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ENTREVISTAS EXCLUSIVAS

Um bate-papo com alguns dos maiores nomes da MPB e outros artistas em ascensão.

HANGOUT MUSICARIA BRASIL

Em novo canal no Youtube, Bruno Negromonte apresenta em informais conversas os mais distintos temas musicais.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

PROGRAME-SE

MÚSICA, ÍDOLOS E PODER (DO VINIL AO DOWNLOAD) - PARTE 05


CAPÍTULO 5 


À medida que andávamos pela estrada, aumentava o número de pessoas que se juntavam à nossa caravana, até compormos uma fila de um quilômetro, talvez. E foi com esse contingente que percorremos, a pé, quase 150 quilômetros. Na primeira noite, dormimos ao sereno. Porém, dali por diante, encontramos centros de acolhimento organizados por camponeses, que nos davam comida e refúgio por uma noite, antes de retomarmos a estrada. Ficávamos felizes por termos sido socorridos, e tristes por não termos sido convidados a permanecer. 

Os aliados — para não dizer os americanos e os ingleses — tinham destruído a força aérea alemã de tal maneira que dominavam o ar e vigiavam constantemente o movimento nas estradas, bombardeando e metralhando comboios, tanques, caminhões ou qualquer coisa que fizesse um movimento estranho. 

Os aviões de caça, sempre em bandos de quatro ou cinco, rondavam lá em cima, olhando para nós, e nós para eles e para o nosso infortúnio.Algumas vezes, o nosso grupo, que mais se assemelhava ao “Exército de Brancaleone” parecia aos pilotos, do alto dos aviões, colunas de soldados disfarçados. De repente, os aviões se alinhavam, um atrás do outro, como se fossem nos acompanhar. Em vôo rasante, metralhavam a nossa coluna. Pulávamos para os barrancos ao lado da estrada, procurando o abrigo das árvores que sempre ladearam as estradas do campo europeu desde os primórdios dos tempos. Ficávamos quietos por uns minutos e nos levantávamos. 

Consertávamos os estragos, enterrávamos os mortos — se houvesse — e retomávamos a marcha até chegar, à noite, ao próximo centro de acolhimento. 

A coluna era um micromundo feito de velhos, mulheres, crianças, cachorros e galinhas. De vez em quando, morria um velho, uma velha fi cava doente, uma criança se machucava; outros tinham os pés inchados e sangrentos.Tivemos que matar o nosso cachorro porque, já sem couro na sola das patas, não podia mais andar... 

Porém, por mais que alguns abandonassem a coluna, ela não parava de crescer. E a recepção nos centros de acolhimento se fazia mais fria à medida que nos aproximávamos de Paris. Já se escutavam reclamações dos refugiados — de que os camponeses não tinham coração, que cobravam, às vezes, pelo pão e pelo leite, e nem os deixavam dormir em suas fazendas sequer por uma noite. 

Minha mãe decidiu, então, que devíamos seguir sozinhos, talvez assim aumentando as chances de sermos acolhidos. Dormimos ao sereno, no mesmo lugar, umas duas noites. Ao retomarmos a estrada, estávamos praticamente sozinhos. Chegando alguns dias depois a uma fazenda, minha mãe implorou que nos dessem abrigo até a situação se tranquilizar. Os camponeses, vendo uma mulher acompanhada somente de duas crianças, permitiram que ficássemos. Fomos alojados num silo cheio de trigo recém-colhido, perto da casa principal. Era o abrigo ideal: as balas se perderiam nos ramos de trigo, assegurando uma proteção perfeita. E os buracos nas pilhas de trigo, nas quais nós, crianças, nos enfi ávamos, eram cavernas e camas maravilhosas! 

Passamos uns 15 dias despreocupados, brincando com os burros, as vacas, os cavalos e os cachorros, numa tranquilidade raramente perturbada, a não ser por alguns aviões de caça Spitfire, que, em uma circunstância, quase nos mataram por estarmos, Paul e eu, em sua linha de tiro.Até que, numa tarde, vimos centenas de alemães fugindo em debandada através dos campos, ouvimos tiros ao longe, a emoção dividida outra vez entre o medo de morrer e a alegria de saber que o fim do pesadelo talvez estivesse por chegar... Seríamos libertados e poderíamos voltar ao tempo de paz. Eu não tinha noção do que era viver em tempo de paz e do que se fazia em tempo de paz. 

Ao final desse dia, vimos um soldado alemão correndo, atordoado, para a direita e para a esquerda, na colina em que estávamos brincando. De repente, ouvimos tiros de metralhadora vindos de algum lugar, o soldado caiu gritando “Russo! Russo!”, e morreu bem longe de sua terra natal. Certamente tinha sido recrutado à força, como tantos outros milhares de homens, nos países do Leste Europeu conquistados pelos alemães. 

O silo de trigo no qual estávamos ficava bem perto de uma colina que subia suavemente por uns quinhentos metros até chegar ao topo e dali des-cia, suavemente também, até o horizonte.Algumas horas antes do sol nascer, Paul me acordou: 

— Dédé, tem um barulho estranho lá fora...Vamos ver o que é! Vamos! 

Fomos nos arrastando até o topo da colina, em direção àquele ruído, que inicialmente parecia com um ronronar de gato e se tornava mais ensurdecedor à medida que chegávamos ao topo. E lá estavam, à nossa vista, centenas de tanques aliados, avançando tranquilamente, encobertos pela neblina de uma manhã de verão. Rumavam na direção de Paris, ainda distante uns cem quilômetros... Estávamos libertados, enfim! Para nós, a guerra estava acabando. Paul e eu voltamos correndo desvairadamente para dar a notícia aos adultos, que, por incrível que pareça, ainda dormiam. 

Todos acordaram aos gritos, cantando a “Marseillaise”anfitriões foram buscar as garrafas de vinho, as garrafas de calvados presuntos e queijos apareceram milagrosamente para celebrar com um extraordinário café da manhã aquele momento histórico. 

Era a primeira vez que eu bebia vinho e calvados, e fiquei num pileque monumental, vomitando a alma muitas vezes. No entanto, apesar das pernas bambas, fomos todos até a aldeia para saber as novidades. 

Encontramos os soldados americanos chegando, em duas colunas, marchando grudados às Hino nacional francês. 

Paredes das casas, à direita e à esquerda, procurando em vão o inimigo que, desde o dia anterior, tinha abandonado o lugar. À tarde, a festa continuou. Celebramos a chegada de centenas de caminhões carregando soldados, a quem dávamos maçãs e flores em troca de chicletes, carne em conserva, sabonetes etc. 

No dia seguinte, minha mãe decidiu que tínhamos que regressar o mais rápido possível a Cabourg, a fim de evitar que nossa casa fosse depredada ou saqueada. E assim começamos a viagem de regresso, a pé, nas mesmas estradas que havíamos percorrido na ida, agora cobertas de caminhões transportando soldados aliados, provisões, armamentos pesados e munições para Paris. 

No quarto ou quinto dia de marcha, já perto de Cabourg, os campos — antes verdes — e as estradas estavam todos inundados, tornando a caminhada mais penosa e, sobretudo, mais perigosa, porque uma grande quantidade de minas havia sido largada durante os combates. Olhávamos para o chão e para o céu, para nos afastarmos das colunas negras formadas por milhões de mosquitos, que sobrevoavam as águas paradas, e dos milhares de corvos, que, num banquete obsceno, comiam as vacas podres. 

Enfim, fomos os primeiros a chegar a Cabourg. A casa estava intacta. Depois de muito tempo dormimos numa cama. Na manhã seguinte, fomos tomar banho, coisa que não fazíamos havia muitos meses. Eu, já limpo, mal saía do banheiro, e um barulho estrondoso fez a casa tremer. Passado o primeiro susto, abri a porta para pegar a toalha que eu tinha esquecido, e qual não foi meu espanto ao ver uma fumaça preta, densa, fedendo a pólvora, e o céu azul à vista, através de um enorme buraco no teto? Descobrimos, mais tarde, que a casa tinha sido atingida pelo motor de um avião que passava... 

