceria com o Ministério da Cultura, onde apresenta composições próprias utilizando como base ritmos originários do Brasil.

Com todo esse “Know-how” não é de se estranhar que a junção desses dois nomes resultasse em coisas boas como podemos atestar em “2 compassos”, álbum viabilizado pelo projeto de financiamento coletivo “Catarse” e que teve a sua estreia em show na capital San Salvador (El Salvador) a convite do Centro Cultural Brasil-El Salvador da Embaixada do Brasil. Nesta parceria juntam toda a experiência e talento para interpretações de cunho pessoal e intransferíveis a treze faixas entre inéditas e regravações. Dentre as que saíram do forno para este projeto encontramos “Deixar estar” e “Luar” (composição da dupla Delcio  e Guima),  “Vestido novo" (Guima e Ronaldo Monteiro), “O amor da gente” (Marcelo Guima). Quanto as releituras há canções como “Velha cicatriz” (Delcio e Ivor Lancelotti), “Sonho meu”, “Alvorecer” e “Minha verdade” todas compostas por Delcio Carvalho em parceria com Dona Ivone Lara. Da lavra de Guima ainda há as faixas  “O amor da gente”,  “Lembranças suas”,  “Jamais”,  “Amarelo, preto ou branco” e  “Longe do mar”, parceria com Paulo César Pinheiro.


Além de Delcio Carvalho e Marcelo Guima, ainda perfazem o álbum nomes como Arthur Maia (arranjos, percussão e baixolão), Alencar 7 cordas (arranjos), Toiniho Ferragutti e Chico Chagas (acordeon), Marcos SuzanoDurval Pereira e Marco Zama (percussões), Sérgio Chiavazzoli (bandolim, violões), André Vascconcellos e Nema Antunes (baixo), Carlinhos 7 cordas (violão de 7 cordas), Leandro Braga Marco Brito (pianos e teclados), Téo Lima (bateria), Thiago da Serrinha (cavaquinho), Pedro Mamede (programação eletrônica e percussão), Ricardo Amado (violino) e Fabiano Sagalote (trombone). 

Esta pauta estava programada para sair na data de hoje, no entanto no último dia 12 de novembro o mundo do samba privou-se da presença física de Delcio, que veio a falecer em decorrência de um câncer no aparelho digestivo deixando uma obra que por si só já é eterna e digna de todas as reverências possíveis e imagináveis. Delcio Carvalho hoje de divino compositor não só pela condição que se encontra, mas por ter tido a oportunidade de emoldurar na parede da memória de muitos toda a poesia e lirismo em forma de samba, um ritmo que por si só embriaga àqueles que sabem sorver de modo preciso aquilo que ele oferece. Esse encontro com Marcelo Guima atesta isso. Seu último registro fonográfico mostra-se detentor de um vigor pleno e insolúvel que substancia toda lembrança deixada por Delcio em versos e melodias escritas e eternizadas em quase meio século dedicado a música. Valeu Poeta! Sua obra,  sem sombra de dúvidas, é o legado maior que você poderia deixar. De modo perene seus versos e melodias habitarão gerações e gerações que procurarem se substanciar de um samba bem feito.


Maiores Informações:
Site oficial - http://www.doiscompassos.com.br/ 
Myspace - https://myspace.com/doiscompassos

Delcio Carvalho:
Sites oficial - http://www.delciocarvalho.com.br/
Fã-Clube Oficial - http://www.fadedelciocarvalho.com.br/
Facebook - https://www.facebook.com/delcio.carvalho.908?fref=ts

Venda de Cd's - delcio@delciocarvalho.com.br

Marcelo Guima:
Site Oficial - http://www.marceloguima.com.br/portugues.php
Twitter - https://twitter.com/_marceloguima
Facebook - https://www.facebook.com/marceloguima
Facebook (Página) - https://www.facebook.com/paginamarceloguima
Contato - Tel: 21 2285-8077 / 21 2205-3048
E-mail - arko@arkoproducoes.com.br

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

COQUETEL ACAPULCO - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Na estrada divulgando o álbum "Dama da noite", o grupo apresenta-se no próximo dia 06 de dezembro, no Espaço Multifoco, situado na Lapa (RJ)

