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segunda-feira, 21 de março de 2011

UM GRANDE ACHADO CULTURAL: RAUL BOEIRA

Por Bruno Negromonte

Salve engano, certa vez o poeta gaúcho Mário Quintana escreveu em um de seus poemas as seguintes palavras: "Eu sou um homem fechado. O mundo me tornou egoísta e mau. E a minha poesia é um vício triste, desesperado e solitário que eu faço tudo por abafar". Acho que só fundamentando-me nesse poema de um gaúcho, para falar sobre outro gaúcho.

Não que esse outro gaúcho seja egoísta, fechado e mau, e sua poesia seja um vício triste, mas é sem dúvida ele é um tanto quanto recluso o suficiente para nos privar de seu talento de cantor durante esses longos anos em que se escondeu por trás de seus versos e melodias.

(o outro gaúcho a quem nos referimos no início desta matéria) nasceu em Porto Alegre mas mora em Passo Fundo desde 1974 e vem desta época suas primeiras composições e melodias. Influenciado por grandes nomes da MPB como Joyce , Dori Caymmi e Gilberto Gil; Desde então suas canções foram gravadas por diversos artistas não só no Brasil como também na Europa e em alguns países da América do Sul (como o Uruguai por exemplo). Cantores e grupos como Leonardo Ribeiro. Mato Grosso Group, The Zawinul Syndicate, Daniela Mercury entre outros já gravaram Boeira ao longo desses mais de 30 anos dedicados a composição.

Porém, apesar de ser bem conceituado como compositor e crítico musical já estava na hora de Raul "desabrochar" como cantor. E quando chegou a hora da verdade (como o próprio Boeira definiu a gravação desse seu primeiro álbum), ele não fez por menos. A espera de 30 anos para que Raul Boeira lançasse-se como cantor foi válida. Essa longa espera me remete a uma analogia desse primeiro álbum de Boeira ao trabalho de pérolas nas conchas. A produção das pérolas normalmente levam de 8 a 12 anos em todo o seu estágio por parte das conchas, podendo ate atingir 20 anos para se formar uma pérola de porte grande.

Sendo assim 30 anos de espera não foram em vão. Raul Boeira nos presenteia com esse álbum de estreia intitulado de Volume um (que pode ser adiquirido clicando na imagem) e que sem dúvida alguma já se faz uma grande pérola da MPB. Volume um foi produzido e gravado em 2009 no estúdio de propriedade do baixista e produtor musical Liminha e que já se tornou referência na gravação de excelentes álbuns de todos os gêneros no Brasil.

Neste caso, o disco de Raul Boeira também merece entrar no hall dos grandes álbuns produzidos no estúdio Nas nuvens pois além dele ter sambas, ijexá, xote, baião, partido alto, candombe, milonga entre outros ritmos entre as doze faixas existentes nele, Há também a excelente qualidade das canções por conta do "know-how" de todos aqueles que deram a sua colaboração na confecção do disco. Instrumentistas como Lula Galvão, Celso Fonseca, Torcuato Mariano, André Vasconcellos, Sidinho Moreira, Firmino, e fazem parte do primeiro escalão da MPB. Além da participação da cantora Bárbara Mendes cantando uma das faixas e a produção, arranjos e teclados a cargo do também gaúcho Dudu Trentin.

Boeira compõe com inspiração e talento os vários ritmos e temáticas existentes no disco. Há um estilo próprio que o faz cosmopolita e ao mesmo tempo interiorano. Quando fala de temas como solidão, a saudade, o poder da natureza isso tudo o faz um compositor genuínamente brasileiro que trás em sua bagagem todas as variações rítmicas que o nosso país-continente tem e isso o faz universal. Isso o faz ir além da MPG (Música Popular Gaúcha) o aproximando dos gêneros da Bahia, de Pernambuco, Rio de Janeiro e Uruguai.

Analisando as doze canções presentes no disco percebe-se que nelas são abordados de tudo um pouco. A primeira canção (O Poder da benzedura), por exemplo, homenageia o seu Nabuco, conhecido benzedor e escultor de Passo Fundo. O arpejo do violão sugere a levada rítmica do candombe uruguaio. A faixa inicia com um belo arranjo de violinos executado por Glauco Fernandes, preparando a entrada dos violões, tocados por Lula Galvão (que acompanha Guinga há muito tempo).

A segunda canção (Negro coração) é uma parceria com Alegre Corrêa e sintetiza a visão de Boeira sobre a questão "música gaúcha versus MPB". Nesse samba, ele lamenta a ausência da mão negra na música do Rio Grande do Sul, o quadradismo dos ritmos gaúchos e a xenofobia dos "donos da capitania"; já a terceira faixa (Oferenda) é uma microcanção. O violão foi tocado por Celso Fonseca, que acompanhava Gilberto Gil e hoje tem uma carreira consagrada como cantor, compositor e violonista. Ele também canta um dos versos da canção. Nesta canção também brilha o clarinete e a flauta em arranjo delicado de Dudu.

Na quarta quarta canção (Doutor cipó) há uma homenagem a um dos típicos personagens de Passo Fundo: seu Graciano, o velhinho que vendia ervas e chás em frente ao BB no centro da cidade. É uma verdadeira homenagem a fé do brasileiro na flora medicinal tupiniquim, como alternativa à medicina mercantilizada que muitos dos cidadãos comum do Brasil não tem acesso. Raul cita 25 tipos de ervas e afins nessa canção, me remetendo ao grande compositor pernambucano Onildo Almeida que na década de 50 enumerou diversos produtos existentes de uma famosa feira do nordeste, a feira de Caruaru. Trata-se de um ijexá bem ritmado. Os violões de aço tocados por João Gaspar e a percussão de Sidinho Moreira conferem à canção cores nordestinas.

"Na beira do rio" (a quinta canção) é uma toada sertaneja - no bom sentido! - simples e romântica. Os erros de português são propositais, pois o autor se coloca na posição do matuto que espera a morena voltar para o seu ranchinho. Nesta canção há apenas o violão de Fernando Caneca e o acordeom de Léo Brandão, mas que foram suficientes para criar o clima nostálgico que a canção pede. Já "Pro pandeiro não cair" (sexta canção do álbum) é um samba abolerado, onde há uma crítica sobre a necessidade que o brasileiro tem de cultuar os heróis do esporte e o modo como os meios de comunicação o utilizam como forma de induzir o povo à alienação. O destaque desta faixa fica para o arranjo de flautas executado pelo grande músico Marcelo Martins.