Pouco a pouco, os habitantes de Cabourg voltavam para a cidade. E de julho a outubro começou para nós, crianças, um tempo de férias excepcional! Nossos brinquedos eram as embarcações que haviam transportado os soldados, que agora jaziam abandonadas nas praias; os tanques semidestruídos, soltos nos campos; os canhões, ainda em bom estado, que faziam parte das fortificações alemãs; as próprias fortificações; os planadores; as metralhadoras; os revólveres e os armazéns de munições, além dos uniformes abandonados pelos soldados, alemães e aliados... Benditos uniformes!, que logo substituíram nossas roupas gastas e fedorentas. Pela manhã, nós — as crianças — saíamos pelas praias e pelos campos fantasiados de americanos, de ingleses e de alemães, armados de fuzis, metralhadoras e revólveres, e partíamos para a luta, atirando com munições verdadeiras sobre nossos inimigos do dia. A nossa excitação chegava ao auge quando atirávamos de canhões das fortificações em direção ao mar ou quando, instalados nos tanques, atirávamos sobre outros tanques ao longe. Esgotados, porém felizes, só à noite regressávamos à casa para comer, tendo tido o cuidado de largar os armamentos num esconderijo qualquer. 

Em outubro, Hubert , Gerard e eu voltamos para o Colégio Sainte-Croix. Foram os meus tempos mais felizes de estudante. Estudava com prazer. Sendo um dos internos mais antigos, era muito amparado pelos jesuítas. Era um líder frente aos recém-chegados. E estava apaixonado por uma menina do Colégio SainteMarie, que eu, da janela, via passar todos os dias quando ela voltava para casa, e viria a encontrar em Cabourg, onde sua família passava o verão. Nunca cheguei realmente a falar com ela, de tanto que meu corpo e minha cabeça tremiam ao vê-la.

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domingo, 28 de julho de 2013

DOMINGUINHOS

Por Zé Miguel Wisnik



Tão perto e tão longe: é desse lugar que Dominguinhos me ressoa, sempre. Ele está no coração da canção brasileira, na voz dos maiores cancionistas, seus parceiros, na voz das grandes intérpretes, sempre na posição soberana de herdeiro declarado de Luiz Gonzaga

Ouvi Dominguinhos de perto, pela primeira vez, quando participei do Festival da Globo, acho que no ano de 2000. Nos bastidores, entre ensaios, passagens de som e o programa ao vivo, músicos concorrentes e atrações convidadas improvisavam encontros inesquecíveis e quase secretos, como o de Toninho Horta com Dominguinhos, que passeava com suavidade e fogo pelos teclados da sanfona, como um desses músicos raros que sentimos instantaneamente que bebem direto da fonte da música. O aparato exterior do festival, na tentativa de reeditar a antiga fórmula dos concursos de canções, passava batido pelo lugar mais essencial onde a música popular mostrava que existia, ali tão perto e tão longe de tudo aquilo.

Tão perto e tão longe: é desse lugar que Dominguinhos me ressoa, sempre. Ele está no coração da canção brasileira, na voz dos maiores cancionistas, seus parceiros, na voz das grandes intérpretes, nas suas tantas participações instrumentais e nos seus discos, sempre na posição soberana de herdeiro declarado de Luiz Gonzaga, que percebeu de imediato que aquele menino era o único entre todos. Mas essa condição ele nunca ocupou com estrépito, nem buscou, como se o destino natural do seu reinado fosse outro. Embalado pelo resfolego da sanfona com que a música nordestina traz o tempo para junto do corpo, o império de Dominguinhos é o da melodia, ali onde o som instrumental está dizendo misteriosamente que quer ser canção.

Conhecemos tratados de harmonia, análises que esquadrinham os ritmos e as mais complexas arquiteturas musicais. Mas ninguém é capaz de explicar o poder de uma melodia. Quanto mais uma como a de “Eu só quero um xodó”, com letra de Anastácia, que extrai dos acordes aparentemente triviais e das cadências mais simples um efeito arrebatador, evocativo, imediato e profundo. Assim também “De volta pro aconchego” e o “Lamento sertanejo”, cujas palavras latentes Nando Cordel e Gil souberam ouvir, e o “Xote da navegação”, no qual Chico Buarque viajou no próprio enigma do tempo.

A sabedoria melódica de Dominguinhos é uma espécie de conhecimento dos atalhos da música e da vida, um senso iluminado da medida áurea entre as tensões que se acumulam e o momento e o modo com que elas podem repousar. Simples assim, sofisticado assim, inexplicável assim. Como ele era um instrumentista dos maiores, e ao mesmo tempo um melodista límpido e essencial, as melodias brotam cristalinas dos improvisos, tanto quando ele compõe como quando contracanta com as canções de outros, enquanto instrumentista.

Um outro encontro com ele, bem mais recente e impactante pra mim, retrata bem isso. Mariana de Moraes convidou-o para tocar no disco dela, em “Assum branco”, música minha de inspiração gonzaguiana, trazendo a canção de volta, com o fole e a zabumba, do “debaixo do barro do chão”. No final da gravação, maravilhados todos nós diante dele, Dominguinhos disse que queria deixar registrada uma música para que eu letrasse. O que escuto sem parar, desde então, nesse solo extasiante, são sete minutos de uma sequência onde se podem distinguir nitidamente não uma, mas quatro canções, como numa espécie de suíte inesperada. Comentei isso com ele, como quem buscasse entender a sua intenção, e a resposta, misteriosa, foi a de que a música modulava e continuava, sugerindo que as quatro canções são uma só, nascidas do mesmo fôlego. Mais que isso: parecem compostas de maneira orgânica e inteira, embora os sinais claros são os de que foi um improviso inacreditavelmente inspirado, que ele tratava como naturalíssimo. Os amigos músicos que pedi para ouvirem comigo não são capazes de decidir se é uma composição pronta ou um improviso, simplesmente porque, num caso ou noutro, a música bebe diretamente da fonte da música.

Não foi muito tempo depois que Dominguinhos adoeceu e passou meses não consciente, mas sensitivo, como se cumprisse ainda o seu destino de estar assim tão perto e tão longe. Eu fiquei, pobre amador, com essa imensa dádiva e essa imensa dívida. Nos últimos tempos eu vinha mergulhado nelas. Como diz um amigo meu, Deus deu a uns a pureza, e a outros a tarefa de se purificar.

Compartilho aqui, então, a letra da primeira das canções: “Procurar por você/ procurar entender / de onde chega você na lembrança/ quando a roseira balança/ e de onde a luz não alcança/ vem/ um sopro de flor/ um calor de calar na alma/ uma calma por existir você/ e a saudade que não quer esquecer.// Se essa paz encontrar um colo/ e se água molhar meus olhos/ vou ficar/ vou estar com você.// Os verões, as canções/ revoadas de sonhos que vão/ (vão e vem)./ O inverno será incapaz de roubar esse bem.// Eu não sei se existe um lugar / só não sinto o tempo passar / se é pra ter / desejar / esperar / encontrar você”.

sábado, 27 de julho de 2013

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sexta-feira, 26 de julho de 2013

AO SOM DE SANFONEIROS E COM CHUVA DE PÉTALAS, DOMINGUINHOS É ENTERRADO

Dia foi de homenagens ao músico, durante o velório no Recife.
Sepultamento aconteceu no Morada da Paz, na Região Metropolitana do Recife.


Com uma chuva de pétalas de rosas, o cantor José Domingos de Moraes, o Dominguinhos, 72 anos, foi sepultado, pouco antes das 19h desta quinta-feira (25), no cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife. Com a presença de um grande grupo de sanfoneiros, canções do próprio Dominguinhos também não faltaram. A cerimônia encerra as homenagens deste dia em que Pernambuco se despediu do sanfoneiro, que morreu na última terça-feira (23), em São Paulo, onde estava internado desde janeiro.

Filha do artista, Liv Moraes, a ex-mulher Guadalupe e o músico Cezzinha se emocionaram no momento do sepultamento. Fãs e amigos se apertaram no espaço montado no cemitério para ver, pela última vez, o caixão de Dominguinhos. Após a apresentação dos sanfoneiros, o toque de uma corneta anunciou o sepultamento. Pétalas de rosa caíram em cima do caixão e os presentes bateram palmas.


Velório na Alepe

O velório começou às 8h e foi até as 17h, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Ao longo de todo o dia, amigos, parentes e fãs anônimos foram se despedir do sanfoneiro. A estudante Melizia Soares acompanhou o início do cortejo. "Ele marcou a nossa vida, assim como Luiz Gonzaga. Meu pai e minha mãe sempre escutaram as músicas dele, vim dar adeus a esse mestre da sanfona", contou.