Por Bruno Negromonte 


O entrosado grupo carioca Coquetel Acapulco ao longo deste ano vem divulgando o álbum Dama da noite, projeto lançado após dois exitosos Ep's. Este CD de estreia (também lançado em LP) chega ao mercado graças a bem sucedida campanha de Crowdfunding (uma espécie de financiamento coletivo, onde os próprios fãs e admiradores podem disponibilizar recursos para a viabilização do que se deseja). O álbum, que vem somando elogios não só do público, mas também da crítica especializada traz doze faixas autorais que documentam e atestam a deliciosa e contagiante sonoridade produzida pelos jovens e que já foi abordada aqui mesmo em nosso espaço a partir da matéria "Eis a dissidência do óbvio", onde pode-se conhecer um pouco mais não só da biografia, mas também da sonoridade produzida por eles. Uma música rica e heterogênea que tem o Ska como uma das principais diretrizes.

Mesmo em volta aos ensaios para a apresentação agendada para o início de dezembro no Rio de Janeiro Léo Mahfuz gentilmente disponibilizou-se a nos conceder esta entrevista exclusiva, onde em nome de todo o grupo, aborda expectativas futuras, os diversos gêneros musicais que abordam, a forma de compor, a ideia de prensar o LP entre outras informações como o desejo de um registro em DVD. Vale a pena a leitura!


Como surgiu a ideia da formação do grupo?

CA - Nossa primeira vocalista, Luisa Baeta, foi a responsável pela origem da banda. Ela decidiu reunir músicos da cena independente carioca para tocar ska, em suas vertentes diversas. Não era um projeto autoral, começou como algo bem despretensioso, mesmo. Tínhamos em comum a paixão pelo ritmo jamaicano, mas ninguém sabia muito bem aonde aquilo nos levaria. A guinada foi quando começamos a trabalhar composições próprias, que já apontavam para novos horizontes. Gravamos uma demo com essas primeiras músicas e o resultado foi muito rápido: em poucos meses estávamos abrindo shows para o Móveis Coloniais de Acaju, ainda em 2005, e para a novaiorquina The Slackers logo depois.



O grupo já vai com oito anos de estrada e desde o início vem construindo uma sólida imagem dentro do gênero que abraçaram. Quais os maiores percalços para se firmarem do modo como hoje vocês estão conseguindo?

CA - Por desencontros da vida, a Luisa foi viver no exterior em 2007 e teve que abandonar o projeto. Perdemos uma vocalista, fundadora do grupo, e tivemos que retroceder um pouco, em plena efervescência de shows e EP recentemente lançado. A partir daí tivemos alguns contratempos até conseguir estabilizar a formação e amadurecer a nossa sonoridade. Mas sempre mantivemos a rotina de shows. Quando a Sílvia Tardin entrou para o grupo em 2010, já tínhamos uma identidade musical consolidada, foi mais fácil se planejar e investir no disco, na produção da banda dentro do mercado.


Apesar do ska predominar é possível afirmar que são influências distintas que constituem a sonoridade do grupo como podemos perceber ao ouvir o álbum “Dama da noite”. Quais nomes podemos destacar como maiores influências da música que hoje vocês fazem?

CA - Uma boa dica para entender a nossa sonoridade seriam as versões que tocamos ao vivo, todas releituras bem peculiares de diversos gêneros musicais. Do samba-canção de Cartola ao rock com pegada de música negra do The Clash. Do soul/funk de Aretha Franklin ao afrojazz do maestro Moacir Santos. Aliás, algumas bandas de ska do final da década de 90, como Hepcat e Slackers, foram importantes em mostrar que o gênero pode ser dançante e complexo, pode conviver com qualquer estilo que tenha a música negra como raiz, desde o blues até a salsa. Coisa que, aliás, o Paralamas do Sucesso de certa forma já tinha começado a experimentar um pouco no Brasil desde a década de 80.


Como se deu a escolha do repertório do álbum?

CA - Nós fomos para o estúdio no intuito de gravar todas as músicas autorais que faziam parte do repertório do show: 14 no total. Como o processo de gravação foi todo muito espontâneo, o critério para a escolha das 12 faixas do álbum acabou sendo as que estavam mais bem executadas, as que nos satisfizeram mais. Por isso, convivem no disco músicas dos primeiros anos da banda, com arranjos novos, e canções que compusemos na última hora, prestes a entrar no estúdio.


E o processo de composição de vocês? De que forma acontece?