O álbum segue com canções bastante interessantes como é o caso de "Minha reza" que é uma das canções que mais chamam a atenção no disco. Trate-se de uma prece escrita por Boeira para São Jobim lá pelos idos de 1986 cantada sobre a guitarra de Julio Herrlein. Seguindo de "Castelhana" (um candombe suingado e bem humorado, no qual há a integração latino-americana), "Com o azul nos olhos" (um poema escrito em 2002 inspirado em uma viagem de volta de Uruguaiana e tendo o o céu da campina como inspiração e que foi musicado por Mário Falcão e interpretado no disco por Bárbara Mendes), "Tataravô" (um partido alto), o xote "Laranjeira" (com direito a sanfona, triângulo e zabumba) e por fim o samba "Clariô" (letra musicada por Alegre Corrêa na qual fala sobre fé, a resistência e a teimosa luta pela sobrevivência). A título de curiosidade vale lembrar que este samba está presente no cd 75th, do Zawinul Syndicate, que ganhou o Grammy 2010 de melhor álbum de jazz contemporâneo. Nesta canção Ricardo Silveira faz um solo excepcional.

Enfim, Passo Fundo e o Brasil devem se orgulhar desse grande talento musical brasileiro que traz em suas composições as peculiaridades da cidade em que mora e não se deixou render(-se) a vaidade do falso brilho das vitrines musicais do centro do país. Que esse grande achado cultural brasileiro não nos prive de sua voz e novos álbuns de agora em diante.

Conheçam também:
http://www.myspace.com/raulboeira
http://www.buzinadogasometro.com.br/web/artista/Perfil.aspx?id=393

Contatos para shows e aquisição do cd: (54) 9964-3540

domingo, 20 de março de 2011

CLASSIFICADOS CULTURAL MUSICARIA


Olá a todos que acompanham o Musicaria Brasil!
Sei que muitos Fãs do Djavan andam em busca deste raro álbum que acabou caindo em minhas mãos por acaso, depois que acabei de comprá-lo a um preço pra lá de exorbitante... é um álbum lançado oficialmente em 1988 e foi produzido por Ronnie Foster para a CBS Records Americana para atender ao público deste país.
Ao longo dos anos foi sendo cultuado por mujitos admiradores de jazz e hoje é considerado como um dos 100 melhores discos de jazz do século por especialistas ingleses.
Toda essa descrição é para falar sobre o disco "Djavan - Bird of paradise", que foi lançado em 1987 no Brasil sob o título de "Djavan - Não é azul, mas é mar" e trás a mesma quantidade de canções tendo como diferencial a interpretação em inglês de alguma.
Esse mercado só fez consolidar a carreira do Djavan no exterior e o ajudou a tornar-se ainda mais um popular músico nos EUA.
Eis as Faixas:
01 - Carnaval in Rio (Carnaval No Rio)
02 - Bird of Paradise
03 - Apple (Maçã)
04 - Real
05 - Madness (Doidice)
06 - Stephen's Kingdom
07 - Bouquet
08 - Take Me (Me Leve)
09 - I Will I Won't (Dou-Não-Dou)
10 - Miss Susanna

Ando em busca de um álbum específico para a troca por este do Djavan. Minha pretensão é efetuar a troca deste meu álbum pelo CD cabeça de Nêgo do João Bosco.

Caso venha a ser do interesse de algum dos frequentadores do Musicaria é só entrar em contato comigo: brnegromonte@bol.com.br

100 ANOS DE ASSIS VALENTE

Se estivesse vivo, ontem dia 19 de março, Jose de Assis Valente estaria completando 100 anos. Assis Valente nasceu, segundo seu relato, em plena areia quente, no Caminho de Bom Jardim a Patioba, na Bahia, durante uma viagem de sua mãe no ano de 1911. Teve uma infância conturbada, tendo sido roubado dos pais - José de Assis Valente e Maria Esteves Valente - e entregue depois a uma familia para ser criado. Trabalhava até ficar exausto durante a semana e, aos sábados, ia à tarde fazer feira com sua patroa. Vagou com um circo pelo interior, no qual, entre outras coisas, cantava: "Vejam só \ Vejam só \ A roupa que há cem anos, já usava minha avó \ Veio a vez \ veio a vez \ De cada roupa dessas se fazer duas e três". Em Salvador, trabalhou como farmacêutico, fez cursos de desenho no Liceu de Artes e Ofícios e profissionalizou-se como especialista em prótese dentária. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, em 1927 e empregou-se como protético. Após muita luta, conseguiu publicar alguns desenhos no Shimmy, Fon-Fon, etc.

No início dos anos 1930, começou a compor sambas. Em 1932, conheceu Heitor dos Prazeres, que muito o incentivou. Em princípios de 1941, casou-se com Nadili, com quem teve sua única filha, Nara Nadili nascida em 1942. Pouco depois o casal se separou. A 13 de maio de 1941, no apogeu de sua carreira de compositor, o Rio de Janeiro foi sacudido com a notícia de que ele se tinha atirado do Corcovado e, milagrosamente preso a um galho de árvore, fora libertado por uma equipe do Corpo de Bombeiros. Mas, embora salvo, moralmente prosseguiu em sua queda do abismo. Nunca mais foi o mesmo. Seu nome foi, aos poucos, sendo esquecido e, a partir de então, só esporadicamente voltava ao cartaz. Anos depois da primeira tentativa, quando Elvira Pagã, com escândalo, cobrou-lhe uma dívida de Cr$ 4.000,00 (quatro mil cruzeiros), tentou novamente o suicídio, dessa vez com lâmina de barbear. Passou então a viver de seu laboratório de prótese dentária e esporadicamente de sua música. Mas, para pagar o laboratório, era geralmente obrigado a contrair novas dívidas. Ao contrário do que muitos pensavam, continuava a compor. Freqüentemente mostrava aos íntimos uma composição nova, de rara beleza. Compunha quase uma música por dia. Não conseguia, entretanto, gravá-las. No máximo, quando as dívidas apertavam, vendia um samba que depois, assinado por outros, fazia sucesso. A 10 de março de 1958, desesperado com sua situação financeira, resolveu suicidar-se. Deixou a casa em que morava, na Rua Santo Amaro, 112, seguiu para o seu consultório na Cinelândia, onde permaneceu até cerca das l3h30 min. Às 15 h foi à Sbacem, sociedade arrecadadora de direitos autorais à qual estava filiado, para se informar de seus rendimentos. Estava tão nervoso que o tesoureiro da Sbacem, Joubert de Carvalho, deu-lhe um sedativo. Ás 16h30 min telefonou para seu laboratório dando instruções a seus empregados do que deveria ser feito após sua morte. Às 17h30 min telefonava para seu editor, Vicente Vitale, e para o embaixador Pascoal Carlos Magno comunicando-lhes que iria se matar. Vitale ainda tentou ligar para a Polícia: era tarde. Exatamente às 17h55 min, portanto, oito dias antes de seu 47º aniversário, em um banco da Praia do Russel, junto de um play-ground onde brincavam crianças, tomou formicida com guaraná. Vestia calça azul-marinho e blusão amarelo. Em seus bolsos foram encontrados um par de óculos, uma carteira de identidade com o retrato rasgado, uma carta para a polícia e duas notas velhas de cinco cruzeiros. Na carta, entre outras coisas, esclarecia que morria por sua vontade, estando seriamente endividado, e fazia um apelo ao público para que comprasse seu novo disco "Lamento". Pedia ainda a Ary Barroso que pagasse o aluguel atrasado de duas residências. E acrescentava: "Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo".