Uma das últimas a chegar à Alepe, a cantora Elba Ramalho ficou ao lado da filha de Dominguinhos, Liv Moraes, e no discurso fez questão de ressaltar as qualidades do artista. "Ele nunca me magoou e eu nunca o magooei. Isso é algo raro. Dominguinhos era como uma fonte de água cristalina. Ele deixa um legado de simplicidade, humildade e capacidade. Que Deus abençoe e que a Ave Maria esteja com ele".

O músico Geraldo Azevedo cantou 'Assum preto' e afirmou que Dominguinhos vai estar sempre perto dele. "Sempre fomos muito amigos. Ele é o exemplo maior do artista real, aquele sem volúpia, sem vaidades. Gravou com os grandes nomes da música brasileira. A alma dele, a obra e as músicas vão ficar para sempre".

Durante a cerimônia, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos também fez questão de prestar sua homenagem. "Dificilmente se encontra um artista tão importante com tanta simplicidade. Os artistas têm a capacidade de sobreviver além da vida que Deus nos dá", apontou o governador, lembrando ainda que o músico ajudou muitas pessoas em seu caminho.

A celebração de encomendamento do corpo foi celebrada pelo padre Josenildo Tavares. "Dominguinhos deixou sua marca no mundo, que foi a simplicidade e a humildade. Junto a Luiz Gonzaga, Sivuca e Marinês, imaginem que festa deve estar lá no céu", disse o religioso durante a celebração. O cortejo com o corpo do artista saiu da Alepe em carro aberto, em um veículo do Corpo de Bombeiros, acompanhado de cinco batedores da Polícia Militar.


Histórico

O corpo foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo desde a madrugada de quarta (24) e partiu para o Recife às 23h10 do mesmo dia. O velório no Recife foi aberto ao público. O artista morreu aos 72 anos. Ele lutava havia seis anos contra um câncer de pulmão. De acordo com o hospital Sírio Libanês, onde estava internado desde janeiro, o músico morreu às 18h da terça (23), em decorrência de complicações infecciosas e cardíacas. Ao longo do tratamento, ele desenvolveu insuficiência ventricular, arritmia cardíaca e diabetes. Antes de ser transferido para a capital paulista, o artista esteve internado por um mês em um hospital do Recife.

Fonte: G1 Pernambuco

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quinta-feira, 25 de julho de 2013

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quarta-feira, 24 de julho de 2013

PLURAL E SINGULAR, DOMINGUINHOS DEIXA UMA LACUNA IMPREENCHÍVEL DENTRO DA MÚSICA BRASILEIRA

Herdeiro maior da dinastia de Luiz Gonzaga, Dominguinhos deixa como artista um legado ímpar para a música brasileira e como ser humano um exemplo de simplicidade e generosidade a ser seguido.

Por Bruno Negromonte



Quem passou uma vida inteira encantando, agora resolveu encantar-se. Dominguinhos deixou ontem, aos 72 anos, uma lacuna eterna dentro da música brasileira a partir de uma obra inextinguível. Seu carisma, simplicidade, solicitude, generosidade e tantos outros adjetivos característicos de grandes homens fazem-se presente na vida e obra deste artista nascido a 228 km da capital pernambucana, na cidade de Garanhuns e que desde muito jovem teve o seu destino traçado com Luiz Gonzaga, aquele que seria a sua maior referência artística e pessoal. A apresentação entre eles se deu nos idos anos de 1940, quando no Hotel Tavares Correia o então Neném, aos 7 anos, apresentou-se ao famoso artista com os seus irmãos Moraes e Valdomiro acompanhado de um pandeiro. O pequeno artista talvez não mensurasse que a partir daquele encontro sua vida estaria mudada para sempre pois ali estava sendo fecundado, através de um cartão dado, o cerne de um legado que Dominguinhos levaria por toda a vida e com muito orgulho: a responsabilidade de seguir com o legado musical do velho Lua.

Para amenizar as adversidades vividas pelos pais, Neném apresentava-se ao lado dos irmãos, e juntos formavam o grupo Os Três Pinguins tocando os mais diversos ritmos pelas feiras e espaços públicos de sua terra natal em busca de angariar recursos para o sustento familiar. Depois de uma breve passagem pela capital pernambucana, seu pai, Chicão, assim como muitos nordestinos acredita que a prosperidade encontrava-se no Rio de Janeiro, então capital federal, e resolve que era a hora de seguir para lá seguindo em pau-de-arara (meio de transporte muito utilizados na época e que consistia em caminhões adaptados para o transporte de passageiro entre o Nordeste e o Sudeste do país). Foram cerca de 11 dias "comendo farinha e carne seca pelas estradas", como costumava dizer o músico. Ao chegar no Rio de Janeiro uma das primeiras providências de seu pai foi ir em busca do endereço existente no cartão dado por Gonzagão quando eles encontravam-se ainda em Garanhuns. Assim como prometido, foram recebidos pelo artista em sua residência no Méier e de cara já ganhou uma pequena sanfona. Ali, em 1954, nascia uma amizade que duraria até 1989, ano em que o rei do Baião veio a falecer.

Porém é possível afirmar que Dominguinhos traçou, de modo paralelo ao seu envolvimento com a vida e obra de Gonzaga, a sua própria história; e acabou tornando-se responsável pela efetiva urbanização do gênero que defendido por seu mestre, somando-se aí um virtuosismo adquirido não apenas pela convivência com suas referências musicais, mas também por sua experiência como instrumentista na noite carioca. Apesar de ganhar projeção nacional tocando os ritmos genuinamente nordestinos (assim como fez seu mestre maior) o sanfoneiro não cerceou outros gêneros e ritmos existentes. A prova maior disto e possível encontrar já em "Fim de festa" seu primeiro disco datado de 1964. Neste debute fonográfico é possível identificar de sua autoria dois gêneros distintos: o frevo e o choro. Em um álbum repleto de compositores entre as 12 faixas existentes, o estreante assina o "Frevo Cantagalo" e o choro "Garanhuns", mostrando uma forte personalidade musical. A partir daí não só gravou, de forma sublime, os mais diversos ritmos como também os compôs. Valsas, boleros, fados, xotes, baiões, frevos e mais uma gama sonora desmedida fazem parte do legado deixado por esse ilustre garanhuense. Em "Luar Agreste - No céu Cariri" (último trabalho autoral em parceria com o compositor Xico Bizerra) é possível comprovar e conhecer um pouco dessa diversidade sonora irrestrita, mostrando assim que sua indelével obra foi marcada pelo ecletismo do início ao fim.

A partir dos anos de 1970 acabaria acompanhando alguns dos grandes nomes da MPB em algumas turnês tal qual Gal Costa (Índia) e Gilberto Gil (Refazenda); além de iniciar uma das mais profícuas parcerias de sua trajetória musical com Anastácia, sua primeira esposa e co-responsável por clássicos como "Eu só quero um xodó", um dos maiores sucessos da carreira de ambos e que depois ganharia mais de 250 regravações. Daí em diante se tornaria parceiro de alguns dos maiores nomes da MPB tais quais Fausto Nilo, Gilberto Gil, Capinan, Chico Buarque, Djavan, Ednardo, Climério, Clodô, Chico Anysio, Nando Cordel (com quem enumerou diversos sucessos), Manduka (parceria que resultou na canção "Quem me levará sou eu", vencedora do Festival da TV Tupi em 1979). Desse modo Dominguinhos foi capaz de fazer de sua arte um porto seguro para muitos artistas, agregando de forma coerente valores a responsabilidade delegada por Gonzaga ampliando-a dentro da abrangência que o seu talento permitiu nessa trajetória de mais de 50 anos de estrada, mais de 40 discos gravados, centenas de participações em outros projetos, duetos antológicos, dois Grammys Latino em vida (um por "Chegando de mansinho", em 2002, e outro em 2010 por "Iluminado") e outro póstumo.