CA - O processo é bem coletivo e natural. Normalmente escrevo as letras, mas já houve outros letristas na banda também. Quando alguém surge com uma ideia, seja um arranjo, uma harmonia ou uma melodia, nós vamos construindo em conjunto o esboço da canção. Definimos a célula rítmica juntos, o andamento, qual tempero a gente vai dar pros arranjos, o tom etc. Dificilmente a música já se apresenta toda delineada. O mais prazeroso é ver uma ideia incipiente ganhar um contorno completamente novo, uma abordagem que você sozinho jamais conceberia. O resultado é que o disco tem 7 compositores diferentes e várias parcerias, além da contribuição de cada integrante em todas as músicas.


Neste primeiro álbum vocês tiveram a ideia de também lançá-lo em LP. Vocês acreditam que retomada da fabricação do vinil no Brasil chega para dar um up ao mercado ou veio apenas para atender a um nicho específico de público, uma vez que os preços dos discos não são tão atrativos quanto o dos cd’s?

CA - A ideia de prensar o LP veio como algo que fazia todo o sentido pra gente: a arte da capa, uma foto colorizada, remete à época do vinil, é outra dimensão quando se tem o LP em mãos. Nosso som também se valoriza ao se escutar o vinil, por causa da compressão que é menor, dos graves que surgem. Quando convidamos o Victor Rice para produzir o disco, o caminho ficou ainda mais claro: ele trabalha a mixagem de forma totalmente analógica, ao vivo, utilizando máquina de rolo, fita magnética, mesa e efeitos não digitais. Até a ordem das faixas foi pensada como se o disco estivesse dividido em Lado A e Lado B.

Quanto ao mercado do vinil, é uma questão ainda em aberto. Parte do interesse vem de um nicho de público, sim. Pessoas que, por nostalgia, modismo ou sincera preferência pelo som do vinil, podem se dar ao luxo de investir não só num LP como num toca-disco, que também é muito caro ainda no Brasil. Mas no exterior, especialmente na Inglaterra e nos EUAs, o preço não é proibitivo e as vendas já superam a dos cds (venda física). O diferencial, acredito, é que o vinil significa um retorno a uma lógica em que a música era menos banalizada, não existia shuffle (risos). O LP é sinônimo de qualidade e dificulta uma cópia fiel.


Vocês estão utilizando das mais diversas ferramentas existentes via internet para auxiliar na viabilização de projetos e divulgação do trabalho com uma boa receptividade do público. Como tem sido feito este trabalho?

CA - A internet não substitui a imprensa tradicional, menos ainda no meio musical. Mas permite que você crie novas conexões com o público, conheça-o melhor, possa interagir mais, mostrar seu trabalho e engajar o fã. O trabalho que realizamos através das ferramentas da internet, especialmente com as redes sociais e o Youtube, tem buscado esse elo constante com o nosso ouvinte: estar sempre próximo, mostrando o que temos a oferecer de novo, de singular, pensando esse contato de forma multimídia. Foi o que aconteceu com o crowdfunding que realizamos para lançar o disco, no ano passado. Preparamos vídeos de divulgação, oferecemos recompensas diferentes como aulas de canto e de instrumento com nossos integrantes, rodada de drinques, pocketshow, composição exclusiva e até a participação no videoclipe de Me Deixe Saber, que acabou contando com a presença de 13 apoiadores. Sejam por fotos, vídeos de shows, gravações de ensaio, músicas novas em versões acústicas, o importante é manter esse canal sempre vibrante, pois só assim conseguiremos dar vazão ao que produzimos, num mundo tão conectado e fluido.


Vocês recentemente lançaram o videoclipe da canção “Me deixe saber” alcançando 5 mil visualizações em duas semanas. Com este sucesso vocês já pensam na produção de um DVD ou algo semelhante?


CA - É uma boa ideia, hein (risos)? Foi muito gratificante gravar esse clipe, não tínhamos tanta consciência de como seria um divisor de águas pra banda. Só temos a agradecer à equipe da produtora Caos e Cinema, pelo talento e profissionalismo. Em 12 horas ininterruptas de gravação, foi possível captar muito bem o clima que queríamos. Dá vontade de fazer um segundo clipe, também. Mas realmente um DVD que captasse a nossa energia ao vivo seria algo fundamental. Assim como o clipe expandiu a forma através da qual o público enxerga a nossa música, gerou novas nuances, um DVD de um show permitira realçar o nosso lado mais dançante, mais pulsante, que o disco capta bem, mas ao vivo e visualmente é outra coisa.