Gravado em 1932, seu primeiro samba "Tem francesa no morro" tornou-se sucesso na voz de Aracy Cortes. Por essa época, quando assistiu em um teatro da cidade Carmen Miranda cantar "Sorriso Falso", de Cícero Almeida, ficou fascinado. "Fiquei apaixonado por ela, não só como cantora, mas como mulher principalmente", confessou um dia. E fez tudo, então, para conhecê-la. Tornaram-se amigos, e Carmen Miranda, sempre que podia, incluía em seu repertório um samba dele. Indo um dia a Vila Isabel, a uma festa em que se declamava muito Olegário Mariano, Menotti del Picchia, etc., e senhoras e almofadinhas baratos da época trocavam muitos bye-byes, sentiu-se inspirado e fez o famoso "Good-bye, Boy", onde criticava o excesso de americanismos na língua brasileira, especialmente para Carmen Miranda, que acabou por se tornar posteriormente a maior intérprete e divulgadora de seus sambas. Esse samba foi gravado em 1932 em disco que tinha ainda o samba "Etc...". Teve ainda no mesmo ano gravadas por Moreira da Silva a marcha "Pra lá de boa" e o samba "Oi Maria". Nesse ano, quando estava solitário no quarto onde morava na Praia de Icaraí em Niterói, em pleno Natal, compôs a marcha "Boas festas" que se tornaria a canção natalina mais conhecida dos brasileiros e uma das poucas do gênero que conseguiu sobreviver. Seu sucesso foi de extrema importância para ele e também para Carlos Galhardo, ambos em início de carreira à época do lançamento em dezembro do ano seguinte, em disco que trazia também o samba "Pão de açúcar", com Artur Costa. Ainda em 1933, na Victor, Carmen Miranda gravou as marchas "Tão grande, tão bobo" e "Lulu" além do samba "Sapateia no chão" e Moreira da Silva os sambas "Abre a boca e fecha os olhos" e "Levante o dedo" e as marchas "Olha à direita" e "Cadê você meu bem". Também nesse ano, Aurora Miranda gravou na Odeon o samba "Sou da comissão de frente" e a marcha "Quando eu queria você", com Milton Amaral. Para as festas juninas deste mesmo ano, compôs "Cai, cai balão" marcha gravada em dupla por Francisco Alves e Aurora Miranda. Ainda em 1933, teve as marchas "Não sei pedir seu coração" e "Beijinhos" gravadas pela cantora Elza Cabral.
No ano seguinte, Carlos Galhardo gravou na Victor a marcha "Marcolina" e o samba "Sinos da Penha". Nesse ano, Carmen Miranda gravou com grande sucesso o samba "Minha embaixada chegou" em disco que trazia também a marcha "Té já".

Em 1935, mais quatro composições lançadas por Carmen Miranda, a marcha "Recadinho de Papai Noel" e os sambas "Por causa de você, Ioiô", "E bateu-se a chapa" e "Isso não se atura". Nesse ano, Almirante gravou a marcha "Deixe de ser palhaço" e o samba "Pensei que pudesse te amar", Mário Reis, o samba "Este samba foi feito pra você", com Humberto Porto e o Bando da Lua, o samba "Mangueira", com Zequinha Reis. Nesse ano, Francisco Alves gravou na Victor as marchas "Olhando o céu todo estrelado" e "Mais um balão". Teve mais quatro composições lançadas pelas irmãs Miranda em 1936, Aurora lançou a marcha "Vem comigo", com Jocelino Reis e o samba "Ao romper da aurora", com Leandro Medeiros e Carmen, a marcha "Ô..." e o samba "Fala meu pandeiro". Ainda nesse ano, a cantora Sônia Carvalho gravou os sambas "Sem você não há prazer", "Você quer se ver livre desse mundo", com Roberto Azevedo e "Eu vivia no morro", o Bando da Lua, as marchas "Cirandinha" e "Só conheço uma" e os sambas "Que é que Maria tem" e "Maria boa", este um grande sucesso carnavalesco e Orlando Silva os sambas "Não é proceder" e "Já é de madrugada".
Em 1937, teve lançadas pelas Irmãs Pagãs na Victor, os sambas "O samba começou" e "Tristeza", com Zequinha Reis e por Orlando Silva, também na Victor os sambas "Alegria", com Durval Maia, outro grande sucesso e "Minha intenção", com Nelson Peterson. Também em 1937, Carmen Miranda gravou na Odeon o samba-choro "Camisa listrada" feito exatamente para seu estilo brejeiro e malicioso, que se tornou um dos sambas preferidos dos foliões naquele ano. "Camisa listrada" chegou mesmo a ganhar o primeiro lugar em concurso promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro na noite de sexta-feira, véspera de Carnaval, no auditório da Feira de Amostras. Porém, no domingo saiu em jornal a notícia da anulação deste resultado "em virtude do não-comparecimento do presidente da comissão nomeada no edital".

Em 1938, Carmen Miranda lançou o samba-choro "E o mundo não se acabou", uma perfeita crônica sobre o fim do mundo, devido à possível colisão do cometa Halley com a Terra. Em 1939, teve gravados por Nuno Roland o batuque "Cai sereno" e o samba-choro "Coração que não entende" e por Almirante o samba "É feio, mas é bom" e a marcha "Pequena endiabrada", com Leandro Medeiros. Ainda nesse ano, Cinara Rios gravou o samba "Jarro d'água", que satirizava a falta d'água no Rio de Janeiro, e os Trigêmeos Vocalistas o sambas "Sacrifício demais", com Leandro Medeiros e "Esquece tudo", com Milton Valente. Nesse ano, Carmen Miranda gravou os sambas "Uva de caminhão", cuja letra mencionava a super safra de uva vinda do Sul, quando esta passou a ser vendida em caminhões pelas ruas da cidade e"Deixa comigo".

