terça-feira, 27 de outubro de 2020

GILS, JOBINS, BUARQUES, VELOSOS... - A SUCESSÃO NA MAJESTOSA FAMÍLIA DA MÚSICA BRASILEIRA

Por Joana Oliveira e Felipe Betim



Maria, Francisco, José, Isabel, João, Maíra, Martim, Heloísa. Nomes tradicionais entre tantas famílias brasileiras que, em casos excepcionais, carregam um DNA de bossa, samba, rock’n’roll, música brasileira em todas as suas vertentes. Eles cresceram cercados de instrumentos musicais e frequentaram bastidores de concertos gigantes antes mesmo de aprender a ler e a escrever. São herdeiros de outros nomes que construíram e constroem a identidade cultural de um país forjada no ritmo e no som e que, hoje, acabam emprestando uma musicalidade própria à história da MPB. “A nova música popular brasileira tem pitadas do universo pop, que nossa geração traz. E nossa contribuição para o pop é justamente resgatar elementos tradicionais”. Quem fala é José Gil, de 29 anos, filho de Gilberto Gil. Ao lado de João Gil, 27, e Francisco Gil, 25, netos do tropicalista, ele forma o trio Gilsons, que revisita a sonoridade afro-brasileira no som da percussão, do trompete e do violão.

Apesar de José ser, oficialmente, tio dos outros dois, a pouca diferença de idade fez com que crescessem como irmãos. E, assim, acabassem por descobrir juntos a música. A imagem de capa do primeiro EP, Várias queixas (regravação de um sucesso do Olodum), é justamente uma foto dos três, quando meninos, tocando em instrumentos de brinquedo na sala de casa. “A banda é, de certa forma, uma continuação dessa convivência familiar”, diz Francisco Gil, filho de Preta Gil, cantora e produtora cultural. Os verões e carnavais vividos na Bahia geraram não só lembranças como também uma profunda reverência pelos blocos afros, presentes em um repertório que vai do afoxé ao xote e ao baião.
“A banda é, de certa forma, uma continuação dessa convivência familiar”
Francisco Gil

No último dia 12 de setembro, os Gilsons subiram ao palco pela primeira vez ao lado do pai e avô. Eram a principal atração do Festival Coala, que, devido à pandemia, aconteceu on-line. O repertório autoral da banda foi apresentado e Gilberto Gil tocou violão em todas as músicas. A interação da família ao longo do show deixou evidente que ele é, sim, uma influência no grupo. “Não tem como fugir disso, ele é uma das maiores forças musicais dos séculos XX e XXI. Não tem muitos artistas que tenham conseguido o que ele e Caetano [Veloso] fizeram, uma carreira de 50 anos lançando discos autorais, cada época com sua própria estética e vivência”, comenta João, filho da cantora Nara Gil, filha mais velha de Gil. Justamente pelo fato da geração dos pais já ter dado continuidade à linhagem musical do avô, os Gilsons não temem ser tachados de “netos ou filhos de”. O nome do grupo, batizado por Preta, deixa isso claro. Reconhecem, isso sim, que mais do que um peso pelas comparações, esse sobrenome abre portas em uma indústria na qual poucos têm êxito financeiro. “É um privilégio, com certeza. Somos mais familiarizados com o modo como as coisas funcionam, o processo de gravação, de fazer show... Por crescer nesse meio, conhecemos muitas pessoas da área, desde técnicos a produtores”, diz João.

Apesar do sobrenome ilustre e das portas abertas, os três dizem que não houve um incentivo direto para a carreira musical deles. “O grande mérito foi ter instrumento disponível. Nunca existiu essa coisa de ‘ah, vai lá tocar’, mas sempre teve violão, bateria e guitarra na casa do meu avô, então a gente tocava”, lembra João. “A gente fazia coisa escondido, roubava guitarra, queimava amplificador”, ri José. Nesses ensaios da “bandinha da sala”, muitas vezes estavam presentes os filhos de Caetano Veloso —Moreno, Tom e Zeca— com quem os Gilsons cresceram, dada a amizade de décadas entre os dois baianos da Tropicália. O EL PAÍS tentou, durante um mês, uma entrevista com os três, que fizeram com Caetano a turnê e o álbum Ofertório, mas a assessoria de imprensa da família informou que eles não queriam falar.