Dominguinhos era isso. Plural por abranger em seu ofício tudo aquilo que agregava valores e era capaz de beneficiar aos seus. Singular porque não há músico com valores tão marcantes quanto ele. E Por mais homenagens que prestemos nada substituirá ou amenizará a falta que fará a cultura nordestina. Nesta eterna lacuna, resta-nos amenizar a dor da saudade com o seu legado cientes que se Gonzaga era Rei, nesta dinastia Dominguinhos se fez príncipe de fato e por direito em uma hierarquia que infelizmente não há sucessor. Desse modo, assim como fez o poeta, o príncipe Dominguinhos cansou de ser moderno e resolveu que seria eterno ao lado de uma dinastia que já conta com Gonzaga (Rei do Baião), Jackson do Pandeiro (Rei do ritmo), Marinês (Rainha do xaxado) e Carmélia Alves (Rainha do Baião).

Vai Príncipe, torna-se também eterno tal qual a sua obra e os seus ensinamentos, pois fica aqui entre nós a certeza que você cumpriu fielmente a missão delegada por seu mestre maior. Fica entre nós no quadro de nossa memória o seu sorriso largo e espontâneo. É hora de descansar seu Domingos! Segue, que o teu caminho é de luz! Vai olhar lá de cima o legado que você ajudou também a cultivar de modo tão brilhantemente e não esquece de olhar por esse povo tão sofrido de um Nordeste que você conheceu como ninguém. 

O SERTÃO NOS OLHOS


Por Luce Pereira



Sempre achei que Dominguinhos trazia o Sertão nos olhos. Mesmo naquele 10 de março de 2008, quando entrou devagar na Casa de José Mariano para receber o título de Cidadão do Recife, uma iniciativa do ex-verador Luiz Helvecio. Entrou vestindo paletó e gravata, sem conseguir esconder a enorme fragilidade nascida de uma cirurgia recente em um dos pulmões. Mesmo assim, metido naquela roupa que não combinava com sanfona nem chapéu de couro, trazia o Sertão nos olhos.
Chorou várias vezes, desde a entrada no salão, quando foi saudado pela Banda da Polícia Militar de Pernambuco com a música De volta pro meu aconchego. Era emotivo como um menino e muito triste, também, segundo diz o autor da homengem, a partir do que ouviu de um amigo do artista. Ao final, Dominguinhos agradeceu com a voz que sempre o guiou - a da sanfona.

De Pernambuco, levou muitos momentos felizes, mas, também, alguns em que, já fragilizado pela doença, se viu preterido na grade de programação do ciclo junino do Recife após ter sido convidado a tocar. Foi preciso o prefeito intervir, depois da grita geral. Outra vez, na mesma época, teve o show no Sítio da Trindade colocado para 01h, quando costumava se apresentar bem mais cedo em respeito ao perfil do seu público. A bondade e a delicadeza impediam que estrebuchasse, desse chilique, lembrando a estatura artística que tinha. Eram sempre os amigos a gritar por ele. Inútil lembrar os tijolos colocados por seu talento no sólido edifício em que se sustenta hoje a música popular brasileira.

Foi um mestre em seu ofício, com a humildade e a generosidade que só os verdadeiros mestres conseguem ter. Era de se esperar que nunca se visse diminuído pela infindável figura de Luiz Gonzaga, a quem acompanhou como faz um discípulo ciente do próprio valor. Só agora sai o Sertão dos olhos de Dominguinhos, que foi ali, tirar um cochilo. Não vai voltar simplesmente porque não irá nunca. Sua música e as lições de amor pelas raízes não deixam.

Fonte: Diário de Pernambuco

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BATIZADO POR GONZAGA, DOMINGUINHOS LEVOU ADIANTE LEGADO DO REI DO BAIÃO

Após começo com ritmos nordestinos, músico transitou entre muitos estilos. Sanfoneiro faleceu nesta terça-feira no Hospital Sírio-Libanês, em SP.

Um adolescente de 16 anos, chegado ao Rio de Janeiro havia pouco, de repente ganha a bênção do Rei do Baião ao ser chamado pelo próprio de “herdeiro artístico”. Não poderia ter começado de maneira mais certeira a carreira musical de Dominguinhos, o sanfoneiro nascido José Domingos de Morais, em Garanhuns, Agreste pernambucano, no dia 12 de fevereiro de 1941. O Brasil se despede do músico nesta terça-feira (23).

“Gonzaga estava divulgando para a imprensa o disco ‘Forró no escuro’ [1958] quando me apresentou como seu herdeiro artístico aos repórteres”, lembrou-se Dominguinhos, em entrevista ao G1, durante os festejos do centenário de Gonzaga, em dezembro do ano passado. “Foi uma surpresa muito grande, não esperava mesmo”, assegurou.

A relação entre os dois, no entanto, é mais antiga. Dominguinhos ainda era criança e tocava triângulo com os irmãos no grupo Os Três Pinguins. Naquela época, era chamado Neném do Acordeon, apelido de infância. Tinha 8 anos e estava tocando na frente do hotel onde Gonzaga se hospedara, em Garanhuns, quando o Rei do Baião notou seu talento. Ali mesmo, prometeu ao músico mirim uma sanfona de presente, caso este resolvesse ir ao Rio de Janeiro.

O artista consagrado não se esqueceu do garoto quando ele foi procurá-lo, já rapaz, na então capital federal. Acompanhado do pai, o também sanfoneiro Chicão, e de um dos irmãos, Dominguinhos se mudou para o Rio de Janeiro e passou a viver em Nilópolis. Em 1954, a intenção do músico era encontrar Luiz Gonzaga. Quando o encontro aconteceu, a promessa não demorou a ser cumprida: “Em cinco minutos, ele me deu uma sanfona novinha, sem eu pedir nada", contou. Também não foi necessário tempo demais para Gonzagão ter certeza do que tinha suspeitado em 1949: o anúncio de Dominguinhos como herdeiro aconteceria apenas quatro anos após a chegada do então jovem sanfoneiro ao Rio. Além do instrumento e da bênção, Gonzaga ainda batizou o rapaz, dando-lhe o apelido que viraria nome artístico. Para o velho Lua, a alcunha de “Neném do Acordeon” não ajudaria na carreira como músico.

A primeira gravação profissional de Dominguinhos não poderia ser no disco de outro artista: em 1957, tocou sanfona em um álbum de Luiz Gonzaga, na música "Moça de feira", de autoria de Armando Nunes e J. Portela. No mesmo ano, o padrinho ajudou de novo na hora de batizar o grupo do qual o afilhado faria parte: com Zito Borborema e Miudinho, Dominguinhos fundou o Trio Nordestino, que ficou conhecido por interpretar diversos ritmos do Nordeste. O grupo continuaria, com outras formações, mas a participação de Dominguinhos foi encerrada em 1960.



O mundo do samba, da gafieira e do bolero atrairia o sanfoneiro temporariamente, mas, em 1965, Dominguinhos foi convidado a gravar, na recém-inaugurada gravadora Cantagalo, um disco que tinha como alvo os migrantes nordestinos que viviam no Rio de Janeiro. O dono da empresa era Pedro Sertanejo, pai de Oswaldinho do Acordeon, um dos primeiros a lidar com o forró no mercado do Sul-Sudeste brasileiro. Foi o bastante para Dominguinhos voltar a tocar xotes e baiões e, em 1967, integrar uma excursão de Luiz Gonzaga à região Nordeste, dividindo-se entre as funções de sanfoneiro e motorista – o notório medo de avião do sanfoneiro não começou aqui, no entanto. Antes de adotar o transporte rodoviário, Dominguinhos voou pelo mundo durante 30 anos, mas há 26 tinha deixado as aeronaves de lado.

Além de ser o segundo sanfoneiro de Gonzaga, e motorista eventual, Dominguinhos teve a oportunidade de conhecer, nessa excursão, a cantora pernambucana Anastácia. O encontro com a compositora, com quem se envolveu, marcou a carreira do músico. Juntos, são autores de mais de 200 canções. "Tenho sede" e "Eu só quero um xodó" são dois dos grandes sucessos da dupla e esta última música já soma cerca de 250 regravações, em várias línguas.

O empresário Guilherme Araújo, que dirigia a carreira dos novos ídolos baianos como Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil, viu Dominguinhos tocando num show de Luiz Gonzaga, em 1972, e fez o convite para que o sanfoneiro acompanhasse Gal no show “Índia”. É dessa mesma época a primeira gravação de Gil de "Eu só quero um xodó", versão que ficou muito famosa no Brasil. Como instrumentista, Dominguinhos passou então a transitar com desenvoltura no mundo da MPB, tocando ao vivo e também participando de gravações em estúdio.