Em 1940, compôs para Carmen Miranda o samba "Brasil pandeiro", na ocasião em que a cantora voltava ao Rio de Janeiro após sua primeira viagem aos Estados Unidos. Carmen Miranda não gostou da composição, fato que o deixou desolado. O samba "Brasil pandeiro" acabou sendo lançado pelos Anjos do Inferno no ano seguinte em gravação Columbia e foi incluída no filme "Céu azul", de J. Rui. Ainda nesse ano, teve sua última composição gravada por Carmen Miranda, o samba "Recenseamento" feito para comentar o censo geral do Brasil determinado pelo então presidente Getúlio Vargas. No período de 1933 a 1940, teve um total de 25 sambas e marchas gravados por Carmen Miranda. Em 1941, Nuno Roland regravou o samba "Maria boa". Em 1942, recuperado da tentativa de suicídio, lançou o samba "Fez bobagem", grande sucesso na voz de Aracy de Almeida em disco de 78 rpm que tinha ainda no outro lado o samba "Amanhã eu dou". Em 1943, teve gravado por Carmélia Alves na Victor a batucada "Quem dorme no ponto é chofer", que marcou a estréia da futura "Rainha do baião" em disco.



Seu último grande sucesso foi o amargo samba-canção "Boneca de pano" gravado em 1950 pelo conjunto Quatro Ases e um Coringa". Em 1951, teve o baião "Armei a rede", com Arsênio otoni gravado por Renato Braga na Sinter. Em 1953, Ivan de Alencar gravou o samba "Desprezado sonhador", com Júlio Zamorano e Osvaldo Gouveia e Dora Lopes e o Trio Nagô o samba "Projeto 1000", com Salvador Miceli, ambos na Sinter. Em 1954, Nilton Paz gravou na Columbia a batucada "A Maria é a maior", com Alfredo Goinho e Júlio Zamorano. No ano seguinte, teve a marcha "Boas festas" regravada na Copacabana por Altamiro Carrilho e sua bandinha. Em 1956, Luiz Cláudio gravou na Columbia a marcha "Sai de baixo", parceria com Álvaro da Silva. Em 1957, Marlene gravou os sambas-choro "Jarro d'água" e "E o mundo não se acabou". Aurora Miranda a marcha "Cai, cai balão". Em maiode 1958, dois meses após seu suicídio, teve o samba "Lamento" gravado por Jairo Aguiar na Copacabana. Marlene seria a segunda cantora a gravar-lhe todo um long-playing, 10 polegadas pela Sinter com oito dos seus maiores sucessos, incluindo os sambas-choro no LP "Marlene interpreta sucessos de Assis Valente". Neste ainda registrou a marcha "Cai, cai balão".


Após sua morte, suas músicas foram redescobertas. Em 1969, Nara Leão regravou "Fez bobagem" e Maria Bethânia o samba "Camisa listrada". Em 1972, o primeiro LP dos Novos Baianos trazia como faixa de abertura "Brasil Pandeiro", que alcançou grande sucesso. Em 1973, Chico Buarque, Maria Bethânia e Nara Leão cantaram "Minha embaixada chegou" no filme "Quando o carnaval chegar", de Carlos Diégues e Maria Alcina regravou "Maria Boa". Em 1977, a tevê Globo dedicou-lhe todo um programa na série de grandes compositores intitulada "Brasil especial", escrita por Ricardo Cravo Albin e dirigida por Augusto Cesar Vannucci.