Hoje, os Gilsons editam algumas de suas músicas no escritório de Gilberto, que, apesar das muitas décadas a mais de experiência, aprende novas técnicas com a prole. “Como nossa geração está mais próxima das novas linguagens musicais que surgiram com a tecnologia, passamos isso para ele”, diz José. O trio conta que o pai e avô costuma ser “carinhoso” ao dar pitaco nas composições, mas que eles não pedem muita opinião. Preferem mostrar o resultado final. “Ele não é um cara que gosta de tudo e por isso até que não é bom mostrar antes, porque a gente acredita muito no nosso som. Então, às vezes vem um feedback não tão bom, mas a gente vai em frente” acrescenta José.

Como a família Gil bem demonstra, alguns sobrenomes parecem bendizer o destino —ao menos profissional— dos que o carregam. No caso de Bebel Gilberto, filha de João Gilberto, um dos fundadores da bossa nova, e da cantora Miúcha, isso parecia quase inevitável. “A música dele sempre me influenciou muito. Eu ouvi tanto o violão dele quando era pequena, que ganhei uma noção harmônica incalculável”, conta a cantora, de 54 anos, que acaba de lançar o disco Agora, quatro décadas depois de estrear ao lado do pai, cantando Chega de saudade, e 20 anos após a estreia do álbum Tanto tempo, que vendeu milhões de cópias nos Estados Unidos.
“Eu ouvi tanto o violão dele [João Gilberto] quando era pequena, que ganhei uma noção harmônica incalculável”
Bebel Gilberto

João Gilberto era conhecido por sua obsessão em alcançar a perfeição quando cantava e tocava. Bebel conta que, por vezes, esse afã musical do pai a irritava. Ele insistia em puxar o violão Di Giorgio mesmo quando a filha só queria conversar. “E aí eu escutava. Hoje entendo o quanto foi importante ter ficado calada, apenas escutando. De alguma forma, eu consegui marcar uma estética e um som especial, algo que você ouve e é inconfundível, como ele fez”, diz. O novo trabalho, que traz a bossa eletrônica que lhe é característica, marca também sua volta ao Rio depois de 27 anos em Nova York e uma declaração de amor a João Gilberto.

Na outra metade da vida
Você soube, fez tudo
Mas nessa metade
Vou ter que tentar te ensinar (...)
O que não foi dito
Já estava escrito
Deixa eu cuidar de você

“Fiz essa canção para ele porque queria falar e não encontrava a forma de fazer isso”, diz Bebel sobre a letra de O que não foi dito. Em 2018, ela solicitou a interdição dos bens e direitos autorais de João Gilberto, que não estaria em condições de administrá-los. “A repercussão na imprensa foi como se eu quisesse interditá-lo com más intenções, apesar de que sempre tivemos uma relação muito próxima, sem nenhuma desconfiança”, lamenta a cantora, que perdeu a mãe em dezembro de 2018 e o pai em julho de 2019. Em Agora, ela exorciza a dor com músicas de tom esperançoso e canta o amor ao seu legado e à música brasileira.
A música já estava lá

Se João Gilberto é reconhecido como o inventor da batida da bossa nova, Tom Jobim é considerado seu grande compositor e maestro. E quem carrega seu legado na música também é uma mulher: Maria Luiza Jobim, carioca de 33 anos. Depois de trabalhar como arquiteta e cursar Letras, aceitou que seu destino era mesmo a música. Ela, que sempre foi do “rolê da música eletrônica”, construiu uma sonoridade própria bem diferente da do pai. Entre 2013 e 2017, formou com o músico Lucas Paiva o duo Opala, cujo repertório era um indie-pop eletrônico cantado em inglês.