Quais as expectativas para 2014?

CA - Para o ano que vem, o nosso planejamento é aproveitar a repercussão do disco e do clipe para viajar pelo país, mostrar o trabalho em outras cidades. Outro desejo nosso é conseguir desenvolver parcerias, musicais e também de produção de eventos, para fomentar novas possibilidades no meio. Gravar um segundo clipe seria ótimo, quem sabe até um DVD? Enquanto isso, já temos algumas composições novas que estão entrando no repertório do show, já pensando num próximo disco. Outra ideia legal seria gravar algo como o “Studio Sessions” que os americanos fazem tão bem. Gravações de vídeo caprichadas da banda em estúdio, com a possibilidade de exibição online e em tempo real. O futuro parece estar muito por aí.


Pra finalizar gostaria da opinião de vocês perante as polêmicas referentes a autorização ou não acerca de biografias. Artistas diversos estão tomando posições sobre a autorização ou não. Vocês tem uma opinião formada sobre o assunto?

CA - Confesso que não formei completamente a minha opinião. Num mundo ideal, sob o império do bom senso, a liberdade deveria ser total. A necessidade de autorização de biografias, do jeito como preveem atualmente os artigos do Código Civil, poderia sim abrir precedentes para no futuro se limitar o direito à informação jornalística. Recentemente assistindo à entrevista do Paulo César de Araújo, biógrafo do Roberto Carlos, no programa Roda Viva, alguém destacou que a biografia hoje é uma das últimas formas de se fazer um jornalismo mais profundo, com reflexão e mais independência. Compreendo esta demanda. Assim como compreendo o interesse em proteger a privacidade, pois não existe liberdade sem preservação da intimidade. Vide as espionagens americanas pelo mundo, em nome da guerra ao terrorismo. Em vez de olharmos para o mundo anglo saxão, que tem uma cultura mais tolerante com a invasão à privacidade, talvez o melhor fosse buscar outros exemplos de democracia. Prever uma indenização severa a quem ferir direitos de privacidade ou ofender a honra seria um grande passo, assim como a possibilidade de alguém que se sinta ofendido numa biografia possa colocar em destaque na capa essa contrariedade, como é na França, país que me parece ter um melhor equilíbrio nessa questão.


Serviço: 
Show de lançamento do compacto Boa Fratura e videoclipe da banda Don Robalo e lançamento em vinil do álbum Dama-da-Noite, da banda Coquetel Acapulco.

Dia: 06 de dezembro (sexta)
Local: Espaço Multifoco – Av. Mem de Sá, 126 – Lapa – Rio de Janeiro
Abertura da Casa: 22h
Início dos Shows: 23h
Ingressos: R$ 18 (lista amiga) / R$ 20 (meia entrada)
Informações: (21) 2222-3034
Capacidade: 200 pessoas
Classificação: 18 anos
Formas de pagamento: Entradas somente em DINHEIRO. Consumo no bar em dinheiro e cartões de crédito e débito 
Mais informações:
http://www.donrobalo.com.br/

Outras Informações:
Site Oficial - http://www.coquetelacapulco.com.br/
Facebook (Página) - http://www.facebook.com/coquetelacapulco
Youtube (Canal) - http://www.youtube.com/TheCoquetelacapulco
Twitter - https://twitter.com/coquetel
Contato para shows - coquetelacapulco@gmail.com
Soundcloud - https://soundcloud.com/coquetelacapulco/
Myspace - https://myspace.com/coquetelacapulco
Vagalume - http://www.vagalume.com.br/coquetel-acapulco/
Vimeo - http://vimeo.com/coquetelacapulco
Reverbnation - http://www.reverbnation.com/coquetelacapulco


Para aquisição do álbum:
Site Oficial (CD e/ou LP) - http://www.coquetelacapulco.com.br/#!compre/c1nqx
Locomotiva discos - http://www.locomotivadiscos.com.br/pd-60661-cd-coquetel-acapulco-dama-da-noite.html?ct=3afa5&p=4&s=2
Itunes - https://itunes.apple.com/br/artist/coquetel-acapulco/id696121010

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