Na década de 1980, "Brasil pandeiro" deu título a um programa da TV Globo apresentado pela atriz Beth Faria. Ainda em 1980, Carmen Costa regravou "Boneca de pano". Nos anos 1990, a cantora e compositora Adriana Calcanhoto regravou "E o mundo não se acabou", sem dúvida um de seus sambas mais famosos. Ainda na década de 1990 o musical "O Samba Valente de Assis", sobre a trajetória do compositor, foi encenado no Rio de Janeiro. A música "Brasil pandeiro" voltou a ser extremamente popular em 1994, graças a uma campanha publicitária relacionada à Copa do Mundo. Admirador de sua obra, o escritor e acadêmico Eduardo Portella o considera o maior dentre todos cronistas da MPB e uma das figuras mais interessantes dentre as nascidas na Bahia. Em 2007, estreou no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil o espetáculo musical "Valente", com direção de Fábio Pilar e com argumento de Colmar Diniz, que segundo definição do diretor, fez uma "fantasia, um delírio pré-suicídio, um vôo da imaginação" que começa retratando o compositor momentos antes de tomar o guaraná com formicida e imaginando os diálogos que não teve com a cantora Carmen Miranda e com o malandro da Lapa Madame Satã. Ao longo do espetáculo são apresentados clássicos do compositor, quase todos interpretados por Marciah Luna Cabral, como "Brasil pandeiro", "Uva de caminhão", "Recenseamento", "E o mundo não se acabou", "Boneca de pano", "Boas Festas" e "Fez bobagem".
Sua obra consiste em inúmeras composições:
A folia Chegou
A infelicidade me persegue
A rosa e o vento
A saudade me viu
A semana findou
A vida é boa (Com Herivelto Martins e Francisco Sena)
Abre a boa e fecha os olhos
Acabei a paciência
Acorda, são João
Adivinhação
Alegria (Com Durval Maia)
Alegria de palhaço
Amanhã eu dou
Amor de bamba
Ao romper da aurora (Com Leandro Medeiros)
Apresentação
Arara (Com Leandro Medeiros)
Armei a rede (Com Arsênio Ottoni)
Badaladas
Bate palmas pra mineira
Batuca no chão (Com Ataulfo Alves)
Beijinhos
Bis (Com Lamartine Babo)
Boas festas
Bola preta
Boneca de pano
Brasil pandeiro
Cadê você meu bem
Cai, cai, balão
Cai, sereno
Camisa listrada
Cansado de sambar
Ciradinha
Com água na boca
Coração bateu demais
Coração que não entende
Dança do beliscão (Com Júlio Zamorano)
Deixa contigo
Deixa esta, jacaré (Com Pedro Silva)
Deixa isso pra lá (Com Alvinho)
Deixa o passado
Deixe de ser palhaço
Desprezado sonhador (Com Júlio Zamorano e Osvaldo Gouveia)
Dona Florinda
E bateu-me a chapa
É do barulho (Com Zequinha Reis)
É duro de se crer? feio, mas é bom
E o mundo não se acabou
É ordem do rei (Com Castor Vargas)
E por causa de você, Ioiô
É sacrifício demais (Com Leandro Medeiros)
Ela disse que dá
Elogio da raça
Esquece tudo (Com Milton Valente)
Este samba foi feito pra você (Com Humberto Porto)
Etc.
Eu vivia no morro
Fala, meu pandeiro
Felismina
Fez bobagem
Foi pouco
Good bye, boy
Gosto mais do outro lado
Isso não se atura
Já é de madrugada (Com Carlos Perry)
Já que está deixa ficar
Jacaré, te abraça
Jarro d'água
Jeannette (Com Lamartine Babo)
José do rancho
Lamento
Levante o dedo
Lili... Lili
Lulu
Madame
Mais um balão
Mangueira (Com Zequinha Reis)
Marcolina, Marcolina
Maria boa
Maria é a maior (Com A Godinho e Julio Zamorano)Me segure
Minha embaixada chegou
Minha intenção (Com Nelson Petersen)
Motivos musicais
Não é proceder (Com Harold White)
Não quero não
Não sei pedir seu coração
Não sei se é (Com Leandro Medeiros)
Nêga!
Negócios de família
Ninho desfeito (Com Hortêncio de Aguiar)
Nobreza
Noite azul
Novela (Com Leandro Medeiros)
O delegado mandou (Com Osvaldo Gouveia)
O dia morreu (Com Oliveira Freitas
O dinheiro que ganho
O meu não dá
O samba começou
Ô...
Oba! Oba!
Oi, Maria
Olha a direita
Olhando o céu todo estrelado
Onde canta o sabiá (Com José Carlos Burle)
Pão de acúcar (Com Artur Costa)
Pão-duro (Com Luis Gonzaga)
Para onde irá o Brasil?
Patrulha musical
Pedacinho de amor
Pensei que pudesse te amar
Pequena endiabrada (Com Leandro Medeiros)
Põe a chave embaixo
Por causa de você
Pra lá de boa
Pra que amar
Pra que você me tentou (Com Nelson Petersen)
Pra quem sabe dar valor
Procurando a Josefina
Projeto 1000 (Com Salvador Miceli)
Quando eu queria você (Com Milton Amaral)
Que é que a Maria tem
Quem dorme no ponto é chauffeur
Quem duvidar que apareça
Querer bem (Com Penélope)
Quero um samba (Com Júlio Zamorano)
Recadinho de Papai Noel
Recenseamento
Sai de baixo (Com Álvaro da Silva)
Sapateia no chão
Se a gente... quando gostasse
Se você deixar
Sem você não há prazer
Sinos da Penha
Só conheço uma
Sodade furadeira (Com Abreu Junior)
Sou da comissão de frente
Té jà
Té logo, sinhá
Tem francesa no morro
Tenho raiva do luar
Tive que me mudar
Triste verão
Tristeza (Com Zequinha Reis)
Um jarro d'água
Uva de caminhão
Vem comigo (Com Jocelino Reis)
Vestidinho de Iaiá
Viva a Penha (Com Jovaldo Dantas)
Você quer ser livre desse mundo (Com Roberto Azevedo)
Vou espalhando por aí

terça-feira, 15 de março de 2011

MORRE CHIQUINHA GONZAGA, O ÚLTIMO GRANDE NOME DA CLÃ DOS GONZAGA

Faleceu esta madrugada a cantora e compositora Francisca Januária dos Santos, Chiquinha Gonzaga. Aos 85 anos, a última dos 10 irmãos de Luiz Gonzaga que ainda viva, lutava contra o Alzheimer. Moradora da cidade de Santa Cruz da Serra, no Rio de Janeiro, ela passou mal e foi socorrida para o hospital com quadro de pneumonia e infecção urinária, onde morreu por volta das 5h. O corpo deve ser trazido para o Recife.

A cantora, que dividia o nome artístico com a célebre pianista e compositora brasileira, trabalhava para manter viva a alma musical da família do maior compositor e representante da cultura nordestina. Com o irmão, ela aprendeu o baião e o xaxado. Aprendeu também que a fama não vem sem sacrifício pessoal, e que laços sanguíneos não significam, necessariamente, ajuda mútua. Ela teve que se virar sozinha para firmar o nome que carrega. A primeira mulher a tocar os oito baixos caiu nas graças de Gilberto Gil, que produziu o CD Pronde tu vai, Luiz? Ela deu continuidade à tradição familiar, principalmente do pai. "É preciso manter a tradição de meu pai Januário, o maior sanfoneiro que o Nordeste já teve", disse ela, que não deixou de cantar os versos que tanto gostava. "Luiz, respeita Januário/ Luiz, respeita Januário/ Luiz, tu pode ser famoso mas teu pai é mais tinhoso/ E com ele ninguém vai, Luiz/ Respeita os oito baixo do teu pai".


Confira trechos de uma entrevista concedida por Chiquinha ao Diario em 2009:

A infância em Exu
Nós éramos um povoado em uma cidadezinha muito pequena, pacata. Os nove filhos de Januário e Santana, todos nós, gostávamos muito das festas que tinha lá, no Natal ou em outras ocasiões, para nós era a maior riqueza. Meu pai já tocava nas festas, nós dançando. Tudo era festejado com forró. Aí a gente foi crescendo, Luiz foi para o meio do mundo e depois a gente. Mas hoje Exu tá do mesmo jeito, mudou um pouquinho só. A última vez em que estive lá foi em dezembro do ano passado. Eu gosto, chego lá e me dá recordação.

A partida de Luiz
Ele tinha uma namorada lá de Exu, e o pai da moça não aprovava o namoro. Quando ele recebeu uma surra dos meus pais, resolveu ir embora. E a gente ficou lá. Era estranho ter um a menos.



Saída de Exu
Em Exu tinha dois políticos grandes, que mandavam em tudo. Eu não sei direito a razão, mas meu pai se desentendeu com eles. Minha mãe mandou logo um telegrama para Luiz, que estava no Rio de Janeiro. Ele queria voltar para Exu dizendo que ia matar gente, era metido a valente. Um amigo o aconselhou a não fazer isso e mandar as passagens para que a gente fosse encontrar com ele.

A construção da carreira
Eu só fui subir no palco profissionalmente aos 41 anos. Mas desde pequena tocava aquela sanfoninha, escondida de todos. Quando chegamos ao Rio de Janeiro, Gonzaga montou um show com todos nós, ensaiamos durante um mês com o Dr. Roberto Teixeira. Mas eu era a que mais gostava de aparecer. Ficou muito bonito o show, que se chamava "Os sete Gonzagas". Naquela época foi um sucesso tão grande que quiseram que a gente continuasse por mais um ano. Só que Luiz disse que não, que ia ser só ele e que a gente se virasse. "Vão seguir a carreira de vocês." Aquilo me magoou muito.