Durante show no dia do centenário de Luiz Gonzaga, em 13 de dezembro deste ano, realizado na terra natal do Rei do Baião, Exu (PE), Gilberto Gil reiterou a importância de seu herdeiro. “Dominguinhos teve a herança do Gonzaga, que ele incorporou, através das canções, dos estilos, o gosto pelo xote, xaxado”. No entanto, para Gil, Dominguinhos soube trilhar um caminho próprio. “Ele foi além, em uma direção que Gonzaga não pôde, não teve tempo. Ele foi na direção do início de Gonzaga, o instrumentista, da época das boates do Mangue, no Rio de Janeiro, quando ele tocava tango, choro, polca, foxtrote, tocava tudo, repertório internacional, tudo na sanfona”.

Em meados dos anos 1980, Dominguinhos viu sua popularidade crescer em nível nacional. "De volta pro meu aconchego", composta em parceria com Nando Cordel e gravada por Elba Ramalho, e "Isso aqui tá bom demais", assinada junto com Chico Buarque, e gravada pelos dois, fizeram parte da trilha sonora da novela "Roque Santeiro", da TV Globo, um sucesso absoluto entre 1985 e 1986. Temas dos personagens Roque Santeiro e Sinhozinho Malta, respectivamente, as canções ganharam milhares de ouvintes, levando o nome de Dominguinhos país adentro.



A composição de trilha sonora voltaria à vida de Dominguinhos em 1997, quando o sanfoneiro assinou as canções do filme "O cangaceiro", de Anibal Massaini Neto. Dois anos depois, o disco “Você vai ver o que é bom” trouxe o registro de “O riacho do imbuzero", uma letra até então inédita do compositor pernambucano Zé Dantas, que foi entregue a Dominguinhos pela viúva do parceiro de Luiz Gonzaga. No mesmo trabalho, os dez anos da morte do Rei do Baião foram lembrados na música “Prece a Luiz", assinada em parceria com Climério.

Em 2004, Dominguinhos cumpriu temporada de shows no Rio de Janeiro, em dupla com Elba Ramalho, com repertório que privilegiou os hits de ambos os artistas. As apresentações se transformaram em CD no ano seguinte. Em 2007, os papéis se inverteram e foi a vez de Dominguinhos virar padrinho: o sanfoneiro participou da estreia da filha Liv Moraes em disco, fazendo o arranjo e tocando a sanfona em algumas das faixas. Nos últimos anos, a cantora acompanhou o pai em muitas das suas apresentações, inclusive durante a festa pelo centenário de Gonzaga, em Exu. A gravação, em 2009, do primeiro registro em DVD – “Dominguinhos ao vivo” – aconteceu no maior teatro ao ar livre do mundo, em Fazenda Nova, cidade do Agreste pernambucano, mesmo palco onde é realizada anualmente a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. Os cantores Elba Ramalho, Renato Teixeira, Liv Moraes e Jorge de Altinho e os sanfoneiros Waldonys e Cezzinha participaram do trabalho.

Entre os últimos CDs gravados por Dominguinhos estão os trabalhos com o violonista gaúcho Yamandu Costa. A parceria começou em 2007, com o disco “Yamandu + Dominguinhos”, que tinha uma única preocupação: deixá-los tocarem o que tivessem vontade, sem amarras a repertórios ou estilos. Em cinco dias, foram registrados clássicos como “Feira de Mangaio” (Sivuca e Glória Gadelha), “Wave” (Tom Jobim), “Pedacinho do céu” (Waldir Azevedo) e “Asa branca” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira). O encontro dos músicos viraria DVD, em 2009, e permitiria a produção de um novo CD, o “Lado B – Yamandu Costa e Dominguinhos”, lançado em 2010. Composições de Hermínio Bello de Carvalho, Jacob do Bandolim, Lupicínio Rodrigues, Ary Barroso e Lamartine Babo fazem parte do repertório do segundo disco.

Prêmios e honrarias não foram poucos ao longo de praticamente 60 anos de carreira: em 2002, o CD “Chegando de mansinho” deu a Dominguinhos seu primeiro Grammy Latino. “Conterrâneos”, CD solo gravado em 2006, conquistou o Prêmio Tim em 2007, na categoria cantor regional. Em 2008, Dominguinhos foi o homenageado do Prêmio Tim de Música Brasileira e, dois anos depois, venceu o Prêmio Shell de Música. Este ano, o disco “Iluminado” deu ao sanfoneiro pernambucano mais um Grammy Latino, na categoria raízes brasileiras - uma classificação mais do que digna para uma estrela da música brasileira, defensor e renovador de suas raízes nordestinas.

Veja o infográfico sobre a vida e obra do artista:

http://g1.globo.com/pernambuco/musica/infografico-dominguinhos/platb/


Fonte: G1

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terça-feira, 23 de julho de 2013

O DIA EM QUE A SANFONA DE DOMINGUINHOS SE CALOU

Por Júlia Biude



Na noite desta terça-feira, por volta das 18h, morreu Dominguinhos, aos 72 anos. O legítimo representante da música nordestina lutava há mais de seis anos contra um câncer de pulmão. Ao longo do tratamento, diversas complicações foram somadas ao seu quadro, como insuficiência ventricular, arritmia e diabetes. 

A morte do cantor ocorreu em decorrência do agravamento de infecções e dos problemas cardíacos. Dominguinhos estava internado desde dezembro do ano passado por conta de uma pneumonia. O músico chegou a ter oito paradas cardíacas. No dia 13 de janeiro, foi para o hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. 

Nesta tarde, Dominguinhos havia voltado para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A notícia foi passada à imprensa pela sua filha, Liv Morais.

Biografia - Dominguinhos nasceu em Garanhuns, no estado de Pernambuco, em 12 de fevereiro de 1941 e foi batizado como José Domingos de Morais. O músico começou sua carreira na infância, tocando no trio Os Três Pinguins.

Seu reconhecimento veio em um encontro com Luiz Gonzaga, que achou que o menino tinha futuro. Ele lhe deu o seu endereço no Rio de Janeiro e pediu que o músico o procurasse, mas o novo encontro só aconteceu seis anos mais tarde, quando Dominguinhos mudou para a Cidade Maravilhosa com sua família. 

Ele ganhou do Rei do Baião uma sanfona nova. Luiz Gonzaga chegou a declarar que o sanfoneiro era o herdeiro de seu reinado.

Seu primeiro LP foi gravado em 1967, a partir daí, o sucesso bateu em sua porta e Dominguinhos começou a ser convidado para gravações e turnês com grandes nomes da música popular, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia.

O cantor gravou mais de 30 discos e compôs diversos sucessos, como De Volta para o Aconchego, conhecido na voz de Elba Ramalho, e Tantas Palavras, em parceria com Chico Buarque.

Em 2009, pela primeira vez em 50 anos de carreira, Dominguinhos gravou um álbum ao vivo, no Teatro Nova Jerusalém, em Pernambuco. No disco são 25 músicas, armazenadas em 16 faixas. O diferencial do trabalho foi a presença da orquestra, com trompetes, trombone, violinos e tudo que um legítimo forrozeiro tem direito. Em 2002, o sanfoneiro ganhou o Grammy Latinho, com o CD Chegando de Mansinho.

“LUGAR DE JUMENTO É NO BRASIL”, DISSE O POETA OTACÍLIO BATISTA

Por Abílio Neto

A visita ao Brasil do simpático Papa Francisco, me levou a escrever o texto abaixo. Deveria tê-lo escrito por ocasião do centenário do Rei do Baião, porém não tive tempo. Então, acho até que agora é mais oportuno.

Em 1982, mais precisamente, a 4 de fevereiro daquele ano, os jornais de todo o Brasil noticiavam o fim da greve de fome de Damião do Jegue. Pois é, o funcionário público Damião Galdino da Silva suspendeu a greve de fome que fazia em protesto contra o não envio a Roma do jumento Jericar, um presente que ele deu ao papa João Paulo II, quando da sua visita à Brasília dois anos antes, em 1980. Damião até acorrentou-se na Torre de TV do Distrito Federal. A greve somente acabou depois de a CNBB prometer mandar Jericar ao Vaticano.

