quarta-feira, 3 de agosto de 2016

VÔTE... ESCUTA SÓ: ALTO MERETRÍCIO – (BOÊMIOS, BARES E BORDÉIS) – PARTE 05




A música denominada hoje como brega tinha uma peculiaridade, tocava nos cabarés, nas festinhas da igreja e nas casas de família. Era extremamente democrática.

No final dos anos cinqüenta, início dos sessenta, era comum ouvirmos nos auto falantes da Festa Igreja de Santa Luzia, e na Praça da Torre o locutor colocar no ar um sucesso com a seguinte introdução: Atenção muita atenção! Você que estar de blusa azul, encostada na porta do grupo. Assim como as flores se abrem para receber o orvalho da manhã, abra também o seu coração e ouça esta linda gravação, que alguém lhe oferece como prova de grande amor e carinho… 

E por toda festa ecoava uma música romântica, falando de amor. Amor perdido, fingido, traído, largado, desprezado, mas, falava de amor. Não se propunha destruir cabarés, não tratava as mulheres de cachorras, não estimulava o sujeito a beber, cair e levantar. Os interpretes tinham nomes de respeito, e não, Bichinha Arrumada, Calcinha Preta, Menina Safada e outras bizarrices.

Cantores como Nelson Gonçalves, Moreira da Silva, Vicente Celestino e Orlando Silva apareciam em público invariavelmente de paletó e gravata em respeito aos fãs.

O que digo aqui não é apenas saudosismo, é a constatação de que enveredamos por caminhos pouco saudáveis. É claro que, a música, os cantores, os arranjos tinham que mudar, se modernizar, atualizar, mas, não necessariamente chegar a onde chegou.

Vale a pena observar que estou falando de um determinado gênero de música, aquela que tocava nos bares, e nos bordéis. Consideramos que, houve, de certo modo, uma compensação com o surgimento de outros modelos, como a Bossa Nova e de uma música que se convencionou chamar de MPB, com gente da melhor qualidade como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, seguidos de Caetano, Gil, Chico Buarque, Milton Nascimento e tantos outros.

Relembrado o tempo das festas de rua, como a Festa da Mocidade, vamos ouvir Nelson Gonçalves interpretando Deusa do Asfalto, de Adelino Moreira.

Acho que pela precariedade do som na época, quando Nelson cantava “amar a deusa do asfalto” eu entendia “Amara a deusa do asfalto” anos depois com o aparecimento da Alta Fidelidade, é que percebi o engano.

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