Eu disse: "apois eu vou." Eu parei de me apresentar em 1951. Levei mais de uma década cuidando da família. Depois meu irmão Severino Januário me ajudou, me colocou em cima do palco, isso em 1973. Fui para São Paulo gravar meu primeiro vinil. Eu viajava de 15 em 15 dias para tocar forró em São Paulo.

Sucesso de Chiquinha e relação com Gonzaga

Depois que ele casou com Helena, ficou mais distante. A sogra dele falava: "Luiz, você não fique trabalhando com Chiquinha, não, que ela pode passar na sua frente". Ela tinha um ódio da gente tão grande. Como é que eu ia botar Gonzaga para trás? Ele era casado, mas a velha é que dirigia tudo.

Filhos de Gonzagão
Gonzaguinha nunca foi muito próximo da família. Mas Rosinha é que não chegava nem perto de nós. Ela teve um único filho que não deixava a gente pegar. É uma história triste, a dela. Não tenho mais contato com ela, ela é muito fechada. A família continua acontecendo sem ela.

Planos
Hoje em dia eu estou preguiçosa para tocar. Mas levei uma bronca do Gilberto Gil. Ele disse: "Você foi a primeira mulher que tocou com ′isso` debaixo do braço, vai ter que tocar". Ainda mais agora que os Gonzagas foram morrendo e a tradição não pode se perder. Aí agora a gente tá com esse show "O forró dos Gonzagas", onde participamos eu, Joquinha, Daniel e Sérgio.

Fonte: http://www.pernambuco.com

segunda-feira, 14 de março de 2011

O RIO SÃO FRANCISCO É TEMA DO NOVO ÁLBUM DO GERALDO AZEVEDO

Por Bruno Negromonte

"O grande oasis do sertão pro Brasil: É esse Rio São Francisco. Onde ele passa, realmente, ele deixa um rastro de verde, uma coisa fantástica. O rio representa a vida de uma parte muito grande do Brasil" (Geraldo Azevedo).

Desde o seu primeiro trabalho solo em 1977 que Geraldo Azevedo reverencia o rio São Francisco. Neste longíncuo trabalho Geraldo trás o rio nos versos da canção "Barcarola do são Francisco", talvez por reminiscências de sua infância em Jatobá (distrito do município de Petrolina, terra banhada pelas águas do velho Chico).

Quando adulto, mesmo geograficamente distante das águas do rio, não se distanciou poeticamente das águas do rio que divide dois municípios tão importantes para a região nordeste como Petrolina e Juazeiro. A imagem do rio e suas características peculiares sempre nortearam a inspiração de Geraldo Azevedo, tanto que com o passar dos anos e com o aumento de sua discografia, muitas foram as vezes em que o São Francisco era citado em verso e prosa. Em seus devaneio poéticos, Geraldo se imaginava pescando versos e acordes para as suas canções e letras.

Sendo assim sempre foi da vontade do Geraldo trazer para o seu público esse projeto temático sobre o rio, porém muitas foram as tentativas para que isso de fato saísse da utopia para se tornar disco de verdade. Lembro-me que esse projeto passou um longo tempo para sair do papel, pois ainda em 2009 perguntei ao próprio Geraldo por esse projeto e ele me dito que até março de 2010 o projeto sairia. Não há como negar que saiu em março, porém um ano depois.

Salve São Francisco é o seu 24º álbum contando com alguns projetos especiais como os três geraldos, por exemplo. Nesse novo álbum Geraldo convidou uma constelação de estrelas de nossa MPB para o acompanhá-lo entre as 12 canções que compõem esse belíssimo disco. Nomes como Maria Bethânia, Dominguinhos, Djavan e Ivete Sangalo fazem parte desse mítico projeto estrelado por nosso Geraldinho Azevedo (que no último dia 06 de março precisou submeter-se a um cateterismo).


As Faixas são as seguintes:
01 - Barcarola Do São Francisco (Geraldo Azevedo/ Carlos Fernando) (Com Djavan)
02 - Santo Rio (Geraldo Azevedo/ Carlos Fernando) (Com Dominguinhos)
03 - Águas Daquele Rio (Geraldo Amaral) (Com Geraldo Amaral)
04 - São Francisco São (Geraldo Azevedo/ Clóvis Nunes / Geraldo Amaral) (Com Márcia Porto)
05 - Opara (Salve São Francisco) (Geraldo Azevedo/ Clóvis Nunes) (Com Fernanda Takai)
06 - Francisco Francisco (Roberto Mendes / Capinan) (Com Roberto Mendes)
07 - Riacho do Navio (Luiz Gonzaga / Zé Dantas) (Com Alceu Valença)
08 - Carranca que chora (Geraldo Azevedo / Capinan) (Com Maria Bethânia)
09 - Petrolina e Juazeiro (Geraldo Azevedo / Moraes Moreira) (Com Moraes Moreira)
10 - O ciúme (Caetano veloso) (Com Ivete Sangalo)
11 - Saudade do vapor (Vavá Cunha) (Com Vavá Cunha)
12 - São Francisco Help (Geraldo Azevedo / Galvão) (Com Djavan, Dominguinhos, Alceu Valença, Geraldo Amaral, Fernanda Takai)

15 ANOS SEM CASCATINHA

Há 15 anos atrás, em 14 de março de 1996, morria Francisco dos Santos, o Cascatinha da dupla Cascatinha e Inhana. Francisco era casado com Ana Eufrosina da Silva, no qual formaram juntos uma das principais duplas sertanejas do Brasil.
Nascidos no interior de São Paulo, desde cedo a dupla apaixonou-se pela poesia da música sertaneja. Francisco dos Santos já tocava bateria e violão e se apresentava cantando modinhas, canções e valsas românticas. Quando da chegada do circo Nova Iorque no município de Araraquara, Francisco conheceu o cantor Chopp e resolveu formar dupla com ele, adotando então o nome artístico de Cascatinha, nome de famosa cerveja da época, para estar de acordo com o nome do parceiro. Por essa época, Ana Eufrosina se apresentava como solista em um conjunto formado por seus irmãos. A dupla Chopp e Cascatinha se apresentava em circos. Francisco e Ana se conheceram e casaram em 1941. Formou-se então o Trio Esmeralda, com Chopp, Cascatinha e Inhana, nome artístico adotado por Ana. O Trio Esmeralda viajou para o Rio de Janeiro obtendo relativo sucesso. Receberam prêmios nos programas César Ladeira na Rádio Mayrink Veiga, Manuel Barcelos e "Papel carbono", este de Renato Murce, ambos na Rádio Nacional. Em 1942 o Trio se desfez com a saída de Chopp. Cascatinha e Inhana ingressaram então no Circo Estrela D'Alva, com o qual fizeram excursão pelo interior dos estados do Rio e de São Paulo, para onde retornaram. Em São Paulo continuaram a atuar em diversos circos, tendo permanecido por cinco anos no Circo Imperial.