Na madrugada de 28/07/2006, em João Pessoa/PB, foi assassinado com três tiros de revólver, aquele que tinha se tornado o legendário “Damião do Jegue”, mundialmente famoso pelo inusitado presente oferecido ao Papa João Paulo II. As pessoas pensam que Damião era um maluco qualquer. Não era! Quem assevera isso é o amigo maranhense Raimundo Floriano, nobre escritor, músico, colecionador, pesquisador e agitador cultural, residente em Brasília faz muito tempo. Leiam o que ele escreveu no Jornal da Besta Fubana:

“Damião Galdino da Silva, o Damião do Jegue, foi o mais popular almocreve do Parlamento. Também funcionário da Câmara Alta, Damião nasceu no município paraibano de Espírito Santo. Em 1962, como soldado do Exército Brasileiro, integrou o Batalhão Suez e, no Oriente Médio, recebeu condecoração da ONU. De volta ao Brasil, reingressou na vida paisana e foi admitido no Senado como Motorista. Em Brasília, equipou um jumento com faróis, sinaleiras, pisca-pisca, buzina, freios, velocímetro, bateria e outros acessórios. A esse veículo, deu o nome de Jericar. Bastou dar uma circulada na Praça dos Três Poderes com sua invenção, para ter, no dia seguinte, o nome e as fotos, dele e do jegue, publicados nos maiores jornais de todo o mundo. 

Simpatizei com Damião do Jegue na primeira vez em que o vi, por um motivo pra lá de especial: sabia ele todo o repertório de forrós, sambas, marchinhas e frevos compostos ou interpretados por Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo. Sendo eu um jacksoniano juramentado, ouvi-o por mais de hora. Cantou muitas músicas que eu não conhecia e me ensinou a letra completa de várias outras. Em 1980, Damião resolveu doar o Jericar ao Papa João Paulo II, quando de sua visita ao Brasil. Criou-se, aí, um problema diplomático, e o Itamaraty não sabia como proceder para entregar o presente ao Santo Padre em Roma. A CNBB ficou de estudar o assunto. Em 1982, depois de tanta espera, Damião iniciou uma série de atos de protesto. Subiu a rampa do Palácio do Planalto com o Jericar, acorrentou-se à Torre de TV, escalou o mastro da Bandeira Nacional e ameaçou suicidar-se, fez greve de fome, tudo isso sob o pretexto de conseguir mais atenção para o sofrido povo nordestino. Mais tarde, chegou a se candidatar a um cargo eletivo, obtendo votação inexpressiva. Era um agitador cultural, um cara criativo, um sonhador. Pena que tenhamos sido prematuramente privados de seu convívio!”

Agora falo eu: Damião do Jegue acabou sendo citado numa música gravada pelo Rei do Baião, “O Papa e o Jegue”, com versos do ilustre poeta pernambucano Otacílio Batista, musicados por Luiz Gonzaga. A música foi lançada em 1983 e faz uma crítica social de lascar o cano. Sem contar que, ao final, o poeta registrou que com a abertura do então presidente da República, o general Figueiredo, o lugar de jumento era mesmo no Brasil. Durma com um barulho desse! É uma crítica muito bem humorada que conta com este refrão: “Quer queira ou quer não/ O jumento é nosso irmão”. É em homenagem ao padre Antonio Vieira que compôs em parceria com Luiz Gonzaga a famosa música “Apologia ao Jumento”. 

Não sei explicar o motivo pelo qual “O Papa e o Jegue” não fez tanto sucesso quanto deveria. Lembro que as emissoras de rádio já não divulgavam tanto o produto caracteristicamente cultural. Essa doença vem desde a década de oitenta na qual a música foi gravada.


O Papa e o Jegue (Otacílio Batista e Luiz Gonzaga)


O jumento é o símbolo da pobreza
Animal que figura no Evangelho
Comedor de molambo e papel velho
Não tem medo de fome em sua mesa
Ao seu dono ele dá pouca despesa
No verão, no inverno ou no sol quente
Pensador, preguiçoso e paciente
Foi amigo do filho de Jeová
Hoje serve de carne de jabá
Nas cozinhas mais ricas do Oriente

Quer queira ou quer não
O jumento é nosso irmão (bis)

Traz o jegue no lombo a cruz da morte
O sinal do menino de Belém
Jesus quis visitar Jerusalém
O jumento serviu-lhe de transporte
No Brasil o jumento teve a sorte
De ser presente do Papa um santo nome
Vai comer do que pouca gente come
Nos quintais do palácio italiano Engordar nos jardins do Vaticano
Seus irmãos no Brasil passando fome

César Coelho apitou a decisão
Da Itália jogando com a Alemanha
Havelange lamenta na Espanha
A derrota da nossa seleção
Os romanos levaram o canecão
Paulo Rossi é da copa o artilheiro
Nós perdemos por causa do goleiro
Mas em nome da língua de Camões
O jumento transmite aos campeões
Um abraço do povo brasileiro

Assessores do Papa, cardeais
Baseados no Velho Testamento
Cancelaram a viagem do jumento
A noticia que o jegue não vai mais
Damião deixa o seu burrico em paz
Já que o Papa recusa o jeriquil
Pra ninguém não chamá-lo de imbecil
É melhor desistir desse presente
Com a abertura do nosso presidente
O lugar do jumento é no Brasil.

PROGRAME-SE


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segunda-feira, 22 de julho de 2013

EIS A CAPA DE "DE MIM", NOVO PROJETO DE GONZAGA LEAL


Em fotos assinadas pelo fotógrafo Helder Ferrer, o novo trabalho do artista pernambucano conta com a adesão de grandes nomes de nossa música.


Por Bruno Negromonte



Com previsão de lançamento ainda para este segundo semestre de 2013, o novo álbum do cantor e compositor Gonzaga Leal conta contará com 17 faixas, dentre elas “Da saudade” (Públio Lentulus), “Água Serenada” (Déa Trancoso), “Vôo Cego” (Lula Queiroga), “Arco do tempo” (Paulo César Pinheiro), “Você disse não lembrar” (Adriana Calcanhotto), “Show” (Luiz Tatit), “Colarzinho de pedra azul” (Junio Barreto), “A janela da casa do tempo” (Xico Bizerra e Públius Lentulus) entre outras. Este oitavo álbum ainda conta com a participação de nomes como Cida Mireira, Marília Medalha,Jaime Alem e Jota Velloso, que assina “Sonho imaginoso”, canção composta sobre texto de Gonzaga.

MÚSICA, ÍDOLOS E PODER (DO VINIL AO DOWNLOAD) - PARTE 04


CAPÍTULO 4 

Foi em 1943 que os de Forceville, que logo passaram a ser meus melhores amigos de infância, entraram no Sainte-Croix e na minha vida. Eles moravam em Bavent, a cerca de trinta quilômetros de Cabourg, numa bela mansão de tradição normanda. A lenda conta que a mansão foi atingida por 36 tiros de canhões, que deixaram 35 buracos. Ou seja, dois tiros passaram pelo mesmo buraco durante as batalhas dos primeiros dias do desembarque aliado. 

A BBC irradiava diariamente, das seis às sete da noite, um programa produzido pelos militares franceses e dirigido a nós, os franceses que moravam na França. Divulgava uma infinidade de curtas mensagens em código, coordenando as ações das forças da Resistência francesa, mandando explodir pontes, trens, depósitos de munições alemães, confirmando a noite e a hora da chegada de armas e munições para os membros da Resistência, carregadas por planadores ou pára-quedas, e anunciando a chegada de pára-quedistas aliados na calada da noite. Era também o canal utilizado para os militares franceses mandarem mensagens para as famílias no continente. 

Evidentemente, era crime de guerra escutar o programa, e a punição era a morte. No entanto, todas as santas noites, uma boa parte da França ficava trancafiada no lugar mais seguro da casa, escutando bem baixinho esses pedaços de frases, que nada significavam para pessoa alguma, a não ser para a interessada… E, para ampliar mais a atmosfera misteriosa, a iluminação era só de velas e lampiões de querosene. Por ordem dos alemães, os vidros das janelas eram todos forrados com papel escuro, para que os aviões aliados não pudessem identificar as cidades que sobrevoavam. Não tinha uma alma nas ruas, a não ser soldados alemães em suas rondas e buscas. 

Num dia do mês de março de 1944, mme. de Forceville escutou uma mensagem enviada pelo marido, alistado nas forças francesas localizadas na Inglaterra, que dizia algo assim:“O gato preto pulou do telhado.” 