Maria é bilíngue e suas primeiras músicas nasceram em inglês. O português só apareceu agora, em Casa Branca, seu primeiro trabalho solo. Lá estão suas lembranças de uma infância vivida ao lado dos pais em uma casa no bairro do Jardim Botânico. São muitas. Uma delas é a de ficar embaixo do piano da sala, ouvindo Tom ensaiar com sua banda, composta basicamente pela família e por Danilo Caymmi, padrinho de Maria Luiza. “Dorival Caymmi ia lá em casa e cantava com meu pai e eu ficava fascinada com o timbre dele… São coisas que sempre vou carregar comigo e que, com certeza, sempre estarão na minha música”, diz. Além de Maria Luiza, seu irmão mais velho, Paulo Jobim, e seu sobrinho, o pianista Daniel Jobim, filho de Paulo, também são músicos.
A cantora Maria Luiza Jobim, na infância, entre João Gilberto e o pai, Tom Jobim. Abaixo, à direita, brincando com o pai em casa. À esquerda, imagem de seu primeiro álbum solo, 'Casa branca'.ARQUIVO PESSOAL

Carregar um dos maiores sobrenomes da MPB é tanto um privilégio como uma responsabilidade. “É parte do meu legado. A música estava lá, e eu nasci. Eu que cheguei naquela sala e tive o privilégio de ver de perto aqueles encontros e, por mais que eu não entendesse, eu sentia e bebia daquilo”. Parte do que absorveu se revela no seu processo de composição, que ela descreve como intuitivo. “Àsvezes parte só de uma palavra, uma ideia, um clima…”, diz ela, que passa a quarentena em uma casa no interior do Rio. Com a turnê do álbum adiada pela pandemia, ela dá palhinhas nas redes sociais — inclusive nas lives de Teresa Cristina — e não para de compor. “Tenho feito muita música à distância, com parceiros. Acho que vou sair da quarentena com um disco novo”, ri.

Assim como para Maria Luiza, crescer em uma casa musical também foi decisivo para que Tim Bernardes, de 29 anos, seguisse sua vocação e se tornasse um dos nomes considerados pelos críticos “a renovação da MPB”. Filho do cantor e compositor Maurício Pereira, que marcou a música dos anos 1980 no Brasil com a banda Os mulheres negras, a primeira palavra dita por Tim foi “música” —como comprova um vídeo caseiro familiar—. Com seis anos, já tocava alguns instrumentos. Aos 17, começou a compor. Depois disso, fez faculdade de Música (“Sou um nerd”, diz) e aperfeiçoou seu talento natural, arrancando elogios de Caetano Veloso: “uma maravilha de afinação, controle da dinâmica, refinamento, execução instrumental e liberdade na elegância do uso do palco e da luz”.

Vocalista da banda O Terno, Tim também lançou, em 2017, o álbum solo Recomeçar, aclamado por cantar a dor em forma de belas canções. Nesse disco, ele toca todos os instrumentos, fez todos os arranjos e também a produção. Seu estilo já foi descrito como “indie-hippie-retrô brasileiro”, uma brincadeira que ele mesmo fez em uma das letras, como um retrato irônico de sua própria geração. “O tropicalismo misturou a cultura brasileira com o que estava rolando no mundo, como o Sgt. Peppers dos Beatles. Bebode Caetano, Gil, Clube da Esquina, mas também de Tame Impala, Mac DeMarco... Não vejo exatamente como uma renovação da MPB, mas uma continuação, uma experimentação”, explica. Nada mais diferente do estilo do pai, que Tim resume como “algo muito próprio, o mauriciopererismo”, apesar de ambos terem trabalhado juntos: Maurício compôs cinco das faixas do álbum de estreia d’O Terno. “Nunca pareceu que eu estava continuando algo dele, cuja sonoridade é muito mais dos anos 1980 e 1990. As coisas que eu ouvia já eram diferentes das coisas que ele ouvia. Talvez por isso fosse tão gostoso trabalhar com ele”, diz Tim.
“Não vejo exatamente como uma renovação da MPB, mas uma continuação, uma experimentação”
Tim Bernardes