Em 1947 se apresentaram na Bauru Rádio Clube, que primeiro apresentou a nova dupla em rádios, nos programas "Luar do sertão" e "Cirquinho do Benjamim". Em 1948, passaram a atuar na Rádio América em São Paulo. Em 1950, foram contratados pela Rádio Record onde permaneceram atuando por doze anos. Em 1951, estrearam em disco pela Todamérica cantando a canção "La paloma", de Iradier e Pedro Almeida, e a toada brejeira "Fonteiriça", de José Fortuna, um dos compositores favoritos de Cascatinha. Em 1952, gravaram aqueles que seriam dois de seus maiores sucessos, assim como da própria MPB. Eram a canção "Meu primeiro amor" de H. Gimenez com versão de José Fortuna e Pinheirinho Jr., e a guarânia "Índia" de J. Flores e M. Guerrero, com versão de José Fortuna. A guarânia "Índia" vendeu 300 mil cópias em seu primeiro ano de lançamento e até a segunda metade dos anos 1990 vendeu mais de três milhões de discos. "Índia" mereceu ainda diversas gravações ao longo do tempo como as de Dilermano Reis ao violão, Carlos Lombardi, Trio Cristas e Valdir Calmon e sua orquestra. Em 1973 Gal Costa regravou "Índia", que deu nome a seu LP daquele ano e que obteve grande sucesso. Cascatinha e Inhana receberam em 1951 e 1953 o Prêmio Roquette Pinto. Em 1953, gravaram a toada "Mulher rendeira" tema folclórico com arranjo de João de Barro.

Em 1954, receberam a medalha de ouro da revista "Equipe" e ganharam o slogan de "Os sabiás do sertão", devido aos recursos vocais e às agradáveis nuances desenvolvidos pela dupla. Em 1953, continuando a trajetória de sucessos, lançaram as guarânias "Assunción", de José Fortuna e Federico Riera, e "Flor serrana", de Daniel Salinas e José Fortuna. A partir dessa época, seus nomes estiveram ligados à música paraguaia. Em 1955, estiveram no filme "Carnaval em lá maior", de Ademar Gonzaga, onde cantaram "Meu primeiro amor", outro grande sucesso. No mesmo ano gravaram o bolero "Queira-me muito", de G. Reig e Serafim Costa Almeida, e o rasqueado "Iracema", de Mário Zan e Nhô Pai. Outra gravação do mesmo ano e que fez muito sucesso foi a toada "Despertar do sertão", de Pádua Muniz e Elpídio dos Santos. Em 1956, lançaram mais um disco com versões de compositores paraguaios: a canção "Recordações de Ipacaraí", de D. Ortiz e Z. de Mirkim, com versão de Juraci Rago, e a guarânia "Noites do Paraguai", de S. Aguayo e P. J. Carles com versão de Nogueira Santos. Em 1957, lançaram entre outras, a valsa "Santa Cecília", de Ado Benatti e Carlos Piazolli, e a toada "Tropeiro gaúcho", de Cascatinha e Bolinha.



Em 1959, lançaram outro de seus maiores sucessos, a guarânia "Colcha de retalhos", de Raul Torres. No mesmo ano, Cascatinha foi promovido a diretor artístico da Todamérica, descobrindo vários talentos. Ainda em 1959, Cascatinha e Inhana gravaram "Rede de taboa", de Elpídeo dos Santos. Em 1960, gravaram os boleros "Quero-te", de Jolmagn, e "Mal pagadora", de L. Valdez Leal e José Fortuna. Em 1962, lançaram a canção rancheira "Coração incerto", de Nico Jimenez e J. Santana, e o rasqueado "Fui culpado", de Zacarias Mourão e Sebastião Vitto. Em 1963, lançaram a guarânia "Fujo de ti" de Waldick Soriano e Jorge Gonçalves, e o rasqueado "Felicidade", de Barrinha. Em 1967, lançaram LP com destaque para "Vinte e cinco anos", de Nonô Basílio, "O menino do circo", de Eli Camargo, "Flor do cafezal", de Carlos Paraná e "A estrela que surgiu", de Zacarias Mourão e Mário Albanesi. Em 1970, lançaram "Amor eterno", de Alfredo Borba e Edson Borges, "Se tu voltasses", de Cascatinha e Carijó, "Como que te quero", de Alberto Conde e Nilza Nunes, e "Castigo", de Marciano Marques de Oliveira. Em 1972, alcançaram sucesso com "Olhos tristonhos", de Dora Moreno. Em 1978, apresentaram no Teatro Alfredo Mesquita em São Paulo espetáculo no qual contavam sua trajetória artística. Ao longo da carreira apresentaram-se em diversos estados brasileiros, cantaram em circos, teatros e gravaram cerca de 30 discos. Em 1996, a Chantecler, dentro da série "Dose dupla", lançou o CD "Cascatinha e Inhana", com 23 composições gravadas pela dupla, entre as quais, "Índia", "Solidão", "Meu primeiro amor" e "Colcha de retalhos".

Maiores Sucessos (Ordem cronológica):