Isso significava que quem da família estivesse em Paris tinha que deixar a capital imediatamente. Assim, Hubert , seu irmão Gerard e eu saímos do colégio e fomos para Cabourg. 

Os dias chuvosos de abril passaram e nada acontecia, a não ser por uma rotina pacata, porém tensa para nossas mães — que sabiam que algo de grave estava para acontecer. E nada mais.A gente jogava futebol, eu sempre de goleiro, com os filhos de pescadores. De vez em quando, íamos até a famosa praia, sobre a qual já falei antes. À tarde, buscávamos o leite de uma vaca vizinha e cortávamos grama para alimentar os coelhos. 

Pelo menos, para compensar, a gente comia bem. Porque sempre havia um ovo ou uma carne que os proprietários das pequenas fazendas haviam escondido dos alemães… 

Já era fim de maio e a inquietação das mães crescia à medida que o tempo se esticava, lenta e silenciosamente. 

Havia uma sala de cinema em Dives, cidadezinha industrial e pesqueira ao lado de Cabourg, que exibia filmes de propaganda sobre a grandeza e a superioridade da raça alemã, além de outros filmes autorizados pela censura… Só havia uma sessão, aos sábados e domingos, às 16 horas. O título do fi lme, Pic Pus, ficou na minha memória, por ser o primeiro filme da minha vida e por ser um policial de gosto deplorável: os cadáveres caíam quando o detetive, o herói da história, abria as portas dos armários... 

Voltamos para casa — eu, muito impressionado e, sobretudo, apavorado! Tão apavorado que, no meio da noite, tive pesadelos horrorosos. Os mortos saíam de baixo da minha cama para me matar. As janelas batiam com força sob a pressão do vento frio, a casa tremia, balançava como se fosse cair em cima de mim, e um ruído ensurdecedor ampliava o meu pânico dentro do pesadelo.Até que minha mãe me acordou, muito assustada: 

— Dédé, rápido, rápido! Vamos até o porão! 

Dessa vez não era um pesadelo, não. Era a vida real. Era a primeira de três noites de intensos bombardeios sobre as colinas atrás de Cabourg, que iriam anteceder o dia do desembarque dos aliados na Normandia. Essas colinas dominam a costa e abrigavam um poderoso conjunto de fortifi cações e canhões de longo alcance, que precisavam ser destruídos antes que os aliados chegassem. E cabia à aviação norte-americana aniquilar as defesas do inimigo… Descobriríamos o que era um bombardeio norte-americano: dezenas e dezenas de bombardeiros B-17 quadrimotores chamados “fortalezas voadoras”, em ondas sucessivas, largavam centenas de bombas nos alvos e, por via das dúvidas, também em tudo o que se encontrava ao redor. Foram três noites de terror, que somente terminariam com o nascer do dia, lá pelas quatro da madrugada de 6 de junho de 1944, quando o bombardeio cessou de repente e se fez o silêncio. Um silêncio de morte.Ameaçador. 

O sol se levantava por volta das cinco e meia. Meu primo Paul e eu escapamos do porão da casa e fomos ver o que acontecia na rua. Ninguém... Nem uma alma, nem soldados… Nada! A curiosidade era forte demais; andamos, pouco a pouco, até o cassino de Cabourg, uma construção menor, porém de estilo muito parecido com o hotel Copacabana Palace, e que servia de Estado-Maior para os alemães… Também não havia ninguém. 

Parecia que todos os soldados haviam deixado o lugar e se refugiado nas fortifi cações da praia. Dali, com muito medo, contornamos o cassino e apareceu o mar. 

Esse mar, que havíamos sempre visto sereno, zangado, cinzento, nunca muito azul por ser um mar normando, porém sempre um mar de água salgada, habitado por peixes, estava agora dividido, da extrema ponta esquerda do horizonte até a extrema ponta direita, por navios de guerra imponentes, de todos os tipos que se possa imaginar — encouraçados, destróieres, porta aviões etc. —, ancorados de tal maneira que a proa de um quase tocava a popa do outro, formando um quebra-mar naquela chuvosa madrugada de ondas violentas. 

Para nosso assombro, da barriga de todos eles saíam muitas centenas de pequenas embarcações vindo rapidamente em direção à praia. Chovia e ventava violentamente.A maré estava baixa; se por um lado evitaria que as embarcações detonassem as minas espalhadas pela praia, por outro aumentava em uns bons quinhentos metros rasos o percurso que os soldados aliados teriam que percorrer na areia, sem proteção alguma, até chegar às fortifi cações alemãs uns seiscentos metros acima. 

Não tenho mais memória da natureza do espanto que Paul e eu sentimos naquele instante, tais foram o terror, o pavor, o pânico que nos invadiram. Para nós, crianças, apesar de a idéia da morte ser uma abstração, tínhamos consciência de que íamos morrer, com certeza. Imaginem essas embarcações vindo em nossa direção! Ao mesmo tempo, a grandiosidade do espetáculo nos deixava hipnotizados… O silêncio absoluto que pairava sobre essa cena dantesca tinha a mesma dramaticidade de uma trilha sonora wagneriana. Voltamos para casa e mal conseguíamos explicar o que havíamos visto, tão transtornados estávamos, e apavorados com os gritos de minha mãe, morta de desespero por não saber como e por onde tínhamos escapado naqueles 15 minutos. 

Uma hora mais tarde, o mundo desabou sobre nós, os poucos habitantes que ainda viviam em Cabourg. Os aviões sobrevoavam a cidade, largando suas bombas; os canhões alemães atiravam sem cessar, e tudo isso fazia um ruído de apocalipse ensurdecedor. E, por escassos dez quilômetros, não fomos liberados pelos aliados. Ao contrário, ficamos cercados pelos americanos, junto com os alemães, dentro de um bolsão. De vez em quando, os americanos ganhavam terreno; por algumas horas, achávamos que seríamos libertados, para, logo depois, os alemães contra-atacarem. E, com isso, as esperanças iam desaparecendo. 

Vivíamos no porão atrás da casa, dentro de um buraco cavado na terra, com espaço para cinco ou seis pessoas se deitarem. O buraco estava recoberto por umas barras de cimento armado que o farmacêutico, nosso vizinho, nos dera. Não me lembro de onde vinha a comida, mas suponho que a loja de secos e molhados, por um lado, e a casa de frios, por outro, deviam ser os nossos fornecedores durante a hora da trégua diária, ao meio-dia em ponto, quando cessavam os combates.As tréguas aconteciam para que cada exército, entre outras coisas, retirasse seus mortos e feridos. Não foram raras as vezes em que escutamos os feridos, até pouco tempo inimigos mortais, praticamente deitados um ao lado do outro, implorando por suas mães na língua natal:“Mami...”, “Muti...”, “Mami...”, “Muti...”. 

Agora, o ruído dos combates era menor, ou menos aterrorizante. A luta se fazia com metralhadoras, granadas, fuzis... 

Depois de 15 dias, durante a trégua do dia, os americanos exigiram que os alemães, que, aliás, pertenciam a uma unidade SS, se rendessem. Como não o fizeram, nós, os civis, fomos intimados a sair de imediato, para que o combate continuasse até morrerem todos os combatentes, de um lado ou de outro. Empilhamos em cima de uma carreta alguns pertences. Minha mãe, Paul , eu e o cachorro iniciamos, com outras famílias, uma marcha pelas estradas em direção ao leste, ainda sob ocupação alemã, sem realmente saber para onde estávamos indo — ou por quê. 

De início, ao sair de casa, ficamos muito surpresos ao constatar que, depois de tantos dias de combate, a cidade não havia sido realmente destruída. Muitos muros tinham caído, muitos telhados estavam inutilizados, janelas espatifadas, árvores derrubadas, mas nada comparável ao que o furor dos estrondos nos havia sugerido. 