O exemplo de carreira do pai também trouxe, no entanto, algumas inseguranças. A maior delas era o medo de não conseguir viver de música. Quando Tim ainda era pequeno, nos anos 1990, Maurício desfez o contrato d’Os mulheres negras para experimentar e inovar sem amarras. “Era muito difícil fazer música independente naquela época e eu percebia como o dinheiro era, de fato, uma questão em casa”. Por isso, quando sentiu a vocação para estudar música, pensou em cursar outra coisa e deixar a arte como plano B. Mas os pais o incentivaram. Pouco mais de 10 anos depois de o pai ter feito sacrifícios para viver como músico independente, Tim Bernardes e seus companheiros d’O Terno conseguem, graças à revolução digital, fazer arranjos e gravações em casa, com facilidade. “Tenho essa coisa de imaginar e visualizar o produto final, seja um vídeo, foto, clipe, música, a melodia, o timbre... É o produto completo que me agrada, por isso gosto de imaginar o resultado final e, a partir disso, pesquisar e entender como consigo chegar nele”, diz o “nerd da música”.
Rumos diferentes

Crescer em uma família musical influenciou os passos de todos esses herdeiros da música brasileira, mas os caminhos tomados pela pianista e cantora Maíra Freitas se mostraram mais sinuosos. Apesar de crescer no Rio de Janeiro entre sambistas, desde muito cedo decidiu tomar rumos diferentes de seu pai, Martinho da Vila e sua irmã, Mart’nália. Aos sete anos pediu para fazer aula de piano. Começou tocando Mozart e Chopin e pretendia “até os 20 e poucos anos ser pianista clássica”. Sua família demorou a acreditar em sua vocação. “Outros até fizeram aula, mas ninguém levava a sério. Eu ficava enchendo o saco para que me dessem um piano e só fui ganhar aos 11 anos”.

Como o samba sempre esteve presente em sua vida, além de tantos outros estilos, passou a mesclar sua formação clássica com música popular. Hoje seu piano se mistura com o batuque do surdo e do pandeiro. “Para mim era um monstro essa coisa do improviso, eu ficava querendo ler partitura...", conta. “Mas minha formação teórica me deu uma grande base técnica. Quando vou fazer meus discos, tem a veia forte da música carioca, mas tem também eletrônica, tem pop, tem muito jazz, tem um pouco de piano erudito... Acho que sou essa grande mistura louca de coisas”, acrescenta. Maíra já lançou dois discos, o último deles em 2015, e possui uma rotina de shows e turnês, inclusive ao lado da irmã e do pai. Ela diz que Martinho da Vila a influencia mais espiritualmente, “guiando a gente”, do que diretamente. “E aprendo muito acompanhando ele como músico, vendo as maneiras geniais de lidar com o público e de conduzir o show. Apesar de não ter formação teórica, ele tem muita experiência e sabe o que quer”, conta.
A pianista e cantora Maíra Freitas ao lado do pai, Martinho da Vila.ARQUIVO PESSOAL

Mas Maíra não vive só de shows e discos. Em casa, ela faz produções, compõe trilhas para séries e filmes e dá aulas de piano. “A internet deu à minha geração acesso a tudo. Posso aprender uma música do Oeste da África e juntar com outros gêneros e essa base da MPB que é tão rica. Você tem Milton [Nascimento], Caetano, meu pai, Gil, Djavan.... Essa coisa maravilhosa que a música brasileira é, de diversa e forte e eclética e rítmica e harmônica. E essa nova geração vem disso e agora pode fazer o que quiser, sem obrigação de fazer isso ou aquilo”.