1951 - La Paloma
1952 - Meu Primeiro Amor (Lejania)
1952 - Índia
1953 - Mulher Rendeira
1955 - Queira-me Muito
1955 - Iracema
1955 - Meu Primeiro Amor
1956 - Recordações de Ypacaraí
1958 - Frô do Ipê
1958 - Casinha Pequenina
1959 - Colcha de Retalhos
1965 - A Lua é Testemunha
1966 - Vai com Deus (Vaya con Dios)
1968 - Anahy
1968 - Mulher Fingida (La Mujer Ladina)
1970 - Louco Amor
1971 - Mal de Amor
1972 - O Menino e o Circo
1973 - Flor do Cafezal
1974 - Se Eu Partir
1975 - Cruz de Ouro
1976 - No Silêncio da Noite
1977 - Dois Corações
1977 - Não me censures
1977 - Um novo amanhã
1980 - Cigarra Vadia
1988 - Guarânia da Lua Nova

sábado, 12 de março de 2011

FERNANDA CUNHA,O TALENTO BRASILEIRO QUE VEM CONQUISTANDO O MUNDO

Por Bruno Negromonte

Oriunda de uma família pra lá de musical, Fernanda Cunha já nasceu envolta com a boa música popular brasileira. Sua árvore genealógica inclui desde a sua avó materna, Maria Aparecida Correa Costa, pianista e professora de piano e canto coral do Conservatório de Juiz de Fora; suas tias e compositoras Sueli Costa e Lisieux Costa até chegar a sua herança genética mais arraigada que era a sua mãe, a cantora Telma Costa. Telma aos 15 anos já fazia duetos com Chico Buarque em canções como "Sem fantasia" e em 1980, gravou em dueto com o mesmo a canção "Eu te amo", parceria do compositor com Tom Jobim e que sem dúvida alguma é a lembrança mais constante daqueles que conhecem as escassas gravações da artista, apesar do belo álbum lançado por ela em 1983. Lastimavelmente, Telma faleceu de maneira prematura mas deixou como legado a sua pequena obra e a sua sucessora que vem cumprindo a risca essa difícil missão de fazer parte de uma família tão seleta.



Mesmo graduada em Psicologia Fernanda Cunha não resistiu aquilo que literalmente está em seu sangue e resolveu enveredar em definitivo para a música depois de sua primeira apresentação no Rio ao final de 1997. Suas apresentações tornaram-se cada vez mais constantes e ela começou a se apresentar em diversos espaços no Rio, como o extinto Mistura Fina e o Vinícius Piano Bar, por exemplo. Tudo isso sempre acompanhada por excelentes instrumentistas como o violonista Bilinho Teixeira, o pianista Helvius Vilella, a pianista Camilla Dias, o também pianista João Carlos Coutinho, o baixista Lúcio Nascimento e o baterista Adriano de Oliveira até o momento em que ela partiu para uma longa temporada no exterior, mais precisamente nos EUA, morando em Cleveland a partir do ano 2000. Em terras americanas, Fernanda resolve estudar canto no Cleveland Institute of Music, em Ohio.
Lá nos Estados Unidos Fernanda atuou como vocalista do grupo Brasil e com o violonista Michael Manderen, participou de alguns festivais de jazz (como o Blossom Summer Festival, Rock and Roll Hall of Fame e Shaker Square) acabou gravando o seu primeiro álbum intitulado "O tempo e o lugar" e que foi lançado em 2002 (mesmo ano em que resolve voltar para o Brasil) e contou com a participação de nomes como Márcio Hallack e Kip Reed como arranjadores, ip Reed (baixo), Matt Perko (bateria) e Gary Aprile (violão). Neste álbum gravado ao vivo no Clockwerke Studios, em Cleveland, ela procura dar vazão a interpretação de artistas que a influenciaram como Ivan Lins, Djavan, Toninho Horta entre outros.

Menos de dois anos depois, em janeiro de 2004, Fernanda grava seu segundo disco que procurou abordar a obra específica de dois grandes nomes da MPB: o grande instrumentista, cantor e compositor Johnny Alf e a fenomenal tia Sueli Costa. O disco foi intitulado "Dois corações" e vem com as luxuosas participações de Johnny cantando "Luz eterna", e Sueli Costa canta "Bóias de luz". Além de contar com os arranjos de Cristóvão Bastos, João Carlos Coutinho, Jorjão Carvalho e Camilla Dias. Mesmo sendo uma produção independente, "Dois corações" abriu as portas de importantes palcos no Brasil e a sua primeira turnê no Canadá, em 2005.



2007 seria o ano em que Tom Jobim faria 80 anos, e em homenagem ao maestro soberano Fernanda juntou sua belíssima voz a técnica do violão de Zé Carlos e prepararam o álbum denominado "Zíngaro"(O título do disco remete ao nome original de “Retrato em branco e preto”, nome original da primeira composição da dupla); um álbum de voz e violão com as 10 canções compostas por Chico Buarque e Tom ao longo de suas veredas musicais. Diferentemente do álbum anterior, o disco foi distribuído em todo território nacional pela gravadora CID e isso expôs ainda mais o talento incontestável de Fernanda Cunha a partir de diversos shows em diversas regiões do país e a sua participação em programas de televisão. Ainda no ano de 2007 retorna ao Canadá para se apresentar em diversos festivais de jazz de Vancouver, Edmonton, Calgary, Edmonton, Toronto e fez também todo o circuito das cidades de British Columbia. De 2007 em diante sua relação com o Canadá se estreitou ao ponto de todos os anos Fernanda passar um período do ano em terras canadenses.



A Excelente receptividade do público canadense em suas apresentações desde 2005 e sua relação tão intensa e próxima do Canadá acabou suscitando em Fernanda a ideia de gravar um álbum unindo canções dos dois países.
O disco Brasil-Canadá (que você pode adquirí-lo clicando na imagem do álbum) foi gravado em Edmonton (Canadá) no inicio de 2009 com os músicos canadenses Mike Lent (contrabaixo) e Sandro Dominelli (bateria), e o brasileiro Ricardo Rito (piano) e traz compositores como Sueli Costa, Noel Rosa, Marcio Hallack, , Joni Mitchel, Bruce Cockburn, Shelton Brooks, Alex Kramer, e Mike Lent. Mostrando seu lado autoral, A cantora assina duas faixas: “Quanto tempo faz” (c/ Mike Lent) e “Amanheceu” (c/ Ricardo Ritto e Luiz Sérgio Henriques). A produção do álbum ficou a cargo da Fernanda e do baixista Mike Lent.

Além do Brasil, Estados Unidos e do Canadá, Fernanda tem conquistado espaços fora das américas, pois tem intensificado suas apresentações em países como Portugal (Lisboa, Cascais, Porto), Espanha (festival Jazz Iberia,Badajoz), Austria (Ig jazz festival em Viena) , Malásia (Borneo Jazz festival) . E assim Fernanda vem conquistado o mundo; com talento, simplicidade e uma árvore genealógica que faz jus a essa conquista.

Discografia Fernanda Cunha:
- O tempo e o lugar (2002)
- Dois corações- Fernanda Cunha interpreta Johnny Alf e Sueli Costa (2004)
- Zíngaro - Fernanda Cunha e Zé Carlos interpretam as parcerias de Tom Jobim e Chico Buarque (2007)
- Brasil Canadá (2009)

Conheça também:
www.fernandacunha.com
www.myspace.com/fernandacunha

Contato para Shows:
(11) 3083-4628 / 9813-8508