No entanto, à medida que nos afastávamos da cidade, sentimos um cheiro medonho. Um cheiro de morte, vindo da igreja. Quando a contornamos, nos deparamos com um cenário que viria a se repetir ao longo da marcha: centenas de vacas mortas, todas deitadas de costas, as patas esticadas para o ar e os corpos entumecidos e apodrecidos, que se enchiam feito bolas prestes a explodir.As macieiras estavam todas azul, em vez de introduzir uma certa esperança de dias melhores, ao contrário, imprimia uma atmosfera ainda mais desolada a esse quadro de destruição.

sábado, 20 de julho de 2013

MAREIKE VALENTIN - ENTREVISTA EXCLUSIVA

Dividindo vocais com Zé Renato e Marcos Sacramento, Mareike Valentin apresenta sob a batuta do maestro Leandro Braga o seu primeiro disco, um trabalho altivo e sensível


Por Bruno Negromonte




Mesmo nascida na Alemanha, Mareike Valentin traz arraigada em sua sonoridade elementos sonoros genuinamente brasileiros. Isso se deu de modo bastante eficiente por intermédio de sua mãe, que por saudades do Brasil ouvia os grandes nomes de nossa música por horas na cidade alemã de Rheinfelden. Esse hábito rendeu pomposos frutos ao longo da trajetória da artista e hoje encontra-se bastante evidente no debute fonográfico da cantora como pode-se conferir na pauta EM SENSÍVEL AMÁLGAMA SONORO, MAREIKE VALENTIN MOSTRA AO QUE VEIO que publicamos recentemente aqui mesmo no Musicaria Brasil. Homônimo ao seu nome, o primeiro projeto fonográfico da artista conta com a adesão de nomes de peso da música popular brasileira e convidados pra lá de especiais como vimos.

Agora, Mareike volta ao nosso espaço para ilustrar mais uma pauta, dessa vez em uma entrevista gentilmente concedida onde aborda diversos assuntos, dentre os quais a receptividade do público ao seu trabalho, a reviravolta profissional que a fez trocar a vida de bancária pela vida artística, suas origem alemã entre outros assuntos como vocês podem conferir nesta entrevista exclusiva. Boa leitura!


Uma curiosidade acerca de sua carreira artística é você ter nascido a mais de 10 mil quilômetros do Brasil e hoje traz em seu canto características muito arraigadas de brasilidade. Existe em sua formação musical alguma reminiscência dos poucos anos que você residiu em Rheinfelden ou a sua formação musical é essencialmente brasileira?

Mareike Valentin - Eu diria que minha influência é fortemente brasileira. Tenho na lembrança algumas cantigas infantis em alemão e me lembro de alguns discos que tinha quando criança, mas como a música brasileira sempre fez parte da minha infância também, acho que esta me influenciou muito mais. 



Ao longo de sua carreira você já chegou a voltar à Alemanha para mostrar um pouco da riqueza musical existente no Brasil. Foi durante essas apresentações a sua primeira volta a sua terra natal?

MV - Não, estive na Alemanha em 2005, numa viagem inesquecível com meu avô paterno. Aí sim, tive a oportunidade de retornar às cidades e casas onde vivi, rever amigos e familiares.



Quando foi que você percebeu que era a hora de decidir indelevelmente quanto a sua vida profissional? Qual foi o momento, ao seu modo de ver, que já não era mais possível conciliar a vida de bancária com as suas pretensões artísticas?

MV - Enquanto trabalhava no banco, iniciei a faculdade de música e neste período surgiam muitas oportunidades de fazer cursos fora da minha cidade, inclusive a turnê com o grupo Txai aconteceu no meu período de férias do banco. Mas não era sempre que conseguia conciliar as duas coisas e chegou um momento que recebi o convite para começar a dar aulas de canto na escola onde na época eu era aluna (onde trabalho até hoje), foi aí que decidi que não queria mais perder oportunidades de por causa do emprego na banco. Chutei o pau da barraca! (risos)


Como foi a reação das pessoas mais próximas quando você decidiu abandonar toda a burocracia de um banco para arriscar-se de arte, um universo tão oscilante? 

MV - Tenho muita sorte. Meus pais me apoiaram muito e ficaram muito felizes com minha decisão. Meu marido, que só conheci uns meses depois de ter saído do banco, sempre menciona essa minha atitude como algo que ele admira. Tive muito apoio, sempre!


Leandro Braga é um dos grandes nomes de nossa música atestado por toda a sua experiência junto a artistas considerados como referências em nossa música. Como se deu o seu encontro com o maestro e o convite para que ele assinasse a produção e os arranjos do disco?

MV - Foi meu marido quem sugeriu que eu fizesse contato com Leandro, pra pedir que ele fizesse alguns arranjos que, inicialmente, gravaríamos aqui em Blumenau. Nunca achei que Leandro fosse me “dar bola”. Rsrs. Escrevi uma mensagem pelo Myspace e esqueci... depois de alguns dias quase caí de costas quando vi que ele além de ter respondido, ele havia se mostrado interessado em trabalharmos juntos. Daí pra frente nossa parceria e amizade se firmou e depois de um tempo e uma vinda de Leandro à Blumenau, veio o convite pra gravar no Rio. Desde então somos grandes amigos e nossa parceria continua. Leandro veio fazer uma participação especial no show de lançamento do meu CD aqui em Blumenau. Agora em julho devo ir ao Rio fazer uma participação num show dele, e por aí vai... 


No álbum existem algumas regravações como “Passas por mim” (Simone Guimarães) e “Menina, amanhã de manhã” (Tom Zé e Perna). Quais os critérios adotados para a escolha dessas regravações que fazem-se presentes em seu álbum?

MV - “Menina, amanhã de manhã” já era uma música que eu adorava. Quando começamos a pensar o repertório foi uma sugestão minha que Leandro aceitou de imediato. Já a “Passas por mim” foi mostrada ao Leandro pela própria Simone, atendendo ao pedido dele de lhe mostrar algumas canções que pudessem vir a fazer parte do disco.


E a escolha das demais faixas como se deu?

MV - Quando decidimos gravar o disco eu já tinha as canções do Pochyua. Queria muito gravá-las. As demais foram garimpadas, gentilmente enviadas pro Leandro e pra mim pelos próprios compositores (assim foi com Zé Renato, Simone Guimarães, Sueli Mesquita). O samba da Telma Tavares foi composto especialmente para este disco, a pedido de Leandro. Um presentaço!


O disco conta com a participação do Zé Renato e do Marcos Sacramento. Ambos os nomes foram sugestões muito bem aceitas ou já era do seu desejo especificamente a participação deles no projeto?

MV - Zé Renato sempre foi um grande ídolo. Já ouvia o Boca Livre ainda na Alemanha, muito nova. Quando Leandro falou sobre as participações que poderíamos ter, e sugeriu os dois, quase morri de tanta felicidade porque nunca imaginei que cantar ao lado destes dois gigantes fosse possível. Foi um sonho. Sacramento eu conhecia há pouco tempo e era encantada com o trabalho dele. Pessoalmente me apaixonei ainda mais, pela gentileza, generosidade e bom humor com que me recebeu.


Como tem sido a receptividade do público por onde você tem levado o álbum? O que há no espetáculo além do repertório do disco que você pode nos dizer?

MV - A receptividade tem sido incrível. Tenho tido retornos muito carinhosos e emocionados. Além das canções do disco canto também uma parceria do Junior Marques (meu parceiro, amigão e pianista que me acompanha sempre) e do Gregory, chamada Bola Dividida, um partido alto super bem humorado, é uma metáfora entre uma relação de um casal e o futebol. O público adora e eu me divirto muito cantando. Outras canções também fazem parte do repertório show, mas tem que assistir o show pra saber! (risos)


Já ouvi de alguns artistas que custeiam seus próprios trabalhos que o termo independente nunca deveria ser aplicado a eles uma vez que é algo que não condiz com a realidade, pois os mesmos dependem de muitos em shows, divulgação e outras situações. Você é uma artista que contou com um apoio em seu projeto mas não deixa de estar inserida em uma gama de artistas que buscam um lugar ao sol remando contra a maré midiática existente. Qual a maior dificuldade em trabalhar desse modo? 


MV - Tive a sorte de ter um apoio da Fujiro e também do Fundo Municipal de Apoio à Cultura de Blumenau, mas a maior parte do trabalho, eu diria que 70%, foi realizada com recurso próprio, vindo de muito trabalho (meu e de meu marido). A maior dificuldade no meu caso, é que como não dispunha de verba pra realizar o trabalho todo de uma vez, tive que fazer tudo aos poucos. Entre o primeiro contato com Leandro e o disco pronto, lançado, foram mais de dois anos! Até tive um filho neste meio tempo! Rsrsr Sempre brinco que a gestação do meu disco durou muito mais do que a do Tom, e que o parto (do disco) foi beeem mais difícil e demorado!


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