Esse afã artístico e criativo é sincronizado com os cuidados de suas filhas, uma de dois anos e a outra de quatro meses. Maíra chegou a fazer shows grávida, alguns ao lado do pai, e em muitas ocasiões precisa trabalhar em casa com suas meninas no colo. Ela lembra como algumas pessoas duvidaram ou questionaram sua capacidade de manter uma agenda de shows e seguir trabalhando após virar mãe. Mas os preconceitos não são novidade. “Aos 10 anos ouvi que eu deveria estar tocando tambor, e não piano. Quem toca piano geralmente são filhas de dondocas vestidas de rosa e meia calça, e eu sempre fui espalhafatosa, fora do padrão, com roupa colorida, trança...”, recorda ela, que se orgulha de poder mostrar que uma mulher negra pode, sim, estudar música e fazer algo mais rebuscado. "Hoje sou a representatividade de algumas pessoas. Recebo mensagens de mulheres negras que me acompanham, veem que podem fazer e começam a estudar piano... Fico muito feliz com isso”, explica. Suas responsabilidades vão além da música, acredita ela. “Meu pai cantava quem tiver mulher bonita / que traga presa na corrente. Deixa ele lá tocando isso, mas eu tenho outras responsabilidades. E não quero fazer bobagem”.
Filho da melodia, neto da poesia

Na loteria genética da música brasileira, alguns têm o privilégio de pertencer a duas linhagens de peso. É o caso do cantor e compositor Chico Brown, que herdou do avô, Chico Buarque, o primeiro nome e a poesia do amor e do desamor nas letras. Do pai, Carlinhos Brown, traz a melodia, o ritmo e a timbalada da música da Bahia. Aos 24 anos, Chico —que também é “sobrinho” de Bebel Gilberto (sua mãe, Silvia Buarque, é prima da cantora)— foi chegando devagar na indústria da música, mas começou bem. “Vou cantar agora a música do meu parceiro mais querido”. Era assim que Chico Buarque introduzia, nos shows de sua turnê mais recente (Caravanas), a música Massarandupió, uma composição instrumental do neto com letra escrita pelo avô.


A melodia veio a Chico Brown em sonho, “como um presente de alguma força sobrenatural”, diz ele, com uma mistura de sotaques baiano e carioca. A parceria com o avô é assim: o neto manda a melodia por e-mail e recebe a letra (geralmente muito tempo depois) também por e-mail. Ele começou a compor na adolescência, primeiro no piano e, depois, no violão. “A música sempre esteve presente como cura, alento, de modo que sempre formei bandas e fiz canções autorais desde a época da escola, até mesmo para apresentar trabalhos nas aulas”, conta.

Seu repertório, que ele começou a apresentar em shows pelo Brasil no ano passado, pode ser considerado uma guitarrada baiana com um jazz fusion: mistura as composições autorais, com berço na MPB, com outros ritmos latino-americanos, elementos orientais, rock e música clássica. “Sempre escuto de tudo e misturei o que já é tradicional com as coisas que me instigam musicalmente, coisas que me permitam, através da música, atravessar essas fronteiras de espaço e tempo”, diz.
Na primeira imagem, o músico Chico Brown aparece na infância, ao lado do pai, Carlinhos Brown. Na segunda foto, já adulto, em show próprio e, por último, com o avô, Chico Buarque. ARQUIVO PESSOAL


Quando compõe no violão, Chico tende a ir para a poesia, o ritmo, a ginga. No piano, vai para o clássico. “Faço mais valsa, com umas referências, assim, mais jobinianas. Na guitarra e no violão, sou mais Moraes Moreira, tropical, cancioneiro, com referências do samba e do jazz". Os trabalhos do pai e do avô não têm influência direta na sua criação, embora se inspire na postura profissional de ambos, como se portam nos palcos. Às vezes, busca a poesia de seu avô como inspiração para uma canção de protesto, ou o lado rítmico do pai na busca de uma métrica percussiva. “Já aconteceu de amigos ouvirem músicas minhas e dizerem, sem eu esperar, que parecem canções de um ou do outro”, admite.

Mas a responsabilidade de pertencer a essa linhagem musical, ele diz, vem mais da expectativa alheia. Quando cria, não pensa se sua música atenderá ao gosto do público dessa outra geração. “Até porque o trabalho deles abrange décadas, eu não posso ter a pretensão de parear com eles”, diz o jovem músico, que pretende, no entanto, surpreender aqueles que tendem a subestimar ou superestimar seu trabalho apenas pelo sobrenome que carrega. Como canta o avô e xará de Chico na música Paratodos, os rebentos vão na estrada há muitos anos – desde que nasceram — e por sorte ou por acaso, são legítimos artistas brasileiros.

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