domingo, 25 de setembro de 2016

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB

Por Bruno Negromonte


Autora de "Velório de um sambista",
Dora ganhou destaque ao longo dos anos de 1950 e 1960


Esta semana trago novamente uma grande intérprete da música popular brasileira que infelizmente caiu no limbo do esquecimento e que hoje só tem espaço em locais que prezam pelo saudosismo e pela qualidade de registros fonográficos como é o caso deste nosso cantinho.  Nascida em 1922 no Rio de Janeiro, Dora Freitas Lopes aos 14 anos de idade, fugiu de casa com a intenção de ser cantora de Rádio. Alguns anos depois já se apresentava em casas noturnas de sua cidade natal assim como também de São Paulo. Por volta de 1947 conquistou o primeiro lugar no famoso e rigoroso programa de calouros apresentado pelo compositor Ary Barroso na Rádio Nacional, onde interpretou "Plac-plac", canção de autoria de Francisco Malfitano que tornou-se um grande sucesso em 1939 na voz da Dircinha Batista. Ainda nos anos de 1940 gravou pelo selo Star o seu primeiro disco com os sambas "Volta pro teu barracão" e "Roubei o guarani". A década seguinte veio acompanhada de diversos registros fonográficos para a artista, dentre eles, os batuques "Toma cachaça" e "Cão cambieci", marchas tais quais "Moço direito", "Pegando fogo" os samba-canções "Inclemência", "Baralho da vida", "Você morreu pra mime sambas como "Vou beber", "Me abandona", "Lei da razão" e o sucesso "Minha chave é você", parceria com Hamilton Costa e Waldemar Silveira gravado na RCA Victor por Dircinha Batista. Vem desse período as suas primeiras incursões internacionais, situação esta que acabou propiciando, ao longo dos anos anteriores, apresentações suas em países como França, Itália, Suíça, Venezuela, México e Estados Unidos, sempre buscando divulgar os mais distintos ritmos brasileiros por onde passou.

Contemporânea de nomes como Dalva de Oliveira, Pixinguinha, Dolores Duran, Silvinha Telles, Ary Barroso entre outros; Dora passou por gravadoras como a Continental (onde fez registros de canções como os sambas-canção "Toda só",   "Samba não é brinquedo", "Tenho pena da noite", entre outras); a pernambucana Mocambo (onde registrou faixas como o samba "Maria Navalha", a marcha "Fila de gargarejo", o samba "Samba borocochô", entre outras). Aliás, foi na Mocambo que a artista lançou o seu primeiro Long Play intitulado "Enciclopédia da gíria", projeto onde gravou autores como César Cruz (autor da faixa que batiza o disco), Zeca do Pandeiro, Arthur Montenegro, Ari Monteiro entre outros. Além de atuar em discos chegou a fazer parte também do casting das rádios Nacional e Mayrink Veiga. Sem contar o sucesso internacional que alcançou ao participar de uma excursão pela Europa e América do Norte onde apresentou-se divulgando ritmos brasileiros em diversos países tais quais  México, Estados Unidos, Suíça, França e Itália. Vale o registro do álbum que gravou pela Beverly em 1965. Intitulado de "Minhas músicas e eu", o disco incluiu várias músicas de sua autoria: "Dona solidão", "Madrugada zero hora", "Com Dolores no céu" e "Dúvida". Ao longo de sua carreira, atuou na vida noturna de Copacabana, convivendo com toda a boêmia das décadas de 1950, 60 e 70. Dora Lopes é também reconhecida por ter sido uma das primeiras cantoras notadamente homossexual da MPB. Vale o registro de sua carreira em números. Ao longo das décadas de 1950 à 1980 gravou um total de 19 discos em 78 rpm pelas gravadoras Sinter, Continental e Mocambo, além de 3 LPs. Como compositora seu maior êxito foi o "Samba da Madrugada".

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